a perspectiva normal
Charlotte precisou admitir que depois de subir as escadas, por mais que quisesse gravar cada passo que deu adiante disso, parecia muito difícil não se perder. Ela se lembrava bem do início de tudo.
Taylor deitou na cama e a inglesa ficou por cima. Elas se beijaram mais uma vez, com uma calma singela despejada entre o momento, e enquanto faziam isso, Taylor usou o espaço para puxar a camisa de Charlotte para cima. Logo ela fez o mesmo com a própria roupa, e então as duas se encararam. Até que Taylor sorriu e desviou o olhar para a boca de Charlotte. Foi o que a mais nova precisou para cortar o espaço que ainda havia entre elas. Sua boca foi de encontro ao pescoço de Taylor e ela a sentiu segurar seu cabelo, sem força, mantendo o aperto solto. Charlotte a sentiu morder o lábio, como que tentando fazer o mínimo de barulho que conseguia, e então uma de suas mãos desceram. Suas unhas arranharam o abdomen de Taylor, e as mãos da mais velha acabaram no rosto de Charlotte, a afastando de seu pescoço apenas para juntar seus lábios mais uma vez.
Quando a inglesa abriu os olhos na manhã seguinte, ela mal sabia o que aquela noite tinha significado para Taylor. Ela poderia muito bem falar por si mesma, porque tinha consciência do que sentia, mas não poderia falar por Taylor. Era difícil conciliar o que ela mostrava com o que ela poderia estar sentindo. Da última vez as coisas não tinham acabado bem.
Ainda assim Charlotte não queria depositar expectativa em algo com Taylor porque já havia se decepcionado demais, não só com ela, mas em situações passadas, e a raiz da decepção sempre era acreditar que os outros teriam as atitudes que ela esperava que eles tivessem, atitudes que ela projetava, quando na verdade as projeções eram quase sempre opostas às atitudes que recebia.
— Ainda não me entra na cabeça que eu posso te ver sem roupa — a inglesa disse e Taylor riu levemente.
— Você e o mundo todo — ela fez questão de falar, porque era como lidava com os próprios problemas. Ela deveria rir sobre eles, ou pelo menos achava que deveria fazer isso.
— Oh, é... Tem isso.
— Hm, qual é a coisa das pessoas com nudez? Especialmente quando falamos de peitos... Quero dizer, como é que as pessoas podem ser tão interessadas neles?
— Bem... — Charlotte sorriu de lado e Taylor também sorriu, mas revirou os olhos.
— Não, sério — ela disse — São só peitos.
— É, mas...
— Não, sem "mas". Eles no geral estão ali para amamentar. Sua mãe tem, sua irmã tem, você tem... As pessoas já devem ter vistos milhares, qual a graça neles?
— Ok, primeiro, porque estamos falando disso e segundo, na verdade, eu não consigo me lembrar qual a graça deles mesmo — ela falou — Eu preciso de estímulo visual para me lembrar qual a graça deles — e então se inclinou e um só movimento se deitou por cima de Taylor, levantando o lençol o suficiente para que conseguisse ver o corpo despido dela — É, realmente, não sei o que as pessoas vêem — Charlotte disse irônica e Taylor riu, a puxando para um beijo doce, mas rápido.
Taylor se afastou eventualmente, mas continuou encarando a inglesa, parecendo querer dizer alguma coisa. Após o que pareceu um súbito momento de coragem, ela finalmente falou: Sabe, Rita Hayworth costumava dizer "eles vão pra cama com Gilda e acordam comigo" você se sente assim comigo?
— Quem é Gilda? — Charlotte perguntou, porque honestamente não conseguia puxar da memória a informação.
— O papel mais famoso da Rita Hayworth e ela dizia isso porque os homens iam para a cama com um sonho e não gostavam quando acordavam com a realidade — ela explicou — Você se sente assim comigo? Indo pra cama com uma idealização, a cantora... A garota daquele clipe... E então agora, acordando, sou eu a pessoa do seu lado, a realidade completa sem nada do glamour que as pessoas colocam em cima de mim.
— Sabe, eu definitivamente não me sinto assim — Charlotte respondeu de aproveitou para se inclinar e deixar um beijo calmo nos lábios de Taylor — Você é apaixonante e nunca esteve tão linda como está essa manhã.
Taylor a olhou com um sorriso nos lábios e então a puxou mais para si, em um abraço mais aconchegado. Ela encaixou o rosto no pescoço de Charlotte e deixou um beijo por ali.
— Acho que depois disso você merece um café na cama — Taylor falou com a voz a abafada e Charlotte sorriu.
— Adoraria, mas café na cama implica em te deixar levantar e nesse momento eu estou muito confortável nessa posição — ela falou em tom de brincadeira, mas no fundo era verdade. Ela estava adorando aquele momento.
— Hm, será que eu posso ficar aqui um pouco mais? — Taylor quis saber, mas ela não estava falando sobre a cama ou o momento. Ela estava falando sobre continuar ali, com Charlotte, na casa dela. Porque, ainda que talvez não fosse a escolha certa, ainda era o melhor; fugir por um momento do mundo do lado de fora.
— Fique aqui para sempre — Charlotte murmurou, e então sentiu o sorriso de Taylor contra sua pele. A americana não disse nada depois disso, e Charlotte pensou que o silêncio era como uma boa decisão, porque diferente de outras vezes ele não parecia ruim ou incômodo.
Taylor iria falar alguma coisa, mas o barulho do lado de fora cortou o momento. A porta do quarto de Spike abrindo e fechando e então o pé dele se arrastando pela escada. Charlotte suspirou e se afastou, e então Taylor se levantou, alcançando suas roupas do dia anterior. Ela vestiu a calça e a camisa, mas manteve o moletom de lado porque do lado de dentro a temperatura era amena. Do outro canto, Charlotte vestiu a mesma calça de pijama com a qual deveria ter dormido e uma camisa branca.
Elas desceram as escadas juntas e passaram por Spike jogado no sofá. Charlotte perguntou se ele iria querer um pouco de café e tudo que o garoto pôde fazer como resposta foi acenar. Parecia mesmo que ele tinha tido uma noite complicada, e isso ficou bem claro quando algum tempo depois ele murmurou que tinha perdido o sono então se sentou no terraço e tomou uma garrafa de vinho sozinho. Levando em conta que já tinha estado alto por conta da bebida que tomou no pub, enquanto assistia o jogo de Rúgbi da última noite, não tinha sido mesmo uma escolha ideal. De qualquer modo, Charlotte deixou isso para lá e seguiu até a cozinha. Taylor garantiu que poderia cuidar do café e Charlotte apenas aceitou, puxando a cadeira de frente para mesa e se sentando enquanto alcançava o próprio celular, que na noite anterior tinha ficado ali e ainda tinha pouco mais da metade da barra de energia intacta.
Com o café pronto e a mesa posta, Taylor murmurou que iria subir para procurar seu celular. Ela deveria mesmo deixar de fugir da situação e então ver pelo menos as mensagens que tinha recebido de Tree. E foi o que fez.
Charlotte estava sorvendo o último gole de café quando ela escutou a voz de Taylor no andar de cima. Tão alta que até Spike levantou a cabeça, e então Taylor voltou a descer a escada, mas dessa vez vestindo o moletom que tinha usado no dia anterior enquanto prendia o próprio cabelo em um rabo de cavalo desajeitado. Charlotte quase achou que não funcionaria da maneira que deveria funcionar. Ela tentou pensar rápido e viu como Taylor passou pela sala e seguiu pela corredor. Do jeito que conseguiu deu seus passos atrás da garota e quase caiu quando foi se apoiar na parede, a contornando e parando de frente para ela. Taylor foi de encontro com Charlotte, e precisou suspirar uma única vez, de maneira compassada, antes que pudesse dizer qualquer coisa.
— Tree vai me matar — ela falou e o olhar confuso que ganhou deixou claro como Charlotte não tinha a mínima ideia sobre o que acontecia. Claro, ela não poderia julgar a garota, porque se não fosse a mensagem de Tree ela mesma não saberia de nada — Ele me ligou trinta vezes, e então deixou todas essas mensagens.
— Sobre o que aconteceu ontem?
— Sobre o que aconteceu ontem e sobre o que aconteceu hoje e sobre a gente — Taylor se irritou — De algum jeito, alguém soube que eu estou aqui. Tem fotos dos meus seguranças aqui na frente.
— Eles ainda estão aqui? — Charlotte se focou no que não deveria, porque na verdade mal tinha reparado que os dois carros de Taylor ainda estavam ali na frente. Como ficaram por todo o dia anterior, e a noite também.
— Claro que eles estão aqui — ela respondeu como se fosse óbvio, e na verdade deveria ser.
— E o que estão dizendo? — a inglesa precisou perguntar, ainda que não quisesse mesmo saber a resposta, porque muito provavelmente não gostaria dela.
— Eles estão dizendo que eu tenho um novo namorado e que eu estou aqui e pretendo ficar pelo resto da semana, como se soubessem mesmo de alguma coisa — ela revirous os olhos.
— Então não é ruim — Charlotte disse, e ela entendeu que Taylor não concordava com aquela visão quando ganhou o olhar atravessado da garota — Eu só... Eu não sei o que aconteceu para... Enfim, pra saberem que você está aqui. Os carros aqui fora, quero dizer, poderia ser de qualquer pessoa.
— Ah, eu sei o que aconteceu — ela disse — O seu amigo estranho que está deitado no sofá achou que conseguiria fazer um bom dinheiro dizendo para as pessoas aonde eu estava. Ele é a única pessoa além de você que sabe disso.
— Isso não é verdade — Charlotte tentou dizer. Claro, ela sabia bem que Spike era todo errado em sua própria maneira, mas ao mesmo tempo ele era um cara legal. O tipo de cara com que ela sabia que poderia contar, independente da situação. Ela queria pensar que o conhecia bem o bastante para saber que ele nunca faria algo como aquilo.
— Oh, não? — Taylor soltou um riso irônico — Então os meus fãs e metade da imprensa britânica acordaram hoje e pensaram "Hey, eu sei aonde a Taylor está. Ela está naquela casa de porta vermelha em Shoreditch. Acho que deveríamos escrever uma matéria sobre isso e então ir até lá e tirar fotos do lugar".
— Taylor... — Charlotte suspirou, mas mal soube o que dizer, então optou pelo silêncio e viu quando Taylor revirou os olhos e balançou a cabeça negativamente, passando por ela em direção a porta. Antes que ela pudesse a abrir, Charlotte segurou em seu braço, e continuou — Eu não sei o que dizer, mas acho que preciso pedir desculpas, ainda que essa situação não seja culpa minha.
— Isso é uma bagunça — Taylor confessou — Eu te procurei porque achei que aqui estaria protegida de toda essa merda, mas agora está tudo acontecendo de novo. Meu deus, Eu tenho um namorado!
— Você tem? — Charlotte deixou o aperto leve no braço da garota e a encarou confusa. No dia anterior a conversa não era essa.
— Não realmente porque terminamos, mas até aonde as pessoas sabem, sim, eu ainda tenho um namorado na visão de todos eles, e é por isso que tudo é tão ruim. E amanhã vão ter fotos suas em todos os sites daqui até o... Sei lá, o Brasil! Porque eu duvido que não tenha paparazzi escondidos em qualquer prédio dessa rua, apenas esperando o clique certo.
— Ok, espera — a mais nova disse — Eles não sabem que você e eu... Enfim... Que a gente... Eles acham que você estava com qualquer outra pessoa, e então-
— E então o quê? — Taylor perguntou sem querer realmente escutar uma resposta — Nada disso importa. Se alguém falou sobre mim, sobre a gente, então eles logo vão ligar os pontos. Logo vai ter minha foto deixando essa casa e logo você vai ver seu rosto estampado em algumas centenas de páginas de fofoca.
— Ok. Isso parece ruim-
— Não parece. Isso é ruim! — ela falou — Meu Deus, é a oportunidade perfeita para você, Charlotte. Transtorno mínimo, publicidade máxima. Todo mundo vai saber quem você é , quase um "Ei, parabéns! Você aparentemente dormiu com aquela cantora. Nós vimos as fotos dela deixando a sua casa e as pessoas estão dizendo que alguma coisa aconteceu."
— Isso não é justo — Charlotte. Não era como se ela quisesse ser conhecida como "Aquela que supostamente ficou com a Taylor Swift." Pelo contrário. Ela mal gostava quando o próprio nome saía no jornal local na lista de aniversariantes - e sua mãe o enviava todos os anos - imagina ser conhecida por um fato isolado pelo resto da vida, ainda mais às custas de outra pessoa.
— Não é justo? Não mesmo?... Sabe, isso talvez ajude a sua loja de discos né?! — ela falou qualquer coisa, e Charlotte tentou não levar em consideração porque sabia que ela estava irritada. A coisa nem parecia tão ruim, porque era um rumor. Mas um rumor, qualquer que fosse, para Taylor, batia de um jeito diferente quando se olhava da perspectiva dela — E-eu preciso ir. E você precisar falar com o seu amigo.
— Ele não fez isso — Charlotte garantiu, dessa vez tentando acreditar no que dizia também — E... Meu Deus, Taylor, que comportamento é esse? Ok, a situação é ruim, mas vai passar... Sério, a gente não pode, sei lá... Rir disso? Tem tanta coisa mais importante acontecendo, tem tanta gente passando por coisa muito pior sem fazer de tudo uma grande confusão na própria cabeça.
— Tem pessoas passando fome no Sudão — a voz de Spike tomou o corredor, e só então Charlotte reparou que ele estava logo ali na cozinha, vendo toda aquela cena enquanto usava apenas esse short azul com pequenos desenhos do Patrick Estrela.
— É, tem isso. Tem pessoas passando fome no Sudão — Charlotte concordou — Mas a gente não precisa ir tão longe. A minha melhor amiga tem um problema que vai a acompanhar pelo resto da vida, e ainda assim ela tenta olhar tudo pelo lado positivo mesmo que às vezes pareça não ter um, enquanto tem gente com muito menos dificuldade que perde tudo no primeiro empecilho. Olha... — ela tentou suspirar com calma — Tudo que eu estou pedindo, por agora, é uma perspectiva normal disso tudo.
— Você tem razão — Taylor falou, mas ela não estava sendo honesta. Ela estava apenas ironizando tudo porque não sabia fazer outra coisa — Claro que tem, mas sabe o que é? Eu venho tendo que lidar com toda essa merda por mais de quinze anos e você vivenciou isso por cinco minutos. As nossas perspectivas são bem diferentes nessa situação.
— As notícias de hoje não vão fazer diferença amanhã — Charlotte apontou e Taylor levantou as sobrancelhas quase que incrédula que ela tivesse mesmo dito aquilo. A inglesa continuou de qualquer maneira — É só um dia. Um dia que vai ser esquecido, as notícias de hoje vão ser velhas amanhã.
— Ok — ela balançou a cabeça negativamente — Você realmente não entende isso. Essa notícia vai ficar velha, mas assim que alguma outra coisa acontecer eles vão se lembrar disso e de mais outras coisas e tudo isso, tudo, tudo mesmo vai voltar e eu vou ter que ouvir as mesmas merdas de novo e de novo, até eles se cansarem e partirem para outra, só esperando mais uma nova merda acontecer.
Taylor encarou Charlotte, e ela parecia ter mais a dizer, mas desistiu no meio do caminho, o que deu para a inglesa a oportunidade de entender que por mais que quisesse continuar ali, despejando pontos para que Taylor entendesse que nada daquilo era o fim do mundo, a situação era bem como uma luta perdida. Ela só entenderia o que queria entender.
— Ok. Ótimo... — Charlotte disse — Você está certa — e então apenas acenou, dando espaço para que Taylor pudesse se virar e abrir a porta por uma última vez — Eu fico feliz que você tenha aparecido, de verdade, mas agora é melhor você ir embora.
Taylor não precisou de uma segunda indicação, porque antes mesmo que pudesse a ganhar, girou a maçaneta e saiu em seus passos apressados em direção ao carro que ainda estava ali, logo ali, na calçada. Foi realmente rápido, e Charlotte ainda viu o carro sair, no meio tempo que do outro lado da rua dois ou três fotógrafos realmente estavam preparados para registrar o momento por completo. Mas Charlotte mal reparou, e então ela fechou a porta e se apoiou nela, encarando Spike ainda parado no início do corredor.
— Isso foi bem dramático — ele falou se aproximando — Principalmente a cena da porta, você se apoiando e... Enfim. Muito dramático.
— Foi você?— Charlotte aproveitou a oportunidade para perguntar.
— Eu...? — Spike tentou entender sobre o que ela falava.
— Você contou para alguém que ela estava aqui?
— Oh — ele levantou as sobrancelhas e se surpreendeu por um momento — Isso... — e então coçou a nuca com a mão esquerda e suspirou um pouco desconcertado, porque se lembrava bem pouco do fim da noite, mas o meio dela ainda estava em sua memória — Eu talvez tenha deixado escapar ontem no pub da rua de baixo, depois de uma ou duas cervejas.
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