FIVE, plans
CINCO, planos
FEDYOR HAVIA SERVIDO EM Sikurzoi há seis anos, enquanto Ksenya decidiu há dois seguir os passos do amigo, então conheciam bem a área. Em uma das reuniões, os Corporalki estavam de pé enquanto explicavam detalhadamente para os outros Grishas os pontos fracos e fortes da fronteira ao sul. Ele explicou que era quase impossível patrulhar todas as passagens montanhosas do local. E Ksenya disse que grupos armados Shu se aproveitavam desse fato há anos, desde que haviam patrulhado já era desta maneira. Darkling poderia facilmente passar despercebido. Contudo, caso passasse por lá, ele teria que marchar diretamente para Os Alta, passando pela base militar de frente à Poliznaya, o que seria uma vantagem ganha para os dois Exércitos, afinal, saberiam antes que o Darkling chegasse.
Por fim, a reunião ocorreu de forma positiva e as pessoas sorriram. Em vários tipos de suposições eles eram avisados antes que o exército do Darkling aparecesse.
Os dias passavam e Ksenya resolveu retornar para as aulas de Botkin graças a sua mais nova e estranha amizade com os gêmeos Shu, mas ainda assim passava a maior parte de seus dias atrás das portas do laboratório de anatomia dos Corporalki. Nikolai também estava mais no Pequeno Palácio do que em qualquer outro lugar, e era quase sempre visto nas oficinas dos Materialki. David de repente começou a ficar contente por tê-lo por perto, Nikolai era inteligente e entendia suas ideias, além de ter adotado muito facilmente a linguagem da Pequena Ciência tendo Ksenya e o próprio David como seus professores.
Apesar das lutas, hora ou outra Ksenya, Sergei e outros Corporalki se juntavam para os experimentos que ocorriam nas salas de anatomia da Ordem dos Vivos e dos Mortos, onde tentavam fundir aço Grisha com ossos humanos. A ideia principal era tornar possível para um soldado aguentar um direto ataque de um nichevo'ya ou até matar a criatura. Mas a tentativa de fundir o aço no corpo humano era doloroso e falha, e normalmente o metal era rejeitado pelo corpo do voluntário do Primeiro Exército.
Nikolai, em um segundo de loucura, havia se oferecido enquanto falava com Ksenya, que negou abruptamente e preferiu que ele jamais falasse sobre isso novamente. Não havia nada certo ainda e o que a Sangradora menos queria era ouvir os gritos agonizante do príncipe.
As vezes Ksenya e Nikolai passavam dias inteiros sem se encontrarem, apesar de não ser da vontade de nenhum dos dois. Alina continuava sendo uma ferramenta bastante poderosa de barganha nas tentativas de forjar alianças com outros países, e ela e o príncipe frequentemente apareciam em reuniões de diplomacia. Os ravkanos gostavam dos dois juntos e não seria Ksenya a ser contra essa ideia, não publicamente.
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Em uma dessas tardes, Botkin estava animado ao ver os gêmeos Tolya e Tamar lutando não apenas contra um ou dois outros sangradores, mas sim com quantos viessem e quisessem.
Depois do jantar, no quarto de Ksenya, Galena ria alto lembrando quando Sergei foi arremessado contra o chão com força. Ele só queria surpreender Marie, mas seu plano foi por água abaixo quando seu oponente foi Tamar. Ela e Tolya haviam arremessado tantos Grishas no chão naquela tarde e a garota continuava achando engraçado, mesmo que já fizessem horas.
A garota estava sentada no chão enquanto relembrava. Zoya estava deitada na cama, com Ksenya sentada ao seu lado. Já Fedyor permanecia sentado enquanto olhava pensativo pela janela.
─ Não está na hora de crianças dormirem? ─ Zoya zombou, se esticando na cama e tocando com as pontas dos seus lindos pés na nuca de Galena.
─ Vocês terão outra conversa de adulto? ─ Galena bufou, desviando dos pés da Aeros.
Fedyor imediatamente olhou para as duas mulheres na cama, em seguida riu enquanto franzia a testa.
─ Conversa de adultos, hum?
─ Lembra de Thomas Dumavich? Aquele soldado bonitinho e ingênuo ─ Zoya piscou para Fedyor. ─ Ksenya o deixou conhecer um pouco mais da linguagem da Pequena Ciência... se é que me entende.
─ Conversa de adultos! ─ Fedyor bateu uma palma e olhou para a garota mais jovem. Galena levantou emburrada.
─ Vocês são tão chatos. Sabem que eu já tenho catorze anos ─ dizia ela, caminhando de costas até a porta aberta, ─ não sabem? Em algum momento eu vou ouvi-los falando e...
Mas ela tombou e pisou nas botas de alguém. Todos olharam para a porta onde Nikolai Lantsov permanecia parado.
─ Moi tsarevich ─ Galena fez uma pequena reverência. Fedyor levantou. Zoya apenas se sentou, ajeitando a postura. ─ Queira me perdoar.
Sequer esperou por uma resposta, a jovem deu a volta e se retirou rápido demais, envergonhada. Nikolai cumprimentou os três Grishas e sentou-se na poltrona a frente da cama.
─ Zoya ─ Fedyor fez um gesto com uma mão, a mulher franziu a testa. ─ Preciso da sua ajuda com uma... coisa.
─ Não sou sua empregada.
Ksenya sentiu vontade de rir, mas Fedyor tentando deliberadamente deixá-la sozinha com Nikolai era quase ridículo. Contudo, com mais uma tentativa, Zoya se rendeu e foi corredor a fora com ele.
─ Um "soldado bonitinho e ingênuo", é? ─ Nikolai tinha um sorriso presunçoso no rosto.
─ Acho que ele era um rastreador ─ disse Ksenya, pensativa. ─ Não tenho certeza, não perguntei.
Nikolai assentiu, de cabeça baixa, Ksenya ainda conseguiu vê-lo sorrir.
─ Mas sei que não veio até aqui falar sobre... isso. E eu também sei que você devia estar em reunião.
─ Você também devia ─ retrucou Nikolai, olhando para ela dessa vez. ─ Enfim, a reunião acabou um pouco mais cedo.
Não era nada animador falar sobre a reunião, a primeira coisa que Nikolai lembrava quanto a isso era que as tropas estavam perdendo homens, e considerando que Ravka estava prestes a lutar mais uma guerra, a situação ficava cada vez pior. Além de ter Vasily. E Ksenya ainda reconhecia o amigo que tinha. Ninguém saberia que Nikolai estava pelo menos minimamente chateado... mas ela sabia... sempre sabia.
─ Vasily estava na reunião?
─ Não é a primeira vez que ele deixa escapar propositalmente a frase "um Lantsov de verdade" se referindo a si mesmo, você sabe disso.
─ Se Vossa Alteza permitisse que, por algum acaso, uma grisha proporcionalmente poderosa desse uma lição no príncipe mais velho, talvez isso mudasse.
Nikolai deu risada, então sentiu que Ksenya possivelmente estivesse confortável sobre ele se aproximar dela. A porta do quarto continuava aberta e ela conseguiu uma posição confortável na cama quando ele sentou-se ao seu lado.
─ Você já deu uma lição nele uma vez e não precisou usar seus poderes.
Era verdade. Ksenya riu enquanto eles relembravam. Ela e Nikolai não tinham mais de doze anos, Vasily havia levado um dos únicos sermões dado pelo Rei em sua vida e saiu bufando e pisando fundo na direção do quarto, lá ele acabou quebrando um dos vasos que a Rainha havia pedido para colocar lá. Quando Nikolai ouviu o barulho e correu para perguntar o que havia acontecido, recebeu como resposta um empurrão bastante forte, ele caiu e esbarrou nos cacos no chão, havia se machucado com cortes no braço e na palma da mão. Mesmo assim não quis contar para seus pais, e apenas pediu a ajuda de Genya, mas a fez prometer que não diria para a Rainha. Somente ela, Ksenya e o próprio Vasily souberam do incidente.
Um dia depois Vasily estava saindo para se encontrar com uns amigos para uma caçada ao redor da cidade. E sem aviso prévio foi atingido por um empurrão e um soco no rosto. Quando se recuperou percebeu que uma garota mais nova o havia socado, mesmo assim ele não teve coragem de enfrenta-la ou de ao menos levantar sua mão contra ela, não sabendo que ela era uma Grisha de uma ordem tão poderosa. Mesmo depois de anos, ambos lembravam da frase que ela usou nesse dia: "se machuca-lo mais uma vez, nem Genya será capaz de curar você". Ksenya lembrava disso e sentia vontade de rir por saber que era uma criança ameaçando um príncipe. Vasily lembrava e ainda temia a autoridade da grisha.
─ Nunca consegui me conter ─ ela piscou, ─ você sabe disso.
Ele sorriu, um simples sorriso sincero, e Ksenya o puxou e ousou deitar a cabeça em seu ombro quando os dois se encostaram na cabeceira da cama. Dizer que rumores e fofocas sobre suas origens familiares não o incomodavam era mais fácil do que ser honesto, mas Nikolai não precisava abrir a boca e falar abertamente sobre isso com Ksenya, eles conseguiam entender um ao outro mesmo no silêncio. E foi como permaneceram.
E o tempo todo ela conseguia sentir os batimentos cardíacos ansiosos de ambos os corações. Mesmo assim conseguiu dormir nos braços de Nikolai.
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A mesa era enorme, assim como a distância entre os dois. Ela chegou cautelosa e ele riu por isso. Ela sempre foi tão cuidadosa e leal, por isso fazia parte do seu pequeno grupo de Grishas favoritos. O Darkling apontou para um dos cálices a frente da cadeira ao seu lado, Ksenya soube da permissão para se aproximar naquele momento, então se aproximou, se sentou como ele havia pedido e tomou do vinho.
Em nenhum momento ele desviou o olhar, observando todos os seus gestos, como ela tocou o cálice com seus dedos finos e o levou aos lábios, e principalmente como seus músculos estavam tensos só por estar tão perto dele.
O Darkling sentia que o que iria fazer em seguida era cruel, principalmente para alguém que ficava tão desconfortável nessa situação. Mas tinha tudo calculado, não era uma simples brincadeira - apesar de ser divertido para ele em certos momentos. Ksenya nunca ousava falar primeiro, sempre esperava por ele, então tudo estava em silêncio absoluto. O General finalmente se levantou e ela apertou com força o cálice de vinho. Ele comandava o segundo exército e ela era uma Grisha poderosa... que estava nervosa demais.
─ Você precisa relaxar ─ imaginou que a voz dele pudesse soar vazia ou sombria assim como sua conjuração. Mas chegou aos seus ouvidos de maneira doce e amável como nunca. Como se ele estivesse falando sério quando disse que ela devia relaxar.
Ela respirou fundo quando ele tocou as duas mãos pouco abaixo dos ombros dela, então começou a massagear. E tudo desapareceu. Tudo o que Ksenya fez de bom ou terrível sumiu em um instante, não importava quantas cartas ela houvesse queimado ou quantas pessoas torturou a pedido do General. Só importava o que acontecia dentro daquela sala. Da sala do Darkling.
─ Se sente melhor, Ksenya? ─ perguntou ele, interrompendo a massagem.
─ Sim ─ ela respondeu. E era verdade, de alguma forma muito bizarra era verdade. Eles haviam ido atrás de Alina e Maly. Darkling havia decapitado um ser que jurava ser um mito. Ksenya havia torturado o rastreador. Mas isso só importou fora daquela sala. ─ Você está bem?
Ele se afastou dela, estava de cabeça baixa.
─ Na medida do possível ─ respondeu. ─ Você acredita em mim quando digo que não gosto de fazer isso, não é?
─ Eu acredito em você. Sempre.
O Darkling ergueu a cabeça e a encarou.
─ Mesmo que eu não mereça?
Ela tomou coragem e se aproximou, ficando cara a cara, com ele encostado na mesa.
─ Não diga isso.
─ Me desculpe por ter me distanciado quando ela - Alina - surgiu. Isso não vai mais acontecer ─ ele pegou as duas mãos dela e as apertou.
─ Você está aqui agora.
─ Você está aqui agora ─ ele enfatizou. Então a beijou na testa. ─ Quando tudo isso acabar, as coisas serão diferente e estarão melhores para nós. Você vai ver.
E ela acreditava tanto nele. Acreditava que Ravka seria melhor e que nenhum Grisha seria olhado de maneira torta mais uma vez.
Quando a imagem distorceu e Darkling se foi, Ksenya sentiu os olhos pesados e os abriu. De primeira tentou se levantar, ela quase gritou imaginando que ainda estivesse naquela sala com ele, mas dois braços a impediram de fazer isto. Nikolai continuava em sua cama, a abraçava forte enquanto dormia, como se pudesse perde-la a qualquer momento.
Ela desistiu de se desvencilhar e fechou os olhos com força. Não era raro sonhar com o Darkling, mas aquilo não fora um sonho, mas sim uma lembrança.
Uma lembrança que parecia zombar dela e de seu passado.
─ Nikolai? ─ ela sussurrou.
─ Pode falar, Ky ─ se sentiu melhor ao ouvi-lo murmurar sonolento e sem preocupação, quando sentiu que ele começou a acariciar sua nuca.
SKYLANTSOV | 2021
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