
015. UM CASO DE ASSASINATO.
QUANDO A NOITE CHEGOU, todos nós decidimos que era hora de ir atrás de Eddie, ou Rick, não importava. Precisávamos de uma pista, qualquer coisa que nos levasse à verdade. Assim que Max e Dustin saíram do carro, abri o porta-luvas e peguei a arma do detetive Carrey.
Ele a guardava como se fosse sagrada.
Proteja todo mundo, e se proteja também.
As palavras do Hopper ecoavam como um alarme na minha cabeça enquanto eu escondia a arma na cintura e pegava uma lanterna.
—— Como eu fui me meter nisso de novo? —— murmurei para mim mesma, saindo do carro e seguindo em direção aos outros. Eles já vasculhavam o jardim e os cantos escuros da casa com os olhos atentos.
—— Eddie! É o Dustin! A gente só quer conversar! —— gritou ele, batendo na porta da frente.
—— Ah, ótimo, grita mesmo —— Steve murmurou ao meu lado, cruzando os braços.
Segui Max por entre a vegetação até a parte de trás da casa. Foi quando ela parou de repente.
—— Gente, tem algo aqui —— disse ela, apontando para um galpão mal iluminado escondido entre as árvores.
Todos correram até nós. O lugar era sujo, cheio de teias de aranha, e o cheiro de mofo e ferrugem dominava o ambiente. Aquilo não me cheirava nada bem, e não era só pela poeira.
Enquanto examinávamos o local, Steve bateu com o remo numa lona jogada ao canto, me dando o maior susto.
—— O que tá fazendo?! —— perguntei com a mão no peito.
—— Vendo se não tem nada embaixo da lona —— respondeu, como se fosse óbvio.
—— Então levanta a lona, gênio! —— rebati, irritada.
—— Se é tão corajosa assim, levanta você —— ele disse com um tom desafiador.
Revirei os olhos e continuei investigando. O lugar estava cheio de embalagens de comida vazias e garrafas d'água.
—— Tinha gente aqui —— Max disse, abaixada perto de um canto.
—— Às vezes ouviu a gente chegando e fugiu —— Robin sugeriu.
—— Relaxa, gente. O Steve pega ele com o remo —— brinquei, fazendo Dustin soltar uma risadinha.
—— Muito engraçada, Byers. Mas levando em conta que a gente já quase morreu umas cem vezes... —— Steve continuava, batendo de leve na lona. Eu queria tanto pegar aquele remo e bater na cabeça dele.
De repente, um grito. Algo saltou debaixo da lona, nos fazendo recuar em pânico. Num piscar de olhos, Steve foi jogado contra a parede com força, imobilizado.
Eddie Munson estava por cima dele, canivete encostado na garganta.
—— Eddie! Para! —— gritou Dustin, em choque.
—— Abaixa o canivete, Munson! —— ordenei, com a arma apontada firme para as costas dele.
—— Sam, abaixa a arma! —— Dustin me implorou, nervoso.
—— Não enquanto ele estiver com o canivete no pescoço do meu... —— hesitei. —— Do Harrington! —— corrigi rapidamente.
—— Eddie, sou eu. O Dustin. Esse é o Steve, ele não vai te machucar —— dizia, tentando acalmar a situação.
—— Nem se ele quisesse. É péssimo em brigas —— murmurei.
—— Não tá ajudando! —— Dustin ralhou. —— Steve, solta o remo —— pediu, e Steve obedeceu com relutância.
Eddie se aproximou ainda mais do pescoço do Steve com o canivete. Instintivamente, engatilhei a arma.
—— Sam! —— Dustin gritou, alarmado.
—— Manda ele abaixar isso! —— falei, a voz trêmula de tensão.
—— Eddie, a gente veio te ajudar! Esses são meus amigos. Essa é a Robin, você conhece ela, da banda —— Dustin continuava, apontando para cada um. —— A Max, que nunca quer jogar D&D.
—— Oi... —— disse Max, com um sorriso sem graça.
—— E a Sam, a minha ex-babá. Você estudou com ela! E agora... vai abaixar a arma —— completou, olhando para mim com seriedade.
Respirei fundo e abaixei a arma devagar, mas ainda a segurava firme.
Eddie nos observava com os olhos arregalados, como um animal encurralado. Havia medo ali, puro e desesperado.
—— A gente tá aqui pra te ajudar. Eu juro pela minha mãe! —— Dustin disse com sinceridade.
—— É... pela mãe do Dustin —— Steve murmurou, ainda com a mão na garganta.
Eddie enfim largou Steve, que caiu no chão, arfando. Munson se sentou no chão, exausto, as mãos tremendo.
Aproximei-me de Steve e murmurei. —— Você tá bem?
—— Já estive melhor —— ele respondeu, sem me encarar.
Guardei a arma na cintura novamente e me ajoelhei perto de Eddie.
—— A gente só quer saber o que aconteceu, Munson —— disse, olhando nos olhos dele.
—— Vocês não vão acreditar em mim —— respondeu, a voz falha.
—— Só conta —— Max disse, tentando manter a calma.
—— Ela... ela levantou no ar —— Eddie começou, os olhos distantes. —— Os olhos dela ficaram brancos. Ela ficou lá em cima... como se algo estivesse puxando. E os ossos dela... eles começaram a quebrar, um por um... —— ele engoliu em seco. —— Os olhos dela... parecia que tinha algo dentro deles. Eu não sabia o que fazer. Eu... fugi.
Ele começou a tremer, o rosto contraído em agonia. Aproximei minha mão, toquei seu joelho. Ele me olhou com os olhos cheios de pavor.
—— Vocês acham que eu sou louco, né? —— perguntou, quase num sussurro.
—— Não. Eu não acho —— respondi com firmeza.
—— Parem de me sacanear! —— ele gritou, em um misto de raiva e desespero.
—— Não, Eddie! A gente acredita mesmo em você —— Dustin garantiu.
—— Olha, o que eu vou te falar agora pode parecer loucura... —— comecei.
Eddie ficou em silêncio, ouvindo atento.
—— Sabe aquelas pessoas que dizem que Hawkins é amaldiçoada? Elas não estão totalmente erradas. Existe um outro mundo... dentro desse.
—— E às vezes ele transborda —— completou Dustin, sério.
—— Fantasmas? —— Eddie perguntou, tentando encontrar alguma lógica.
—— Tem coisas piores do que fantasmas nessa cidade, Munson. E acho que uma delas fez isso com a Chrissy —— expliquei.
Ele nos encarava como se estivéssemos todos fora de si. Mas também... como se compreendesse. Nada mais fazia sentido.
Voltei depois à casa dos Munson. A cena do crime ainda estava isolada. Vi o detetive Carrey discutindo com os policiais.
—— Aonde você estava?! —— ele perguntou furioso ao me ver.
—— Eu fui atrás de pistas —— respondi, tentando me manter firme.
—— Samantha, já te falei pra parar de querer fazer o trabalho dos outros! —— esbravejou.
—— O senhor não entende, eu tenho informações, eu... —— tentei explicar.
—— Você que não entende! Te dou a oportunidade de ser minha aprendiz, trago você pra outro caso meu... e você desperdiça meu tempo fazendo o que não deve fazer! —— ele vociferou, entrando no carro.
—— Se o senhor me escutasse um pouco! —— gritei, perdendo a paciência.
—— Amanhã a gente conversa. E olhe lá, se eu não te mando de volta pra casa —— disse, ligando o motor e arrancando dali, me deixando para trás.
Fiquei parada no meio da rua escura, o coração pulsando de raiva.
—— Filho da puta! —— gritei, jogando uma pedra o mais longe que consegui.
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