
026. HELP - THE BEATLES.
—— SAM! FICA COMIGO, AMOR! —— a voz de Steve tremia de pavor enquanto ele tocava meu rosto, gelado e imóvel. —— Dustin!
—— Eu tô procurando! Calma! —— o grito desesperado de Dustin ecoava do outro lado do buraco, junto ao barulho frenético de fitas sendo jogadas pelo chão. Eles estavam em pânico, todos estavam.
Um caos desesperado.
—— O que vocês estão procurando?! —— Eddie surgiu ofegante na porta do quarto, os olhos arregalados ao ver a cena diante de si: Robin ajoelhada vasculhava uma pilha de fitas cassetes, Nancy remexia uma caixa aberta, e Dustin virava os bolsos do casaco.
—— Michael Jackson, Madonna, Whitney Houston, Prince, Beatles... música, Eddie! —— Robin gritou sem levantar o olhar.
—— Isso aqui é música! —— Eddie rebateu, erguendo uma fita de heavy metal como se fosse um troféu.
—— Beatles! —— Dustin exclamou, puxando uma fita do bolso como se fosse a última esperança. A capa dizia: Help!
Enquanto isso, dentro da mente distorcida de Vecna, eu lutava por cada fragmento de sanidade.
Vecna... não, Henry Creel.
Nascido em 1947, filho de Victor e Virginia Creel. Um garoto que via o que ninguém mais via. Chamado de estranho, quebrado e perigoso. Mas ele era mais. Era algo além. Matou a própria família, jogando a culpa no pai. Enlouqueceu Victor, o prendeu num hospício, e encantou o homem errado: Brenner.
E foi ali que a história do Projeto Hawkins começou. Henry virou o 001, depois Peter Ballard, o assistente das crianças na Sala Arco-Íris. E agora... ele era Vecna.
—— O que você acha, Sam? —— a voz de Brenner ecoou entre as memórias, seus olhos pálidos cravados em mim como agulhas.
Eu corri, o peito arfando, sem saber se estava em uma lembrança ou em um pesadelo.
—— Por que tá tentando ir embora, Sam? Ainda não terminamos. —— Vecna me perseguiu entre as portas daquele labirinto mental.
E quando consegui abrir uma delas com força, estava de volta. De novo. Presa no mesmo ciclo.
Fechei os olhos. Me vi amarrada à cadeira onde antes estava Henry, os tentáculos de carne e sangue se enrolando ao meu corpo. Eu não lutava mais. Estava cansada demais.
—— Eu e você somos iguais, Sam. —— a voz dele era calma demais para quem dizia coisas tão horríveis. —— Você também sente o estranho, não sente?
Eu apenas assenti, o medo ainda entalado na garganta.
—— Tenho algo pra você. Alguém que vai gostar de ver. —— E então, como se me libertasse, ele me soltou.
—— Charlie...?
Ali estava ele.
Mais alto. Mais velho. Mas ainda com o mesmo sorriso doce de quando era meu irmãozinho. Eu não conseguia acreditar. Ele estava... vivo?
—— Eu salvei ele. O estranho o salvou naquela noite. —— Vecna se aproximou. —— Charlie vive em mim. E eu nele.
A verdade bateu como um soco no estômago.
Naquela noite... não foi só um incêndio. Nossa mãe sabia. Sabia que havia algo diferente em mim, algo sombrio e inexplicável.
Ela quis acabar com tudo, da única forma que sabia.
—— Você já ouviu falar sobre o Anjo Sacrificial? —— Vecna falou em tom quase reverente. —— Aquela história tola sobre anjos que se sacrificam por amor. Você e Charlie são anjos. E ele escolheu vir comigo. Ele se deu ao estranho... para você escapar.
Caminhei até Charlie. Toquei seu rosto morno, as bochechas enrugando sob um sorriso gentil. Quis congelar aquele momento. Jamais o veria assim de novo.
—— Vem comigo. —— ele sussurrou. —— Vecna e eu somos um só. Eu o ajudei... você também pode ajudar.
—— Eu posso dar isso a você. Posso te devolver o Charlie. —— Vecna disse, voz baixa e quase sedutora. —— Joyce, Will, Jonathan... Steve.
Nesse instante, algo despertou em mim.
Eu me lembrei de tudo. Daqueles que amo. De quem eu era.
—— Eu não sou seu inimigo, Sam. —— ele murmurou.
—— Mas tem uma coisa que eu sei. —— eu disse com firmeza. —— Você também não é meu amigo.
E foi nesse momento que a melodia suave de Help, dos Beatles, começou a ecoar. A voz de John Lennon preencheu cada espaço daquela dimensão sombria.
As guitarras, o baixo, a batida, tudo veio como um sopro de vida, arrancando-me das garras dele.
E eu pensei neles. Pensei em Dustin, Eleven, Max, Joyce, Will, Jonathan, Nancy, Robin, Lucas, Eddie, Mike...
Pensei em Steve.
Em seu sorriso. Em seu cabelo ridículo e em cada segundo ao lado dele.
—— Diga à Eleven o que você viu. —— Vecna se aproximou uma última vez. Sua mão tocou meu rosto. A dor foi imediata.
E eu vi.
Vi Hawkins em ruínas. Vi Joyce, Will, Max, Steve, todos mortos. Vi nosso mundo colapsar diante do mundo invertido, até que tudo fosse apenas escuridão e dor. Vi o fim. A derrota.
E então, eu acordei.
Meu corpo tremia, fraco. Meus pulmões pareciam queimar com cada respiração. E então, vi Steve. Seu rosto foi a primeira coisa que vi. Ele me olhava como se tivesse acabado de me recuperar do fundo do mar.
Eu despenquei em seus braços.
—— Eu tô aqui... Você tá segura agora. —— ele disse suavemente, tirando os fones dos meus ouvidos. A música parou. O silêncio parecia surreal.
Eu o abracei com toda força. Como se, se soltasse, tudo aquilo pudesse recomeçar. Como se o inferno me chamasse de novo.
E foi ali que percebi: Charlie estava vivo. Mas já não era mais o meu garotinho.
—— Steve? —— sussurrei, quase sem voz.
—— Tô aqui, amor. Tô aqui agora. —— ele respondeu, afagando meu cabelo.
—— Não me deixa... Por favor, nunca me deixa. —— ele chorava comigo agora, os braços ao meu redor.
—— Eu nunca mais vou te deixar, Harrington. —— minha voz falhou, mas ele entendeu.
—— Ela tá viva! —— a voz de Dustin rompeu o silêncio atrás de nós.
E eu respirei. Profundamente. Pela primeira vez em muito tempo, respirei com alívio.
Ainda não era minha hora.
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