𝐒𝐈𝐍𝐆𝐋𝐄 𝐂𝐇𝐀𝐏𝐓𝐄𝐑.
Amor. Sempre achei que essa fosse uma palavra muito forte para ser usada com qualquer um, mas eu definitivamente amava aquele garoto. Um tipo de amor que você não consegue explicar, apenas sentir no seu mais profundo íntimo enquanto ele consome cada fragmento de seu coração apaixonado ainda não correspondido.
No meu caso, ele apenas não era correspondido porque eu sempre fui uma pessoa muito medrosa para me confessar, aterrorizada que isso pudesse destruir uma amizade que cultivei a anos com tanto carinho. Porém, havia mais um detalhe que me impedia de realizar qualquer movimento ousado; eu particularmente não confiava no amor.
Experiências passadas me mostraram que nada disso valia a pena, e ainda fui capaz de ser invalidada em todas elas. O amor pode ser um sentimento realmente traiçoeiro, um que pode destruir mundos dependendo da intensidade como é utilizado, e você nunca sabe quem mais além de você ele pode afetar em um jogo.
─ Você o quê?
─ Eu o amo, [Nome].
Aiko era uma das pessoas a qual eu mais confiava, uma amiga de longa data que eu contaria até mesmo o pior dos meus segredos sem qualquer remorso. Ela se sentava ao meu lado na aula e fazíamos dupla em algumas ocasiões quando era necessário e não nos separávamos por nada, mas nunca se passou pela minha cabeça que ela teria coragem de confessar algo assim para mim quando eu estava passando por um período tão conflituoso.
Não era de hoje que eu havia percebido o interesse que ela tinha por Connie, pois ela sempre tentava se aproximar quando podia e me contava com todos os detalhes de como ele era legal com ela. Talvez fosse por isso que tenha ficado confortável o suficiente para vir falar comigo, já que sou a pessoa mais próxima do garoto, e consequentemente o melhor contato que ela poderia ter para a auxiliar em sua tentativa.
─ Você pode me ajudar? ─ ela insistiu, me encarando com um brilho de esperança nos olhos.
─ Não sei, o que você quer que eu faça? ─ perguntei com o melhor sorriso que consegui fingir em minha expressão para que ela continuasse.
─ Vai ter uma partida de beisebol daqui a alguns dias, e eu queria convidá-lo para ir junto comigo ─ ela começou, desviando sua atenção para procurar algo em sua bolsa.
─ Então, qual é o seu plano? Estou ouvindo.
─ Estou com medo de abordá-lo sozinha de primeira em um encontro, então você poderia o convidar e apenas fingir que me convidou também? Gostaria de fazer uma surpresa para ele no dia.
Beisebol era o jogo favorito de Connie desde quando era criança, e só pelo fato dela saber disso para ter uma escolha tão perfeita para um suposto local de encontro me deixava um pouco ressentida, já que geralmente o garoto não falava muito sobre suas preferências ou do que ele mais gostava.
─ Eu... ─ tentei articular uma frase para responder, mas ela me interrompeu antes disso quando me estendeu dois bilhetes que tirou de sua bolsa.
─ Aqui, eu já comprei os bilhetes com antecedência pra gente, então não precisa se preocupar.
Dava para ver claramente o esforço que ela estava fazendo, e isso realmente me impressionava de uma maneira que eu não esperava. Aiko demonstrava estar disposta a tudo para fazer dar certo, o que também se tornou o principal ponto para que eu cedesse.
─ Você realmente gosta dele, não é?
─ Sim, mas sinto que não me importaria se ele me recusasse, eu apenas o quero ver feliz.
Não era porque eu não acreditava no amor que eu impediria outras pessoas de conseguirem conquistar esse precioso sentimento. Se eu não tinha a coragem para me confessar, pelo menos poderia ter a oportunidade de apoiar os outros que tinham. Mas não conseguia esconder que essa própria negação pessoal ainda doía, como se eu mesma estivesse enfiando a lâmina de uma faca no meu coração.
Aiko parecia amar Connie com sinceridade, e qualquer um era capaz de perceber isso pela maneira como citava o seu nome ou pela maneira como se comportava perto dele, coisa que eu não tinha tanta certeza sobre mim. Não importava o quanto eu pensasse sobre nosso possível relacionamento, ela parecia merecer mais do que eu.
─ Sem problemas, eu posso fazer isso ─ finalmente concordei, pegando os bilhetes na mão dela após segundos de hesitação.
─ Obrigada, [Nome]. Não tenho nem palavras para agradecer direito, você é realmente uma pessoa incrível ─ foi a última coisa que ela disse antes que eu simplesmente me despedisse e me afastasse para não desabar ali mesmo.
Eu não achava. Eu não era uma pessoa incrível, estava apenas confusa. Confusa demais para não conseguir colocar meus verdadeiros sentimentos no eixo para que eles não me controlassem.
Continuei andando no corredor com passos lentos como uma alma penada, apenas observando o bilhete em minha mão enquanto diversos pensamentos nada bons insistiam em assombrar a minha mente antes de decidir guardá-lo.
Eu estava realmente desistindo dele. Desistindo do que a gente poderia ser. O papel que estava no meu bolso agora era apenas um doloroso lembrete da escolha que fiz. Eu poderia ter recusado, poderia ter contado a ela que eu também o amava, poderia ter feito outras mil e outras coisas, e provavelmente ela teria aceitado minha decisão por não ser algum tipo de disputa. Mas eu não fiz.
Meus amigos haviam combinado comigo de nos encontrarmos no refeitório naquele horário, e era para lá que eu estava indo antes de ser abordada por Aiko no corredor, mas a esse ponto eu tinha até mesmo perdido o rumo do meu caminho.
─ Aqui, [Nome]! ─ a voz de Sasha ecoou nos meus ouvidos e consegui avistar sua figura em uma das mesas do grande espaço. Talvez eu não estivesse tão perdida, afinal.
A garota continuou acenando para mim, ao lado de Jean e Connie, que pareciam ambos ocupados com alguma tarefa de casa que provavelmente estava atrasada a uma semana.
─ Chega, essas palavras já viraram um castigo ─ Connie reclamou, abaixando sua caneta abruptamente com uma carranca nada agradável.
─ Faltam só mais dez, a gente dá conta. Além disso, essa vai ser a última do ano, relaxa ─ Jean pontuou com certa determinação enquanto ainda continuava escrevendo, o que me deixou realmente surpresa.
─ Pois espero que seja a última da vida. Já vamos nos formar daqui a algumas semanas, mas eles continuam com essas atividades que não vão servir pra nada.
─ Para de reclamar, não é como se tivéssemos muita escolha ─ Jean insistiu, não se dando ao trabalho de desviar a atenção do caderno.
Connie bufou e cruzou os braços, se recostando na cadeira enquanto levantava o olhar com um ar mal-humorado, mas sua feição mudou instantaneamente e um sorriso familiar se formou em seus lábios quando me viu aproximar da mesa.
Retornei com outro sorriso a ele e me sentei ao lado de Jean, que ainda parecia totalmente focado na tarefa em mãos. Aposto que ele ganharia alguma coisa com essa escrita para tamanha concentração.
─ Ah, oi [Nome] ─ o garoto finalmente notou minha presença quando cutuquei seu ombro, ficando nervoso de repente assim que seu olhar vagou entre mim e Connie ─ Escuta, Connie, você pode ir pegar alguma coisa pra gente beber? Acho que também cansei, preciso fazer uma pausa.
Connie estreitou os olhos com desconfiança, mas não protestou como pensei que faria diante de um pedido quase autoritário de Jean, provavelmente apenas querendo se livrar daquela posição desconfortável que permaneceu por tanto tempo na cadeira ou usar aquilo como uma desculpa para se afastar do que estava reclamando antes.
Mas sinceramente, havia tantas outras maneiras mais discretas disponíveis se Jean queria que o amigo saísse da mesa. A facilidade com que o garoto caiu nessa quase me fez soltar uma risada.
─ Tá legal, eu vou buscar.
Não demorou para que ele levantasse e Sasha e Jean o seguiram com o olhar até que ele estivesse longe o suficiente para não nos ouvir, se virando para mim logo em seguida com uma expressão que eu conhecia bem até demais. Uma a qual eles usavam sempre que iam contar a melhor das fofocas, no entanto, eu sabia que o alvo da vez era eu.
─ E então, já contou pra ele? ─ Jean começou, apoiando o cotovelo na mesa enquanto me olhava com curiosidade.
─ Do que você tá falando?
─ Vamos lá, [Nome], você sabe muito bem do que estamos falando ─ Sasha disparou, cruzando os braços e se apoiando sobre eles na mesa para se aproximar de mim ─ Já disse pra ele que você está indo embora?
─ Não, eu não quero ter que preocupar ele com coisas assim ─ respondi sinceramente, tentando evitar o olhar perfurante de ambos ao abaixar o meu para as minhas próprias mãos.
Mudar de cidade por causa da provável vaga que eu conseguiria na faculdade era de longe um dos maiores desafios que estava enfrentando na minha vida, principalmente por todo o meu círculo social e minhas experiências continuarem aqui nessa cidade.
Claro que existia a famosa comunicação a distância, como uma chamada de vídeo, mas eu não teria o mesmo tempo de antes e não poderia ter a presença de pessoas que valiam muito mais do que simples rostos em uma tela, e esse detalhe me desgastava em níveis que não conseguia pontuar.
─ Ei, amiga ─ Sasha chamou suavemente, me fazendo levantar a cabeça mais uma vez para me deparar com seu semblante um pouco preocupado ─ Não faça isso com ele e nem com você, vai ser pior pra vocês dois se ele descobrir no dia. Não sei o motivo pelo qual você ainda não contou, mas saiba que ele nunca se chatearia com você.
─ Não me importo, eu posso inventar qualquer desculpa depois, só... Vamos deixar esse assunto de lado, por favor?
Poderia mesmo estar cometendo o pior dos meus erros ao esconder o fato da minha partida dele, mas era como se eu estivesse dependendo dele para tudo, e não gostaria de lidar com aqueles malditos sentimentos reprimidos ao mesmo tempo com que também lidava com a dor da despedida.
Não queria parar de ter aquele estranho frio na barriga que sentia sempre que nossos olhares se cruzavam, ou o rubor que crescia em minhas bochechas quando ele me dava um elogio sincero sem qualquer tipo de segunda intenção, ou do seu calor reconfortante que sempre me mantinha aquecida quando ele me abraçava.
Mas principalmente, a maneira que meu coração sempre disparava quando percebia que ele havia acabado de entrar no mesmo ambiente que eu estava, visto que apenas sua presença era o suficiente.
Não queria ter que me despedir de nada disso, e embora fossem sensações que a maioria gostaria de se desfazer o mais rápido possível, eram as que faziam a minha frágil ligação ser conectada com o suposto amor que tinha por ele.
No entanto, também sabia que se contasse antes do dia ele tentaria me convencer de todas as formas para ficar ou daria um jeito de virar sua vida do avesso para ir comigo, e depois do que Aiko me revelou hoje, a ideia disso parecia cada vez pior.
Desviei minha atenção para a máquina de bebidas a alguns metros de nós, onde Connie estava ocupado comprando algumas latas, mas então se abaixou para pegar um objeto coisa no chão. Provavelmente uma moeda. Ele quase sempre deixava a moeda deslizar de seu alcance para debaixo da máquina, mesmo que tentasse a segurar com tanta firmeza.
A partida de beisebol estava marcada para um sábado, dois dias depois do que eu deveria embarcar, mas eu ainda poderia remarcar a viagem para depois sem problemas. Observado ele de longe, me dei conta de eu queria fazer isso, queria ver aquele brilho nos olhos dele apreciando alguma coisa pessoalmente mais uma vez antes que eu fosse realmente embora.
{. . .}
Connie gostava de me acompanhar todos os dias para casa quando saíamos, e dessa vez não foi nem um pouco diferente. Quando chegamos ao meu apartamento, destranquei a porta para entrar e ele ficou parado ao lado dela com um pequeno sorriso nos lábios, apenas me encarando antes de fazer uma pergunta familiar:
─ Posso entrar?
Ele também tinha o costume de passar um tempo comigo depois das aulas e não estranhei quando ele fez essa pergunta. Depois dos meus piores dias em que eu não conseguia nem ao menos sair de casa, ele queria ter a absoluta certeza de que eu não cometeria nenhuma besteira, mesmo que eu nunca tivesse me dado ao trabalho de tentar. Afinal, não estava em um ponto tão crítico.
─ Claro, fica à vontade.
Meu espaço com certeza não tinha a melhor das organizações possíveis que era suposto oferecer para convidados, porque eu não tinha sequer tempo para pensar nisso quando estive me ocupando com tantas outras coisas nos últimos dias. Pensei que Connie fosse reparar e me dar algum sermão ao se deparar com aquele ambiente fora do padrão, mas a única coisa que ele fez foi fechar a porta por mim e me dar uma expressão tranquilizadora.
─ O que você acha da gente pedir pizza hoje? ─ outra pergunta, essa sendo um pouco mais inesperada.
─ Por acaso estamos comemorando alguma coisa?
─ Digamos que sim. Todo dia é dia de comemoração quando estou com você, então por que não? ─ ele deu de ombros, me tirando um pequeno sorriso involuntário.
Todas as vezes em que ele insistia em permanecer comigo assim, eu tentava o afastar com as mudanças de comportamento que os medicamentos causavam quando estava passando por esses momentos, e ele continuava encontrando um caminho para voltar para mim de alguma forma com a intenção de continuar ao meu lado diante de todas as barreiras que eram colocadas contra ele.
Os remédios que eu tomava não faziam mais o efeito que deveriam, ou talvez eu mesma estava negligenciando meu próprio estado para não perceber que eles não funcionavam, e Connie tinha conhecimento disso melhor do que ninguém.
Toda essa situação de sentimentos e problemas estava acabando comigo aos poucos e me deixava completamente fora da minha área, pois era algo tão simples de se revolver; tão bobo. Somente uma pequena e boa conversa e tudo estaria acabado. Mas eu não conseguia.
─ Certo, vou te dar as honras de fazer o pedido dessa vez.
─ Maravilha! ─ ele acenou com a cabeça, pegando o celular do bolso para realizar nosso pedido.
Ainda com um sorriso satisfeito, dei espaço para ele se acomodar e ficar confortável igual a todas as outras ocasiões, o permitindo se sentar no sofá enquanto eu colocava minha mochila no lugar ao seu lado e ia até a gaveta da cozinha para pegar uma pílula para ansiedade que eu deixava guardado para casos de emergência. E esse definitivamente parecia ser um caso de emergência.
Sabia que Connie não achava apropriado quando eu exagerava na dose e que eu deveria dar atenção para ele antes de qualquer coisa, mas eu realmente precisava disso para ser capaz de conversar com ele sem que meus pensamentos se intrometessem tanto por um tempinho.
Assim, decidi pegar um pouco de água na geladeira para tomar o medicamento, mas Connie logo percebeu o que estava nas minhas mãos quando deixei o copo de plástico cair e se levantou para se apressar em minha direção, me impedindo de fazer qualquer outro movimento ao pegar o comprimido da minha mão com um gesto suave e o jogar no lixo ao lado da pia.
─ Já conversamos sobre essa coisa, [Nome]. Se estiver se sentindo estressada, apenas me conta o que tá acontecendo. Eu posso te ajudar.
Imediatamente franzi o cenho com seu comentário, mordendo levemente o lábio inferior com certo nervosismo, pois desta vez ele não poderia. Contar a ele sobre a tempestade crescente que ameaçava me consumir era a última coisa que eu gostaria de fazer, então respirei fundo e dei as costas para voltar para a sala novamente, mudando de foco ao pegar meu celular na mochila e apertar o play no aplicativo de música sem pensar muito quando vi o ícone na tela.
Cinnamon Girl era a primeira música da playlist que começou a tocar e Connie logo piscou os olhos em surpresa e encarou meu aparelho. Lana Del Rey era a nossa cantora favorita, então decidimos montar uma lista de reprodução juntos quando estávamos em uma tarde sem nada para fazer, e eu sempre escutava tudo quando precisava esvaziar um pouco a mente.
─ Você gosta dessa? Adicionei ontem ─ comentei com a voz baixa, em uma tentativa de aliviar o clima que havia se instalado entre nós.
─ Qual é, pode falar que você já sabia que era a minha preferida ─ ele brincou, rapidamente entendendo que eu não queria comentar sobre aquilo.
─ Talvez ─ dei de ombros, colocando o celular na mesinha de centro.
─ Sempre que escuto ela, gosto de me imaginar na letra ─ ele ponderou, ficando em silêncio por um momento para apreciar enquanto eu aumentava o volume em um tom confortável que ecoava pelo apartamento ─ Às vezes eu gostaria de ter uma garota canela para abraçar também, ser o primeiro a não a machucar.
─ Like if you hold me without hurting me, you'll be the first who ever did ─ cantei a exata parte da música quando ela ainda tocava, estendendo os braços a ele e os fechando em volta de seu corpo para o envolver em um abraço.
Ele me devolveu o gesto na mesma intensidade, soltando uma risada gostosa que vibrou por todo o meu corpo. O apertei ainda mais para aproveitar seu calor, e nós ficamos rodando de um lado pelo outro pela sala nessa posição até que a música quase chegasse ao final.
Embora eu estivesse apenas o provocando, eu também não poderia negar que queria que ele tivesse uma. E poderia ser egoísta da minha parte depois de tudo, mas eu queria que essa garota fosse eu, que me segurasse para sempre assim como estava fazendo agora.
Connie sempre foi meu porto seguro, e meu principal conforto quando não havia mais nada para me apoiar. Foi ele que esteve comigo quando pensei que ia desmoronar, e foi ele que estava lá quando todos os outros me rejeitaram. Talvez fosse exatamente por esse motivo que estava sendo tão difícil lidar com os novos eventos.
Logo não consegui evitar de lembrar daquela ocasião de mais cedo, e meu coração apertou mais uma vez com todas as possibilidades que tentei tanto bloquear. Era Aiko que deveria estar no meu lugar, pois ela teria a chance de ficar com ele quando estivesse precisando nos próximos anos e não iria abandoná-lo como eu estava prestes a fazer. Não conseguia dizer com certeza se poderia voltar para cá ou se ele poderia me visitar quando me mudasse, e isso apenas piorava as coisas.
─ Connie, posso... Posso te fazer uma pergunta?
─ Sim, quando quiser ─ ele continuou com os braços ao meu redor, dando um pequeno aperto extra como incentivo.
─ Sei que parece um pouco inusitado, mas o que acha da Aiko? ─ perguntei com total certeza da minha ideia, mas logo hesitei, me questionando se realmente deveria colocar meus pensamentos dessa forma em um instante que deveria ser apenas nosso ─ Se ela te pedisse em namoro ou algo assim, você aceitaria?
Ele soltou um pequeno suspiro e apoiou o peso do seu corpo em mim enquanto ainda me segurava em um silêncio prévio, como se tivesse prestes a fazer a decisão mais difícil de sua vida. Eu não sabia o que esperava que ele respondesse, para ser sincera.
Mas talvez fosse alguma negação ou uma desculpa inventada, algum tipo de argumento que me incentivasse a me confessar nesse exato momento. Não queria me forçar, mas com certeza teria coragem se soubesse que minhas chances ainda estavam dispostas na mesa.
─ Ah, talvez sim. Se ela gostar de mim também, não vejo problema nenhum... ─ ele pausou, escolhendo as próximas palavras com cuidado enquanto colocava as mãos nos meus ombros e se afastava para olhar para mim ─ Mas não conte a ela, tudo bem? Eu só estou te dizendo porque te considero uma grande amiga, e sei que você não espalharia essa conversa.
Não foi o que eu gostaria de receber, mas apenas concordei com a cabeça, quase como se estivesse anestesiada com a sua declaração. Afinal, eu era apenas uma amiga para ele, e amigos não podem ser abraçados, tocados ou amados dessa forma. Ainda assim, ele havia sido o primeiro a fazer isso.
Foi então que tomei minha segunda, e última, decisão. Com a melancolia pesando em meu coração, tirei o bilhete da partida do bolso. Naquele instante, percebi que realmente não havia necessidade de contar a ele sobre a minha partida, pois ele não precisava mais de mim como aquele garotinho na infância, mesmo que essa fosse a minha vez de precisar dele.
Também tirei o outro, aquele que deveria ser meu, para entregar a ele. Não queria desfazer o que havia combinado com Aiko, pois o compromisso já estava feito, e não era justo deixá-los sozinhos quando dei minha palavra. Com um nó na garganta, estendi os bilhetes a ele, despedindo-me silenciosamente da história que outrora compartilhamos.
─ Descobri que vai ter uma partida de beisebol no sábado, daquele pessoal que você gosta. Tenho uns bilhetes comigo aqui para a entrada, se estiver interessado em ir ─ ele abriu um sorriso animado quando viu os bilhetes, um que pelo menos eu poderia me contentar pelo que estaria perdendo ─ Pode entregar esse outro pra Sasha?
Ele pegou os exemplares e os analisou, então ergueu a cabeça e continuou me olhando confuso. Conseguia ter uma noção do que ele estava pensando apenas pela maneira como me encarava.
─ E onde está o seu? Você não vai?
─ Eu vou ter um compromisso, mas se divirta muito por mim lá.
─ Tudo bem, mas vou te trazer alguma lembrancinha. Me recuso a você não ter nada para se lembrar desse dia quando você já me acompanhou em todos os outros.
Engoli em seco com a aquela resposta e voltei a abraçá-lo como se ele fosse desaparecer, incapaz de encarar a realidade de que eu não estaria aqui para receber esse presente.
Havia tantas coisas que eu gostaria de dizer para ele, que eu precisava dizer antes de partir. Mas eu jamais poderia me dar ao luxo de me confessar a essa altura, pois o meu amor não era o suficiente para que eu fosse a garota canela que ele tanto queria, então eu apenas o deixaria viver o que eu não era capaz de oferecer da maneira que ele merecia.
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