29 ➵ Os Demônios do Passado e Daejung
Secret Love | Hyunlix
A FAMÍLIA Choi nem sempre foi obcecada por poder e sangue. Seu lema era esse, mas passava longe. Muito antes da chegada dos Im's, a família era de puro amor e paz entre as castas baixas. Mas a obsessão de alguns progenitores dessa família, pôs tudo a perder.
Choi Jisu foi uma das mais lindas jovens da Liga. Seus cabelos eram negros, como uma noite sem estrelas em seus ombros, espalhando pelas costas. Ela o prendia com fitas azuis e rosas, combinando com seus vestidos. Seus olhos verdes brilhavam como esmeraldas. Amada e adorada, ela sempre acreditava que seu sangue deveria ser espalhado. Como Ômega Pura, sua beleza era radiante e influenciável.
Até que em uma manhã, durante seu passeio após a volta de alguns soldados da guerra, ela o viu: Im Heejun trajando um uniforme militar. Ele havia chegado a idade do casamento, como seus pais haviam anunciado em um jantar. Como o único filho, eles preocupavam-se com a linhagem acabar. Sabiam que os Im's era uma família que gerava muitos Ômegas, e que isto era uma preciosidade sem tamanho para a sociedade na época.
Heejun era um dos rapazes mais bonitos que ela já vira, com os cabelos castanhos escuros, olhos castanhos claros e sorriso de um Deus. Musculoso e simpático, ele era um candidato forte a ter o coração da virgem e serena Choi Jisu.
Quando chegou em casa, sua mãe perguntou o que queria de aniversário.
— Eu quero Im Heejun como meu esposo. — e ela sorriu para eles.
Dias se passaram e lá estava o casamento marcado. Jisu estava tão contente que não se cabia. Finalmente, botaria a sociedade impura e meia raça nos seus braços e aos seus pés. Heejun não ficou nem um pouco satisfeito, implorando aos pais que anulassem o maldito noivado. Sem voz, ela se lembrou dele saindo da mesa de almoço, onde foi convidada pelos pais deste, vendo-o pegar o carro e sair sem rumo. Ela ficou deveras magoada. Estava usando seu melhor vestido de verão, um modelo rodado, comprado depois de ver um filme em Hollywood. Seus cabelos negros estavam cheios e brilhosos, com um lindo laço azul fazendo uma tiara. Dias depois, recebeu a notícia de que Heejun estava em uma cidade qualquer, descansando a cabeça. Por ser virgem e casta, Jisu não poderia ir. Era um tanto pecaminoso ver um casal não casado, fugir para longe.
Meses se passaram e enquanto ela mesma cuidava do casamento, Heejun ficava cada vez mais amigo de um criado, chamado Hwan. Um Ômega maltrapilho e sujo, que ele achava ser inteligente e bonito. Ela nem sequer preocupou, pois ela era mais linda e mais rica. Ledo engano.
No dia em que a sociedade da Liga fez uma festa para promover seu casamento, Im Heejun surge com Hwan, ostentando uma barriga de gravidez de gêmeos, com um pouco mais de quatro meses. Usando um terno bege e sorrindo, o Ômega estava tão belo que fez todo o salão suspirar. A beleza dele era incomparável, e Heejun orgulhoso, gritou a todos que o casamento estava anulado.
O ódio de não ser mais amada e querida pelo mundo e de seu sangue não ser mais valorizado, fez com que Jisu acumulasse ódio. Sua língua afiada fez com que os Im's sofressem, mas não apenas eles: Todos os Ômegas sofreriam com sua mentira e com seu ressentimento. Heejun cortou quaisquer laços com a família Choi, e se aproximou da família Hwang, os fazendo de amigos.
Os anos se passaram e com isso, veio o casamento com outro Alfa e uma filha: Choi Yeojin nasceu seis meses após o nascimento de Im Junseok, o terceiro filho da linhagem de seu antigo noivo. Yeojin nasceu com o ódio da mãe correndo em suas veias. Seu pai, um velho Alfa, morreu quando ela ainda era criança, sendo incumbida a sua criação por Jisu.
Não teve uma infância feliz: Ela era mais criada pelas governantas do que pela própria mãe. Se tentasse se aproximar de Junseok durante os jantares e as festas, era duramente castigada pela mãe, com direito á surras e a palmatórias. Aos quatro anos, já sabia que Junseok deveria ser um inimigo.
Jisu fazia de tudo para ver a desgraça dos Im's. Educou Yeojin para fazer o mesmo, a educou para ser como ela.
E quando a quarta gravidez de Im Hwan foi anunciada como uma gravidez de alto risco, ela pôs seu plano em jogo.
「• • •」
O amanhecer veio lento. A escuridão foi dissipada com a luz solar divina, o frio foi vencido pelo calor matutino. Mas nenhum dos meninos atreveu-se a sair da cama, principalmente Hyunjin. Estava confortável.
Mas Félix já estava de pé. Enrolado em um cobertor macio, ele estava sentado na janela, vendo a aurora beijar a terra como um gracioso desejo de iluminar e trazer o calor. Tremia-se debaixo da camada grossa de lã, mas não sentia frio.
Apenas nervosismo.
Ele pegou a foto do álbum. Uma que ele achou, vendo Im Hwan, sorrindo e alisando a barriga de gravidez. Deve ter sido aquela gravidez que lhe ceifou a vida. De fato, Félix e ele eram parecidos: Até os cabelos bagunçados e o jeito de sorrir.
Ele passou pela outra, vendo o que poderia ser uma das fotos mais bonitas: Heejun e Hwan, um olhando para o outro, em um tenro sentimento de amor. Sentados na grama, eles pareciam jovens demais, como se a foto fosse tirada antes de toda a confusão que eles causaram. Heejun estava timidamente olhando para Hwan, que segurava uma rosa e sorria apaixonado para ele. Pareciam amorosos e calorosos, um sentimento que Félix sentia por Hyunjin. Se perguntava se algum dia, teria um álbum assim com Hyunjin e seus filhos.
Hajun.
O nome veio em sua mente, como um relampeio de tristeza. Seu filho, aquele que ele carregou no ventre, durante nove meses. Félix poderia se lembrar de quando descobriu a gravidez: Sentado no chão do seu quarto, o teste dando positivo e metade de um copo de cerveja vazio jogado no chão. Félix chorou feito uma criança, mas de felicidade. Alisou a barriga magra.
— Eu te amo, mesmo sabendo que você veio de formas inesperadas. — ele sussurrou.
A dor veio quando ele entrou em trabalho de parto, naquela cela fedendo a urina e a sangue podre. Suas mãos se agarravam nas mãos de outros dois Ômegas, enquanto ele gritava. Ele se lembrou de quando um deles — Munido com um bisturi e álcool, roubados da mesa de torturas — ficou entre suas pernas.
— Amarrem a boca dele. — ele pediu, enquanto cortava a barriga de Félix. O grito foi padecedor, e Félix desmaiou. Os Ômegas se juntaram e tiraram as camisas, montando uma espécie de cobertor improvisado, acolhendo o corpo ensebado e gritante da criança. Foi naquele momento que Félix acordou. Viu que o corte de sua barriga estava sendo remendado e um par de olhos verdes azuis estava lhe olhando. Mexia-se lento. Lá estava seu filho.
Félix deixou uma lágrima cair ao se lembrar que pegou a mãozinha suja de seu filho e a beijou.
— Oi meu amor. — ele soluçava baixinho. — Eu te amo tanto, tanto, tanto...
Uma das Ômegas havia o amamentado, sendo uma ama de leite improvisada. Changbin esticou sua mão até Félix, mostrando uma menininha e sorrindo.
— Eles nasceram, eles nasceram vivos... — Changbin chorava ao ponto de ficar vermelho. — Nossos bebês, Félix...
Quando Félix acordou da lembrança, as lágrimas borravam as fotos em suas mãos. Imaginou o quanto Im Hwan também deveria ter sofrido, quando dera a luz, mas não sobreviveu durante muito tempo. Félix imaginou, aquele lindo rapaz das fotos, deitado em travesseiros grandes, com o ventre remendado, dando adeus a própria vida, enquanto Im Heejun deveria estar ajoelhado ao seu lado, chorando de dor e angústia.
Hwan e Félix tinha uma história em comum: Havia tristeza em suas vidas, de diversas maneiras. Hwan lutou contra uma sociedade que queria destruir sua felicidade com boatos e Félix lutou contra um passado torturante de medos e de dor. Seus caminhos estavam entrelaçados, entre a dor e o amor.
Hwan teve Heejun.
Félix tem Hyunjin.
E com isso, Félix tinha a certeza que onde quer que ele esteja, Hwan estaria olhando para ele e dando forças para continuar a seguir com as descobertas dos malditos segredos, seja lá o que eles poderiam ser e onde poderiam levar.
Ele encostou as fotos em seu peito e tardou em chorar. Quando se virou, viu Hyunjin de pé atrás dele.
— Porque choras, meu amor? — o Alfa estava sorridente, segurando o travesseiro. — Está tudo bem?
Félix se levantou e saltou para os braços de Hyunjin, encontrando as bocas em um beijo repleto de amor e de esperança. Hyunjin recebeu aquele beijo onusto de sentimentos com prazer. Suas mãos apoiaram-se na base da coluna de Félix e ele sentiu que seu pequeno ainda chorava.
— Eu poderia falar que te amo. — Félix separou-se de seus lábios. — Mas acho que não preciso dizer com tanta frequência.
— Eu adoraria escutar o doce som de sua voz sempre falando que me ama. — ele beijou a testa de Félix. — Não entendo porque está chorando.
— Deve ser um tanto de estresse que ando vivendo. Hoje é um dia que devemos descobrir muitas coisas, mas minha cabeça dói só de imaginar.
— Tem tanta teoria na minha cabeça. Coisas sem sentido, nomes que não nos levam a lugar algum. É como se eu estivesse dentro de um labirinto com essa história.
Félix deu de ombros.
— Você não é o único.
「• • •」
Não distante, Maeum andou até o sótão da casa. Jihun preparava o carro para a viagem, e dava instruções para os Alfas, para cuidarem da propriedade. Pela janelinha empoeirada, ela viu o marido, em tonalidade rude e rígido.
Ela o amava muito, principalmente pela história que viveram.
Sabia que cedo ou tarde, muita coisa poderia vir á tona. Se seus cálculos estiverem corretos, Félix já sabia de algo.
Andou até ao velho baú, que cheirava a mofo. Ela se lembra quando empurrou ele para dentro dessa casa, para esconder seu passado e seu presente. Jihun a fez prometer que nunca abriria esse baú.
Mas promessas foram feitas para serem quebradas, ela pensou sozinha.
Tirou do bolso da calça, a velha chave. Destrancou com um tanto de força. Lá dentro, ela remexeu em algumas coisas e pegou, o que seria sua lembrança mais dolorosa: Um xale cor de ouro. Aquele xale que foi um presente vindo da América do norte, um presente de viagem. Aquele xale que tinha uma história trágica e maldita, que ela guardou por não sustentar a lembrança que ele trazia.
Pegou algumas coisas e fechou o baú. Quando tentou se levantar, sentiu uma pontada na barriga. Aquela ferida ainda lhe doía ás vezes, mas só quando estava perto demais de algo que liberava seus demônios.
「• • •」
Pela tarde, Lee Seungho estava sentado em sua cadeira de balanço. Perdido entre os pensamentos e as memórias, ele viu Hwang Kwangsun cortar lenha. O homem na sua frente estava muito calado durante os dias que se seguiram. Não o vira reclamar e nem fazer perguntas. Passava o dia fora de casa, construindo as novas cabanas e ajudando na colheita de frutas. Já que todos as famílias foram embora, só restara Naomi e Akira, seus guardiões leais.
Você mudou muito, Seungho pensou ao olhar ele, carregando algumas toras de madeira para dentro do chalé.
Imaginou que mesmo com a segurança sendo feita lá fora, tinha um tanto de perigo. Esperava que todos aqueles homens armados da ARO não estivessem mais rondando a região.
Mas será que ele se foram?
Seungho viu o clarão do carro de Jihun e Maeum. A mensagem de Maeum estava bem clara, já era em tempo.
Com isso, ele assobiou. Alguém apareceu a porta.
— Sua ómoni chegou, Seoja. — Seungho cuspiu.
— Se me chamar assim de novo, eu juro que não compro fraldas geriátricas mais.
— Quem vai precisar de fraldas aqui é você, quando eu meter um chute nesse sua bunda. — Seungho rosnou. — Vá recepcioná-la.
Seungho voltou a ficar calado, enquanto estranhamente, sentia que algo estava muito errado.
「• • •」
Félix e os meninos chegaram antes do entardecer. Munido com o álbum de fotos e toda a força que tinha, ele saiu do carro, juntamente com os outros.
— Eu estou mais nervoso do que vocês. — Christopher confessou. — Eu tô muito nervoso.
Changbin suspirou.
— Tem certeza que estamos prontos para isso? — ele encarou Félix. — A história nem é minha, mas eu estou colocando as tripas para fora.
Hyunjin segurou uma risada.
— Bem, acho que isso tem tempo demais.
— Quase quarenta anos de espera, não deve demorar mais nenhum segundo. — Félix estava sério. — Chega de segredos.
Eles entraram pela porta aberta. O ar ficou deveras pesado. Na sala enorme, onde havia uma vista para o mato denso, cinco figuras estavam esperando.
Félix deixou todo o ar dos seus pulmões esvaziarem quando viu sua mãe, de pé ao lado de seu pai. Jihun estava segurando um copo de conhaque quente. Do outro lado, Hwang Kwangsun apagava um charuto, mostrando que estava completamente nervoso. Seungho estava sentado na poltrona de couro, batendo a bengala no chão, como se rezasse uma sina maldita.
Félix estreitou as vistas para a quinta figura, de pé. Estava de costas á eles, olhando a vidraça da janela.
O silêncio e a tensão era horríveis.
— Filho... — Maeum estava nervosa. — Sunshine...
— Mamãe. — ele abraçou ela. — Mamãe... Por que está gelada?
Ela soltou um gemido baixo e alisou o rosto de seu filhinho.
— Está tão bem, e olhe... — ela puxou o echarpe delicadamente. — Foi marcado.
Félix sorriu triste.
— Depois falamos sobre isso, mamãe. — ele olhou para a figura calada. — E quem é ele?
Jihun bateu os pés no chão.
— Ele não deveria estar aqui. — rosnou. Seungho ergueu sua mão.
— Sem teatros, Jihun. Ele faz parte da história, mais do que nunca.
Hyunjin ergueu uma sobrancelha para o pai.
— E o que você está fazendo aqui?
Kwangsun deu de ombros para o filho.
— Eu gostaria também de saber. Fui apenas chamado. Estou morando aqui faz alguns dias, desde que sua mãe decidiu morar com suas irmãs.
— Você não deveria estar aqui. — Hyunjin avançou com raiva. — Eu não esqueci do que fez.
— Basta, Hyunjin. — Seungho foi imparcial. — Deixe que seu pai participe. Ele tem algo para fazer e algo para procurar uma redenção.
Essa palavra fez Maeum arrepiar.
Seungho bateu a bengala no chão.
— Chega de mistérios, não estamos presos em um livro de mistérios. Participe das apresentações, meu sonja.
Félix sentiu um pânico ao entender que sonja é neto, na língua traduzida.
A figura se virou.
Ele tinha os olhos mais diferentes que Félix poderia ver: Seu olho esquerdo era azul e seu olho direito era âmbar. Uma heterocromia leve, mas que fez toda a diferença do mundo. Seu rosto tinha uma forma delicada e ele era muito lindo.
Parecia uma fusão perfeita entre Hyunjin e Félix.
Ele deu um passo á frente, usando apenas uma regata e calças rasgadas no joelho. Uma grande tatuagem cobria seus braços.
Félix andou até ele. Pararam um de frente ao outro. Daejung sorriu maliciosamente e Hyunjin rosnou.
— Ora, eu finalmente pude te conhecer, meu querido Félix... Digo, você é muito mais bonito de perto. Uma pintura renascentista não chega aos seus pés.
Hyunjin estreitou as vistas.
— Veja bem como fala com meu Ômega.
A figura apenas sorriu, exibindo dois belos caninos. Jisung e Changbin ficaram corados no lugar deles.
— Não se preocupe, não devo falar nada demais... Apenas o necessário. Muito prazer, Félix.
— Eu deveria te conhecer?
A figura beijou-lhe a mão, acariciando os nós dos dedos de Félix com a boca.
— Deveria. Meu nome é Daejung. Mas pode me chamar de irmão, se preferir.
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