𝟬𝟬𝟰 ، THE EVIL IN TOWN.
CAPÍTULO TRÊS :
O MAL NA CIDADE.
ANDREA HOPPER SENTIA QUE ESTAVA ENLOUQUECENDO.
Apesar do frio que fazia, ela se sentia aquecida por conta da adrenalina. Seu coração ainda batia acelerado enquanto ela respirava fundo e tentava focar na luz emitida pelos carros de polícia que estava ali na frente.
Seu pai, Powell e alguns outros policiais vasculharam dentro da residência Byers procurando pela tal criatura, mas era como se nunca tivesse passado por ali. O delegado pediu que a adolescente ficasse lá fora com Callahan enquanto ele conversava com Joyce e Jonathan ── um conselho que ela seguiu sem hesitar, apavorada demais para encarar aquilo de novo ── mas com os minutos se passando e ninguém saindo de dentro da casa, ela começou a se perguntar sobre o que estava acontecendo.
Levantando-se de repente, ela assustou o policial que estava encostado na viatura. Vendo que a garota pretendia adentrar a residência novamente, ele correu para ficar em sua frente, seguindo as ordens estritas de seu chefe para que a garota não entrasse ali.
─── Onde você tá indo, senhorita? ─── ele perguntou, cruzando os braços.
─── Sai da minha frente, Phil. ─── ela pediu, a voz calma demais para a garota que sempre ameaçava chutar sua bunda.
─── Uhm... não? Seu pai mandou você ficar aqui, então por quê não respiramos fundo e-
─── Se você não sair da minha frente em três segundos, eu juro que vou quebrar a merda do seu óculos no seu rosto... ─── sussurrou, entredentes. ─── E eu duvido que fique uma cicatriz legal.
─── Eu não... eu não acho que seu pai vá gostar disso... ─── disse, inseguro sobre o que fazer.
Ela lhe lançou um olhar fulminante, fazendo-o erguer as mãos em derrota mas a porta abriu de repente e os dois deram um passo pra trás. Andrea fitou o pai enquanto o mais velho olhava sem paciência para o outro oficial.
─── Eu pedi pra você ficar de olho nela.
─── E eu fiquei mas ela é assustadora.
O delegado passou a mão pelo rosto, cansado diante de tudo que havia descoberto nas últimas horas ── primeiro o laboratório, depois o corpo de Will na pedreira e agora a própria filha envolvida nas paranoias de Joyce. Ele dispensou o policial, seguindo para seu veículo com a garota indo logo atrás, cheia de perguntas para fazer.
─── Vocês não acharam nada?
─── Não, porquê não tem nada pra ser encontrado.
─── Mas- tinha alguma coisa ali, pai! Eu sei, é super estranho, mas eu vi quando Will falou com a Joyce através das luzes e- e quando aquela coisa saiu da parede!
Apesar do desespero na voz dela, Hopper não falou nada, apenas entrando no carro; Andrea, sem entender, o fitou através da janela. Ele não estava mesmo acreditando?, ela pensou.
─── Vá pra casa. ─── ele ordenou, sem a fitar.
─── Mas... pai, eu vi-
─── Um homem sem rosto? Andrea, pelo amor de Deus, Joyce já tá abalada demais, ela não precisa que você fique alimentando as paranoias dela.
─── Eu não tô alimentando nenhuma paranoia, eu sei o que vi! ─── respondeu ofendida. ─── E não era um 'homem', ok? Era... era qualquer coisa menos um isso, pai, e o Will, ele disse pra gente-
─── Will está morto.
─── Ele... o quê? ─── sussurrou, desviando o olhar para a casa antes de fitar o delegado novamente, atordoada com tal pensamento. Não é possível.
─── O corpo dele foi encontrado na pedreira.
A adolescente mordeu o lábio, contendo a vontade de argumentar contra o mais velho. Apesar de querer gritar o quão errado ele e os outros estavam, o cansaço, tanto físico quanto mental, ia pesando em seus ombros aos poucos. Will está morto e uma criatura estranha havia saído da parede da casa de Joyce.
Will está morto...
─── Não... isso não é possível.
Ele apertou os olhos, sem paciência alguma para continuar com a discussão. ─── Andrea, quer saber? Você tá de castigo. Eu não quero você perto dela, Joyce já passou por coisa demais nesses dias. ─── ele disse com um tom de voz mais grave, a olhando dessa vez. Ela parecia assustada e ansiosa pelo que havia passado mas ele não fez nenhuma menção de a acalmar, inseguro. Respirando fundo, ele disse mais calmo. ─── Vá pra casa.
A garota apenas acenou uma vez, sem contrariar e sem o encarar, apavorada demais com a idéia de voltar sozinha para se importar com um castigo. Ela não fazia idéia se aquela coisa estava solta por aí ou havia voltado para a parede ── se aquilo fosse possível. Depois de o ver, ela não duvidava de mais nada.
Ela deu a volta no veículo, subindo em sua bicicleta e dando um último olhar para o pai, que havia coberto o rosto com o chapéu. Ela suspirou antes de começar a pedalar, tendo apenas a luz iluminando seu trajeto.
O caminho de volta para casa foi aterrorizante. A cada som, cada sombra que ela via na floresta, seu coração acelerava e ela se via prestes a entrar em pânico achando que poderia ser a criatura indo atrás dela. E de nada ajudava seu corpo doendo à cada movimento feito.
Quando ela enfim chegou ao trailer, a primeira coisa que fez foi trancar todas as portas e janelas. Apesar dela achar que não mudaria muita coisa caso a coisa aparecesse, aquilo deu a ela um falso sentimento de segurança, que era a única barreira a impedindo de ter um surto mental.
Seu pai não acreditava e a única outra pessoa que também havia visto aquilo era uma mulher que acabou de perder o filho mais novo. Ela não pôde deixar de se perguntar: seria aquilo apenas fruto de sua mente criativa que havia ficado encantada demais com o que estava acontecendo na cidade pacata? Andrea achava pouco provável. Era realista demais, pensou, as imagens da criatura passando em loop na sua memória.
Ela sentiu um gosto ácido no fundo de sua garganta ao lembrar de como aquela coisa parecia e, correndo até o banheiro, vomitou tudo que havia comido mais cedo. Ela deu descarga, escovando os dentes e observando seu reflexo no espelho; estava pálida, como se estivesse doente. Ligando a torneira e jogando água gelada no rosto, ela notou um pensamento se assentando aos poucos no fundo de sua mente: ela poderia ter morrido.
Se aquela criatura, que não parecia nem um pouco amigável, fosse o culpado pelo desaparecimento de Will, Andrea poderia muito bem ter sido a próxima vítima se Joyce não tivesse a puxado. Ela ainda conseguia sentir o pavor ao ver o papel de parede se rasgando, as luzes piscando...
Ainda havia muitas perguntas se passando pela cabeça dela, mas a adolescente não queria pensar naquilo agora. Dando uma risada nervosa, ela pensou estar exagerando com toda aquela preocupação, afinal, se a criatura a quisesse, já teria lhe pegado, não?
Respirando fundo, o armário foi aberto. Ela olhou entre os diversos frascos que haviam ali e pegou um em específico: os remédios para ansiedade que seu pai tomava. Ela não era estúpida, sabia do vício de seu pai ── ele nunca havia, de fato, tomando tais medicamentos na frente da adolescente, mas fazia um péssimo trabalho para esconder aquilo, principalmente quando bebia.
Ela tirou dois pequenos comprimidos, jogando-os dentro da boca e pondo um pouco de água na mão para ajuda-lá a digerir. Se aquilo funcionava mesmo ela não sabia, mas esperava que sim ── ela precisava.
O telefone tocou na sala e ela respirou fundo, assustada pelo som. A morena seguiu até lá devagar, sentando no sofá e atendendo a chamada no quinto toque.
─── Andy?
─── Nancy? ─── questionou confusa, encarando a parede. ─── Tá tudo bem?
─── É a Barb... eu acho que ela desapareceu.
ㅤ
ㅤ
ㅤ
ㅤ
ㅤ
ㅤ
ㅤ
ㅤㅤㅤㅤ
ㅤ
ANDREA SENTIA QUE NÃO havia dormido direito, embora tenha passado a noite inteira apagada ── ao menos o remédio serviu para algo. Apesar disso, ela só conseguiu dormir após as três da madrugada, encarando os desenhos que havia feito nos últimos dois dias.
Ela ainda tentava reconhecer o primeiro e, apesar de sentir que já havia visitado o local, ela não conseguia lembrar bem. Entretanto, não era aquele que havia tirado seu sono... o segundo rascunho era daquela mesma criatura que havia saído de dentro da parede logo após Will falar com a mãe.
Com a ligação de Nancy sobre o estranho sumiço de Barbara, a Hopper desligou com a promessa de falarem sobre aquilo no dia seguinte; era mais fácil conversar frente à frente, principalmente com o que tinham para contar. Além do mais, tinha algo de estranho em volta daquilo tudo; Barbara havia desaparecido de maneira misteriosa, assim como Will ── que, de acordo com a polícia, estava morto. Para deixar a adolescente ainda mais confusa no meio daquela confusão... ela havia feito um rascunho da criatura horas antes de o ver.
Respirando fundo ao sentir sua cabeça e o resto do corpo doer pela corrida do dia anterior, ela observou a bagunça em que seu quarto se encontrava naquela manhã. A bolsa e livros da escola haviam jogados no chão enquanto procurava pelas bolas de papel, que ainda estavam ali por pura sorte. Normalmente ela jogava fora qualquer papel amassado ou usado logo após as aulas em uma fraca tentativa de manter suas coisas organizadas ── nunca adiantava.
Analisando os novos ferimentos adquiridos na noite anterior, ela tentava encontrar aquela parte de sua consciência que lhe diria que todos os acontecimentos que ela presenciou eram mentiras. Um sonho, talvez um pesadelo. Apenas um pesadelo muito ruim causado pelo cansaço e estresse, mas não aconteceu.
Ela se levantou e começou a se preparar para seu dia, pegando mais dois comprimidos das coisas de seu pai e lembrando da ligação que não recebeu de Barb.
ㅤ
ㅤ
ㅤ
ㅤ
ㅤ
ㅤ
ㅤ
ㅤㅤㅤㅤ
ㅤ
FECHANDO O ARMÁRIO COM FORÇA após pegar os materiais para a próxima aula, ela viu Steve Harrington virar no corredor e foi em sua direção com pressa. Arrumando a alça da bolsa que pesava em seu ombro, ela tentou não pensar na receita médica que roubou de seu pai antes de sair de casa.
─── Harrington! ─── chamou, o vendo parar confuso.
─── Bom dia, Andy, o que-
─── Eu não ligo. ─── interrompeu grosseiramente. Ela não tinha tempo para as besteiras dele. ─── Cadê a Nancy?
Ele deu de ombros.
─── Não tenho idéia.
Ela revirou os olhos impaciente, percebendo que nada interessante ou útil seria dito por ele, mesmo que soubesse. Vou ter mais sorte procurando pela escola inteira do que com ele, pensou. A adolescente se afastou, mas parou quando ele chamou por seu nome.
─── Ei, Andy... eu sei que com a Barb desaparecida depois da festa e tudo mais, a polícia vai querer falar com você.
─── Eles vão falar comigo independente de ter ido ou não na sua casa, Harrington. Ela é minha amiga.
─── Não, eu sei disso. ─── ele disse baixo, tocando em seu braço para conversar com ela em um lugar mais privado mas Andy deu um passo para trás, se afastando do toque. ─── Olha, tudo que eu peço é que você não fale sobre a cerveja, tá bem? É só isso.
Ela ergueu a sobrancelha, cruzando os braços. ─── Não se preocupa, Harrington! Vou deixar bem claro pra eles que eu não bebi naquela noite. ─── abrindo um sorriso, ela bateu levemente no braço dele antes de se afastar.
Indo em busca da Wheeler, Andrea soltou o ar aliviada quando a encontrou na porta da próxima aula, literatura. A Hopper teria matemática no primeiro horário e sua sala era do outro lado do prédio, mas ela não se importava em chegar atrasada se pudesse conversar com Nancy; além do mais, o sinal nem havia tocado ainda.
─── Onde você tava? ─── a mais nova questionou, as duas se afastando da porta e ficando perto de uma parede.
─── Procurando por você! Aliás, desculpa por desligar ontem, aconteceu algumas coisas e eu... ─── ela limpou a garganta, balançando levemente a cabeça; não pense naquilo. ─── O que aconteceu?
─── Barb não voltou pra casa depois da festa.
─── Eu entendi essa parte no telefone, mas como você sabe?
─── Eu falei com a mãe dela ontem, no fim das aulas, ela falou que a Barb ainda não tinha voltado pra casa e... eu fui até a casa de Steve, o carro dela ainda estava lá e lá eu vi um... ─── ela pareceu hesitante, pensando se contava ou não sobre o que havia visto enquanto olhava ao redor.
─── Nance... ─── Andy falou calmamente, tocando o braço da amiga. Honestamente, ela estava com muito medo do que a Wheeler tinha para falar. ─── Você sabe que pode me contar, não é?
─── Eu... eu vi alguma coisa correndo atrás da casa do Steve. Eu não sei o que era, mas Andy... e se essa coisa pegou a Barb? ─── sua voz falhou e a Hopper abraçou Nancy, tentando não deixar aquele pensamento se aterrar em sua mente.
Barb não está morta, apenas perdida.
─── É tudo culpa minha. ─── sussurrou contra o ombro de Andrea. ─── Eu convenci ela- eu convenci vocês a ir comigo! Will tá morto e agora...
───Ei! Se você é culpada então eu também sou. ─── ela falou, afastando-se um pouco para fitar ela enquanto o bolo em sua garganta se formava. Dando o melhor de si para não pensar nos piores cenários e chorar ali mesmo, ela se perguntou se o motivo de não estar tão desesperada quanto Nancy era por causa do medicamento; até que fazia sentido. ─── Eu deveria ter ficado com ela ou- ou ter convencido ela a ir embora comigo. ─── dando um fraco sorriso, ela fungou. ─── Não é sua culpa, Nancy. O que tiver acontecido, nos vamos descobrir, tá bem?
A garota, mesmo não estando convencida, concordou com um aceno, limpando o rosto. ─── Você disse que queria falar comigo sobre alguma coisa. ─── a Wheeler lembrou, ouvindo o sinal tocar.
─── Ah, isso não... não era nada importante. ─── sussurrou, sentindo os papéis pesando no bolso de sua calça. ─── Deixa pra lá, eu falo mais tarde.
Elas se despediram, cada uma seguindo para suas aulas enquanto pensavam no que havia acontecido recentemente em suas vidas. A morte de Will era um grande choque devido às circunstâncias em que ocorreram e era totalmente normal para Nancy pensar o pior, mas Andrea sabia que Barb ficaria bem, assim como o garoto Byers estava.
Ela tinha que ficar.
A adolescente tentava prestar atenção no que seu professor de matemática dizia mas o desenho pairava em sua mente como um cão de guarda, designado para proteger a ponte que conectava seu rascunho com a memória travada ao mesmo tempo em que repassava a conversa com Nancy em sua cabeça.
Eu fui até a casa de Steve.
Casa de Steve.
Seu olhar retornou para o desenho em cima da mesa, lembrando dos acontecimentos daquela noite na casa do rapaz. A floresta, a casa, as luzes piscando como aconteceu na casa de Joyce... a piscina. Ela observou o desenho com mais atenção, sentindo um estranho formigamento em seu estômago com a realização se firmando aos poucos. Pegando uma folha limpa de seu fichário, ela fez um outro desenho, mais claro.
Aquela situação parecia familiar.
Andy, quando era mais nova, costumava fazer muitos desenhos ── normalmente em preto e branco, já que achava que os lápis coloridos estragavam a pintura ── desenhos esses que, por coincidência, ela acabava os presenciando algum tempo depois, fosse apenas um lugar que ela nunca visitou antes ou algum objeto específico em um acidente. Ela nunca levou aquilo à serio ── era apenas uma semelhança maluca em uma cidade grande ── mas sua mãe pensava diferente.
Receosa, ela havia proibido a garota de desenhar qualquer uma da suas 'bizarrices' em casa e a adolescente logo precisou encontrar uma forma de conter os impulsos que sentia para pegar um lápis e papel para desenhar; cravar as unhas na palma da mão ou tocar na banda da escola costumava resolver aquilo até que um dia a vontade parou. Agora que não morava mais com Allison, ela retornou com a atividade ── na terça-feira, sendo mais precisa.
Ela terminou o rascunho, o analisando ao lado da primeira folha, sua visão sendo clara agora: ela havia desenhado a casa de Steve Harrington. Ela cobriu a boca em choque enquanto analisava os dois papéis, não tendo tanta certeza de que poderia ser apenas mais uma coincidência.
Andrea tinha deixado aquilo passar batido, afinal, parecia muito mais como uma versão suja e assustadora do local, principalmente com as coisas que se assemelhavam a cipós ou galhos ao redor da piscina vazia ── parecia ser qualquer lugar, menos a casa do Harrington. A parte em branco que a adolescente havia feito no primeiro desenho era onde a escada da piscina deveria ficar; o porquê de estar daquela forma ela não sabia ainda, preocupada demais com o que aqueles dois desenhos feitos significavam para pensar em um pequeno detalhe.
─── Andrea Hopper? ─── ela ouviu alguém chamar e arregalou os olhos assustada, cobrindo as folhas de papel com seu fichário antes de olhar ao redor da sala em busca da voz, notando que era a coordenadora da escola a fitando da porta. ─── Pode me acompanhar, por favor?
Ela forçou um sorriso e concordou, guardando suas coisas dentro da bolsa antes de a seguir devagar, pondo a nova descoberta em ordem. Nancy saiu do refeitório ao lado de Karen alguns segundos antes de Andrea entrar e apesar da garota querer ir até a amiga para entender o que estava acontecendo ou compartilhar o que descobriu, o braço da coordenadora que lhe guiava a impediu.
O local estava completamente vazio exceto pelos dois policiais que trabalhavam com seu pai, que aparentemente não estava ali ── ela não o via desde a noite anterior, o que tinha seus pontos positivos. A Hopper respirou fundo ao caminhar até Powell e Callahan, sentando na cadeira de frente para eles e pondo a mochila no chão, com os braços cruzados em cima da mesa.
─── Então, Andy...
─── Onde tá meu pai? ─── ela interrompeu Callahan.
─── Ele acompanhou os Byers até o necrotério. ─── Powell respondeu, fazendo a garota franzir a sobrancelha.
─── Mas Will não tá morto... ─── sussurrou quase imediatamente, repreendendo a si mesma. Quem acreditaria?
─── Olha, Andrea, eu entendo que o que acha ter visto ontem te deixou assustada, mas o corpo dele foi encontrado ontem à noite, ok? Fim de caso.
Ela balançou a cabeça em negação, abrindo a boca algumas vezes para argumentar mas cada palavra que ela pensava em dizer parecia loucura. Apertando levemente os lábios, ela suspirou derrotada, fitando os dois.
─── Então por que vocês estão aqui...? É... isso é sobre a Barb, não é?
Eles se entreolharam antes de concordar. ─── Quando foi a última vez que viu ela?
─── Na noite de terça-feira, na casa do Steve Harrington.
─── Então você também estava lá?
Encolhendo os ombros, ela acenou. ─── É, Nancy tinha feito o convite mais cedo e eu fui. Depois da bagunça na piscina, ela e os outros foram pro segundo andar, eu decidi ir embora e a Barb quis esperar pela Nancy. Eu até tentei convencer ela a ir comigo mas ela preferiu ficar lá.
─── E você não viu mais ela depois disso? Ela não ligou nem tentou fazer qualquer tipo de contato com você?
─── Não... a Nancy disse que encontrou o carro dela perto da casa do Steve, vocês já foram investigar isso?
Callahan limpou a garganta para chamar a atenção dela, cruzando as mãos sobre a mesa. ─── Andy, eu vou ser honesto: nós achamos que ela possa ter fugido. O carro dela não estava lá e, pelo visto, ela não falou com nenhuma de vocês duas depois daquela noite e nem voltou pra casa.
Andrea soltou uma risada nervosa após o ouvir, negando antes de se levantar da cadeira e passar a mão pelo rosto. Dizer que Barbara Holland havia fugido era a pior piada de mau gosto que a garota havia escutado.
─── Eu realmente espero que você esteja brincando, Phil. Olha, a Barb nunca iria fugir, tá bom? Ainda mais sem falar comigo ou- ou com a Nancy! Seria mais fácil descobrirem que eu sumi sem avisar do que ela, então parem de inventar essas besteiras e façam algo pra encontrar ela!
─── Andrea-
─── Não! Vão procurar por ela, não fiquem aqui contando essas mentiras e esperando que eu acredite nisso tudo! Não faz sentido!
─── Andrea... ─── Powell chamou, apontando para a cadeira. ─── Se acalma, tá bem?
Ela respirou fundo, se sentando e cobrindo o rosto com as mãos. Os dois policiais esperaram alguns minutos enquanto a filha do chefe deles se acalmava antes de prosseguirem com as perguntas.
─── Andrea, Barbara falou sobre a briga que ela teve com Nancy naquela noite? ─── Callahan questionou, fazendo ela erguer a cabeça de repente.
─── Não- não exatamente... chamar de briga é exagero, tá? Deve ter sido uma pequena discussão, no máximo.
─── Você acha que ela pode ter ficado com ciúmes da aproximação da Nancy com Steve Harrington?
─── O que isso têm a ver com o sumiço dela? ─── questionou cansada. Ela passou a mão pelos olhos, engolindo em seco. ─── Phil, Cal, vocês precisam entender, Barbara não fugiu. Eu não faço idéia do que aconteceu, mas ela não fugiria, vocês têm que acreditar em mim! ─── a garota sussurrou, pensando naquela noite e no desenho feito. ─── Talvez a coisa que pegou o Will, pegou ela também, e-
─── Andy, o Will caiu da pedreira e morreu. Ele não foi sequestrado, ninguém pegou ele. E a Barb... não encontramos o carro e ela não voltou pra casa depois de terça. Eu sinto muito mas não tem muito que se fazer. ─── o policial mais novo interrompeu.
Ela olhou para os dois antes de abaixar o olhar triste, pensando nos desenhos, na criatura, Will as luzes na casa de Steve e na de Joyce ── tudo a fez pensar na semelhança entre o caso da Holland com o do Byers e, pela situação em que o garoto se encontrava atualmente, Andrea temia que apesar de sua amiga estar viva, ainda pudesse correr perigo.
Ela ficou quieta por alguns segundos antes de levantar decidida e pegar a mochila, saindo do refeitório sem se dar o trabalho de se despedir deles. Indo direto para o estacionamento da escola, onde estava sua bicicleta, ela pedalou de volta para casa, pronta para tentar conectar os pontos daquela história e conversar com Joyce sobre suas novas descobertas.
ㅤㅤㅤㅤ
ㅤㅤㅤㅤ
ㅤㅤㅤㅤ
ㅤㅤㅤㅤ
ㅤㅤ
ㅤㅤ
ㅤㅤ
ㅤㅤ
ERAM QUASE SETE DA NOITE quando Andrea terminou de colocar os espelhos retrovisores que comprou na volta pra casa. Ela não queria correr o risco de estar fugindo na bicicleta e cair toda vez que olhar para trás, como aconteceu duas vezes.
Seu pai não havia chegado e ela temia que ele fosse passar a noite fora novamente. Sinceramente, ela não se importava com a ausência do mais velho. Se ele estivesse ali, apenas reforçaria a idéia dela se afastar da Byers e deixar toda aquela coisa de 'monstro saindo da parede' pra trás e Andrea não poderia fazer isso. Não com tudo que vinha acontecendo.
Ela checou os retrovisores uma última vez antes de entrar no trailer, indo guardar a caixa de ferramentas de seu pai no quarto. Era a segunda vez que ela entrava ali desde que havia se mudado, sendo uma das regras básicas da casa: não entrar naquele quarto e não mexer nas armas que ele guardava ali.
Andy, honestamente, nunca teve motivos para pegá-las antes.
Ela se aproximou do baú próximo à cama, o abrindo e encontrando apenas algumas roupas de cama. Olhando por cima do ombro em busca de algum som vindo da porta que indicasse a chegada do delegado, ela vasculhou por debaixo das roupas até sentir o metal gelado contra seus dedos, puxando a pistola até a vista de seus olhos.
A Hopper o destravou, tirando o cartucho e, vendo que estava vazio, procurou pela caixa de balas que estavam guardadas ali também, não demorando em sair do cômodo e ir para o próprio quarto, trancando a porta. Seu padrasto havia lhe ensinado uma vez a recarregar uma arma quando ele ainda estava na fase de agradá-la para chamar a atenção da mãe. Certamente não era a melhor coisa para se ensinar a uma criança mas pelo menos estava sendo útil naquele momento.
Respirando fundo, a adolescente colocou o cartucho de volta na pistola, travando-a e a colocando em baixo do travesseiro. Quem sabe o que pode acontecer enquanto ela dorme?
O enterro de Will Byers seria no dia seguinte e Andy havia planejado tudo meticulosamente. Ela participaria do funeral, prestaria suas condolências à Jonathan e ao pai dele, que ela nem lembrava que existia, e então iria conversar com Joyce sobre seus desenhos e o desaparecimento repentino de Barbara. Se alguém naquela cidade ao menos cogitaria acreditar no que a adolescente tem para contar, esse alguém seria Joyce.
Ela se deitou para dormir às dez da noite ── seria um longo dia. Com os braços cruzados em cima do peito, a arma pesando em baixo do travesseiro e as folhas de papel enfeitando sua cômoda ao lado da cama, junto da caixa de comprimidos que ela comprou, ela adormeceu.
Um som estranho vindo da sala acordou Andrea de seu sono horas mais tarde. Olhando na mesa ao lado da cama, ela viu o relógio marcando duas da madrugada; ela cambaleou até a porta, abrindo-a levemente e fitando o corredor escuro em busca de movimento.
─── Pai? ─── sussurrou, sua voz sendo o único som ecoando no trailer.
Cinco segundos se passaram sem nenhuma resposta. Ela se virou pronta para retornar para a cama, ainda sonolenta quando um som característico foi captado pela adolescente: alguém havia batido na mesa de centro. Como ela poderia não reconhecer aquele som quando já havia acertado a perna ali tantas vezes?
Ela olhou por cima do ombro, indo pegar a pistola embaixo do travesseiro e saindo do quarto, seguindo até a entrada da sala. Ali, jogado em cima do sofá, estava apenas o delegado. De onde estava, Andy visualizou uma garrafa de cerveja e o recipiente dos comprimidos em cima da mesa, fazendo-a suspirar baixo antes de coçar os olhos, cansada.
Há alguns metros de onde ela estava, encostado contra uma parede e segurando uma pistola com silenciador, um dos guardas do laboratório de Hawkins que havia recebido ordens para deixar o delegado em casa esperava por um movimento qualquer da adolescente. Apenas dois passos e a garota poderia vê-lo ── e ela logo estaria em sua linha de tiro também. Não era o ideal, mas era parte de seu trabalho para proteger os segredos guardados por seus superiores.
A adolescente fitou o pai por alguns segundos antes de dar meia-volta e retornar para o quarto, sem notar a luminária do teto em cima da mesa ou as sombras escondidas pela sala, esperando pelo momento certo de sair.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro