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✦ três | vamos ser positivos

15:54 pm
38 hours 'til Christmas morning

— Vamos lá, quantos anos você tem? — Teddy fez mais uma pergunta, evidentemente, tentando se distrair da situação decadente.

— Você não fecha a boca um segundo, sempre? — Matthew suspirou. Ele estava cansado, com frio, com fome, e agora, com dor de cabeça.

— Qual é, vamos ter que passar mais... — A loira olhou o relógio em seu pulso — Trinta e oito horas juntos, acho legal nos conhecermos.

— Sabe o que eu acho legal? — Matthew fez uma pergunta retórica olhando em direção dela — O silêncio, não acha?

— Você é insuportável! — Ela esbravejou e ficou emburrada, sua feição dizia tudo, ela só queria estapear aquele loiro cínico até a manhã de Natal. Mas sabia que esse sonho não seria possível — Então vamos ficar assim? Trinta e oito horas em silêncio?

— É — Ele deu de ombros — E respondendo sua última pergunta, eu tenho 22 anos — Falou dando ênfase no "última".

Teddy não estava fazendo por mal, ela só não gosta de ficar naquele silêncio absoluto, e como eles teriam que passar muito tempo juntos ainda, ela queria se enturmar um pouco mais, até porque, ele estava ajudando a mesma. Ela nunca saberia chegar até o local esperado de ônibus.

— Olha, a loja do Lenny! — Teddy apontou para o local, um pouco mais entusiasmada.

Quando ambos olharam para o local, a placa de metal escrito "Lenny's" acabou caindo. O lugar era uma espelunca, por uma fração de segundos Matthew chegou a achar que o doce velhinho tinha feito uma brincadeira de mal gosto com eles, pois ele se perguntava, como um lugar desses foneceria um aluguel de carro?

— Caminhamos 13 quilômetros pra isso? — Teddy murmurou desanimada.

— Calma, essa é a nossa única esperança, vamos lá — Matthew falou apertando os puxadores das duas malas que carregava, e assim os dois caminharam até o estabelecimento.

Cada passo mais perto do lugar, mais Teddy reparava no quão deplorável estava a "loja", aquilo lhe assustava. Se o lugar era assim, imagina os carros que iriam oferecer para os dois!

— Oi, você deve ser o Lenny — Matthew abriu um sorriso cansado quando entrou na sala onde tinha um homem sentado atrás de uma mesa, lendo revista em quadrinhos.

— Não, sou Daryl — O homem sorriu abaixando a revista, enquanto Teddy lutava na porta tentando passar as malas pela mesma.

— Tem certeza disso? — A loira perguntou mal humorada, fazendo Matthew suspirar pesado ao seu lado.

— Eu tenho... — O homem respondeu um pouco... em dúvida? — Comprei a loja do Lenny — Explicou se levantando — E isso veio com a loja! — Apontou para o macacão com um crachá bordado "Lenny".

— Legal — Teddy ironizou cruzando os braços e direcionou seu olhar para Matthew.

— Por acaso você aluga carros? — O garoto enfim perguntou.

— Ah, deixa eu pensar — O homem apoiou seu queixo em sua mão de modo pensativo — Não! Querem carona para algum lugar?

— Palm Springs — Matthew encolheu os ombros.

— Ah, muito fora do meu caminho — Ele negou com a cabeça, fazendo Teddy xingar baixinho — Olha, eu tenho um velho Yugo pra vender — Ofereceu.

— O que é um Yugo? — Teddy perguntou com os olhos já marejados, tentando aceitar o fato de que perderia o Natal.

— É um carro uns 10 anos mais velho que você, fabricado em um país que nem existe mais — Matthew respondeu um tanto quanto desanimado.

— Por 50 pratas! — Daryl pontuou abrindo um sorriso, e Teddy e Matthew se entreolham.

— Aceitamos! — Responderam em uníssono.

— Vou ir pegar a chave da garagem, volto já — O homem de macacão avisou e saiu da sala, deixando os dois sozinhos.

— Eu falei que iríamos chegar a tempo, e nós vamos! — Matthew sorriu orgulhoso de si mesmo.

— Eu espero que sim, pois se não, esqueça as suas 200 pratas! — A loira disse irritada tirando a touca da sua cabeça e arrumou o seu cabelo, ainda emburrada.

Daryl voltou com a chave e levou os dois jovens até a garagem. Quando a porta de metal subiu, e os dois bateram os olhos naquele carro extremamente velho, parecendo vítima de vários acidentes.

— O que é isso? — Teddy ficou na ponta dos pés, sussurrando no ouvido de Matthew.

— Um Transformer — Ele respondeu irônico, fazendo a garota lhe dar um beliscão na costela — Ai!

— E aí? Uma belezinha, não? — Daryl perguntou sorridente, dando leves tapas na lataria velha do automóvel.

— Valeu cada centavo — Teddy ironizou abrindo um sorriso amarelo.

Daryl explicou algumas coisas do carro, alguns massetes que poderiam ser necessários. Matthew pagou o dinheiro prometido, e dois entraram no carro.

A noite já vinha caindo, e lentamente o carro se locomovia pela estrada asfaltada entre as montanhas. Tudo estava tão escuro que Teddy se recusava a dormir e deixar Matthew acordado sozinho.

— Você pode ligar os faróis? — Teddy pediu vendo que não havia luz na estrada.

— Eles estão acesos — Matthew respondeu checando no painel do carro.

— Não estão não.

— Então é porque o carro não tem — Ele respondeu simples, e a loira passou as mãos no rosto de maneira nervosa — Você está cansada, dorme um pouco.

— Eu não vou dormir e deixar você dirigindo sozinho, vai que pega no sono também — Ela negou com a cabeça.

— Eu sou um ótimo motorista, obrigado — Ele ironizou e logo os dois viram a placa de divisão continental — Começamos a descer.

— Agora é só ladeira abaixo — Teddy abriu um sorriso um pouco mais animada — Literalmente.

Mas rapidamente aquilo se tornou algo ruim na viagem, o carro estava indo rápido demais e o freio não funcionava, por mais que Matthew pisasse fundo nele.

— Vai devagar, Matthew!

— Eu estou tentando!

— Usa o freio de mão! — Ela deu idéia e ele assentiu puxando o mesmo, mas ao invés de diminuir a velocidade do carro, o freio saiu facilmente do seu lugar.

— Droga, segura isso — Matthew praguejou colocando o objeto no colo da loira e tentou se manter focado na estrada, pois a qualquer momento eles poderiam bater.

— O que eu faço com isso?! — Perguntou aflita e percebeu que Matthew também estava nervoso — Ok, vamos ser positivos, pelo menos não está nevando!

Após as palavras da loira, a neve começou a cair, e a cada segundo, a neve ficava mais forte, fazendo os limpadores do carro não darem conta do recado e deixando tudo meio embaçado.

— Por que você falou isso?!

Saiu um pouquinho atrasado hoje.

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