30 ➵ A Minha História e o Meu Passado
Secret Love | Hyunlix
FÉLIX ENCAROU o homem em sua frente, perdido e catatônico. Hyunjin estava pálido e Maeum se pôs a ficar chorosa, enquanto Jihun encarava toda a cena.
Changbin abriu a boca para algum comentário. Mas foi Jisung que comentou.
— Ótimo, estamos vivendo uma novela mexicana agora. — ele esfregou as têmporas. — Quer saber, eu desisto.
Félix soltou-se do aperto da mãe de Daejung.
— Irmão?
Daejung deu um sorriso.
— Olhe, se não fosse por sermos de sangue, eu daria uma chance de te ter como meu. Olhe para você, é muito bonito. E antes que me pergunte, meio-irmão, querido Félix.
— Se continuar com esses comentários. — Hyunjin rosnou. — Eu juro que vou quebrar a sua cara.
— Vai com calma, Hyunjin. — Daejung esticou-se. — Incesto não combina comigo.
Félix se virou para o avô.
— Eu exijo explicações, não só porque caralhos eu tenho um irmão, mas disso.
Félix soltou o álbum de fotos encima da mesa de centro. Limpo e ajustado, a capa era feita de couro, com o nome de Hwan marcado delicadamente em letras cursivas. Seungho fechou os olhos e suspirou ao sentir seu coração falhar. Félix abriu as páginas e deparou-se com a foto que o levou a visitar seu avô.
— As coordenadas dessa foto batem com o local da fazenda. Não tem erro algum. E não só isso. — ele apontou para a figura de Im Heejun. — A mesma bengala que ele usa, é a mesma que você porta em suas mãos. Só muda a cabeça dele. É um leão entalhado na sua, enquanto de Heejun é uma águia. Você me deve explicações.
Seungho encarou aquela foto. O silêncio foi gutural naquela sala, o suspense fazendo jus. Ele ergueu os olhos para Jihun que estava sério, mas via-se que seus olhos brilhavam com algumas lágrimas que iriam escapar. Maeum estava tão estática quanto uma boneca de porcelana e Daejung estava sério. Ele bateu a bengala no chão antes de se levantar e andar pela sala.
— Se eu fechar os olhos, eu poderia bem me lembrar de quando tudo aconteceu: De como eu o encontrei, caído no chão e ferido. De como ele sorriu para mim quando eu o resgatei…
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— Me desculpe pelo transtorno. — o jovem rapaz sorriu tímido. — Meus antepassados lhe saúdam e te agradecem.
— Me diga. — o jovem homem bateu a bengala no chão. — Porque estava caído no chão.
— Exagerei nas doses de supressores e estou sem comer durante alguns dias. Estava fugindo de algumas coisas.
— Especificadamente de quê?
O jovem ficou cabisbaixo.
— Da pobreza e da fome de meu país. Me perdoe, se quiser me liberar, eu posso tentar arrumar um emprego na cidade vizinha e...
— O que você sabe fazer?
— Eu sei fazer muitas coisas, senhor. Cozinhar, limpar, capinar, consertar... Sou estudado também, tenho um diploma escolar, embora ele não tenha sobrevivido á travessia.
— Estou precisando de um assistente. Pode me pagar com seus serviços em minha propriedade, senhor...
— Kim Hwan. — ele disse, nervoso. — Mas pode me chamar de Hwan.
— Feito, Hwan. Estarei te contratando.
O homem bateu a bengala no chão.
— Espere. — o rapaz deitado o chamou. — Eu não sei seu nome.
Um silêncio se fez presente.
— Meu nome é Heejun. Im Heejun.
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— ... Eu poderia me lembrar de todas as vezes que fui ao jardim e o encontrei, cortando roseiras ou ajudando as empregadas com as compras. Ele esperava todas se alimentarem para comer por último, ajudava as crianças Ômegas e Alfas, contava histórias e falava a língua de minha família. Meus pais ficaram encantados quando o viram e disseram que o rapaz era uma perfeição. Eu não sabia que ele estava perdidamente apaixonado por mim, e então, ficamos amigos. A proximidade de nossos momentos, a troca de segredos... De como ele me contou que era um Ômega…
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— Não me disse que era um Ômega. — ele esbravejou. — Eu não deveria tê-lo deixado em meios aos Alfas! Imagine se entra em heat, quem te socorreria?
— Não fique zangado comigo! — Hwan gritou. — E não pense que eu não sei me defender sozinho! Eu não sou um Ômega fraco que precisa de ajuda todas as horas!
Eles se encararam. A chuva ameaçando cair.
— Vamos para dentro, minha mãe quer te ver.
— Mas...
— Tire suas coisas da ala dos empregados Alfas e se mude para um dos quartos do andar de cima. É uma ordem!
— Jisu não gostará de saber disso.
— Jisu não é dona da minha casa. Não me desobedeça, Hwan.
O Ômega lhe mostrou a língua e ele saiu, nervoso.
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— ... Os dias vieram... E com ele, o sentimento de amor só crescia. — Seungho parou em meio a janela, vendo um trovão cruzar o céu e um sorriso iluminar seu sorriso. — Estávamos nos amando e foi naquela tempestade de verão... Que eu tive a certeza que eu estava apaixonado.
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— Hwan...
O Ômega parou em sua frente. Olhos cianos e sorriso brilhante, eles observavam a chuva desmanchar a terra e as árvores, uma paisagem triste, mas profundamente aconchegante.
— O que foi? — o Ômega olhou pela janela. — Ora, mas que dia lindo. Chuva e amor, tudo em um ambiente que me fez...
— Eu te amo.
O Ômega ficou sério e o encarou. Olhos brilhantes se tornaram confusos.
— Senhor...
— Eu te amo, por favor, creia nessas palavras. — ele segurou os ombros do jovem. — Porque você precisa saber que em todas as noites que eu me deito, é com você que eu sonho. Eu te amo, Hwan. Não tenha dúvidas de que você é o meu Ômega e é com você que eu quero ter filhos e um laço.
Ele abaixou a cabeça e começou a chorar. Talvez de vergonha, de medo. Não estava acostumado com tais sentimentos, com o amor. Nunca havia o sentido, e a tristeza assolava sua vida, em um casamento sem amor com uma Ômega que só o tinha por interesse.
Sentiu uma mão macia erguer seu queixo e então, encarou o lindo sorriso do Ômega. Seus olhos claros tinham lágrimas também, mas havia felicidade.
— Não precisa se envergonhar. — ele sussurrou delicadamente. — Por que está chorando?
— Porque deve me rejeitar agora. Não sou digno de ter um Ômega como você.
Hwan secou uma de suas lágrimas. Fechou os olhos e tocou seus lábios em um beijo casto e delicado. Ele enlaçou a cintura dele com os braços, enquanto o beijo ficava cada vez mais doce.
Quando se distanciaram, Hwan beijou a ponta de seu nariz.
— Me dê amor, Heejun. Pois é você que eu amo também.
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—... Ele me deu amor. Eu lhe dei felicidade. Ele me deu a chance de ser alguém. Passamos dias deitados na cama, seu ventre colado nas minhas costelas... Mas o dia do baile de Jisu havia chegado e eu tinha que anunciar. A gravidez de Hwan estava perceptível e a mordida... Era tão grande que ocupava quase todo seu pescoço. E o nosso amor, era já contado por toda a Ásia...
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— O casamento está anulado. — ele anunciou para ela. — Você jamais poderá me amar como ele me ama.
Ela ficou vermelha.
— Vai se arrepender de ter feito isso. — ela destilou seu ódio. — Você vai pagar caro por isso, seu desgraçado!
Ela encarou Hwan e tentou atacá-lo, mas foi segurada por Heejun.
— Não ouse tocar nele. — Heejun rosnou. — Chega de teatros, Jisu.
Ela cuspiu no rosto dele.
— Vocês nunca serão bem vindos. — ela berrou de ódio. — Principalmente esse Ômega. Vocês são uma desgraça para o mundo, Ômegas são uma aberração maldita!
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— ... Sobrevivemos ao ódio, aos boatos. Ômegas machos começaram a sofrer com o nosso erro e com as palavras de Jisu. — uma lágrima escorreu da bochecha enrugada de Seungho. — Mas ele sempre era tão forte aos boatos. Acolheu Ômegas, deu teto e comida. Eu sempre me lembrarei dele sorrindo…
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— Ele está sorrindo. — ele sacudiu um pequeno Junseok na manta de recém-nascido. Jaesang e Jongsu de três anos de idade, olhavam o irmão pequeno. Heejun beijava a bochecha de seu Ômega.
— Maninho. — Jaesang beijou o nariz de Junseok. — Posso lamber ele?
— Só não vale transmutar na minha cama. — Heejun riu, mas Jongsu não escutou o pai, transformando-se em um pequeno lobinho cinza-escuro, andando no chão do quarto.
Ele uivou baixinho e Jaesang caiu no chão, se transmutando também, correndo com o irmão. Hwan deixou uma lágrima escorrer pela bochecha.
— Nunca fui tão feliz. — ele encarou o Alfa. — Eu te dei filhos e estamos aqui.
— Sempre estaremos. — Heejun beijou a testa dele. — Amor e família em primeiro lugar.
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— ... A quarta gravidez foi um erro. Ele não tinha mais o corpo perfeito para aguentar uma gestação. Jisu ainda destilava veneno, estávamos acolhendo mais famílias pobres e feridas pelo preconceito de castas. Muitas passando fome, ensinando os meninos a terem paciência com as visitas. Jaesang e Jongsu se casaram muito cedo, não aproveitei eles... Foi quando Principessa chegou e Junseok estava precisando de amigos…
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— E então, eles viveram felizes para sempre. — Junseok fechou o livro. — Você gostou do livro, papai?
Hwan sorriu e passou as mãos no rostinho de Junseok.
— É claro, amor. — ele lambeu a bochecha de seu filho. — Você é um bom contador de histórias.
— Eu te amo, papai. Quando que meu irmão vai nascer?
Ele olhou para o ventre grande de seu pai.
— Logo, logo... — eles sorriram e a porta do quarto se abriu. Heejun estava na porta, de mãos dadas com Principessa, abraçada com um ursinho.
— Junseok, o Kwangsun está te esperando no jardim.
— Eba. — ele pulou da cama. — Eu volto depois, papai! Vou contar a história dos doze corvos para você!
Hwan suspirou.
— Claro, o papai vai estar esperando...
Junseok correu e Principessa se aproximou da cama de Hwan. Calada e tácita, ela apenas fechou os olhos ao sentir os lábios de Hwan na sua testa.
— Está muito bonita hoje, Pessa. — ele sorriu. — Por que também não vai brincar no jardim?
Ela assentiu e saiu com Heejun. O Alfa olhou para o Ômega, fraco e abatido na cama. Pediu aos céus que o parto chegasse logo e que tudo ocorresse bem.
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— ...Quando o parto chegou, mandei Junseok e Principessa para a casa de alguns amigos. As parteiras tentaram de tudo, mas ele ficou tão fraco. Os médicos me alertaram que ele não poderia sobreviver. Mas nasceu sim, uma menina. Uma menina de olhos azuis e cabelos loiros. Ela ficou conosco, mas não se passou nem uma semana do parto direito, quando Hwan deu sinais que não ia viver…
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— Eu tentei ser forte, querido. — ele estava com os lábios secos e brancos. — Prometa-me que vai cuidar dela, prometa-me Heejun...
— Eu prometo, meu amor... Por favor, Hwan não se vá.
— Eu preciso ir... — uma lágrima escorria de seu rosto pálido. — Nunca esqueça que eu te amo...
— Hwan... — ele segurava ele entre seus braços. — Por favor, não me deixe. Com quem eu serei feliz? Com quem eu viverei eternamente?
— Eu estarei te esperando. Lembre-se... Lembre-se... Que eu te amo, além de nossos mundos.
— Hwan...
E então, ele caiu desfalecido entre seus braços. O grito de Heejun soltou naquela noite de tormentas, foi tão alto que até mesmo a morte foi capaz de chorar.
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—... Hyeri morreu dois dias depois, vítima de um coração que nasceu irregular. Enterrei marido e filha. Não tardou para que Jaesang e Jongsu também sucumbissem a doença, pois sem ligação de laço com seus devidos Alfas, faleceram por solidão. Em menos de meses, enterrei dois filhos, o único homem que amei e uma filha que mal pude conhecer. Me restaria apenas um filho Alfa e uma menina que estaria em minha tutela. A sociedade não foi empática comigo. — Seungho derramou mais algumas lágrimas. — Eles me pediram um novo casamento, para que eu desse mais alguns Ômegas para essa maldita vida que fui condenado. Tudo porque eu nasci com o sangue puro e era participante de uma liga maldita que não visava o amor e nem a família.
Nesse ponto, Jihun estava chorando e Félix também. Kwangsun ergueu os olhos para Jihun.
— Eu estava perto do meu melhor amigo de infância durante todo esse tempo... — ele se levantou. — Então, o acidente...
— Uma farsa. — Jisung o interrompeu. — Vocês mentiram sobre o acidente.
Seungho se virou.
— Era necessário que os Im's morressem para que os Lee's surgissem. Longe de tudo e de todos. Junseok e Principessa estavam grandes e você. — ele apontou o dedo para Kwangsun. — Estragou a vida de minha Principessa.
— Acha que eu queria aquilo? — Kwangsun esbravejou-se. — Acha que eu não me culpei durante todos os dias de minha vida, porque tive que "enterrar" meu melhor amigo e a única mulher que amei?
Maeum soluçou baixo e Félix notou-se. De repente, ele ligou os pontos.
— Por que não pediram simplesmente para sair da liga? — Hyunjin enpadeceu-se — Por que não pediram para irem embora e recomeçar em outro lugar?
— Porque já era tarde demais para nós. — Seungho deu de ombros. — Já sabiam de nós. O nosso sangue era poderoso demais, tínhamos tudo o que vocês não tinham. Esperavam muito mais da gente.
— Isso não cabe um motivo para fingir a morte e desaparecer do mapa. — Kwangsun se virou. — Tem muito mais coisa do que um simples medo das pessoas.
— Tem algumas coisas que você não precisa saber. — Daejung se ergueu, puto. —Tem algumas coisas que você não deveria nem sequer imaginar.
— Não te chamei na conversa, cachorrinho abandonado. — Kwangsun ficou mais nervoso. — Isso tudo está bastante confuso para minha cabeça. E ainda mais, se você é meio irmão de Félix, significa que Maeum não deve ter sido muito fiel ao maridinho.
Jihun avançou sobre Kwangsun, pegando ele pelo casaco.
— Peça desculpas por esse comentário nojento, seu filho da puta! — ele o apertou mais. — Peça desculpas á minha Kiyomi agora!
— Jihun! — Maeum gritou. — Pare!
Hyunjin e Christopher trataram de separar os dois. Daejung encarava a cena.
— Covarde. — Jihun gritou. — Ousa-me possuir a única mulher que eu amei e agora, depois de tantos anos, ainda ofendê-la!
A sala caiu em um silêncio terrificante, onde Félix se virou para a sua mãe. Maeum estava soluçando já, entre os meninos. Kwangsun se soltou dos braços de Christopher. Tácito e assustado, ele encarou a Ômega chorosa.
— Principessa... — ele sussurrou. — Principessa... Minha dama, você?
Félix olhou para a mãe e de repente, ela levantou os olhos.
— Principessa é uma variante italiana. Uma variante de nobreza. Então sim, eu sou Principessa.
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