𝐕𝐈𝐈𝐈. 𝐈𝐌𝐈𝐆𝐑𝐀𝐍𝐃𝐎
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Imigrando !
A EXPLOSÃO DO Centro de Controle de Doenças não tinha sido nada divertida, mas os olhares que Glenn lançava a Maya pareciam estar sendo ainda piores. Ele estava com tanto medo de que ela fosse se matar toda vez que fosse descuidado, que usava qualquer oportunidade para ficar de olho nela. Maya já não estava mais aguentando. A verdade era que ela não queria morrer. Não mais. Ela não sabia o que a tinha consumido naquela tarde, só sabia que não era ela.
O destino era Fort Benning agora. Shane vinha falando sobre o lugar há dias, dizendo que seria a melhor opção. Sinceramente, eles só estavam indo porque não tinham outro lugar para ir.
Maya sentava no sofá do trailer de Dale, espiando a rodovia pela janela. A estrada estava cheia de carros abandonados e com um cheiro terrível, exatamente como todos os outros lugares que ousaram colocar os pés. O sol brilhava forte ao lado de fora. Deveria ser meio-dia.
Quando o trailer parou de repente, Maya espiou à frente. Ela tentou escutar a conversa que Dale e Daryl tinham, mas os dois falavam muito baixo. De qualquer maneira, Dale voltou a girar o volante alguns instantes depois. Daryl estava ao lado de fora, montado na moto que costumava ser de seu irmão. Era uma moto baixa e preta, com o guidão feito de um metal bem prateado. Tinha um adesivo de uma caveira no escapamento e roncava bem alto.
Dale não conseguiu dirigir tão longe por dois motivos: as dezenas de carros nunca permitiriam e a fumaça cinza que escapava do trailer também não. O trailer tinha, enfim, parado de funcionar. E Dale tinha avisado. Ele avisou milhares de vezes.
Ele pulou para fora, tirou o chapéu de pano da cabeça e suspirou, exausto. Dale já estava suando, o sol estava queimando suas costas. A fumaçava subia, e sumia pelo ar, conforme o motor chiava.
━━ Eu avisei, não avisei? ━ resmungou Dale e cruzou os braços.
━━ O que nós vamos fazer? ━ perguntou Maya, abanando a fumaça da frente do rosto.
━━ Achar uma mangueira em um desses carros. Alguma deve servir.
Hora ou outra eles encontrariam uma mangueira que servisse, mas, enquanto faziam isso, iriam encontrar mais coisas do que imaginavam. Quero dizer, o lugar era um cemitério, mas tinha suprimentos e qualquer coisa que quisessem ali.
As pessoas que fugiram da cidade levaram tudo que consideraram ser importante para sobreviverem e jogaram para dentro dos carros. Era uma pena que tivessem morrido antes mesmo de poderem usá-los, mas era uma sorte para aqueles que não tinham nada sobrando e precisavam de uma ajudinha.
Maya pegou uma pistola e uma faca da bolsa de armas de Dale antes de começar a revirar os carros. Ela sentiu uma estranha sensação no peito quando lembrou-se de sua besta, que agora deveria fazer parte dos destroços do CCD. Bem, não importava mais, de qualquer maneira. Maya aprenderia a viver sem ela.
Ela andou adiante. Revirou carro por carro. Ela chegou a pegar uma mochila com roupas — já que as de Lori ficariam muito justas — e achou algumas barrinhas de cereal. Além disso, nada parecia ser tão útil. Em certo ponto, Maya olhou para trás e viu o grupo bem distante. Ela não tinha ideia de que tinha ido para tão longe, mas parecia ter tirado um pouco de peso do corpo por apenas alguns instantes. Os olhares, julgamentos e o próprio ambiente a estavam deixando maluca.
Maya abriu a porta do motorista de um carro preto, coberto por poeira. Ela deslizou para dentro, viu o pára-brisa sujo de respingos de sangue e sujeira, abriu o porta-luvas e procurou por mais alguma coisa. Aquela era a sua primeira sorte do dia, por mais que não fosse muito. No porta-luvas havia um mapa, uma lanterna e alguns documentos do carro que ela largou onde encontrou. Ela enfiou a lanterna dentro da mochila de roupas e abriu o mapa, apenas para ter certeza de que não era o mesmo que Glenn usava — o jogou no chão quando viu que era.
Maya abaixou o quebra-sol do carro, não encontrou nada. Abaixou-se, alcançando o botão que abria o porta-malas do carro e o empurrou. Sorriu ao ouvir o som da mala abrindo.
O porta-malas tinha uma bolsa com barrinhas de cereal e muitas garrafas d'água; ao lado, algumas ferramentas estavam espalhadas. Ela agarrou as ferramentas, as jogou para dentro da bolsa e fechou o zíper. Quando jogou a alça da bolsa sobre o ombro, escutou passos vindo por trás. Maya preferiu não tomar riscos.
Ela sacou a pistola, destravou e virou para trás. Tudo isso em menos de cinco segundos. Os dedos rígidos apertavam o metal duro e gelado da arma, as pontas chegavam a ficar pálidas.
Não era quem ela esperava que fosse. Se é que ela esperava alguém.
━━ O que está fazendo aqui, esquisito? ━ resmungou, enfiando a pistola dentro da calça.
Ela virou-se novamente e fechou o porta-malas. Daryl revirou os olhos.
━━ Procurando o mesmo que você. ━━ Ele espiou a bolsa e a mochila nos ombros dela. ━━ Achou alguma coisa?
━━ Sim ━━ afirmou. ━━ Dezessete garrafas d'água, barrinhas de cereal o suficiente para uns quatro dias, uma lanterna e ferramentas.
━━ Deve dar ━ deu de ombros. ━━ Tenho uma coisa pra te dar.
━━ Pra mim?
De acordo com as hipóteses de Maya, as coisas que Daryl Dixon poderia dar a ela eram: dor de cabeça, um esquilo morto, a mão decapitada de seu irmão nojento ou a orelha de um zumbi.
Seu coração deu um salto quando Daryl sumiu entre os carros e retornou segurando a besta dela em uma das mãos. O metal da besta brilhava com o sol que o refletia, parecendo uma arma que carregava poder nela. Maya nunca admitiria aquilo a ele, mas nunca esteve tão grata.
Seus olhos estavam brilhando como nunca brilharam. Daryl a entregou sua amada besta e ela a segurou, sem acreditar. Quem ela queria enganar? Mas é claro que Maya se importava se sua arma preferida tinha virado cinzas ou não!
━━ Pensei que tinha perdido ela pra sempre ━ sorriu, como se segurasse um pedaço de ouro. ━━ Você não é tão detestável quanto eu pensava, Daryl.
Os olhos azuis se encontraram. Parecia que encontravam raios bem eletrizantes nos olhos um do outro, que os prendiam ali de um jeito que não os faziam ao menos perceber que estavam tão aéreos do mundo ao redor.
Daryl foi o primeiro a desviar o olhar. Ele sentiu as bochechas esquentarem, enquanto fingia olhar para qualquer lugar que não fosse Maya. Ele encontrou algo para olhar, de fato.
Os dedos dele apertaram o pulso de Maya e a puxaram para trás do carro. O coração batia como coices no peito. Maya balançou o pulso e soltou-se bruscamente. Agora, seus olhos estavam cobertos de raiva.
━━ O que você pensa que está fazendo? ━ disparou, irritada.
Daryl levou o dedo à boca e chiou. Silêncio.
━━ Vai para baixo do carro. Agora ━ sussurrou e espiou por cima.
Maya não argumentou. Arrastou-se para baixo do carro, sentiu o asfalto quente roçar na pele e ficou encarando os canos e engrenagens do carro ali embaixo, enquanto Daryl se espremia ao seu lado.
━━ O que houve? ━━ Ela sussurrou, quase inaudível.
Daryl apontou para trás dela. Maya virou a cabeça e arregalou os olhos ao ver dezenas de pés fedidos e mortos arrastando pelo chão e por todos os lados em volta do carro.
Era quente lá embaixo, estavam suando como nunca. Maya não arriscaria mexer um músculo. Daryl, por outro lado, estava esperando o momento certo para se arrastar para fora e ajudar T-Dog.
T-Dog atravessava a rodovia, pressionando o corte em seu pulso. O corte pingava, deixava rastros de sangue por todo o chão que ele pisava. Hora ou outra, zumbis iriam sentir o cheiro e dar meia-volta.
━━ É o T-Dog? ━ Maya sussurrou.
━━ Não saia.
Ele arrastou-se para fora do carro, sentindo o asfalto queimando seus ombros nus mais uma vez, e correu para perto de T-Dog. A maioria dos zumbis já estava distante, apenas um estava pronto para morder mordê-lo. Daryl segurou os ombros do morto, enfiou uma faca em sua cabeça e deitou seu corpo moribundo sobre T-Dog. Ele olhou em volta, encontrou mais um dentro do carro, o agarrou pelo pescoço e o deitou sobre si. Os dois estariam cobertos pelo cheiro de carne podre.
Eles assistiram mais um grupo de zumbis passar, impregnando seu cheiro por toda a rodovia. Eles rosnavam, se arrastavam pelo chão e assombravam em volta.
Os zumbis foram embora e Maya correu até os dois. Ela empurrou o zumbi de cima de T-Dog e esbugalhou os olhos quando viu seu pulso rasgado e a camisa coberta de sangue. O pulso não parava de sangrar, o ferimento era fundo e extremamente perturbador.
━━ O que aconteceu com você, cara? ━ perguntou Maya.
━━ Rasguei o pulso no vidro de um carro ━ explicou, enquanto a boca deixava suspiros dolorosos.
Maya cortou uma das mangas do sweater com a faca, a enrolou e a apertou em volta do pulso de T-Dog. Ela sentiu uma brisa fresca bater no braço descoberto e decidiu cortar a outra manga também. Agora parecia que vestia uma regata cavada. Foi mal pela roupa, Lori!
Maya e Daryl levantaram T-Dog e apoiaram os braços dele sobre seus ombros. O levaram aos outros, resmungando de cansaço no caminho. T-Dog era bem pesado e estava ainda mais agora que não conseguia andar sozinho.
Carol estava chorando e fungando, com bochechas molhadas e vermelhas quando chegaram. Andrea a abraçava e sussurrava algumas palavras airosas e reconfortantes a ela.
━━ O que aconteceu? ━ perguntou Maya.
━━ É a Sophia ━ respondeu Lori, espiando Carol por cima dos ombros. ━━ Dois zumbis estão atrás dela. Rick foi pra floresta ajudá-la.
Mais tarde, Rick retornou sem Sophia. Ele pediu que alguns fossem ajudá-lo e Maya era uma deles. Procuraram em volta do riacho que ele havia deixado a menina, mas não encontraram nada além da água cristalina que batia nas canelas. Para sermos sinceros, uma menina de doze anos, assustada, não iria conseguir compreender ordens muito bem. Ela poderia ter confundido a esquerda com a direita, facilmente. Por Deus, era capaz que ela pudesse esquecer seu próprio nome!
Sophia tinha deixado pegadas pelo chão, as marcas de seus pés amassaram a terra úmida. Ela tinha feito o que Rick mandou, seguiu de volta para a estrada. Sophia teria conseguido voltar se não tivesse virado para o outro lado.
Maya e Daryl estavam agachados no chão, espreitando os olhos para ver as pegadas. Eles seguiram o caminho de rastros até não haver mais nada. As pegadas simplesmente sumiram.
━━ Talvez ela tenha visto um zumbi e saiu correndo para o lado errado? ━ perguntou Glenn, ajeitando o boné azul na cabeça.
━━ Só estou vendo as pegadas dela ━ Maya afirmou e ficou de pé, abanando o rosto quente.
━━ Vai anoitecer ━━ disse Rick. ━━ É melhor que Maya e Glenn voltem pra estrada e façam de tudo para mantê-los calmos.
Maya e Glenn sacudiram a cabeça e deram meia-volta. O sol se punha à oeste, pintando o céu de um laranja bem forte. Não demorou muito para que Rick, Shane e Daryl retornassem à estrada também, o céu tinha acabado de escurecer. Rick estava exausto e abatido e, pior ainda, não sabia como dar a notícia de que Sophia não estava com eles.
━━ Vocês não a acharam? ━ perguntou Carol, abalada.
━━ Continuamos ao amanhecer ━ disse Rick.
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RICK ACORDOU BEM cedo na manhã seguinte. Ele estava nervoso, ansioso e sentindo uma culpa terrível consumir o peito. Abriu uma bolsa com facões, enxadas e várias outras armas brancas que Carl tinha encontrado dentro de um carro na tarde anterior. Rick as espalhou sobre o capô de um carro cor de champanhe e deixou que cada um pegasse a arma que quisesse.
━━ Esse não é o tipo de arma que precisamos ━ argumentou Andrea. ━━ E as armas de fogo?
━━ Nós já conversamos sobre isso. Daryl, Maya, Rick e eu estamos com elas. Não queremos que ninguém fique atirando sempre que uma árvore balançar ━ disse Shane, cansado.
Andrea havia insistido em armas de fogo desde a tarde passada. Ela conseguia ser bem teimosa e insistente quando queria e, francamente, chegava a ser irritante. Além do mais, Andrea só tinha usado uma pistola uma vez — quando matou Amy. Ela não sabia como usá-las de verdade.
Mesmo que Shane explicasse mil vezes, ela ainda ficaria emburrada e reviraria os olhos. Era inútil. Quando Andrea colocava algo na cabeça, nada a impediria de conseguir.
━━ Não estou preocupada com as árvores. E por quê ela também vai ficar com as armas? ━ perguntou Andrea, lançando um olhar nada agradável à Maya.
━━ Porque não sou idiota para atirar ao ouvir qualquer barulho, Andrea. Aposto que não sabe o que isso significa, não é?
Andrea revirou os olhos e Maya não poderia se importar menos com o que quer que estivesse passando na cabeça dela agora. Daryl cobriu a boca para segurar uma risada e acredito que Andrea tenha reparado porque parou e olhou para ele de cara feia.
Uma hora depois, estavam imergindo cada vez mais na floresta, cercados por árvores e arbustos, pisando no chão de terra, coberto por folhas secas.
Eles alcançaram uma cabana amarela e bem suja. Não havia nada em volta a não ser por uma velha fogueira ao lado de fora, onde a lenha estava queimada e escura. Cigarras cantavam em algum lugar distante e as folhas das mais altas árvores não deixavam que o sol das dez da manhã entrasse nas partes mais escuras da floresta.
━━ Acha que ela pode estar lá dentro? ━ sussurrou Maya.
━━ Pode ter um monte de coisas ali, mas não custa tentar ━ respondeu Daryl antes de caminhar até a cabana.
Ele estava certo. Poderia ter qualquer tipo de coisa ali dentro, inclusive Sophia. Então Daryl respirou fundo, puxou uma faca de dentro do bolso, abriu o zíper da cabana e entrou, enquanto Maya e Rick seguravam armas ao lado de fora.
Daryl não demorou muito para sair. Ele saiu cobrindo o nariz com o antebraço e fechou o zíper da cabana na mesma hora. Ele tossiu e viu os olhares ansiosos o fuzilando.
━━ Ela não está lá ━ disse e guardou a faca de volta no bolso.
━━ O que tem aí? ━ perguntou Maya.
━━ É um cara. Fez o que o Jenner disse, optou por sair.
De repente o som de um sino ecoou por toda a floresta. Não parecia vir de tão longe, mas não parecia ser uma curta caminhada, de qualquer maneira. Rick saiu correndo, desviando de árvores e deixando que o resto do grupo o seguisse. Parecia que o sino perturbava a cabeça dele, ecoava e o deixava tonto.
Ele correu tanto que parou à margem da floresta, ofegou e olhou para uma igreja a metros de distância dele. Os outros vieram por trás, tão ofegantes quanto. Não havia campanário algum, mas Rick não deixou que o impedisse e voltou a correr. Ele a alcançou e começou a subir os degraus da varanda. Parou em frente a porta, sacando sua pistola e esperou que Maya, Daryl e Shane o acompanhassem.
Daryl e Rick escancararam a porta da igreja com o pé, e Maya e Shane entraram, apertando as armas. O sino ainda tocava, irritante. Três zumbis sentavam nos bancos da paróquia. Zumbis que rezavam? Conta outra!
Os mortos viraram-se lentamente, rosnando. Eles levantaram e começaram a arrastar os pés no chão, esticando os braços e batendo os dentes. Daryl e Maya atiraram em dois com as bestas e Shane cortou a cabeça do outro com um machado. Rick gritava por Sophia do outro lado da igreja, exausto.
O sino tinha parado.
Matar dentro da igreja parecia errado, mesmo que fossem zumbis. O sangue dos corpos espalhava pelo chão, enquanto Maya puxava as flechas dos dois mortos. Daryl encarou uma grande estátua de Jesus Cristo na parede e respirou fundo.
━━ E aí, J.C? Aceitando pedidos? ━ brincou Daryl.
O sino voltou a tocar. Eles correram para fora, apenas para ver Glenn arrancar um aparelho da parede. Ele estava irritado e com as bochechas vermelhas e suadas. O sino parou de tocar mais uma vez.
━━ O sino era programado ━━ disse ele.
O sol queimava, aquecendo a pele — o que, normalmente, seria agradável, mas estava sendo torturante agora. Um casal de pássaros passou sobrevoando e sumiram entre as árvores de novo. Carol e Lori entraram na igreja, ignoraram os corpos no chão e tomaram um lugar em um dos bancos. Carol, com os olhos brilhantes e cheios de lágrimas, implorou para Deus depositar toda a punição sobre ela e poupar a vida de Sophia.
Ao lado de fora, Maya ficou debaixo de uma árvore e prendeu os cabelos suados e cheios em um rabo de cavalo. Suas costas estavam todas suadas, enquanto ela assistia Shane se aproximando do grupo. Shane passava a mão no queixo, aflito às mordidas nervosas em seus lábios
━━ Voltem pela margem, tudo bem? Daryl, você fica no comando ━ falou Shane. ━━ Eu e Rick continuamos procurando aqui por mais uma hora, só pra garantir.
━━ Vai nos dividir? Tem certeza? ━ perguntou Daryl, levantando a sobrancelha.
━━ Sim. Alcançamos vocês depois ━ Shane confirmou, sem olhar muito para ele. Era como se um simples olhar pudesse queimá-lo vivo.
E assim eles fizeram. Sumiram entre a floresta mais uma vez, enquanto Rick, Shane e Carl — depois que insistiu em ajudar na procura — seguiam para o lado contrário. Estavam exaustos e famintos. Os pés doíam e o estômago roncava, pedindo por coisas diferentes de barrinhas de cereal. Mas o que eles poderiam fazer? Nada. Tinham que continuar em frente.
Meia hora depois, um estouro veio lá de trás, ecoou pelas árvores até que pudessem ouvi-lo. Era um tiro, definitivamente. Lori arregalou os olhos e olhou para trás, sentindo o peito apertar em um nó desconfortável.
━━ O que foi isso? ━━ perguntou Lori, embora soubesse muito bem que era o som de um tiro.
━━ Não deve ter sido nada ━ diz Maya. Ela sabia o que era, mas não pioraria as coisas.
━━ Aquilo foi um tiro ━ retruca Lori, irritada. Ela respira fundo, mas ainda está aflita. ━━ Por que um? Por que só um tiro?
O rosto de Lori estava mais pálido que o normal. Ela sentiu a boca ficar seca de repente. Era como se cada nova preocupação deixasse seus lábios mais secos que antes.
━━ Talvez tenham atirado em um zumbi. ━ Daryl deu de ombros, mas nem ele acreditava naquilo.
━━ Por favor, não tente me acalmar. Você sabe que Rick não arriscaria um tiro pra matar um zumbi. Nem o Shane. Fariam isso em silêncio.
E Lori estava certa. Eles não iriam usar as pistolas para matar um zumbi, matariam em silêncio. Mas de uma coisa eles sabiam: não poderiam sair pela floresta, caçando ecos. Morreriam de cansaço. De qualquer forma, seguiram o caminho de volta para a estrada, quietos — embora Lori não estivesse nem um pouco calma.
Quando Carol pediu que parassem um pouco para que ela pudesse descansar as pernas e beber água, Maya e Daryl sentaram sobre um tronco de árvore no chão e suspiraram, cansados. O tronco estava cheio de cogumelos laranjas e esbranquiçados aos lados. Esquilos se escondiam dentro de buracos nas árvores — era uma sorte eles terem se escondido antes que Daryl os visse.
Maya olhou para o rosto de Daryl e deu uma risadinha. Ele a olhou, nada contente, e ergueu as sobrancelhas.
━━ Está rindo do que?
━━ Do seu rosto. Está todo sujo.
━━ O seu também. Já se viu no espelho?
Maya revirou os olhos e virou para o outro lado. Daryl não era o melhor com interações sociais. Principalmente por ter crescido com um pai abusivo e um irmão pior ainda. Comunicação não era seu maior poder, mas, por sorte, também não era o de Maya.
━━ Foi mal ━ Daryl falou, sem graça.
Maya respirou fundo e abriu sua mochila, puxou um pedaço de pano de lá e o entregou a ele. Daryl pareceu hesitar ao pegar o pano, mas o agarrou de qualquer forma. Maya teve que segurar mais uma risada ao vê-lo lutar contra a sujeira no rosto. A sujeira estava ganhando, inclusive.
━━ Não adiantou nada ━ falou Maya, sorrindo sem nem perceber. ━━ Me dá o pano.
Maya pegou o pano da mão dele e começou a limpar a sujeira. Bem, dizer que o rosto de Daryl estava limpo seria mentira. Daryl estava... um pouco menos sujo.
Ele ficou ali, parado, com os olhos azuis encarando o rosto pálido e bonito de Maya. Ela estava muito concentrada em limpar a sujeira para perceber que Daryl estava praticamente hipnotizado — algo que ele nunca admitiria — mas sentiu uma pontada esquisita aquecer o corpo quando percebeu. Os olhos dele eram sombrios da maneira mais bonita e gentil que existia, como se só ele pudesse ter olhos como este.
Maya pigarreou e desviou o olhar como se pudesse apagar qualquer que fosse o sentimento que sentiu segundos atrás. Ela guardou o pano de volta na mochila e levantou-se do tronco.
━━ Vamos continuar, pessoal ━ disse ela.
Parecia que nunca chegariam na estrada. Andrea estava reclamando de dor nos pés e Maya já tinha bufado algumas vezes pela reclamação, enquanto Daryl fingia não ter escutado. A floresta era quieta e não havia mais nenhum barulho além dos pés deles amassando as folhas debaixo dos sapatos e os pássaros nos galhos de árvores. Galopando, vindo lá de trás, um barulho crescia. Eram cascos de cavalo? Não havia outra explicação para o som do trote no chão.
Maya virou para trás e, passando como um furacão, um cavalo enorme de pelo castanho parava a menos de um metro dela. Ela olhou para cima e, montada, uma mulher de cabelo curto e castanho segurava um taco de beisebol com uma mão e a rédea com a outra. Ela vestia uma blusa rosa claro e larga, um chapéu, botas que garotas da fazenda costumavam usar e calça jeans. Aquela era Maggie Greene.
━━ Lori? Lori Grimes? ━ pergunta Maggie, ofegante.
━━ Eu sou a Lori ━ diz Lori, confusa.
━━ Rick me mandou. Você tem que vir agora! Houve um acidente. Carl foi baleado. Ele ainda está vivo, mas você tem que vir agora!
Lori sacudiu a cabeça, largou a mochila no chão, enfiou o pé no estribo e pulou para sentar na sela. Ela fez tudo muito rápido. O pânico crescia na mente dela de novo. Era como um café preto e amargo ameaçando transbordar pela boca de uma xícara.
━━ Ei, ei, ei! Não conhecemos essa garota. Você não pode ir com ela ━ protesta Daryl, olhando Maggie de cima a baixo.
━━ Ele tem razão, Lori. Como sabemos que podemos confiar nela? ━ diz Maya, aproveitando para dar uma olhada nela.
Maggie era linda. Linda demais. Ela tinha quadris perfeitamente esculpidos, olhos grandes e azul-esverdeados. Seu rosto era tão angelical quanto poderia expressar força. Maggie não era forte.
Maya não tinha certeza se poderiam confiar nela, mas tinha certeza de que Maggie era linda. Ela tinha até esquecido por um momento que era uma completa estranha.
━━ Rick disse que há outros na estrada, naquele grande engarrafamento. Podem voltar até Fairburn Road. Fica perto da nossa fazenda. Verão a caixa de correio. O nome é Greene.
E assim ela foi embora, trotando, com Lori atrás.
Maya e Daryl fecharam os olhos e tentaram lutar contra o pânico que crescia. Ficaram ali, em pé, imóveis como estátuas pálidas com a pulsação batendo na garganta. Maya tocou a testa e suspirou.
━━ E agora? O que a gente faz? ━ pergunta ela. ━━ Já vai anoitecer. Não temos muito tempo.
━━ Vamos voltar pra estrada e avisar os outros. Fazer o que a maluca no cavalo disse ━ falou Glenn.
Daryl balançou a cabeça e tentou não parecer preocupado. Ele começou a se convencer de que nada daquilo era problema dele. E se Shane brigasse com ele depois, porque, tecnicamente, era ele quem estava no comando? Ele não dava a mínima. E, sinceramente, Shane seria mais esperto se não abrisse o bico.
𝟶𝟷 - 🝯 ┊𝐨𝐧𝐞 '࣪˖ ๋ → Oiê! Espero que tenham gostado desse capítulo. Desculpa por estar muito grande!
𝟶𝟸 - 🝯 ┊𝐭𝐰𝐨 '࣪˖ ๋ → Interajam nos comentários, isso motiva demais.
𝟶𝟹 - 🝯 ┊𝐭𝐡𝐫𝐞𝐞 '࣪˖ ๋ → Lembrem de deixar seus votos e feedbacks, isso é muito importante.
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walkthdead ©️ 2022
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