3.12- NEVER ENDING STORY
— Nat… – Steve foi interrompido
— Por favor, não. – Ela praticamente sussurrou
Natalie evitou conversar com Steve enquanto ele a ajudava a fazer um curativo no braço. Sua cabeça latejava, ela apenas ansiava pelo fim daquele maldito dia.
A dor tomava o peito de Natalie cada vez com mais intensidade juntamente com a culpa. Naquele 4 de Julho, os Goodwin perderam tanto seu pai quanto sua mãe.
E a culpa era de Natalie.
Ela sabia que a culpa era dela.
Mesmo com a dor do luto presente, Natalie sabia que não poderia ceder a tristeza naquele momento. Eles precisavam parar o Devorador de Mentes antes disso ou estariam todos fadados ao mesmo destino de seus pais.
Evitou olhar nos olhos de seus irmãos, temendo perder as forças que lhe restavam ao se aproximar de Jim Hopper.
— Decidiu o que vão fazer? – ela perguntou
— Murray, Joyce e eu vamos entrar na base russa. Aquelas crianças não vão entrar lá conosco, isso está fora de questão. – Hopper respondeu – Todos vocês irão para a casa do Murray, lá vão ficar em segurança. É fora de Hawkins e bem protegida.
— Mas precisam ser guiados. – Natalie insistiu – O lugar é grande, vão acabar…
Mortos. Ela não terminou a frase. Se recusava a aceitar que mais gente poderia morrer ainda naquela noite.
Hopper olhou para o pequeno walkman em sua mão, assentindo com a cabeça em seguida. O delegado andou em direção ao grupo de crianças que conversavam não tão longe.
Natalie o seguiu, temendo que qualquer pessoa a visse sozinha e tentasse conversar sobre o que aconteceu naquele dia.
Ela não queria falar sobre seus sentimentos, não queria se abrir. Não naquele momento.
— Está decidido! Podem guiar a gente, mas de um lugar seguro. – Hopper falou mostrando o walkman
O Henderson o olhou com um olhar de julgamento.
— Não é tão simples. – Dustin disse
— O sinal não alcança. – explicou Erica
Natalie sabia que eles tinham razão, mas não se pronunciou.
— Não com isso. – Dustin se referiu ao walkman – Precisa de uma frequência mais alta para pegar a torre de rádio dos russos. – Natalie percebeu Eleven fazendo uma careta com a explicação – Para funcionar, precisa de alguém que já viu as comunicações deles e tenha acesso a uma torre de rádio caseira super poderosa. De preferência que já esteja montada no ponto mais alto de Hawkins. Ah, peraí! Eu tenho. Se quiser, a gente guia vocês. Mas precisamos de um tempo. – Jim assentiu – E de um carro.
O delegado arqueou uma sobrancelha, olhando do Henderson para a Goodwin.
— Eu não vou te dar um carro! – Hopper exclamou
— Mas…
— Você nem ao menos sabe dirigir!
— Mas o Steve sabe. – Natalie comentou, chamando a atenção para si – Ele pode levá-los até o local, dirige bem e é uma ótima babá. Só está sem carro.
Hopper concordou com a cabeça, iria chamar pelo Harrington quando Dustin gritou:
— STEVE!
Conseguiu ver o garoto correndo o mais rápido que conseguiu até o grupo, mesmo confuso com o chamado repentino.
Dustin explicou a missão ao Harrington, que aceitou de bom grado ser o motorista das crianças.
— Posso ir junto? – Robin perguntou, aparecendo repentinamente
— Vai. Só andem logo. – Hopper respondeu, ele jogou uma chave de carro para o Harrington
Natalie olhou para seus irmãos ao fundo, inteiramente vulneráveis. Sabia que o shopping poderia ser atacado a qualquer momento, afinal, o Devorador de Mentes sabia onde estavam.
Queria que eles ficassem em segurança. Tirar eles do caminho de qualquer perigo.
Natalie temia ficar perto deles e acabar fazendo com que os dois morressem também.
— Levem Amber e Harry também. – Natalie mandou
— Você não vai? – Steve perguntou
Sem olhar para ele, Natalie negou com a cabeça.
— Vou ficar aqui com Eleven. – Ela respondeu
Erica franziu o cenho.
— Vamos ou não? – A Sinclair perguntou
— Vamos, criançada. – Steve disse para Dustin e Erica, virando para os outros Goodwin – Amber! Harry! Vamos!
Os olhos de Harrison estavam vermelhos e inchados quando ele olhou na direção de seus amigos. Abraçado por Amberly, ele perguntou:
— Onde? – sua voz saiu embargada, com cortes graças ao choro
— Vamos dividir o grupo. – Robin falou – Vocês vão vir com a gente.
Amber concordou com a cabeça, sussurrando um “vamos Harry” enquanto eles caminhavam em direção a saída.
Ver eles saindo fez com que Natalie suspeitasse aliviada. Eram menos pessoas para se preocupar. Nem ela, nem Eleven estavam juntos a eles, o que tiraria os seis da mira do Devorador de mentes.
Mesmo com eles saindo do shopping em alguns, Natalie sabia que as chances de serem atacados no meio do caminho eram grandes, então decidiu comer um pouco para recarregar a bateria.
Conseguiu identificar Murray com um bolo de chaves explicando alguma coisa para Nancy e Jonathan, Joyce conversava com Will, Hopper fazia o mesmo com Jane. Max, Lucas e Mike os olhavam um pouco de longe.
Natalie tinha um pressentimento ruim sobre tudo aquilo. Sentia que havia chegado no fim da linha, que daquela vez o plano não daria certo.
Decidiu não contar a ninguém sobre isso. Sabia que todos ali estavam agarrados à última esperança que tinham.
A garota entrou em uma loja que sabia vender eletrônicos. Natalie pegou alguns walkmans assim como pilhas e saiu com eles na mão. Tinham que conseguir se comunicar com os outros grupos.
Ela saiu de lá em poucos minutos. Ao ver Joyce, Murray e Hopper se aproximando um do outro, Natalie andou até eles devagar.
— Gente. – Ela os chamou, Joyce a olhou com a preocupação exalando em seu olhar – Boa sorte.
Hopper assentiu, Murray franziu o cenho e Joyce deu alguns passos à frente. A Byers a abraçou por alguns segundo, antes de se afastar dizendo:
— Se cuida, Natalie.
Esperou eles sumirem de seu campo de visão para se virar e andar até Jonathan e Nancy, que estavam com as outras crianças dando as últimas instruções.
O grupo saiu do shopping quase sem questionamentos sobre o plano formado. Todos entraram no carro de Nancy, as crianças sentaram no banco de trás, o casal nos bancos da frente e Natalie pulou pro porta malas.
No entanto, quando Nancy deu a partida no carro, nada aconteceu. A Goodwin franziu o cenho quando ela tentou ligar o carro pela segunda vez, sem sucesso.
Nancy reclamou e xingou algumas vezes enquanto o carro não pegava, deixando todo o grupo confuso sobre o que estava acontecendo.
— Sua mãe não acabou de comprar o carro? – Lucas perguntou, confuso
— Sim. – Nancy respondeu, irritada – Não deve ser nada.
— Acontece toda hora com meu carro, deve ser o motor. – Natalie disse
— Deve ser. – Lucas concordou
— Você deixou o farol ligado? – Will perguntou
— Não!
— E tem gasolina?
— Tem! Vamos!
— Espere, Nancy. Abra o capô, me deixe ver. – Natalie disse, abrindo o porta malas por dentro de pulando do carro
A morena deu a volta, andando até o capô. Jonathan saiu de dentro do carro, ajudando-a a segurar o capô enquanto Natalie verificava.
— Ta sem o cabo de ignição. – A Goodwin murmurou
— Que merda! – Jonathan xingou
— O que? – Nancy perguntou ao sair do carro
— O cabo de ignição sumiu!
— Como a porra de um cabo some?
Mas Natalie já imaginava o que teria acontecido. Alguém havia mexido no carro da Wheeler, alguém que queria o grupo dentro do shopping. Alguém como…
Os faróis de outro carro foram vistos a alguns metros de onde o carro de Nancy estava, assim como o barulho de um motor.
Natalie apertou os olhos, tentando descobrir quem estava dentro do carro, pronto para acelerar em direção a eles. Sem sucesso.
Podia não ter certeza de quem era, se era o devorador de mentes ou outro russo, mas sabia que não era alguma coisa boa.
O trio correu até a porta do carro, abrindo para as crianças saírem.
— Pro shopping! – mandou Nancy
— Saiam daí agora! – Natalie ordenou, dando pequenos empurrões para as cinco crianças correrem de volta para dentro do shopping – Vamos! Todos para a praça de alimentação! Rápido!
A Goodwin deixou que todos corressem na frente, se certificando que todos estavam dentro do shopping antes de fechar a porta do shopping.
Correu atrás deles, ofegava cada vez mais enquanto corriam. O plano foi por água abaixo mais rápido do que Natalie esperava que fosse acontecer. Quando analisou as possibilidades, sempre imaginou o devorador de mentes os alcançando no meio do caminho, não na porta do shopping.
Precisavam sair dali. Mas como fariam? O carro da Wheeler não iria funcionar sem um cabo de ignição e seria muito traumático para as crianças usarem o carro de Natalie, considerando que o corpo de Reginald estava ao lado dele.
Era visível o desespero.
— O que fazemos agora? – Will perguntou
— Precisamos sair daqui. – Lucas respondeu
— Como saímos daqui? – Mike perguntou, olhando diretamente para sua irmã mais velha
— Eu não faço ideia! – Nancy respondeu, nervosa
— Tentem se comunicar com o Steve, ele pode deixar os outros onde o Dustin pediu e voltar aqui para nos buscar. – Natalie mandou
Jonathan franziu o cenho, ainda era estranho para ele ver Natalie tão próxima de Steve. O Wheeler mais novo pegou o Walkman rapidamente.
— Tropa do Scoops. – Mike chamou fazendo Natalie franzir o cenho com o codinome – Estão na escuta? Topa do Scoops! Eu repito: estão na escuta?
Nada.
Mike olhou para Natalie.
— Dê isso aqui. – A Goodwin pediu, o Wheeler jogou o Walkman para ela – Estão escutando? Steve? Amber? Robin? – ninguém respondeu – Precisamos de carona, estamos presos no shopping! – nada – Steve!
— Eles não estão ouvindo. – Mike murmurou
Natalie devolveu o Walkman de Mike, pegando outro e passando para a mesma linha.
— Teste. – Natalie pediu
— Precisamos de transporte de emergência. – Mike falou pelo Walkman
O barulho saiu pelo Walkman que Natalie segurava, o que significava que estava funcionando normalmente, apenas o grupo não estava ouvindo.
Nancy andou até os soldados russos mortos, não muito longe de onde estavam. Ela remexeu nas armas que estavam com eles, levantando com duas em mãos.
Natalie concluiu que eram uma para ela e outra para si. Ambas sabiam atirar, afinal.
— Vai matar ele, não é? – Max perguntou
Foi pela preocupação em sua voz que Natalie conseguiu deduzir: era Billy Hargrove dentro daquele carro.
A culpa estava nos olhos de Nancy quando seus olhares se cruzaram.
— É só uma prevenção. – A Wheeler respondeu
Mike repetia o pedido de ajuda no walkman. Natalie andou até o carro que Eleven havia tombado em cima dos russos, pulando pelo corpo de Ethan sem muito remorso.
Se tivesse como usar aquele carro para sair dali, poderiam se salvar sem precisar de ajuda do outro grupo. Possivelmente aquele carro deve ter dado perda total.
Na verdade, era óbvio que tinha dado perda total, estava de ponta cabeça. Considerando que Natalie já tinha dado PT em dois carros, nem deveria estar pensando que aquilo era apenas uma possibilidade.
Natalie arregalou os olhos. Não precisavam daquele carro inteiro, apenas do cabo de ignição dele. Ela o analisou. Estava difícil de alcançar.
Quais eram as chances de conseguirem tirar o cabo de ignição do carro a tempo?
— Não precisamos do carro, só do cabo de ignição. – ouviu Jonathan dizer, como se tivesse lido seus pensamentos
O grupo se juntou ao redor do carro, fazendo o máximo de força possível para tentar virar o carro. Aquilo não adiantou, o carro não se movia.
Os ferimentos em seus braços ardiam quanto mais força fazia, assim como de seu rosto com suas caretas.
Seu nariz latejava como nunca.
Tentaram unir as forças pelo menos três vezes seguidas, mas o resultado era sempre o mesmo: indiferente.
Natalie pensou em tentar usar seus poderes outra vez, deveria ter recarregado pelo menos um pouco. Mas quem garantia que não iria precisar deles com força total mais tarde?
Negou com a cabeça, se afastando.
— Me deixe tentar. – Eleven pediu com Will ao seu lado
Era visível que Mike queria negar a ajuda. Natalie o compreendia, Eleven ainda não estava bem o suficiente para usar seus poderes. As chances dela desmaiar eram grandes.
— El… – O Wheeler mais novo começou
Mesmo mancando, Jane se aproximou do carro. Ela encarava Mike com determinação.
— Eu consigo.
Mike olhou para Natalie buscando a opinião da mulher. Ela tinha experiência com poderes, já que ela mesma os tinha, se tivesse alguém ali que saberia como argumentar com Jane seria ela.
Mas Natalie não negou. Apenas deixou Jane fazer o que ela queria, afinal, a garota sabia o que ela mesma aguentaria. Por mais nova que fosse, ela tinha passado por coisas o suficiente para ter autonomia.
Eleven deu alguns passos à frente, todo o grupo indo para trás dela quando ela ergueu a mão e baixou o olhar. O nariz dela sangrou, o carro tremeu um pouco, mas mesmo com tanto esforço por parte da menina, não ergueu.
Ela deu um grito baixo, frustrada.
— Está tudo bem, Jane. – Zero disse, colocando a mão em seu ombro – Tudo bem…
Jane apenas assentiu, tristemente. Estava decepcionada com si mesma por não conseguir ajudar os amigos.
Natalie deu um pequeno beijo em sua testa, andando até o Walkman novamente. Ela se afastou um pouco do grupo para tentar entrar em contato com os outros.
— Tropa do Scoops. – Natalie os chamou novamente – Estão na escuta? Estão na escuta? Estamos com problemas. Problemas graves! Steve, pelo amor de Deus, responda! Harry? Qualquer um!
Natalie desligou, ofegante. Voltando a fazer o mesmo pedido de socorro depois de um tempo.
Nenhuma resposta.
Estava começando a ficar preocupada. Por que nenhum deles estava respondendo? Havia acontecido algo no meio do caminho que os impedia?
Ela se virou confusa ao ouvir gritos como “Empurra!” E o barulho de choque contra o metal. Viu o grupo reunido em volta do carro novamente.
Ela não correu até eles.
— O QUE ESTÃO FAZENDO? – Natalie perguntou, confusa
Mike a olhou de longe.
— TERCEIRA LEI DE NEWTON! – O Wheeler gritou
Física, é claro. Ação e reação, deveria ter pensado nisso antes. Conseguiram virar o carro de lado, Natalie deu uma pequena risada sem graça, se virando novamente na intenção de pedir ajuda a Tropa do Scoops.
— Quando eu tiver filhos e me perguntarem: “por que tenho que aprender física? Não vou usar isso pra nada na vida.” Irei nos lembrar desse momento. – ela murmurou, apertando o botão do Walkman de novo – Vocês estão aí agora? – nada – Mas que droga! Vocês foram mandados para ajudar na comunicação e a única coisa que não estão fazendo é se comunicar com a gente! Vocês…
Um grande barulho do carro voltando à posição normal foi ouvido, fazendo Natalie dar um pulo de susto.
Natalie sorriu sem mostrar os dentes, aliviada. Principalmente quando Nancy e Jonathan conseguiram abrir o capô.
Seu alívio passou quando reparou no vidro da vitrine de uma das lojas tremendo. Um barulho não tão distante de passos pesados em seguida.
O pequeno sorriso de Natalie se desfez, havia algo errado. Ela soube disso assim que viu Will levar a mão até a nuca.
Natalie olhou para cima, o vídeo do telhado também estava tremendo igualmente. Engoliu em seco.
— Gente…
— Nancy! – ouviu Mike gritar
Natalie arregalou os olhos ao ver uma grande sombra tomar o teto azul. O Devorador de Mentes estava ali.
— CORRAM! – foi a única coisa que conseguiu gritar antes do vidro se estilhaçar
Ela pulou para trás de uma das colunas assim que o monstro entrou no shopping. As luzes do lugar piscavam, ela segurava um dos walkman na mão enquanto tentava não deixar sua respiração fazer tanto barulho.
Tentou identificar seus amigos pelo canto do olho, mas a visão que teve a assustou. Um grande monstro de carne, parecido com uma aranha gigante, estava no meio do shopping.
E estava ali para matar ela e Eleven.
— Família Griswold… – Natalie fechou a antena do comunicador no mesmo momento que ouviu a voz de Dustin
O rugido do Devorador de Mentes a avisou que ele havia a descoberto. Natalie correu, vendo-o esmagar um dos comunicadores que haviam deixado jogados.
Ela pulou para dentro de uma loja de esportes antes que o monstro a alcançasse. Não demorou muito para ouvir os estilhaços da vitrine.
Ele estava atrás dela.
Não sabia se aquilo era ruim ou bom. Se ele soubesse que ela estava ali, iria focar toda sua atenção nela, o que daria possibilidade a Jane e os outros de fugirem do local.
Mas também significaria que ela era uma isca prestes a ser pescada pelo devorador de mentes.
Cada barulho de passo pesado incentivava Natalie a continuar a correr, contendo gritos de susto conforme via mais pernas do devorador de mentes aparecendo ao seu redor.
Ela pulou o balcão, entrando nos fundos da loja e acessando a porta que dava acesso ao interior do shopping.
Ela continuou a correr pelos corredores vazios, deduzindo mais ou menos em que loja estava conforme as portas se passavam. Alcançou a última porta à esquerda, sabendo que era a mais próxima da saída lateral que encontraria.
Tentou não fazer barulho ao andar dentro da loja de roupas que havia entrado, abrindo a porta com delicadeza. As crianças fecharam a porta do carro no mesmo instante que Natalie conseguiu correr para fora do shopping.
Ela estava alcançando o carro quando viu os faróis de outro, ainda na mesma distância que da última vez.
— Conseguiram colocar? – ela perguntou
— Consegui. – Jonathan avisou
Nancy engatilhou a arma, mirando no carro de Billy Hargrove.
— Liga o carro. – ela mandou
Natalie parou ao lado da Wheeler quando o barulho do motor do Hargrove soou.
— Ele não vai parar. – Natalie murmurou
Natalie fechou os olhos, respirando fundo tentando se concentrar. Ao ouvir o barulho do carro acelerando, ela abriu os olhos, estendendo uma mão.
Seus poderes ainda estavam falhos. Tentou se concentrar em explodir o motor do carro de Billy, mas nada aconteceu. Ele se aproximava cada vez mais.
O nariz de Natalie sangrava enquanto Nancy atirava, pela distância e pouca visão, ela não conseguia acertar.
A arma de Nancy ficou sem munição.
— Entra no carro. – Natalie pediu
— O que? – Nancy perguntou
— Rápido.
Nancy a obedeceu. Natalie continuou parada, os braços para baixo, mas suas sobrancelhas estavam tão baixas quanto. O carro se aproximava cada vez mais. Ela respirou fundo.
Com uma mão jogou o carro com seus amigos para frente, o ajudando a dar a partida e com a outra fez com que o carro de Billy perdesse o controle por um instante.
Não foi forte o suficiente. Ele voltou a andar em linha reta, em sua direção, em questão de segundos.
Natalie simplesmente virou o corpo, esperando o impacto do carro contra si. Esperando o atropelamento que acabaria com sua vida, quando o barulho de batida a fez se virar novamente.
Abriu a boca em choque ao ver o carro de Steve girando algumas vezes após bater contra o do Hargrove. Sua respiração ofegou ao reparar em Steve, Nancy e Robin dentro tão ofegantes quanto ela.
O carro de Billy Hargrove começou a arder em chamas quando Jonathan parou o carro da Wheeler em frente a Natalie.
— Entre!
Nat correu até o porta malas e o abriu, iria pular para dentro do carro, mas parou estática ao perceber que apenas duas das crianças estavam dentro do carro.
Onde estavam Eleven, Maxine e Michael?
— Cadê o resto? – Natalie perguntou, a preocupação era óbvia
— Na Gap. – Lucas respondeu
Dentro do shopping. Era a resposta que Natalie temia ouvir. Os três estavam lá dentro, junto ao devorador de mentes.
Natalie olhou para trás, voltando seu olhar para dentro do carro novamente.
— Suba! – insistiu Nancy
Ela não subiu. Ao invés disso, Natalie correu de volta para dentro do shopping, mesmo sabendo que a coisa ainda estava lá dentro. Mesmo sabendo que a coisa queria a matar.
A preocupação com o bem estar das crianças não a deixou simplesmente fugir. Ela precisava ajudar Eleven. Não podia deixar que ela, Max e Mike se ferissem.
Quase suspirou aliviada ao perceber o grande Devorador de Mentes deixando o shopping. Provavelmente o grupo fez alguma coisa que atraiu a atenção dele.
Fogo!
Billy estava no carro que pegou fogo. A única coisa que combatia o devorador de mentes. Possivelmente, ele achava que elas estavam juntas a eles também.
Natalie olhou para o Walkman que ainda segurava, abrindo a antena novamente.
— El? Mike? Max? Estão na escuta? – Natalie não tinha certeza se as crianças estavam com um walkman ou não enquanto corria novamente em direção a Gap
— Nat? Nat? Você está bem? – ouviu a voz de Steve
Ela suspirou aliviada.
— Eu estou. Estou sim. Vocês estão? – Natalie perguntou
— Esta… – Amber não terminou de responder, outra voz entrou na minha da conversa
— Na escuta Suzie-linda. Soa muito melhor agora. Muito obrigado! – era a voz de Dustin. Zero franziu o cenho com o apelido enquanto entrava na GAP – Certo, ouça! Sabe a Constante de Planck?
Natalie franziu o cenho. Como Dustin não sabia a Constante de Planck? Para que ele precisava da Constante de Planck? Por que ele estava falando com a namorada dele naquele momento? A namorada dele realmente existia? Eram tantas perguntas.
Natalie quase o respondeu. Ela sabia o número, mas foi impedida pela voz da Suzie:
— Você sabe se Terra orbita o Sol?
— Eu sei que começo com dois, seis e depois?
— Calma aí! Deixa eu ver se entendi uma coisa. Não tenho notícias suas há uma semana e agora você quer uma equação matemática que você já deveria saber para poder salvar o mundo?
Natalie franziu o cenho. Por Deus, parecia uma cópia de Dustin versão feminina. Ela ainda procurava as crianças dentro da loja.
— Suzie-linda, prometo que vou te compensar assim que possível.
— Você pode compensar agora.
— O que?
— Quero ouvir agora.
— Agora não!
— Agora, Dustinzinho!
— Suzie-linda, isso é urgente.
Natalie balançou a cabeça, parando de prestar atenção na conversa de Dustin enquanto gritava pelo nome das crianças.
Parou de gritar ao ouvir uma música sair pelo Walkman:
— Turn around… – era a voz de Dustin – Look at what you see!
Natalie segurou o comunicador, confusa. O que diabos estava acontecendo do outro lado da linha? Ela estava ficando maluca?
— In her face. The mirror of your dream! – A música continuou, Dustin realmente estava cantando – Make believe I'm everywhere. Given in the light. Written on the pages is the answer to our never ending story!
A risada que saiu pela boca de Natalie Goodwin se deu mais ao desespero do que ao quê de humor da situação. Mal podia acreditar que Dustin cantava com sua namorada no meio de todo aquele caos.
Deveria estar ficando maluca. Se recusava a acreditar que aquilo estava acontecendo.
— Reach the stars, fly a fantasy! Dream a dream and what you see will be.
Natalie desistiu, fechando a antena do comunicador e o jogando para longe. Ela piscou algumas vezes, olhando para o nada, repensando sobre como o plano de Hopper poderia estar andando.
Ela respirou fundo. Andando até os fundos da GAP, se os três não estivessem escondidos em algum armário, eles já teriam saído. Provavelmente já teriam dado a volta e nem no shopping mais estariam.
Sem ter sucesso em sua busca, Natalie voltou andando para a praça de alimentação. Estava aliviada pelas crianças não estarem mais lá, imaginando que, possivelmente, já teriam corrido para longe do shopping.
Deu um pulo ao ouvir o barulho de metal não tão longe, mirando seu olhar em direção ao som, viu o portão da Scoops Ahoy se abrir com brutalidade. Billy Hargrove saiu de dentro da sorveteria com Jane Hopper desmaiada em seus braços.
Sentiu sua mão tremer. Não estava tremendo por medo, mas sim por raiva. Por ódio. Sua cabeça latejou com o grito que deu assim que o Hargrove colocou Eleven no chão, esticou uma mão e o jogou para longe com seus poderes.
A raiva que sentiu trouxe seus poderes de volta por um momento. O homem se levantou com facilidade, Natalie correu em sua direção, acertando alguns socos em seu rosto. Billy tentou revidar, mas a garota o segurou com seus poderes.
Eleven parecia estar desnorteada, um ferimento novo em sua testa.
Natalie empurrou Billy para trás, usando seus poderes para quebrar uma de suas pernas. Não foi o suficiente para parar ele, Natalie soube disso quando o Devorador de Mentes de 10 metros voltou para dentro do shopping, fazendo um barulho parecido com um rosnado em direção de Eleven. A pequena distração foi suficiente para o Hargrove ir até a Goodwin e envolver seu pescoço com uma das mãos.
Natalie foi erguida no ar, o homem já era forte sem o Devorador de Mentes no corpo, com ele mais ainda. As vias de ar que ligavam seu pulmão com seu nariz pareciam se fechar, era cada vez mais difícil respirar.
— Billy, por favor. – ela fez um último apelo, ao ver Eleven tentando se afastar com dificuldade – Por favor…
Um barulho novo surgiu: um fogo de artifício explodiu. Na explosão, Billy deu um pulo, soltando Natalie que caiu de joelhos.
Ao olhar para cima, notou que seus amigos jogavam fogos de artifício em direção ao grande Devorador de Mentes.
Sem esperar muito, Natalie correu até Eleven a ajudando a se levantar.
— Zero…
— Preciso que entre em uma daquelas lojas e vá para o fundo. Saia daqui agora!
— Mas…
— El! Isso não vai o segurar por muito tempo, eu vou ter que…
Sentiu um baque atrás de sua cabeça. Sua visão escureceu quando caiu novamente no chão, atordoada. Piscou algumas vezes, viu Billy Hargrove jogar uma lixeira para longe, levando uma das mãos ao pescoço da mulher.
Percebeu Eleven dando um grito de desespero, um grito que não estava tão distante quanto gostaria. Natalie estava prestes a morrer, disso a Goodwin tinha certeza, mesmo ao ver a cara de dor de Billy com os fogos.
— Dois metros! – Eleven disse de repente, chamando a atenção do Hargrove – Você disse a ela que a onda tinha uns dois metros. Você correu até ela… Na praia. – seja lá o que Eleven estivesse dizendo, estava dando certo, o aperto de Billy afrouxava – Ela era muito linda.
Natalie não teve certeza sobre o que Eleven estava falando, na Max com certeza não era e, considerando a falta de empatia com as outras mulheres, também não era nenhuma namorada. A única resposta que fazia sentido era sobre a mãe dele. Mas como Eleven saberia disso? Teria que ter entrado na mente dele, como ela fez ano passado…
Seja lá quem era, foi o suficiente para trazer um pouco da humanidade de Billy Hargrove de volta para ele. Assim que ele soltou o pescoço de Natalie, ela usou seus poderes para o jogar para longe de si.
O Hargrove caiu não tão distante. Eleven estendeu a mão para Natalie conseguir levantar que aceitou a ajuda de bom grado, mas os fogos de artifício acabaram.
Natalie conseguiu identificar o arrependimento nos olhos de Hargrove quando ele levantou. A mulher olhou para cima com pavor, as garras do Devorador de Mentes estavam direcionadas para ela e Eleven.
Foi quando William Hargrove entrou na frente das mesmas, tentando as segurar. Não soube identificar se ele queria fazer um último ato de redenção por tudo o que tinha feito até aquele momento ou se apenas estava querendo cessar com sua dor logo, mas sentiu Eleven começar a tremer ao ver as garras do devorador de mentes entrando pelo corpo do rapaz.
O sangue jorrou. Mais garras entraram no corpo de Billy, Natalie segurou os ombros de Jane tentando a passar alguma segurança quando ouviu a voz de Maxine gritar:
— BILLY!
Nada que fizesse poderia mudar o fim do Hargrove, que caiu no chão morto em poucos segundos.
Quando o Devorador de Mentes rugiu na direção das duas garotas próximas ao corpo de Billy, Natalie soube o que deveria fazer. Não tinha mais saída, não para ela. Eleven havia se sacrificado nos últimos dois anos.
Agora era a vez dela.
Se soltou de Eleven, dando um passo à frente. Jane iria falar alguma coisa, mas sentiu seu corpo levitar até o andar de cima, onde Jonathan a segurou. Natalie ergueu o olhar.
— ZERO! – Eleven gritou
O grupo a olhava, o pavor era claro. Haviam acabado de ver Billy morrer e era óbvio quem seria a próxima pessoa.
Steve remexeu no walkman.
— MANDA FECHAR! – O Harrington mandou pelo Walkman
Natalie levantou a mão direita no mesmo momento em que uma das garras foi em sua direção, fazendo parar no meio do caminho. Mais garras vieram, parando no ar, mas um pouco mais próximo de seu corpo do que a anterior.
Levantou a mão esquerda ao perceber que mais garras se aproximavam, estava a centímetros de ter o mesmo destino do Hargrove. Seu nariz escorria como nunca antes, assim como a tremedeira em seu corpo se fez presente.
O ódio tomou conta de Natalie. Ódio de Brenner, por ter aberto a fenda que trouxe aquele monstro até ali. Do laboratório, por ter feito ela e Eleven se tornarem o que são. Do governo americano, por estar omitindo toda aquela merda e serem os culpados disso. Dos russos, por terem reaberto aquilo tudo. Dos monstros que a perseguiam durante anos. Dos russos, por ter matado seu pai. Do Devorador de mentes, por ter matado sua mãe. E de si mesma, por não conseguir impedir.
Ela deu um grito, as garras se afastaram no mesmo momento. Seus pés desgrudaram do chão com tamanho poder que usava. Natalie levitou alguns metros, quanto mais alto ela estava, menor o Devorador de Mentes ficava.
Natalie usou seus poderes para transformar o grande Devorador de Mentes de 10 metros em uma pequena borboleta de 30 centímetros. Não tinha certeza de como fizera aquilo, mas teve quase certeza que do mesmo jeito que ele foi montado: células. Ela estava reduzindo a células. Não estava o eliminando totalmente, mas o deixando pequeno o suficiente para ser esmagado e jamais voltar. Ela estava se esgotando.
Com um último grito de dor, ela o esmagou ainda no ar. Sem saber que quilômetros abaixo de onde estava, Jim Hopper explodia na base russa com Joyce fechando o portal.
Assim que o Devorador de Mentes foi derrotado, o único barulho que ouviram foi a respiração ofegante de Natalie. A garota ainda estava no ar quando perdeu a consciência, despencando alguns metros até o chão.
Penúltimo capítulo do ato três lançado!!!! E sabem o porquê??? Hoje The Other Side completa DOIS ANOS de lançamento!!!
Estou me sentindo solitária conforme se aproxima do fim, irei entre em luto quando acabar.
Para quem não sabe (ou não viu) postei uma fanfic do Anthony Bridgerton no meu perfil. Vão lá dar uma olhada!!!
Até a próxima!
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro