
013. EU TE AMO, WILL.
EU MAL CONSEGUIA RESPIRAR só de pensar que logo voltaria para Hawkins. Aquilo era real. Em poucas horas, eu estaria na minha antiga cidade, investigando meu primeiro caso oficial.
Meu coração parecia correr uma maratona no peito, e para ajudar, a Eleven não parava de falar e andar de um lado pro outro no quarto, empolgada como se ela também fosse comigo.
—— Você vai ver a Nancy, vai ver a Max! Ah, manda um beijo pra ela por mim! —— dizia enquanto pulava na cama. —— Vai ver o Dustin e o Lucas também! Será que eles mudaram? E o Steve, meu Deus, você vai ver o Steve!
No exato momento em que ela disse Steve, minhas mãos tremeram e acabei derrubando minha xícara de café — bem em cima dos documentos da investigação.
—— Que droga, El! Você sabe que eu e o Steve terminamos! Já faz três meses! —— gritei, tentando salvar os papéis, manchados de café.
Ela parou na hora. Ficou ali, de pé, quietinha, com os olhos baixos como se eu tivesse acabado de quebrar um brinquedo dela.
—— Me desculpa... eu só... —— ela murmurou.
—— Eu não devia ter gritado. Desculpa, El —— suspirei, me aproximando e tocando seu ombro com cuidado. —— Tô nervosa. É minha primeira investigação de verdade.
—— Tudo bem... Eu só pensei que, já que você vai voltar pra Hawkins, talvez vocês voltassem a se amar... —— ela respondeu num fio de voz.
Aquilo me desmontou por dentro. Porque, pela primeira vez em três meses, eu realmente me perguntei: eu ainda amo o Steve Harrington?
—— Eu só vou a trabalho, El. Eu volto logo —— falei, tentando convencer a mim mesma mais do que a ela, e a abracei com força.
Depois do nosso momento, fui até o quarto do Will com uma caixa nas mãos. Bati na porta com calma.
—— Posso entrar?
—— Pode —— ele respondeu, rápido demais, virando um quadro na parede para que eu não visse.
—— Eu sei que você não quer que ninguém fale do seu aniversário... mas eu queria te dar um presente —— disse, colocando a caixa na cama.
—— Sam... Eu disse que não precisava.
—— Eu sei! Mas é o aniversário do meu irmão mais novo. Me dá esse desconto, vai —— sorri, me aproximando. —— Quero te ver feliz.
—— Eu sei... Mas é que, eu não... —— ele bufou, frustrado, e se sentou na cama. Me ajoelhei na frente dele, com cuidado.
—— Tá tudo bem? Você tem andado tão distante... estranho até.
—— Não tá acontecendo nada —— ele respondeu, mas o jeito que desviou o olhar dizia tudo.
—— Will, você é minha alma gêmea. Lembra da nossa promessa? Nada de esconder as coisas. —— segurei sua mão.
—— São só coisas da escola, vai passar —— ele disse, mas a voz estava embargada. Algo pesava muito nele.
—— É alguma menina? —— perguntei, tentando suavizar.
Will desviou o olhar, os olhos se enchendo de lágrimas. E foi nesse instante que me caiu a ficha. Como eu não tinha percebido antes?
—— Vamos ver logo o que tem na caixa, né? —— ele tentou mudar de assunto, levando a mão para abrir.
—— Will... É um menino? —— perguntei com calma.
Ele congelou. E então chorou. Não de medo, mas de culpa, uma culpa que ele não deveria sentir.
—— Me desculpa, Sam. Me desculpa mesmo...
—— Por quê tá pedindo desculpa? Will, não tem absolutamente nada de errado nisso —— disse, abraçando ele com carinho, sentindo o peso que ele carregava.
Parte de mim estava aliviada, porque finalmente ele desabafou. A outra parte... com medo das pessoas lá fora. Não por ele ser quem é, mas por como o mundo poderia tratá-lo.
—— Eu te amo, Will. E sempre vou te amar, por quem você é —— sussurrei, limpando as lágrimas do seu rosto.
—— Só não conta pra ninguém ainda, tá?
—— Claro. Tudo no seu tempo. Vai ficar tudo bem —— garanti, apertando sua mão.
—— Podemos ver o que eu ganhei agora? —— ele perguntou, com um sorriso tímido.
Will abriu a caixa e tirou vários discos antigos. Bandas clássicas dos anos 70 até os anos 80, Queen, David Bowie, Nirvana... e claro, The Beatles.
—— The Beatles? Uau. Você me ama muito pra me dar isso —— ele disse rindo. Era minha banda favorita.
—— Sim. Tô dando meu tesouro mais precioso... pro meu garoto mais precioso —— respondi.
Will me abraçou de lado e ficou folheando os discos com cuidado, como se estivesse segurando algo sagrado.
—— Vou cuidar bem deles, prometo.
No dia seguinte, o aeroporto de Lenora Hills parecia mais frio do que o normal. Senhor Carrey já me esperava com sua prancheta, seu terno amassado e aquele olhar analítico que parecia atravessar qualquer disfarce.
—— Tem alguns minutos ainda. Vá se despedir direito —— ele disse, apontando para minha família mais ao fundo.
Fui até eles com o coração apertado.
—— Arrasa nesse caso, filha —— Joyce disse, me abraçando com os olhos marejados.
—— Diz pra Max que eu tô com saudades! —— El gritou.
—— Eu te amo, Sam. Você vai arrasar! —— Will completou, me abraçando forte.
Jonathan se aproximou e me puxou para um abraço rápido, mas sincero.
—— Quando a carta chegar... me avisa, me liga, sei lá —— eu disse.
—— Pode deixar. Assim que ela chegar, você será o primeiro a saber.
—— Muchacha! —— ouvi Argyle vindo correndo, no maior estilo Argyle de ser.
—— Argyle! —— abri um sorriso.
—— Boa sorte no assassinato! —— ele disse em alto e bom som, chamando a atenção de todo o aeroporto.
—— Resolver o assassinato, Argyle! —— corrigi, envergonhada.
—— É! Isso aí mesmo! —— ele respondeu, levantando o polegar.
Quando finalmente chegou a hora, me despedi com um último olhar e segui até o portão com o detetive Carrey.
A viagem seria longa, cansativa. Mas mal sabia eu que a verdadeira exaustão começaria ao pisar de volta em Hawkins.
E que não importava o quanto eu tentasse evitar... Steve Harrington ainda morava lá.
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