34 ➵ A Vingança de Félix
Secret Love | Hyunlix
"E que toda família tem um segredo. Seja simples, seja cruel. Levo-me desse mundo, afirmando um segredo: Choi Jisu me matou. Fui morto por seu ódio e sua tormenta. Assim seja, despeço-me"
A NOITE foi de puro inferno. Ambos os lados experimentaram a raiva e a dor em seus extremos. Félix não retornou para casa. Nem Daejung.
Jihun rondou toda a região atrás deles. Sem sucesso.
Seungho experimentou a dor e a sabedoria de entender que este era o fim. Naomi e Akira, seus leais servos, foram mandados para Seul, com uma quantia em dinheiro o suficiente para viverem bem. Desfizeram-se de seus reais nomes. Era uma chance de recomeçar.
Do outro lado, Hyunjin experimentou a dor. Sua carne estava viva, o sangue pingava como fogo no chão. As chicotadas não eram tão dolorosas quanto ficar sem Félix. Christopher estava ao seu lado, o sangue de ambos mesclando-se no cimento. As crianças, pobres crianças, choravam. Jisung estava ajoelhado, os socos em sua barriga eram extremamente em puro ardor.
Jogaram seus corpos na cela suja. A poeira e terra misturadas com sangue. Os guardas empurraram as duas crianças com eles. Misuk arranhou o joelho e chorou. Arrastando-se até ela, Christopher a buscou entre seus braços e a aninhou, sussurrando-lhe palavras de conforto durante o purgatório maldito. Hajun arrastou até Hyunjin, que estava acolhido. A criança, faminta por carinho e amor, deitou sua cabecinha na curvatura do pescoço do Alfa, perto da mordida de Félix. Ele esfregou-se, como um lobinho desmamado e tentou se sentir confortável. Hyunjin, mesmo com dores e medos, passou sua mão e o ajudou a aninhar. Agora ele imaginava o que Félix sentira.
A noite passou como um terror. Um medo descomunal surgia nos poros daqueles que acreditavam em um resgate, uma escuridão sem fim. Maeum estava amarrada naquela cadeira, no porão havia ratos e Kwangsun estava ferido.
Pedira aos céus, conforto. Rezou em sua língua materna, pediu que Hwan tivesse piedade e que a confortasse durante a noite. Dormiu encostada na parede, a cabeça doendo. Horas mais tarde, seu corpo desacordado foi jogado em uma cama sem preparos, apenas para que ele descansasse.
O terror era absoluto.
Os ruivos celestiais e os passes dentro da mata virgem, provavam que havia, sim, uma esperança de resgate. As patas batiam no chão, levantando terra e poeira. Outro lhe seguia, em busca de acalmar.
E quando o cansaço venceu, ele caiu no chão e adormeceu.
A aurora da manhã veio, fazendo Seungho encarar a janela. Os corpos enlamados se arrastavam para um vazio. O rastro de terra cobriu os tapetes limpos de Maeum.
Seungho andou pela casa e sentiu que estava devidamente errado. Seu fim havia chegado. Os segredos foram expostos, não havia mais nada que pudesse fazer. Em baque maldito de sua vida, lembrou-se de Hwan e comparou a Félix. Seu neto havia nascido a carne e sangue de seu Ômega falecido. Hyunjin e ele deveriam ser almas gêmeas, unidas pelo acaso e amantes das palavras divinas.
Um plano em sua mente foi meticulosamente arquitetado. Deveria pedir isso ao neto, ao filho e aos outros.
Quando Jihun acordou, viu Seungho andar até o armário da sala. Lá estavam as duas armas, as de emergência: Duas M24 com munição.
— Pai, o que está fazendo?
O velho não deu ouvidos. Mesmo seu ombro pegando fogo em dor e pontadas, ele foi rude e jogou as armas no chão.
— Prepare dois carros. E ache minha bengala. Iremos fazer uma viagem.
— Não sabemos onde eles estão.
— Estão no "Flowers and Love". Fica perto da fronteira.
— E o que seria esse local?
O velho parou e olhou para o filho.
— Minha casa de veraneio. A casa onde conheci Hwan.
「• • •」
O pôr-do-sol veio como uma canção triste em rádio. Félix estava parado na frente do espelho. Seus cabelos estavam longos novamente, fazendo jus ao seu rosto.
Pegou a tesoura e cortou as pontas. Os cabelos loiros caíam no chão, fazendo um círculo delicado.
Pegou as roupas jogadas na tampa do vaso sanitário e as vestiu.
Antes de sair, viu um reflexo vermelho em seus olhos.
Iria buscar seu filho e seu Alfa.
「• • •」
A casa de veraneio foi uma mansão. Extensa, parecia que saíra de um filme de vampiros. Flowers and Love era como Hwan gostava de chamar aquele local, pelo jardim extenso e pelo amor que exalava. A casa foi construída com pedras esculpidas e era muito bem feita. O jardim que antes tinha vida, era apenas grama morta e plantas cinzentas. A casa ficava no meio da floresta. Escura e abandonada, para achá-la, era difícil.
A grande sala tinha duas escadas, que conectavam no meio e voltavam a se separar para os devidos corredores, como uma igreja medieval. Quando estava em posse da família Im, o chão era coberto de tapetes vivos e coloridos. Agora, havia apenas madeira negra como ébano e janelas de vidro simples. As janelas ficavam na divisão da escada, dando um ar de macabro.
Não havia nenhum móvel naquele espaço. Nos quartos, mais de 15 cômodos, havia a mobília original e rica em história. Camas forradas com lençóis em seda, armários com vestidos antigos e fraques velhos.
O cheiro de mofo situava-se na cozinha, que era arcaica. Para finalizar, um lustre de cristal enfeitava a sala vazia, mostrando-se o luxo e a beleza profana daquele local.
Um carro atravessou o jardim. Parando na porta de madeira maciça, os dois elementos desceram, batendo os pés no chão. Os guardas estavam no topo das varandas, portando armas pesadas, saídas do mercado negro. A escuridão da propriedade impossibilitava de ver que havia uma piscina com água com musgo e algas, devida a má condição do local. Nos fundos, a floresta já devorava uma parte da construção e mostrava que havia uma entrada misteriosa para um porão tormentoso.
Nas escadas, presos com grilhões de ferro no pescoço e nas mãos, Hyunjin e Christopher estavam de pé. Suas costas estavam rasgadas e infeccionadas pelas surras e torturas que sofreram durante a noite e o dia. Munidos apenas de calças, ele estavam apenas de pé, com dois guardas segurando-os. Jisung jazia ao lado deles, mas apenas com correntes em suas mãos e pés.
Amarrados em uma cadeira, Maeum e Kwangsun estavam sentados e amordaçados. Maeum tinha sua blusa rasgada na altura dos seios, expondo um sutiã escuro. Kwangsun estava sem camisa, mostrando as torturas de um corpo que já fora forte.
A porta de madeira se abriu, e passos gélidos foram escutados, como um eco mortal fúnebre.
— Estou aqui. — a voz rouca de Félix foi escutada. Os guardas bateram as armas no chão e eles ergueram suas cabeças.
Descendo as escadas com um vestido vermelho feito sangue, Jisu se pôs com sua bengala vermelha no chão. Ao seu lado, trajando apenas um sobretudo que cobria-lhe o corpo todo, Yeojin estava calada e tácita, feito um bom soldado treinado.
— É tão bom receber visitas. — Jisu sorriu-lhe. — Principalmente quando me sinto tão sozinha.
Hyunjin abriu os olhos e viu Félix. Ele trajava negro, dos pés a cabeça. Os seus cabelos foram cortados de maneira curta, e molhados, estavam caindo na testa.
— Félix... — ele murmurou, mas sua voz quase não saiu. Fraco demais para tentar se soltar das amarras de ferro.
— Solte-os. — Félix rosnou. — Estou aqui, não estou?
Jisu analisou o garoto. Inferno, ela pensou. É como ver Hwan reencarnado à minha frente.
— É bastante parecido com seu avô.
— Não me envergonho disso.
— Deveria ter. Aquele homem me roubou a vida.
— Como se sua raça fosse merecedora disso.
— Não imagina o quão eu amava Heejun.
— Amava a ponto de assassinar Hwan para obtê-lo?
Jisu nem sequer demonstrou remorso.
— Se obstáculos nos detem, devemos retirá-los, não desviar deles.
— Meu avô nunca foi um obstáculo para ninguém. Você foi uma desgraça para a nossa vida, a vida de minha família.
Jisu bateu a bengala no chão.
— Se acha forte demais para defender a honra de sua família, mas está com medo, Im.
— O medo e eu somos conhecidos há tanto tempo que ele não me incomoda mais.
— Assim como a tristeza. — ela começou a descer os degraus, lentamente. — Diga-me: Se você vier a morrer, com quem Hajun ficará?
— Não com você, eu espero.
— Ora, mas ele adorou tanto ficar comigo...
— Onde está meu filho?
— Está em um desses quartos, esperando a morte lhe arrebatar como os braços de uma mãe... — ela passou os dedos no corrimão de madeira. — Não acha que eu devo deixar que ele escape. Ele carrega o sangue Im. Uma tristeza que ele tenha nascido puro sangue... Feito você.
— Não irá tocar um dedo em meu filho. Eu não permitirei.
— E como fará isso?
— Proponho um trato a você, Jisu. — ele cuspiu o nome dela.
Jisu parou no último degrau.
— Tens a minha atenção, Ômega.
Félix se mexeu e andou lentamente.
— Me dê seu melhor lutador. Se eu o derrotar, me dará o prazer de levar todos daqui comigo, vivos e sãs. Mas se eu cair jazido no chão, darei o direito de me eliminar.
— Tentador. — a velha sorriu.
— Sou o último da minha família. O que carrega o sangue de Heejun e de Hwan. Dois homens em um só corpo.
Isso fez com que Jisu sentisse a velha raiva de jovem em seu peito de mulher.
— Eu te darei o melhor lutador sim. — ela bateu a bengala no chão. — Yeojin...
Isso fez com que Hyunjin despertasse.
— Félix! Não! — Hyunjin gritou. — Yeojin é puro sangue, ela pode...
Félix ergueu a mão e deu de ombros. Yeojin desceu as escadas, sem tirar os olhos de Félix.
— Ômega. — ela rosnou. — Nos encontramos de novo.
— Yeojin. — Félix falou ríspido. — Tenho que agradecer ao telefonema de ontem, bastante convidativo.
— Adoro ser bem receptiva com meus convidados. Principalmente aqueles que tanto almejo em ver.
— O que vai fazer? — Félix debochou. — Vai chamar seus guardas? Vai buscar alguma bolsa Channel para me bater?
— Deve ter esquecido que nasci puro sangue também.
— Deveria ter vergonha de se rebaixar. Não pensa em nenhum momento em seus dois filhos, que tiveram que fugir por seu ódio?
— Meus filhos deixaram de ser do meu sangue quando saíram porta afora daquele baile. Preferiram fugir do que ficar. Não tenho covardes em minha família.
— Que assim seja. Me mostre seu melhor. — Félix sorriu.
Com raiva, Yeojin rasgou seu sobretudo e se transmutou. Na frente de Félix, uma loba de pele marrom-avermelhado, surgiu graciosamente. Yeojin era uma loba astuta e forte.
— Esperei anos para ver essa cena com clareza. — Jisu sorriu. — Sua família não é única com segredos, Félix.
O Ômega nem sequer se abalou. Hyunjin e os outros estavam petrificados diante da cena.
Yeojin rosnou, mostrando dentes com sede de sangue.
— Félix, fuja! — Hyunjin gritou. — Mate-me Yeojin! Sei que é a mim que deseja, deixe meu Ômega em paz!
— Você já não significa nada para mim, Hyunjin. — Jisu rosnou. — O que eu quero é o sangue do último Im, escorrendo no piso de madeira.
Félix sorriu.
— Pode tentar se quiser... Mas o único sangue que vai escorrer nesse piso é de sua família.
E de repente, Félix caiu de joelhos no chão. Baixando a cabeça, ele começou a rir e todos se aproximaram.
A boca de Hyunjin caiu quando viu a maravilhosa cena.
Félix havia se transmutado em um lobo.
A pelagem de Félix era tão escura como a própria escuridão. Preta, ela se camuflava sorrateiro, deixando apenas um par de olhos âmbar brilhantes como mel, perceber-se que era de fato, um ser vivo.
Jisu caiu em desespero.
— Não pode ser...
Os outros riram.
— Ah meu Deus. — Jisung soltou. — Ele conseguiu.
Hyunjin encarava a transmutação de Félix. Seu Ômega não era indefeso ou fraco.
Félix era forte.
O lobo negro encarou Hyunjin acorrentado. Hyunjin sorriu.
— Acabe com ela, amor. — Hyunjin disse e o lobo rosnou.
Foi um ataque rápido, onde Yeojin uivou e pulou no pescoço de Félix, tentando lhe morder. Mas Félix sacudiu-se e a jogou contra a parede de madeira. Quebrando-a, eles começaram a engalfinhar-se no meio do salão. Jisu se desesperou com a força bruta do lobo negro.
— Atirem! — ela ordenou. — Ele não pode sair bem nessa.
Mas antes que os guardas fizessem algo, cinco batidas no chão de madeira irromperam. Os lobos pararam de lutar entre si quando escutaram o baque. Saindo da escuridão e munido de um chapéu Fedora, Seungho estava vestido com seu terno preto e sua bengala.
— Cheguei tarde no grande encontro? — ele sorriu. — Detesto ser o atraso.
Jisu encarou a figura de Seungho.
— Está vivo então. — ela soltou. — Achei que não sobreviveria ao meu ataque.
— Eu sobrevivi a muitas coisas... Não é um bando de homens que vai derrubar-me. — ele olhou para os dois lobos. — Vejo que gostou da minha surpresa. Já até convidou-o para uma luta.
— A última luta dele, antes que eu possa matá-lo.
— Não seja baixa, Jisu. — Seungho sorriu. — Deixe que seus homens se ocupem com outra coisa que não seja agir na trapaça.
— E o que ocuparia meus homens? — ela perguntou.
— Como eu adorei que perguntasse. — ele bateu a bengala três vezes no chão. — Rapazes...
Na escuridão da porta, dois lobos negros um de olhos vermelhos e outro de olhos castanhos claros surgiu, um em cada lado de Seungho. Jisu prendeu a respiração e os outros espantaram-se novamente.
— Mas... — ela perdeu a fala.
— Eu sou um homem que adora surpresas. — ele soltou. — Jihun e Daejung, façam as honras.
Rosnando, os dois lobos avançaram sobre os homens armados. Os tiros não foram rápidos para acertá-los. Yeojin e Félix voltaram a se encontrar em mordidas pesadas, onde Yeojin conseguiu jogar Félix contra a parede novamente, e a fazendo romper-se.
Lá fora, os homens estranharam.
— Veja, eles precisam de refo... — um Alfa tentou falar, mas a bala atravessou sua garganta. Um outro tentou buscar a origem do tiro e foi atingido no joelho e outro no peito.
Há 200 metros, em uma árvore, Minho desengatilhava a arma.
— Um a um. — ele murmurou para Changbin, que estava na outra árvore. — E ainda foi no joelho, que horrível.
— Ah, cale a boca. — o Ômega estava nervoso. — Eu não consigo manejar nessa porra direito.
— Nunca jogou Call of Duty, Changbin? — Minho já procurava outro.
— Estamos na vida real. O coice dessa arma está me machucando.
— Faça por Chan. — Minho mirou em mais um. — Esse é meu.
— Isso virou uma disputa de ver quem coleciona cadáveres?
— Só pra animar a noite. — Minho apertou o gatilho. — E para nos dar paz enquanto o mundo desaba dentro daquela casa.
「• • •」
Daejung e Jihun correram em direções diferentes, em busca de deter os atiradores. Jihun saltou sob um e bateu a pata com violência, arrancando-lhe a respiração e o desfalecendo. Quando se virou, encontrou Maeum e Kwangsun.
Foi até eles e com os dentes, tratou de mastigar a corda, machucando-a no processo, por ser indelicado com os dentes. Maeum se soltou e tirou a mordaça da boca, abraçando o focinho do lobo.
— Meu amor, você está aqui. — ela beijou o focinho dele. — Precisamos sair daqui.
Ela ajoelhou-se e desamarrou Kwangsun. Quando liberto, Kwangsun sentiu que Maeum o colocava encima das costas peludas do lobo.
— Se segure, ele vai te tirar daqui.
— Mas... — Kwangsun viu Maeum subir com ele e Jihun saltar as escadas e correr para fora.
Daejung estava quebrando os grilhões de ferro com os próprios dentes de lobo, quando Hyunjin se soltou. Christopher e Jisung estavam se libertando, enquanto Daejung voltava a lutar com os outros dois armados. Tontos e feridos, eles subiram as escadas.
— Chan procure na ala sul. Jisung, na oeste. Eu vou para a norte: Procurem os meninos.
Eles buscaram pelos quartos, mas foi no último que Hyunjin encontrou. Quando Hajun tentou sair da cama, um homem armado empurrou Hyunjin contra a parede.
Ele riu.
— Está fraco demais para lutar e se transmutar. Pode tentar me derrubar.
Hyunjin sentiu um osso estalar. Merda...
— Eu ainda aguento um round numa boa. — Hyunjin olhou à sua frente e viu que Hajun o olhava. O olhar do garotinho lhe deu forças. Erguendo-se com fúria, Hyunjin foi para cima do homem. Eles se esbarraram diversas vezes, caindo e se chutando. Rolaram no chão, com Hyunjin sentindo a ardência das feridas em carne viva em suas costas. Quando caído no chão, Hyunjin subiu encima do homem e o envolveu em uma gravata. Ele agonizou no chão e então se ergueu, com Hyunjin pendurado em suas costas. Ele bateu as feridas de Hyunjin na parede, na tentativa de fazer com que ele o soltasse, mas Hyunjin era determinado e ignorou as feridas mesmo que o sangue voltara a escorrer. Hajun estava encolhido na cama, chorando. O homem não sustentou Hyunjin por muito tempo. Vermelho e quase sem forças, ele caiu no chão.
Hyunjin estava cambaleando quando alcançou Hajun. O garotinho estendeu-lhe os braços.
— Vamos sair daqui. — Hyunjin murmurou enquanto o pegava. — Para bem longe.
Yeojin estava sendo brutalmente mordida por Félix. Os dois lobos, enormes e fortes, estavam se mordendo e agindo com força bruta. Félix era rápido, mas não era forte. Diferente de Yeojin, que era forte mas não era rápida. Quando a mordida de Félix alcançou-lhe as costas, Yeojin uivou e o empurrou com o próprio corpo para uma parede de vidros da cozinha. Félix encontrou-se com os cacos de vidro, ganindo de dor. Os cacos atravessaram-lhe a pele, fazendo sangue pingar na grama. Estavam no jardim agora.
Quando Daejung matou o último homem, avançou em Jisu. A mesma viu que o lobo estava a encarando, e então catou uma arma no chão e correu para fora. Mesmo com dificuldades, ela conseguiu chegar no final das escadas. Daejung a alcançou em dois tempos.
Jisu sabia que não tinha chances de que sua bala fizesse ferimentos naquele lobo. E então, viu Seungho tentando pegar as crianças que Hyunjin e Christopher traziam do quarto, Christopher mais ferido do que antes (Por ter que lutar com um homem que estava no quarto de Misuk). Ela sabia que se ela tocasse na ferida certa, seria sua chance.
Mirou em Seungho. Daejung uivou, como alerta.
Um tiro foi escutado. Félix escutou um grito e parou de atacar.
Ele deixou Yeojin, que estava ensanguentada e mesmo em sua forma lobo, voltou para a sala completamente destruída.
Daejung havia se transmutado em humano novamente e segurava o corpo de Seungho. O seu avô fora atingindo no peito. A bengala estava caída e Seungho se segurava em Daejung que mesmo desnudo, tentava segurar o avô. Hyunjin e os meninos se aproximavam. Do outro lado da sala, Jisu ainda apontava a arma. Ela, velha e tórrida demais para correr, acabou fraquejando e caindo, com dores em seus joelhos.
Algo dominou Félix. Algo perto da possessão do ódio, como se os mil demônios entrassem em seu corpo.
Ele rosnou e olhou para Yeojin.
E então, a raiva o cegou.
Ele correu até ela, as patas arrancando terra por onde corria, e atracou-se com ela, de maneira que ela ganisse quando os dentes dele perfuraram sua pele. Mesmo com as patas ensanguentadas e feridas, Félix ainda corria e a empurrava. Como se pudesse exprimir toda a sua raiva.
Em um passo falso, caíram na água suja e puída da piscina abandonada. O barulho da água fez com que todos corressem para fora.
Hyunjin foi o primeiro a chegar. Daejung carregava Seungho e Jihun surgiu, transmutado de lobo.
A água ficou silenciosa. Nenhum som ou ruído.
— Félix... — Hyunjin estava quase chorando.
Dentro do casarão destruído, Jisu se erguia. O tiro fez bem: Ninguém prestara atenção nela, apenas em Seungho. Hyunjin e os outros, ocupados demais para vê-la e Jihun estava tentando levar Kwangsun e Maeum para fora da casa.
Ela pegou a bengala.
— Todos mortos. — ela gargalhava. — Todos mortos, mortinhos! O sangue Im não vai sobreviver, vão todos morrer e eu quero estar presente no enterro de cada um! Viu só, Im Hwan! Você e sua família são fracos, inúteis!
Ela andava pelo salão. Bastou apenas um estalo para que ela olhasse para cima e ver que o lustre estava pendurado por um fio.
Não deu tempo de expressar nada. O lustre de cristal despencou-se do teto, e a atingiu. A estrutura de ferro esmagou sua cabeça e seu corpo, fazendo com que uma poça de sangue começasse a sujar o piso de madeira escura. Agonizando em dor, ela viu a poça, entre o fogo que se formou, pela fiação maldita do lustre, que atacou uma cortina. O fogo se alastrou pelas cortinas penduradas no teto e atingiu o verniz das escadas. Enfim, foi o sangue dela que sujou aquele chão. Os cristais perfuraram sua pele fina, que um dia foi bela. Os cacos refletiram seu rosto ferido e sua cabeça em sangue, vendo-lhe que no final, ela era apenas mais uma Ômega sem honra e sem esperanças. Se viu jovem naquele reflexo, a jovem Jisu que já foi bela.
E agora, seria apenas mais um cadáver no chão daquela casa que começara a entrar em chamas.
「• • •」
Nas águas mórbidas da piscina, o sangue sujou o líquido viscoso. Hyunjin e Hajun ajoelharam-se.
Maeum e Jihun se aproximaram e todos já esperavam o pior.
Foi quando uma mão ergueu-se na água e Hyunjin ergueu a cabeça e reconheceu a mão tatuada de Félix. Ele viu que seu Ômega estava surgindo da água e tentava respirar. Quando Félix estava próximo da borda, ele agarrou a mão dele.
Félix estava mais pesado e então, percebeu-se que Félix trazia nas margens da água, o corpo sem vida de Yeojin.
Com o pescoço completamente carcomido pela mordida canina de Félix.
Ele jogou o corpo dela na borda. Os olhos dela estavam sem vida, abertos. Nua, ela estava completamente ferida.
Quando Hyunjin puxou Félix, ele estava desnudo. Mas isso não atrapalhou que eles se abraçassem.
— Você está aqui. — Hyunjin soluçava. — Você lutou, você venceu...
Félix limpava as lágrimas dele, fraco e ferido.
— Lutei por nós... Querido...
De repente, Félix olhou para o lado e viu Hajun. O garotinho estava sentado.
— Mama?
Félix começou a chorar e então o pegou no colo. Hajun estava chorando.
— Mama!
Changbin e Minho desceram da árvore e Changbin tratou de pegar o ponche que usava em seu corpo e cobriu Félix. Grande, ele cobriu o corpo de Félix até metade das coxas.
Quando soltou-se de Hajun, Félix olhou para Daejung que segurava o corpo de Seungho.
— Vovô! — Félix levantou-se, fraco. — Vovô! Não!
Todos alcançaram Seungho. O velho ainda estava vivo, mas por pouco tempo.
Quando Félix se aproximou com Hyunjin, a água pingou na ferida dele. O velho abriu os olhos.
— Ah... Olhe para você. — ele sorriu. — Você está vivo... Ganhamos, não ganhamos?
— Precisamos ir a um hospital agora. — Félix tentou, mas suas mãos foram seguradas por Seungho.
— Félix, já é tarde. Estou fraco, meu corpo não aguenta mais nada. Já fiz o que eu tinha que fazer. Hwan está me esperando.
— Ele pode esperar mais um pouco. — Félix estava chorando. — Por favor, não me deixe... Agora que começamos...
— Agora que você começou, Félix. — ele tossiu. — Eu te dei meu sangue e a história. Te dei a luz e o caminho. Agora, quem segue ele é você. Não somos mais os Im's... Somos os Lee's. E não me arrependo nenhum pouco de ter feito isso.
— Vô... — Félix soluçava. — O que eu farei sem você?
Seungho se mexeu com cautela. Viu que Hyunjin estava no seu lado e então, puxou a mão de Félix e de Hyunjin, as unindo encima de seu peito ferido.
— Viverá com quem você escolheu amar. Terá filhos, netos e manterá sua felicidade. O meu amor com Hwan marcou vidas e gerações por lendas e mistérios. Agora, é a vez de Hyunjin e Félix construírem a sua história de amor.
Hyunjin e Félix se encaravam. Hajun escalou o colo de Félix e tocou na face do senhor.
— E claro. — Seungho sorriu com as mãos de Hajun em seu rosto. — Não podemos esquecer desse pequeno ser de luz que nos trouxe esperança. Pode não ser o filho que tanto sonhou, Félix, mas Hajun foi a sua esperança...
Ele tossiu novamente, e Jihun em sua transmutação, encarou o pai.
— Nem olhe assim para mim, Jihun. — Seungho estava perdendo as forças. — Já imaginava que cedo ou mais tarde, esse velho iria partir. Fique feliz por mim, eu irei ver seu pai.
Jihun abaixou a cabeça de lobo e como se chorasse, fechou os olhos. Seungho se virou para Félix novamente e para Daejung.
— Espero que se mantenham juntos e amigos. Não posso me perdoar pelo que errei, mas quero que consertem o erro que foi ter que separar vocês dois. Se permaneçam unidos...
— Por você, vovô. — Daejung já chorava. — Por você...
A casa explodiu, fazendo com que todos olhassem para os escombros. Seungho segurou as mãos de Félix.
— Amor e família em primeiro lugar, Félix... Lembre-se...
E com isso, Seungho se fora. Quando sua respiração parou, todos já sabiam que Lee Seungho/Im Heejun, já tinha ido embora para os braços celestiais de Im Hwan.
Estamos no penúltimo capitulo.
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