04. a little trip back to your roots
ELENA HAVIA DE DEMORADO um pouco mais nas barracas que eram de verdade como as do Brasil, cheias de legumes, frutas e vegetais. Ela comprou muitos tomates para fazer todo tipo de molho, comprou algumas ervas e temperos, pimentões e alguns legumes que não era muito fã mas davam todo o toque especial para os pratos que ela tanto amava. Elena estava tão empolgada de estar ligada com suas raízes italianas que comprava quase tudo que os vendedores mais sinceros a indicavam, até duas garrafas de vinho muito especiais.
Depois de comprar todas as coisas que ela realmente precisava, ela não resistiu e se deixou parar em algumas barraquinhas de brechó e antiguidades. Ela tinha prometido a si mesma que não iria parar em nenhum dessa vez, mas quando ela viu uma senhorinha de estatura mediana com os cabelos brancos cheia de joias douradas e um avental verde ela se lembrou muito de como sua Nona era e não conseguiu segurar seu corpo de ir até a barraca dela.
Na pequena tenda com uma grande bancada tinha todo tipo de antiguidade italiana, os famosos calendários dos padres, braceletes, berloques, lâmpadas e abajures, quadros e todo tipo de decoração mas o que mais chamou a atenção de Elena foi a parte dos colares que era o que sua vó mas gostava.
─── Ma guarda che bella ragazza! ─── A senhora exclamou com as mãos no ar enquanto olhava para Breeze. ─── Qual é o seu nome, filha? ─── Ela indagou com seu sotaque forte.
"Olha que linda garota!"
─── Mi chiamo Elena! ─── Ela sorriu orgulhosa por finalmente praticar seu italiano sem ser com Alice.
"Meu nome é Elena!"
─── Bellissima e parla ancora italiano! ─── A Senhora exclamou orgulhosa jogando as mãos em direção ao céu.
"Bonita e ainda fala italiano!"
─── Sarebbe un sacrilegio, Signora!
"Seria um sacrilégio, Senhora!"
─── Oh per favore, a senhora está no céu Bella! Me chame de Nonna, é como todos me chamam aqui na feira. ─── Ela sorriu abertamente.
─── Obrigada, Nonna! ─── Elena agradeceu a gentileza enquanto começava a olhar o que a senhora vendia.
─── Diga para a nonna, bella, como aprendeu italiano? ─── Ela indagou enquanto dobrava alguns panos de prato bordados.
─── Minha Nonna saiu da Itália com os pais e se mudou para o Brasile onde ela conheceu Mio Nonno e tiveram meu pai. ─── Elena sorria enquanto contava sua história observando alguns quadros que pintavam a mão outras histórias italianas.
─── Mas que lindo, Bella! Seus avós devem ter tido una bellissima storia d'amore! ─── A senhora sorriu suspirando.
─── E você, Nonna? Já amou nessa vida?
─── Ah bella, o que é una vita sem una storia d'amore? ─── Ela sorriu com os olhos brilhando. ─── Conheci il mio Carlo, quando eu tinha quinze anos ele era melhor amigo do meu irmão e vivia em nossa casa. Ele era lindo, tinha todas as ragazzas suspirando por ele.
─── E você, Nonna?
─── IO? Já o amava sem mesmo te-lo beijado. ─── Ela riu. ─── Mas eu era muito nova para ele, ele já estava na faculdade.
─── E a signora não desistiu dele, desistiu?
─── Não, figlia mia! Sou devota de Santa Rita da Cássia, ela não deixaria que meu grande amor não acontecesse.─── Ela tirou de dentro de sua camiseta um cordão dourado e seu pingente era uma medalha de Santa Rita, ela fez o sinal da cruz e beijou a pequena medalha.
─── A signora lembra muito minha Nonna! ─── Elena exclamou tirando seu anel do dedo indicador e mostrando para a senhora, era como um anel de sinete mas com símbolo de Santa Rita.
─── Che Santa Rita ti protegga, figlia mia! ─── A senhora pegou a mão de Elena depositando um beijo.
"Que Santa Rita te proteja, minha filha"
Elena não conseguiu não deixar que algumas lágrimas escapassem de seus olhos e que uma nostalgia e melancolia a atingissem com bastante força. Seu avó morreu em 1980 devido a um ataque cardíaco, um ano depois Alice havia se mudado para os Estados Unidos e alguns meses depois seus pais planejaram uma viagem para visita-la, de qual nunca mais voltaram. Alice estava sozinha nos Estados Unidos e até então Elena tinha sua avó, até que depois de descobrir o destino do filho e nora, não resistiu muito mais tempo.
Então, as irmãs Alves estavam sozinhas no mundo e Alice era a mais velha e teria que fazer o papel de toda a sua família para sua irmã mais nova que ainda não conseguia entender de verdade o peso que acabará de cair em cima delas.
Mesmo que Storm tivesse vivido muitas experiências a mais que sua irmã, ela tinha certeza de que não havia vivido o suficiente; seus pais e avós eram simplesmente tudo para Storm, que por mais que tentasse seguir em frente e ser reconhecida por suas conquistas e não suas origens, não conseguia parar de se remoer sobre o como o tempo com seus entes queridos nunca foi o suficiente. Ainda mais levando em consideração de que agora ela teria que lidar com seu próprio luto e ajudar sua irmã a lidar com o seu. Então Storm teve que crescer. Teve que deixar seus sonhos de lado e tudo pelo que ela mais prezava, por algo que ela amava mais ainda: a sua irmã.
Elena era apenas uma criança e tecnicamente não deveria sentir tanta falta, mas para ela tudo era dez vezes pior, já que ela apenas sentia mais já que nao teve muito dos prazeres da vida que compartilhamos com nossos entes queridos. Elena nunca pode conversar com a mãe sobre namoradinhos de escola, nunca pode ajudar o pai nas plantações de café, nunca cozinhou de verdade com a Nonna, muito menos pode apreciar a arte de fazer nada com o Nonno. Mas, ela tinha Alice.
─── Aqui, Fligia! Um presente da Nonna ─── A mulher puxou Elena de seus pensamentos enquanto mexia em uma caixinha que estava debaixo do "balcão" ─── Esta medalinha de prata é da nossa Sanata Rita que pertenceu il mio Carlo.
─── Nonna...─── Elena suspirou secando algumas lágrimas.
─── Não, Figlia, não chore mais. A Nonna tem coração mole.─── A senhora riu pegando a corrente e colocando na mão de Elena, logo a cobrindo com suas próprias mãos. ─── il mio Carlo, foi um homem incrível. Forte, determinado, um cavalheiro, um verdadeiro amante apaixonado. O Tipo de homem difícil de achar nesta vita e o que IO quero dizer é que você deve dar esta medalha quando conhecer o homem da sua vida.
─── Eu não posso aceitar!
─── Pode sim, Figlia! Carlo sempre gostou de fingir ser como uma das secretárias de Julieta e acredite na Nonna, ele vai estar junto a você e Santa Rita, não vai deixar seu probre coração morrer sozinho.
─── Eu tenho tudo de que preciso, tenho tudo equilibrado, um ótimo namorado...
─── As vezes, perder o equilíbrio por amor... é parte de uma vida equilibrada.
─── Mas...
─── Santa Rita te mostrará o caminho, Figlia!
( ... )
─── Amor! Cheguei! ─── Jake anunciou trancando a porta atrás de si.
Depois de passar praticamente o dia todo nas instalações top gun, ele precisava de um banho e mais ainda de uma cerveja.
─── Nem chega perto, sei que está de mal humor pela falta de banho. Já pro chuveiro! ─── Elena exclamou rindo fazendo Jake acompanha-la.
─── Já volto! ─── Jake mandou um beijo para a namorada passando correndo para o banheiro, onde peças de roupa limpa e uma toalha o esperavam.
Elena sorriu enquanto cortava os tomates e amassava um dente de alho. Ela não era uma típica dona de casa italiana, mas da mesma maneira que Jake cuidava dela quando ela deixava, ela fazia o mesmo por ele. Ouvindo a cantoria do mesmo vindo do banheiro, ela sorria mais ainda enquanto colocava os tomates e o dente de alho amassado em um recipiente com azeite. Logo, ela adicionou manjericão, orégano e um pouco de sal mexendo todos os ingredientes.
─── Pronto, um novo homem! ─── Ele exclamou a surpreendendo e beijando seu pescoço.─── O que minha talentosa namorada está preparando?
─── Algumas entradas para o jantar digno da minha Nonna que estou preparando ─── Ela sorriu ignorando seus pelinhos se arrepiarem com os toques de Jake.
─── Se eu bater uma delas no liquidificador com um pouco de Whey e leite fica ruim?
─── Se você planeja passar a noite toda passando mal, não!
─── Eu passo!
─── Mas, não vai te fazer mal algum se juntar a sua namorada para o jantar. ─── Ela se virou passando seus braços pelo pescoço dele sem deixar que sua mãos sujas de tomate se encontrassem com as roupas ou o cabelo dele.
─── Ah meu amor...─── Ele roubou um selinho dela que riu boba. ─── Isso seria perfeito mas...
─── Ah que ótimo, Jackie! Você vai adorar o que eu planejei para o jantar! ─── Elena começou a tagarelar como fazia quando ficava extremamente animada. ─── Comprei todos os ingredientes em uma feira italiana, ainda tenho o caderno de receitas da Nonna que roubei da Storm, você não vai se arrepender de sair da sua dieta. Ainda mais quando eu...
─── Na verdade, Lena....eu estava pensando em irmos até o bar com todo mundo e poderíamos festejar um pouco afinal quero que você se dê bem com os meus amigos.
─── O quê?!
Toda a animação de Elena escapou por entre seus dedos, não precisava ser uma vidente para ver como Jake estaria mais feliz em pular o jantar e simplesmente estar na presença de seus amigos. Elena tinha certeza que o problema não era ela, mas começava a achar que o tempo que passaram longe um do outro fez Jake esquecer do quanto ela gostava de momentos a dois mais do que de festas.
─── Mas...podemos ir depois do jantar! ─── Ele sorriu amarelo. ─── Você tem algo para me mostrar não é? Temos até no mínimo até meia noite pra sair de casa, temos tempo!
Elena não queria sair de casa a meia noite, seu plano era ficar em casa e passar uma noite tranquila cheia de momentos íntimos e saudáveis e não bebida e confusão, não dessa vez. Elena não imaginava que ele iria dispensa-lá não depois da noite que tiveram ontem, muito menos que a noite que ela planejou com tanto carinho ti esse se transformado em algum desse jeito.
Ao contrário dos sentimentos bons que a senhora Giordanna havia dito para Elena que ela sentiria no momento de entregar a medalinha para o homem de sua vida, Elena se sentia machucada, traída. Então, ela faria o que prometeu e só só entregaria se realmente estivesse sentindo aquilo.
─── Nada demais, comprei um óculos vintage para você ─── Ela sorriu sem mostrar os dentes.
─── Não está brava comigo, esta Lena?
─── Não, Jackie. Só estou cansada e não quero sair.
─── Oh achei que estivesse bem.
─── Eu estava
─── Precisa de alguma coisa? ─── Jake indagou olhando deu relógio rapidamente. Elena percebeu que ele não queria ficar e bem ela não queria o sentimento constrangedor de um jantar em silêncio.
─── Não, amor! Você pode ir, eu fico aqui janto e descanso. ─── Ela disse de costas para ele cortando alguns pedaços de pão evitando a todo custo olhar para ele.
─── Você é a melhor, Lena! Eu te amo! ─── Ele beijou a cabeça da mulher logo saindo de casa.
Elena largou a faca em cima da tabua de madeira, segurando sua cabeça com a outra. Esse definitivamente não era o seu jantar dos sonhos. Ela pegou a caxinha com a medalinha em seu bolso e a apertou com força contra o peito, definitivamente Santa Rita parecia estar realmente lhe mostrando o caminho, Elena apenas começava a pensar se iria gostar de onde isso a levaria.
( ... )
O apartamento de Storm estava tranquilo na noite de sexta-feita quando o celular da Capitã tocou. A mulher se encontrava sentada em seu sofá, mais uma vez, uma garrafa de cerveja balançando entre seus dedos enquanto ela tinha os dois pés apoiados em cima de uma bola azul de futebol que ela rolava com a ponta dos dedos de um lado para o outro pelo carpete.
O nome “Lena” apareceu no visor, fazendo a mulher se acomodar melhor no sofá e erguer as costas, soltando os pés da bola e guardando a garrafa na mesinha de centro.
─── Meio tarde ‘né, Breeze? ─── a mulher cumprimentou ao ver o rosto da irmã mais nova. Entre os cachos loiros e as bochechas rosadas, a mulher observou as feições desanimadas da irmã.
─── Já jantou? ─── a mais nova chamou do outro lado da linha, ignorando totalmente o comentário da irmã.
Storm ergueu as sobrancelhas com o comportamento da menor mas deu de ombros, acabaria por descobrir o que tinha acontecido por meio da conversa, ela sabia que Breeze “daria com a língua nos dentes” e lhe contaria sobre o desânimo.
─── Na verdade não ─── ela respondeu, se levantando e agarrando a garrafa de cerveja para jogá-la no lixo antes que Breeze a visse bebendo de novo sem ter comido antes.
Seu plano foi por água a baixo quando a garrafa bateu com força contra o lixo de vidros ao lado da cozinha. Storm fechou os olhos ao se preparar para o que vinha a seguir.
─── Alice Alves ─── a mais nova exclamou, fazendo a capitã morder os lábios ─── Você ‘tava bebendo antes da janta? De novo? ─── ela complementou, cruzando os braços na frente do corpo, e mesmo que Storm não podesse ver mais para baixo do que os ombros da irmã, ela tinha certeza absoluta de que ela tinha mesmo cruzado os braços.─── ‘Passa aqui na casa do Jake ‘pra gente jantar direito, vou te mandar o endereço.
A capitã ergueu as sobrancelhas novamente para a irmã.
─── E o homem forca? Não vai se incomodar de eu jantar com vocês? ─── a mulher questionou, mas sabia que mesmo que Hangman não quisesse sua presença ela estaria lá, por sua irmã. Mas Breeze sempre acabava tentando minimozar as brigas entre os dois, e por isso, ela ter chamado a irmã para jantar com eles era uma atitude um pouco… estranha.
─── O Jake não vai estar aqui ─── ela respondeu simples.
Oh. Storm quis, impulsivamente, questionar Breeze sobre o assunto, mas apenas acenou com a cabeça positivamente e abriu um sorriso amarelo, desligando o telefone, colocando sua jaqueta e indo em direção a porta.
Ela podia não gostar de Seresin, mas se ele havia feito alguma coisa para arruinar o seu relacionamento com a sua irmã, ela iria descobrir quando chegasse, e ‘arrebentaria a cara dele por isso.
( ... )
─── Ele bem que podia sumir, né?—─── comentou Storm, agarrando uma das bruschettas feitas por Breeze, e mais uma vez ela teve que se controlar para não pegar todas as outras e devorar todas de uma vez só ─── Ninguém sentiria a falta.
Breeze revirou os olhos e riu alto, tomando um outro gole de sua caipirinha de limão. Ela era grata por todo o esforço de sua irmã para deixar a situação menos tensa e constrangedora, mas o quanto ela odiava seu namorado continuava sendo algo cômico.
— São esses americanos — Breeze comentou, se jogando para trás na poltrona — Eles não sabem comer de verdade — a garota pausou e colocou mais um pedaço de sua bruschetta na boca — Sabe o que ele disse? — Breeze fez aspas imaginárias com os dedos — “Um shake é mais do que o suficiente ‘pra noite” e depois sabe o que mais? “Depois eu vou com a gangue tomar uns shots lá no bar”.
Storm revirou os para a fala de Breeze, levando mais outra bruschetta à boca.
— Quase me lembrou você — a loira mais nova completou fazendo Storm engasgar.
— Eu?! — a capitã indagou, indignada — Você ‘tá me comparando com aquele homem forca?! — ela largou a bruschetta no prato junto de sua garrafa de cerveja — Pois saiba você, senhorita Breeze que eu adoro uma macarronada à noite.
Breeze riu da irmã mais velha e tomou mais um gole de sua bebida.
— Você que adora tomar uma garrafa de cerveja sem que tenha colocado uma coisa na boca — Breeze respondeu, fazendo Storm abrir a boca para retrucar, mas não encontrar palavras para responder e no fim, simplesmente dar de ombros e tomar mais um gole, fazendo a mais nova rir.
As duas irmãs riram alto enquanto decidiam que seria aquele, então o prato da noite, uma macarronada. Uma lembrança forte a todas as memórias de infância das duas, cozinhando com sua Nona quando eram apenas crianças, sem nem terem ideia de onde estariam hoje.
— O pai e a mãe ainda não responderam a minha carta de aceitação pra Harvard — a jovem Alice murmurou em italiano para sua vó, que revirou os olhos.
— Aqueles antiquados que vivem no século passado — ela respondeu, pegando uma lata de molho de tomate e virando na panela que a neta mexia — E olha que eu nasci no século passado — continuou a senhora em italiano.
— Eles nunca vão mudar, Nona — a Alice adolescente continuou, sentindo seus olhos marejarem.
A senhora observou enquanto uma pequena Elena de quatro anos entrava na cozinha, com uma panela na cabeça e outra nos braços, enquanto batia dela com uma colher de pau.
As duas riram alto com a imagem da pequena garota loira e Alice sentiu suas preocupações indo embora.
— Nem ela — a senhora respondeu Alice — Vocês duas são fortes, não precisam daquela dois antiquados, vocês mais 'tem que explorar o mundo e viverem a vida.
Storm e Breeze sorriram uma para a outra como se pela mente, houvessem compartilhado da mesma lembrança por seus pensamentos.
Alice se lançou para frente e abraçou Elena com força, a sua irmã mais nova que ela havia cuidado desde que eram pequenas, que estava ali, bem ao seu lado, crescida, bebendo caipirinhas e mojitos e continuando sendo sua irmã, sua melhor amiga e sua família.
— Sabe o que acabei de me lembrar? — a mais nova questionou, se desvencilhando da capitã que abriu um sorriso — Daquelas tardes com a Nona.
Storm sorriu abertamente.
— E você brincando panelas e mais panelas na sua cabeça — as duas riram alto da memória e se dirigiram novamente a cozinha para apagar a panela borbulhante com água fervente.
Uma macarronada. Um lembrete da infância. Algo que parecia tão longe, mas ainda sim tão perto da realidade das duas. Quantas coisas haviam mudado.
Storm observou Breeze que tirava a massa da panela e colocava-a junto ao molho, ela sempre havia tido esse espírito livre e aventureiro, sempre soube que gostaria de viajar e levar sua tradições consigo, e até mesmo coletar tradições ao longo do caminho. Storm olhou para si mesmo e lembrou de uma garotinha que sonhava em sair do Brasil e cursar Direito em Harvard, mas que não tinha dinheiro para pagar a mensalidade e acabou se alistando na Marinha para que lhe pagassem a faculdade.
Storm não lembrava nem do porquê de ter escolhido Direito.
Ela sorriu abertamente e percebeu o quanto haviam mudado, mas também como tudo continuava igual.
— Tadam! — ela escutou a voz de Breeze que carregava uma panela de macarronada, o que lhe fez sair de seus devaneios e se sentar à mesa na frente de sua irmã.
— ‘Caraca, Breeze — ela exclamou, observando o trabalho bem feito da irmã mais nova.
A escritora sorriu levemente e agarrou os talheres para servir tanto sua irmã quanto ela mesma, logo depois ralando um pouco de queijo parmesão em cima dos pratos.
— Pelo amor de Deus — Storm suspirou levando uma garfada à boca — Igual a da Nona.
Breeze sorriu para a mais velha e comeu um pouco ela mesma, abrindo outro sorriso ao perceber que de fato, o prato tinha gosto de infância.
— Você viu que o filho do Goose veio ‘pra missão? — Breeze questionou, enrolando a massa no prato.
Storm levantou as sobrancelhas enquanto mastigava um pouco da macarronada.
— Claro que sim, fui eu que chamei — a mais velha respondeu, estranhando o jeito que a garota havia se referido à Rooster.
— Eu não sabia que ele tinha tido um filho — a outra comentou, observando seu próprio prato de comida enquanto levava outra garfada até a boca.
Storm largou os talheres e franziu o cenho.
— Bradley? Rooster? O garoto que viveu conosco por cinco anos? O meu afilhado? — a capitã perguntou gesticulando, totalmente indignada com a falta de memória da irmã.
Breeze também largou os talheres e abriu a boca em choque, não conseguindo trazer as memórias à tona.
— Afilhado? Você não tem afilhado! — ela rebateu, cruzando os braços na frente do corpo.
Storm apoiou as mãos nas têmporas e então se lembrou da feição murcha de Rooster quando o mesmo veio conversar com ela no dia anterior. Era sobre isso que se tratava. Breeze não lembrava de quem ele era.
Ela lembrou de como o pequeno Bradshaw sempre havia comentado para sua mãe e sua madrinha o quanto Elena era linda e que ele se casaria com ela um dia. A lembrança esmagou o coração da capitã.
— Você não lembra dele? — Storm disse calma, agora olhando fundo nos olhos de Breeze, realmente preocupada sobre como Rooster estava se sentindo — Depois que a Carole morreu, eu não pude cuidar de vocês dois, mesmo tendo saído da Academia Naval, então eu tive que mandá-lo para um internato.
Breeze abaixou a cabeça e buscou no fundo de sua mente por alguma memória, qualquer coisa.
— Quando eu e Thunder íamos visitá-lo ele só perguntava de você — Storm abriu um sorriso nostálgico — Ele tinha uma foto sua no dormitório dele.
— Eu realmente não lembro, Storm — a garota murmurou de volta, se sentindo mal de repente — Me desculpa.
Breeze lembrou de como havia falado com ele dois dias atrás, como se ele fosse um estranho, o que de fato, ela achava que ele era. Ela quis bater na própria cabeça.
— Fale com ele, seja gentil, não está sendo fácil ‘pra ele — a mais velha respondeu, agarrando a mão da irmã mais nova que parecia à beira do choro.
Ela conhecia Breeze, e Breeze não suportava fazer outras pessoas se sentirem mal, mesmo que sem intenção. Então a capitã mudou de assunto.
— Agora vamos terminar essa obra de arte e depois assistir Dirty Dancing na TV porque o meu marido Patrick Swayze me espera — Storm anunciou, levando outra garfada de comida até a boca, enquanto Breeze abria um sorriso amarelo e repetia os movimentos da irmã — Hey, amanhã você se preocupa com isso, hoje é Noite das Garotas!
Mas mesmo que ela tentasse, Bradley Bradshaw ficou em seus pensamentos a noite inteira.
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