
035. REENCONTROS.
—— É BOM SABER QUE VOCÊ TÁ BEM —— Nancy completou, me puxando para um abraço apertado assim que chegamos.
Tínhamos separado caixas e mais caixas de doações para levar até os moradores de Hawkins que haviam perdido suas casas desde que os portais se abriram. A cidade ainda respirava escombros.
—— Nancy! Achei mais uma caixa cheia de coisas —— Karen apareceu trazendo brinquedos e roupas. —— Sam! Meu Deus, você está linda. Te vi no jornal.
—— Obrigada, senhora Wheeler. A senhora também está muito bonita —— agradeci com um sorriso discreto, notando o jeito gentil com que ela me observava.
—— Alguém pediu pizza? —— Karen perguntou no mesmo instante em que ouvimos uma buzina ecoar do lado de fora... Um som inconfundível.
—— Ai meu Deus... —— murmurei, correndo para fora.
Jonathan, Will, Mike, Eleven e Argyle estavam saindo daquela van gigante e velha que o Argyle usava como se fosse uma limousine da Califórnia.
—— Muchacha! —— Argyle gritou assim que me viu.
Jonathan e Will não esperaram um segundo. Correram até mim e nos envolvemos num abraço apertado. Mesmo com a dor das cicatrizes, ignorei tudo. Só queria sentir meus irmãos de novo.
—— Você tá bem? —— Will perguntou, ainda com a mão em meu braço, como se quisesse confirmar que eu era real.
—— Sim... Vocês sabem que não foi... —— comecei a responder, mas antes que pudesse terminar, Nancy correu até nós e pulou no colo de Jonathan, que a segurou no ar, com força, como se nunca mais fosse soltar.
—— A gente sabe que não foi o terremoto... Sabemos mais do que vocês imaginam —— Jonathan disse com o olhar sério.
—— Eu senti tanta falta —— murmurei, tocando o rosto de Will com carinho.
—— Também sentimos sua falta, muchacha —— Argyle apareceu do meu lado, bagunçando meu cabelo com aquele jeito dele. —— A Califórnia ficou sem graça sem você.
—— É bom ver vocês, cunhadinhos —— Steve se aproximou, colocando o braço por cima do meu ombro.
Jonathan e Will trocaram um olhar rápido... E caíram na risada.
—— Vocês voltaram? —— Will perguntou com um sorriso maroto.
—— Sim, voltamos —— respondi. Steve selou a resposta com um beijo no topo da minha cabeça.
—— Eu sabia! Sabia que isso ia acontecer —— Eleven apareceu, se aproximando para me abraçar. O cabelo dela estava raspado de novo.
—— Eu gostei do estilo novo —— falei, segurando o rosto dela com delicadeza.
—— Tô testando uma coisa mais radical agora —— ela respondeu com um sorriso cansado, mas genuíno.
—— É bom te ver, garota —— Steve disse, retribuindo o abraço apertado de Eleven.
—— Já soubemos da Max. Acabamos de voltar do hospital —— Mike se aproximou, a expressão dele sombria.
O clima pesou de novo. Eu apenas o puxei para um abraço silencioso, acariciando as costas do garoto que se agarrou a mim como se aquilo aliviasse alguma dor.
Todos amávamos Max. Saber da condição dela era como viver com uma pedra no peito.
Já estava quase anoitecendo quando decidimos carregar as caixas para os carros. Mais uma vez, estávamos prestes a nos separar.
—— Vamos levar as coisas da doação —— Steve falou, observando cada um entrar em seu veículo.
Ficamos sozinhos por um instante, sob a luz suave e fria do entardecer.
—— Eu vou pro chalé com eles —— falei, sorrindo de leve.
—— Te vejo em casa? —— ele perguntou.
—— Sim, te vejo em casa —— respondi, antes de selar nossos lábios num beijo lento e carregado de alívio e esperança.
Steve me puxou pela cintura, colando nossos corpos. Sua língua encontrou a minha num gesto que dizia mais que qualquer palavra. Ele tinha gosto de volta pra casa.
—— Ei, os pombinhos! Deixem pra curtir mais tarde! —— Argyle gritou da van, buzinando com um sorriso de orelha a orelha.
No chalé, começamos a descarregar tudo e, em pouco tempo, já estávamos mergulhados no caos da faxina improvisada.
—— Eu sei que temos que esconder a Supergirl aqui —— Argyle comentou, apontando pra El. —— Mas isso aqui tá mais pra fortaleza da podridão.
—— Acredite, o quarto do Jonathan é bem pior —— falei pegando uma vassoura.
—— Hein?! —— Jonathan protestou, indignado.
—— Pelo menos tem água —— Nancy deu de ombros. —— E produtos de limpeza.
—— Ao trabalho, muchachos! —— gritei imitando Argyle.
—— Aprendeu comigo, isso aí, Sam! —— ele disse, piscando pra mim.
Depois de muito esforço, eu e Will nos sentamos em caixas improvisadas como bancos. Era o momento certo para conversar.
—— Will... Eu não vou voltar pra Califórnia —— disse, olhando pra ele com seriedade.
—— O quê? Por quê? —— ele perguntou confuso.
—— Eu e o Steve decidimos morar juntos —— expliquei. —— Vai ser melhor. Aqui é onde tudo acontece... E também acho que vou ter mais oportunidades como investigadora.
—— Você... já falou com o Jonathan? E com a mamãe? —— Will estava surpreso, quase chocado.
—— Ainda não. Você é o primeiro a saber —— confessei.
—— Vou sentir falta de acordar com seus gritos de manhã —— ele disse com um sorriso meio triste.
—— Pode me visitar quando quiser —— falei, puxando-o para um abraço.
—— Eu vou. O Harrington vai ter que me expulsar de casa, porque eu não vou desgrudar de vocês —— Will disse me abraçando forte.
Nosso momento foi interrompido pelo barulho de uma sacola caindo. Olhamos para El, que tentava limpar o quarto, completamente exausta.
Ela estava sentada na cama, com uma garrafa de Coca-Cola de vidro nas mãos, encarando o líquido como se ali morasse uma resposta.
Me aproximei devagar, sentando ao seu lado.
—— Eu sabia que era você... o anjo —— ela disse de repente, ainda sem me olhar. —— Sabia desde a primeira vez que te vi.
—— Você sabia que o Charlie tava com ele? —— perguntei, sussurrando.
—— Não —— ela respondeu, balançando a cabeça. —— Você me ajudou a enfraquecer o Henry. Quando matou o Charlie... eu consegui terminar o que precisava. —— El sorriu fraco.
Beijei sua testa e voltei a ajudá-la a arrumar tudo.
Foi quando saí lá fora para jogar o lixo que vi o carro preto se aproximando. Nancy e Jonathan estavam perto da varanda, observando a mesma coisa que eu.
O tempo pareceu parar.
Joyce saiu do carro, seguida por Jim Hopper.
Soltei a sacola, sem conseguir conter o impulso. Corri até os dois, me jogando nos braços deles. Fui recebida com um abraço forte, cheio de saudade.
—— Você tá bem?! Tá machucada? —— minha mãe me perguntava enquanto tocava meu rosto, procurando algum sinal de dor.
—— Eu tô bem. Mas... como? —— perguntei, olhando para Hopper.
—— Você cresceu —— ele disse, tocando meu ombro.
—— E você diminuiu —— respondi, arrancando uma risada baixa dele. Hopper me puxou de novo para um abraço, mais calmo, mais acolhedor.
—— Agora vou atrás da minha outra filha —— ele disse, sorrindo de leve e se referindo a El.
Fiquei em silêncio, apenas observando, com o coração aquecido por finalmente me sentir parte de algo... De uma família.
Jonathan e Will correram para abraçar Joyce. Pela primeira vez em muito tempo, os Byers estavam todos juntos.
—— É bom ver vocês assim... inteiros —— Joyce disse, emocionada.
Foi então que um arrepio subiu pela minha espinha, frio e repentino. Will colocou a mão na nuca, desconfortável. Sentíamos... alguma coisa.
E então, lentamente, flocos de neve começaram a cair.
Mas não era uma neve qualquer. Era pesada, cinzenta, como poeira do mundo invertido.
Caminhamos em silêncio até um campo aberto com vista para Hawkins. A cidade parecia um corpo ferido.
As flores estavam mortas, fumaça se erguia no horizonte e, acima dela, trovões, vindos de outra dimensão.
Peguei a mão de Will. Ele apertou a minha. Nossos olhares se encontraram. Não dissemos nada.
Mas sabíamos.
Ainda não acabou.
CONTINUA...
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro