𝐂𝐡𝐚𝐩𝐭𝐞𝐫 : 𝟎𝟑
Enfim havia se encerrado o período de descanso e o temido momento de encarar os estudos novamente estava prestes a começar. Nada se tornou pior do que ter que sair do conforto da cama logo de manhã, criar a coragem certa e enfrentar mais um semestre da faculdade. E embora fosse uma rotina necessária, eu não sentia nem um pouco de falta dela por constantemente precisar lidar com o fato de que me levantar tão cedo era uma verdadeira tortura.
A luz que adentrava no quarto pela pequena fresta da janela era extremamente escassa devido às cortinas espessas que a cercavam, mas o suficiente para que fosse possível verificar o relógio na cômoda ao lado. O horário marcado indicava que ainda estava realmente muito cedo e que o despertador não havia tocado no momento previsto, gerando um resmungo meu de frustração.
A noite de ontem ainda estava bem fresca na minha memória. Não posso negar que mesmo com a falha investida, Satoru Gojo é alguma coisa. Entretanto, felizmente não me contento com apenas "alguma coisa". Ele parecia muito seguro e confiante de que conseguiria ficar comigo, e tudo chegava a ser quase uma piada, mas aquela pergunta foi o que realmente acabou com todas as suas chances.
Ninguém que tenha no mínimo um neurônio funcionando chegaria em uma garota perguntando se ela gostaria de ir para cama com ele sem qualquer outra tentativa. O principal problema, no entanto, é que pela maneira simples como me abordou, apostaria que usa essa tática mais vezes do que gostaria.
Ao esfregar os olhos preguiçosamente, eu me arrasto para o banheiro sem nenhuma vontade e jogo o máximo de água fria possível no rosto para despertar os sentidos. Quando me encaro no espelho, percebo o resultado das diversas noites mal dormidas que tive durante as férias, o que me faz lembrar dos momentos nada agradáveis experimentados nas madrugadas anteriores.
Com as férias se aproximando, não hesitei em direcionar a minha total atenção ao meu antigo relacionamento, imaginando que conseguiria mantê-lo dessa vez. Entretanto, nada nunca foi de graça e agora as contas cobravam seu preço. A sombra escura abaixo dos meus olhos estava evidente e tornava-se inegável minha situação deplorável diante dos sinais.
Após sair da frente do espelho para não continuar encarando o meu próprio reflexo, tento fazer o penteado mais rápido e simples que consigo, enquanto luto contra a vontade de voltar para a cama. O pijama estava limpo e não parecia um conjunto usado para dormir, então decido que ele seria ideal para iniciar o novo ano. Ninguém iria perceber a mudança de estilo e eu teria uma preocupação a menos.
─ Hey, [Nome]! Vai demorar muito pra descer? ─ Yuta grita do lado de fora do apartamento na parte da rua, provavelmente me esperando para acompanhá-lo como sempre fazia pelas manhãs.
Me ajeito uma última vez antes de sair do banheiro e deslizo rapidamente a mochila, que estava esquecida em uma cadeira, para o ombro, surgindo com a cabeça na janela apenas para avistar Yuta e Maki segurando algumas caixas que pareciam estar pesadas, enquanto discutiam se deviam me esperar ou não. A pequena briga terminou tão rápido quanto começou quando a mais velha chutou a perna do colega com certa força.
─ Ai, qual é!
O moreno nem sequer tem tempo para sentir a dor, pois estava ocupado demais segurando com firmeza as caixas para não caírem em seu pé, mas seu semblante demonstrava que aquilo não se tratava de um simples chute.
─ Viu? Isso tá pesado sim ─ ela sorri triunfante, com uma gota de suor escorrendo da testa ─ Vamos esperar ela, toda ajuda vai ser bem-vinda.
─ É muito bom saber que vocês só se lembram de mim nesse tipo de situação ─ aponto em um tom de voz alto, apoiando as mãos no peitoril da janela e recebendo seus olhares sobre mim.
─ Pois venha logo antes que eu suba para te buscar, sem brincadeira ─ Maki estreita os olhos ao continuar me encarando e deposita a caixa que segurava no chão para limpar o suor da testa, me dando a oportunidade de sair de vista.
Depois dessa ameaça de subir para o meu apartamento, não pensei duas vezes para obedecer. Maki tinha métodos bem peculiares quando chegava ao ponto onde precisava vir me buscar pessoalmente, então eu não tentaria a sorte demorando mais tempo do que o necessário. Eu também já estava pronta, afinal.
─ Não acredito ─ escuto Yuta reclamar quando alcanço o último degrau da escada, mas não era comigo que ele parecia frustrado.
─ Sério? Pensei que você fosse mais inteligente ─ Maki se encosta na parede, erguendo a sobrancelha.
─ Você me disse que ia ser rápido, eu confiei em você. Estava realmente me esforçando aqui ─ ele solta um suspiro frustrado e faz a mesma coisa que a amiga, se livrando temporariamente do peso da caixa em suas mãos.
─ E eu menti ─ ela confessa com um sorriso, percebendo que eu estava me aproximando ─ Você não conhece a [Nome]? É claro que ela nem estava acordada, e ainda avisei para chegarmos mais tarde.
─ Ei, eu ouvi! ─ rebato, chegando ao lado deles um pouco ofegante por ter descido as escadas com pressa ─ Não é como se eu tivesse culpa, vocês nem me mandaram mensagem.
─ A esse nível da amizade, nós já temos sensores. Você deveria saber quando estamos nos aproximando ─ Maki posiciona as mãos na cintura, divertindo-se com minha indignação.
─ É uma pena que o meu esteja quebrado, então da próxima vez usem o telefone para se comunicarem.
─ Da próxima vez a gente nem passa aqui, você que vai sair perdendo por não ter nossa companhia até o campus ─ ela apenas murmura com um claro desinteresse em minha sugestão, e eu sabia que era inútil usar o telefone quando eu mesma nem atendia na maioria das vezes.
─ Para aonde estão indo agora? ─ mudo de assunto, alternando o olhar entre eles e as caixas dispostas no chão com curiosidade.
─ Vamos levar essas caixas para a casa de Utahime ─ Yuta responde, esticando os braços para aproveitar enquanto ainda estava livre da carga ─ Ela começou a estudar gastronomia e precisava de alguns produtos frescos para hoje.
─ E como conseguiram tudo isso a essa hora? ─ continuo com meu questionamento, sentindo um pouco de pena por eles terem carregado os itens por tanto tempo.
─ Uma rápida passadinha no mercado foi o suficiente.
─ Mercado... vocês por acaso compraram o meu chocolate? ─pergunto animada.
Não que eu estivesse cobrando nada deles, mas tínhamos quase uma tradição de trazer o doce favorito um do outro quando um não pudesse estar presente. Escolhi o chocolate mais simples que ficava perto dos caixas por ser o mais fácil de se achar, e além disso, eu apreciava o sabor. Fazíamos isso a anos, então acabou se tornando um costume e nos deixou mal-acostumados.
─ [Nome], você não é mais uma criança, você sabe ─ Maki que me respondeu dessa vez, negando com a cabeça ─ A gente não vai ficar trazendo chocolate para você toda vez que formos ao mercado.
─ Não seja chata, eu sei disso.
─ Maravilha, então vamos começar a caminhar porque a aula começa daqui a pouco.
Revirei os olhos com a sua resposta, enquanto eles se preparavam para pegar as caixas do chão novamente, indicando que estavam prestes a partir. Com isso, eu logo me aproximei de Yuta para auxiliar, já que ele era o que estava mais em apuros pela quantidade.
─ Toma, pega ─ ele sussurra para mim, me estendendo o doce que eu havia mencionado, com um sorriso gentil ─ Foi a Maki que lembrou de pegar ele no caixa, aliás.
─ Obrigada...
Tive que segurar um sorriso pelo comportamento dela de antes, então apenas balancei a cabeça em silêncio, como se compartilhássemos algum segredo. Peguei o doce da mão de Yuta com a intenção de guardá-lo na minha mochila para depois. Após isso, começamos a andar em direção aos arredores da faculdade que ficava a uns dez minutos de todos os outros prédios, e que era o local onde Utahime dividia uma pequena casa com Mei Mei.
Graças às conversas animadas e aos tópicos interessantes, o trajeto foi incrivelmente rápido e tranquilo, além de que conseguimos chegar muito antes do esperado. Utahime já nos aguardava na porta, absorta em seu celular enquanto estava sentada na calçada.
─ Aí estão vocês, bom dia! ─ ela nos cumprimenta quando nos aproximamos, se levantando do chão e limpando a sujeira das roupas com as mãos ─ Conseguiram comprar tudo da lista? ─ pergunta, rapidamente nos guiando para dentro da casa.
─ Sim, pegamos os mais frescos que tinham disponível. Essa é uma das vantagens de acordar cedo ─ Maki afirma, e sinto que sua última frase foi direcionada para mim em particular, mas apenas dei de ombros.
─ Ótimo, muito obrigada por terem feito esse favor para mim. Eu estava realmente muito ocupada com os outros mantimentos ─ Utahime declara, segurando uma das caixas que Maki carregava para a aliviar ─ Mas ainda preciso subir com elas lá para cima...
─ Então, é isso. Contamos com você agora, [Nome] ─ Maki dispara, empilhando a outra caixa que estava carregando por cima da minha sem aviso, bloqueando minha visão.
─ Ei, ei! Pensei que a gente estava juntos nessa ─ reclamei, ajustando minha postura para suportar o peso.
─ Bom, o nosso prédio fica quase do outro lado do campus. Você vai conseguir chegar no seu sozinha hoje.
─ Eu não estava falando disso, droga!
Antes que pudesse reclamar mais, Maki já havia sumido de vista pela porta da frente sem me oferecer escolhas. Yuta era o único que parecia relutante em me deixar, mas Maki tinha um bom ponto, e ele não gostava nem um pouco de se atrasar para as aulas. Então, confirmei para que ele a acompanhasse e permaneci sozinha com Utahime.
─ Aqui, aqui. Me deixa te ajudar ─ ela coloca as caixas na mesa de jantar e segura as minhas para que eu me organizasse melhor ─ Eu estava só brincando, posso levar elas sem problemas depois.
Experimentei um breve momento de alívio, mas não podia simplesmente abandoná-la agora que estava presente. Optei por auxiliar na organização dos produtos, pelo menos um pouco.
─ Onde posso deixar o restante, Utahime? Esses parecem ser enlatados ─ declarei, dando uma olhada por cima da caixa para conferir.
─ Pode deixar os enlatados no meu quarto, ele fica no segundo corredor. Tem uma guirlanda na porta, não tem jeito de errar ─ ela informa, apontando para um caminho depois da porta da cozinha.
Concordei com a cabeça e fiz todo o trajeto que me foi explicado até chegar ao final da extensão do corredor principal, mas então ele se dividiu, e havia dois caminhos para seguir: direita e esquerda. Tive que ficar um bom tempo parada para pensar um pouco. De que segundo corredor ela estava falando? Qualquer um desses dois poderia ser o segundo. Meu Deus, eu estava perdida.
Como uma curiosa nata, resolvi testar minha intuição e segui pelo caminho da direita por zero motivos aparentes. A caixa também estava começando a pesar, então refletir sobre qual eu deveria escolher estava fora de cogitação. Assim, caminhei devagar pelo novo corredor procurando com meus olhos aquela bendita guirlanda, mas tudo o que avistei foi uma porta de madeira normal sem nenhum enfeite. Perfeito, peguei o caminho errado.
Entretanto, antes de fazer o caminho de volta para o ponto inicial, consegui ouvir alguns gemidos baixos vindo do suposto quarto de Mei Mei por causa do silêncio presente, e não demorou para que eu reconhecesse que ela estava acompanhada. Muito bem acompanhada, por sinal. Na verdade, dependia do conceito de cada pessoa do que significaria "bem acompanhado", pois em seguida uma voz masculina familiar se sobressaiu diante dos pedidos da azulada em um tom rouco e igualmente baixo.
Satoru Gojo, claro. Eu não o culpo, para ser sincera. Deve ser algo perfeitamente normal da natureza dele, e a lógica em sua mente também deve ser realmente simples. Se não consegue ficar com uma, apenas conquiste outra. Pronto, resolvido. Não existe nenhum estresse envolvido durante a troca, visto que a maioria das garotas procura por uma dinâmica assim, e encontrar uma substituta que queira apenas um momento de prazer não é um grande desafio.
Mas ainda era inegável que os sons sôfregos que saíam da boca de Mei Mei agora pareciam muito fracos e tímidos, e eu me senti estranha pela primeira vez. Eu faria muito melhor que isso, sem dúvidas. A essa altura do campeonato, ela estaria gritando e se contorcendo em minhas mãos independente se tivesse um público para a ouvir ou não.
Não pretendia me comparar a ele de forma alguma, mas eu conhecia sua fama com certeza. Na minha percepção, considerava que ele fosse atraente ao ponto de pegar quem quisesse apenas por ter uma beleza natural chamativa, porque sua aptidão era bastante questionável. Acho que pode ter sido por esse motivo que não queria me aproximar tanto dele na noite passada.
Eu seria apenas mais um troféu, uma conquista a qual ele conseguiu com facilidade para provar aos amigos de que era capaz de vencer qualquer um. Poderia ter comprovado a minha teoria de que ele era só um rostinho bonito ao aceitar sua proposta, mas isso acabaria totalmente com minha reputação, e eu realmente não estava no clima. Uma pena para ele, eu suponho.
─ Ahm, precisa de ajuda aí, [Nome]? ─ Utahime me tira dos devaneios, aparecendo no meio do corredor principal no exato local onde eu estava antes de vir para cá.
Pisquei os olhos algumas vezes antes de encará-la com um semblante confuso, permanecendo parada próxima a porta enquanto segurava a caixa; até me esqueci do peso dela. Ah, mas posso garantir que ainda guardaria esse acontecimento no fundo da minha memória. E provavelmente teria uma boa oportunidade para usar ele a meu favor futuramente.
─ Não, não. Eu só entrei no corredor errado, me perdoe ─ sorri sem jeito, voltando o caminho para andar ao lado dela na direção correta.
─ Mei Mei não gosta muito que eu vá para aquele lado na parte da manhã. Você não viu ou ouviu nada de estranho, né? ─ Utahime questiona, parecendo genuinamente que não sabia de nada do que acontecia.
─ Não, nadinha ─ minto, minha boca seria um túmulo. Se nem a colega contava para ela, quem seria eu para fazer isso?
─ Que bom ─ ela apenas me entrega um sorriso simpático em resposta e abre a porta do quarto certo que continha a guirlanda para que eu pudesse entrar primeiro, permitindo que eu depositasse a caixa em cima da cama dela.
Soltei um suspiro de alívio por finalmente ter me livrado daquilo e me sentei na beirada da cama para um descanso, reservando um pequeno momento para respirar. Contudo, como a alegria de estudante dura pouco, parei para dar uma olhada no meu celular e arregalei os olhos quando chequei o horário.
Merda, eu estava atrasada. Eu já deveria saber que não tinha tanto tempo quando Maki e Yuta saíram em disparada, mas pensei que estivesse na vantagem por estar mais perto. Utahime também pareceu perceber esse fato quando me olhou, e rapidamente segurou meu braço para que eu pudesse levantar.
─ Tudo bem, agora que terminamos, eu vou te levar até o seu prédio. Acho que ocupei demais o seu tempo aqui... ─ ela tira uma chave do bolso distraidamente, girando o objeto nos dedos ─ Além disso, consegui minha carteira esses dias e queria fazer um teste.
─ Teste? Mas nem que me paguem. Eu não vou entrar no mesmo carro que você, ainda mais se estiver dirigindo ─ recuso imediatamente, preferindo não me arriscar com a incerteza do desconhecido.
─ Desse jeito você me ofende, [Nome]! Saiba que eu piloto muito bem ─ embora tente me contrariar, a chave acaba escorregando de sua mão e ela a segura desajeitadamente, o que me faz arquear a sobrancelha e duvidar dessa capacidade.
─ Impossível.
─ Mas eu ainda sou a sua única opção se quiser chegar na aula a tempo ─ ela me empurra gentilmente para fora da casa até o estacionamento do outro lado da rua, me instigando a seguir sua lógica ─ Só confia em mim, tudo bem?
─ Hmm, não sei não... ─ pondero por alguns longos segundos, enquanto Utahime entra no carro e posiciona o próprio cinto de segurança, observando como ela parecia orgulhosa ao se ajeitar em seu assento ─ Tudo bem, vou te dar uma chance.
Mesmo que eu tivesse receio sobre as habilidades de Utahime, que costumava não se sair bem como uma motorista, eu ainda não poderia negar uma carona. Mordo o lábio inferior em um gesto nervoso e entro no carro do lado do passageiro, parando para conferir o interior do veículo por um breve momento. Não era nada mal para uma iniciante em carros. Aposto que deve ter sido Aoi que recomendou esse modelo, era realmente interessante.
─ Não vai colocar o cinto? ─ Utahime pergunta assim que fecho a porta do veículo.
─ Acho que não tem necessidade, o meu prédio fica bem ali e eu já vou descer logo. Não tem nenhum perigo no trajeto para se preocupar ─ respondo dando de ombros, e era verdade. Sempre que pegava caronas, nem mesmo os motoristas colocavam o cinto por ser uma viagem rápida, embora pudesse parecer a coisa errada a se fazer.
─ Na verdade... ─ ela começa em um tom de voz baixo, mas logo se interrompe, desistindo de continuar qualquer explicação ─ Certo, não tem problema.
Enquanto ela dá a partida, acabo me deparando com um outro carro familiar que estava estacionado próximo a nós. Diante de tantos modelos parecidos, eu reconheceria aquele em específico de longe sem sequer possuir uma sombra de dúvida. Afinal, precisava procurá-lo com frequência pelo campus inteiro, e já havia até mesmo decorado o número daquela placa.
Deixo escapar um resmungo involuntário, sabendo que ele estava abandonado mais uma vez. Ótimo, mais um problema. Sem pensar muito sobre isso, minha mente apenas ignora o veículo ao passarmos por ele, uma vez que provavelmente o dono estaria bem longe naquele momento.
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