i'll be back.
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⠀A porta se abre com o costumeiro som do sininho, indicando que um cliente acaba de entrar. Não olho de imediato, anotando o pedido de um senhor que parece estar cheio de mau humor, mas logo sinto um cheiro bom o suficiente para chamar minha atenção. "Quem será o dono desse perfume?", penso. Assim que levanto o olhar, tentando indentificá-lo, vejo um rapaz, um pouco deslocado, procurando por uma mesa. Ele se senta perto de uma das janelas e tira um caderno de dentro da bolsa.
⠀Depois que me distancio da mesa com uma lista enorme de pedidos, corro para a cozinha antes que aquele homem reclame da demora. Mal tenho tempo de me sentar, Ryujin me pede para preparar um café para a mesa cinco.
─ Tenta não deixar isso horrível, hein? ─ Minha irmã fala. ─ É fácil, você já me viu fazendo várias vezes em casa!
─ Tá, tá! Não me atrapalha! ─ Tento parecer calma, mas, no processo, acabo queimando a mão. ─ Droga! ─ Resmungo.
─ Tá ótimo assim, deixa que eu levo! ─ Ryujin parece um pouco irritada e leva o café, esquecendo-se que faltava colocar o açúcar.
⠀Vejo minha irmã na mesa cinco, e justo o rapaz que vi entrar mais cedo está sentado nela. Observo-o bebendo o café, provavelmente com um gosto amargo. À distância, fico atenta à sua expressão enquanto ele dá outro gole na xícara e tosse disfarçadamente. O café não é dos melhores ─ é o primeiro que preparo em anos.
⠀Minha mãe, sorridente até demais, se aproxima de mim. Beija minha testa e dá uma tapinha encorajador no meu ombro. O rapaz finalmente me olha de canto, cheio de curiosidade.
⠀Assim que ela vai embora, ele continua a me encarar. Não desvia o olhar, mesmo enquanto atendo uma mesa próxima. É uma situação estranha, mas nenhum dos dois parece querer quebrar o momento.
⠀Uma curiosidade toma conta de mim. Quero saber o nome dele. E, ao contrário dos outros funcionários, não estou usando o uniforme padrão, nem o broche com meu nome. Fico frustrada. E mais curiosa. Nervosa, talvez. Ele também não vai descobrir o meu nome se não perguntar.
⠀Por que ele insiste em me olhar? Sinto uma onda de calor em minhas bochechas. Talvez meu rosto esteja sujo da comida que devorei atrás do balcão antes da lanchonete abrir? Limpo a boca com a mão, desviando dos olhos dele por um momento. Então, ouço sua risada. É baixa, mas ainda assim consigo ouvi-la. Algo no som... me faz acelerar o coração. Ele conseguiu atrair toda a minha atenção novamente.
⠀Então, sou surpreendida: ele levanta a mão para fazer mais um pedido, com um sorriso meio tímido ─ o que me dá um gosto doce de vitória. Caminho até a mesa, firme, porém com os olhos fixos no pequeno caderninho que seguro nas mãos.
- O que você deseja? - Pergunto.
- Eu... É... - Ele gagueja. Meu cérebro falha por um instante, ele é ainda mais bonito de perto. - Quero uma água. Sem gás, mas bem gelada.
- Gelada? - Encaro-o novamente, mas seus olhos já estavam focados em mim. - Está frio... - Falo no impulso. - Percebi que você estava tossindo... Resfriado?
- Daqueles... - Ele sussurra, se encolhendo um pouco. - Primeiro dia por aqui?
- Sim, acabei de voltar para a cidade. Faço faculdade em outro lugar, mas estou nas férias.
- E como você se chama? - Ele pergunta, me deixando sem reação.
- Ah, você é mais curioso do que imaginei... - Deixo um leve sorriso escapar, me sinto no auge do verão.
- Você me perguntou se eu estava doente, e ainda nem me conhece...
⠀Um impulso de coragem me faz anotar o meu número de telefone no caderninho. Destaco a folha e a deixo cair suavemente sobre a mesa.
- Se quiser descobrir meu nome... - Dou uma pequena pausa, seus olhos voltam a me prender. - Vamos precisar nos ver mais uma vez.
⠀E ali, com uma letra meio apressada, dou o primeiro passo.
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⠀O céu já está escuro quando fecho a lanchonete. O movimento tinha diminuído bastante ao longo dos anos, como minha mãe sempre dizia. Hoje não foi diferente.
⠀Alguns clientes ainda eram fiéis, anos e anos apaixonados pela comida da Minjeong ─ assim como eu. Estudar em outra cidade e descobrir coisas novas tem suas vantagens, mas, por outro lado, sempre acabo me sentindo sozinha e nostálgica. No começo, quando me mudei, acordava alucinando com o cheiro do tempero da minha mãe.
⠀Esse lugar significa tudo para mim. Para a minha família.
⠀Olho para a entrada, toda decorada para o Natal. Mal posso esperar pelo dia vinte e quatro; ajudar a fazer os doces, embalar os presentes, ouvir as piadas sem graça na mesa de jantar...
⠀Prestes a me perder em meus próprios pensamentos, sinto o celular vibrar no bolso: "Ainda quero saber o seu nome. Não desisto fácil!". A mensagem brilha na tela e me arranca um sorriso.
⠀"Posso fazer companhia?" Não entendo o que ele quer dizer com isso, mas, assim que me viro, vejo-o do outro lado da rua, acenando para mim. Enquanto atravessa a faixa, percebo sua expressão animada, mas cansada. Deve ter acabado de sair do trabalho também.
─ Me desculpa a demora para mandar mensagem. Aposto que você deve estar exausta. ─ Ele parece envergonhado.
─ Estou tão acabada assim? ─ Pergunto, num tom divertido, passando as mãos no cabelo, tentando ajeitar os fios rebeldes que se formaram na minha cabeça.
─ Você tá ótima. ─ Mentiroso. Minhas olheiras me fazem parecer um panda. ─ E eu? Como estou? ─ Ele ajusta os óculos, que estavam escorregando para o nariz.
─ Levemente agradável, eu diria. ─ Respondo, rindo da expressão incrédula dele logo em seguida. Antes que ele tenha tempo de retrucar, puxo-o e começamos a caminhar pela calçada.
─ Tenho uma coisa para te contar, mas não fica brava, tá? ─ Pela expressão dele, vejo que está brincando.
─ Hm... Eu deveria? O que é? Não enrola! ─ Finjo estar ofendida.
─ Não estou resfriado. Você me viu tossindo porque o seu café é horrível! E seria falta de educação cuspir de volta na xícara... ─ Ele fala rápido, se atropelando nas palavras e rindo, a expressão cheia de charme.
─ E como você tem tanta certeza de que fui eu quem fez aquele café? ─ Levanto uma sobrancelha, impressionada com sua ousadia.
─ Você não parava de me encarar! Eu sempre vou lá de manhã, e nunca te vi. O café é sempre tão gostoso...
─ Como você é sonso! ─ Paro de andar por um instante, me dando conta. ─ Então foi por isso que você pediu água gelada! Nem percebi. Esqueci o açúcar dessa vez, mas da próxima vez vou colocar sal!
─ Eu precisava de algo para limpar aquele gosto horrível... ─ Bato de leve no seu ombro. ─ Mas, vai ter uma próxima vez? Porque eu não quero tomar aquilo nunca mais.
─ Ah, cala a boca! ─ Reviro os olhos e ele ri. Alto. Satisfeito.
─ Vai ficar aqui até quando? Você me disse que faz faculdade em outra cidade... ─ À essa altura, nossos braços estão entrelaçados; o frio serviu de desculpa para isso.
─ Até o ano novo. ─ Revelo, e ele parece um pouco triste de repente. ─ Mas falta pouco para me formar, vou voltar mais vezes. ─ Ele concorda com a cabeça. ─ E você? O que faz?
─ Eu? Ah, trabalho no escritório do meu pai, com imóveis.
─ Nossa... ─ Olho para o visual dele, e tudo faz sentido. Terno e gravata, cachecol. ─ E você gosta? Tem um ar meio artístico.
─ Sério? ─ Ele sorri, radiante. ─ Eu escrevo músicas de vez em quando. Já cheguei a fazer parte de uma banda... mas tive que sair.
─ Me mostra uma um dia? ─ Peço, mas acabo me sentindo um pouco invasiva. ─ Se você quiser, é claro...
─ Mostro sim. ─ Ele me interrompe, sem hesitar. Não parece nem um pouco intimido. Parece feliz por alguém querer ouvir suas composições. Paramos em frente a uma conveniência e, pouco tempo depois, ele sai de lá com alguns lanches.
─ Pra você. ─ Ele estende a mão, entregando um bolinho de morango com chantili. Não resisto e começo a devorar o doce às pressas. Estou faminta. ─ Gostoso, né?
─ É o meu favorito.
─ Hm... ─ Ele fica em silêncio por um momento, mastigando também. Me encara, depois desvia o olhar, me encara de novo. Parece que quer me dizer algo. É adorável. ─ O meu nome é Lee Anton... e o seu?
─ Seoyoon. Byun Seoyoon. ─ Digo, com a boca cheia.
─ É bonito. Muito bonita, Seoyoon. ─ As palavras dele ecoam na minha cabeça. Anton disse que eu sou bonita. Ainda boquiaberta, ele tira o casaco e coloca sobre os meus ombros. ─ Acho que vai chover. ─ Diz sorrindo e olha para o céu. Não consigo tirar os olhos dele.
─ É, acho que sim. ─ Uma pequena gota de chuva cai na lente de seus óculos.
─ Olha só! ─ Anton suspira, surpreso, então tira os óculos e me puxa para correr. ─ Você gosta de chuva, Seoyoon?
─ Gosto! ─ Grito, entre risadas, enquanto a chuva começa a cair, devagarinho, mas aumentando a cada passo que damos.
─ Espero que volte mesmo um dia. ─ Ele sussurra, quase inaudível, mas ouço perfeitamente.
─ É claro que vou voltar! ─ Pulo numa poça d'água, molhando-o de leve.
─ Ei! ─ Ele avança e me agarra, levantando-me do chão. ─ Vou te jogar numa dessas poças!
─ Você não teria coragem. ─ Pressiono os lábios, tentando segurar a gargalhada.
─ Ah, não? ─ Anton ameaça me soltar e eu solto um gritinho.
⠀Enquanto ele me segura no ar, sinto o oxigênio abandonar meus pulmões. O vento começa a soprar diferente, mais forte, assim como a chuva. Nossos risos se misturam com o som das gotas batendo no chão, transbordando para quem quisesse ouvir.
─ Anton... ─ Sussuro, mais suave do que pretendia, para nunca me esquecer.
─ Hm? ─ Ele murmura e finalmente nossos olhos se encontram.
─ Não vou deixar você sentir minha falta. ─ Seu sorriso surge, de orelha a orelha. ─ Vai ser mais rápido do que você imagina.
─ Eu sei. ─ Antes dele me colocar no chão, noto o brilho no seu olhar. E me pegando de surpresa, ele revida e chuta uma poça de água em mim. ─ Se gosta de chuva, deixa molhar!
⠀Eu rio e saio correndo, sentindo a água gelada batendo nas minhas pernas, ouvindo seus passos logo atrás de mim. A chuva agora é um vendaval, nos envolvendo como se fosse um abraço.
⠀E ali, começo a contar os dias, para finalmente beijá-lo e ouvir suas composições. Lee Anton. É bonito, bonito Anton.
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