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53-Era só me pedir

Quem visse a doçura e a serenidade angelical dela, jamais imaginaria que pudesse ser cruel e sanguinolenta aquele ponto. Sangue quente encharcou a pele dela, Nad tinha perversidade indescritível no olhar, talvez fosse de fato abominável. Mas, por razões plausíveis suficientes.

— Filha da puta! — Esbravejou ele, sentindo o buraco que a falta do osso arrancado deixou em sua estrutura óssea.

Baltazar tremia e rangia os dentes devido à hemorragia e fraqueza. Nad sentiu-se ainda mais poderosa, a frieza invadiu o espírito.

— Lembro-me bem, de quando passeamos pelas montanhas do horrores, você disse; Você é a mulher mais sensual que eu já vi em toda minha vida. — O tom dela era menosprezando o quão ridículo foi aquilo.

Nad deslizou a mão ensanguentada pela pele pálida e fria dele, como se quisesse fazê-lo sentir o gosto do próprio fracasso.

— Desgraçada! — Rosnava o homem que já estava entrando em colapso devido ao sangramento que fazia poça espessa no piso revestido por escombros do lugar.

Amenade sorriu de maneira sensual e profana, arregalando os olhos roxos de magia com muita glória.

— Se queria me coração, era só me pedir. — Debochou a cruel rainha, arremessando o osso da costela dele para longe, o mesmo saiu quicando pelo piso sujo de sangue e poeira de gesso. Baltazar caiu de joelhos, cedendo à morte dolorosa que vinha. Obviamente, Amenade jamais daria uma oportunidade para que os dois tivesse algo romântico, era absurdo Baltazar um dia, ter pensado que ela daria-lhe esperanças. Embora fosse impossível não iludir-se nos encantos daquela criatura incrivelmente linda e gentil, serena e bondosa.

— Ainda me achar sexy, seu filho da puta? — Ela inclinou o rosto para encará-lo, por estar de joelhos diante dela. Sua rainha.

— Eles te mataram, quando souberem. — Ciciou a voz barítono, o olhar furioso atingiu à linda mulher diante dele.

Nad puxou sutilmente a barra das calças que cobriam suas canelas e agachou-se.

— Nem você, nem ninguém, assombrará meu sono ao findar da aurora, nunca mais. Olhe para mim, criatura desprezível. — Os dedos da mão esquerda agarram o maxilar dele, apertando-se contra a pele e o fazendo gritar com toda força que restava nas cordas vocais. Cada respiração dificílima, as batidas do coração aceleradas. Nad sorriu como a melodia da morte chegando. O baforar quente dela sob a face dele, o fez ficar ainda mais revoltado pelo fracasso.

Amenade aperto ainda mais o maxilar dele, o fazendo forças as pálpebras e arrepender-se de ser tão ganancioso.

Ela queria vê-lo rastejar, matá-lo lentamente enquanto olhava nos olhos dele, para que nunca mais esquecesse do rosto dela, daquele olhar profunda e vingativo.

Uma respiração.

— Pensa que não senti você chegar carniceiro? — Sibilou ela, sorrindo por mais um, para acrescentar na lista de mortos.

Tirso empunhou a espada e correu na direção da retaguarda dela. A fera indomável dentro dele, rugiu por desejar como nunca, vingar-se por sua parabatai assassinada pela rainha.

— Agora eu vou me divertir com o boçal do seu amigo. Descanse, vai precisar, já que têm um buraco na sua costela. — Nad disse sarcástica, soltando o maxilar dele bruscamente, Baltazar estatelou sob o piso, agonizando de dor e hemorragia. A pele ficando lívida, os sentidos o enganando.

— Ah! Você quer o Ibititi? Então venha pegar você mesmo. — Desafiou a divina criatura, já de frente para Tirso.

Quando o titã de barba rala e olhos tenebrosos tomou impulso, ela pulou alto e os dois colidiram de frente, em um rodopio, ela caiu em pé, feito um felino.

Já Tirso...

Uma lufada de ar comprometida.

O tirano guerreiro, levou a mão até o peito e viu que uma parte do pulmão dele, havia sido arrancada, Nad largou o insignificante pedaço de órgão sob o chão, enojada.

Isso foi por mim, por Denala, Ierra e Nerfa, e por Tito. — Amenade sentiu toda sua piedade, romper no espírito. Não havia nem sequer uma gota de arrependimento.

Tirso revirou os olhos escuros e deixou o corpo ceder, indo de encontro ao piso cheio frio e pintado por desenhos belíssimos e artísticos — estatelou nele, morrendo com lágrimas nos olhos. Embora não buscasse redenção e nem tivesse intenção, se saísse vivo dali. O que não foi o caso.

Devido ao efeito colateral da ligação dos poderes psíquicos dela, o palácio parou de desabar. Estilhaços cobriam quase todo o piso, devido às explosões violentas causadas pela fúria de sete céus, dela.

Incendiada por magia, como um meteoro queimando na galáxia. Nad sentiu a alma ser violentamente ferida, as pernas falharem, como uma estrela, ela cedeu ao choro desolado. Vendo as irmãs mortas, vendo Tito silencioso, sentado de maneira desajeitado sob o piso, encostado na coluna de gesso que restou, a luz do luar que adentrava as janelas, o deixava ainda mais belo que já era. Apesar da palidez e da tristeza do rosto jovial.

— Te amarei eternamente, doce humano. — Prometeu ela, guardando na clavícula, a pérola brilhante que guardou no bolso da calça de veludo sem detalhes requintados.

Embora ela soubesse que ele envelheceria e ela continuaria com jovialidade eterna, e que aquele não era o lugar mais adequado para viver, tampouco que era promissor e possível o futuro dos dois juntos, ela sonhou com aquilo. Afinal, sonhar era a fonte da sua força, sonhar com dias melhores —, com a reconstrução do seu reino. Sonhar que nada daquilo havia acontecido.

Não vai livrar-se de mim, tão fácil. — O sussurro dolorido saiu, Nad arregalou os olhos incrédula, virando o rosto para encarar o dono daquela voz. Tito suspirou com imensa dificuldade, ainda estava machucado demais, porém, vivo.

Nad transbordou de jubilo, o coração aqueceu, a respiração ficou ofegante pela ansiedade do momento. O homem magro dos fios encaracolados perfeitamente, ainda respirava, mesmo que fosse quase impossível fazer isso. Além de Iduna e Azaya, era o único sobrevivente em meio à aquela ruína toda do palácio de Nad.

Amenade piscava freneticamente, pasmada por vê-lo com vida. Tito havia desmaiado devido à exaustão e os ferimentos internos, fazendo a titã acreditar que ele não havia resistido mais, morrendo. Uma lágrima solitária rolou pela bochecha dela.

Não era um adeus.

— Amenade, agora, o que faremos? — Perguntou Iduna, receosa por aproximar-se da bela mulher. Porém, ela mal deu-lhe ouvidos, o olhar tinha foco em Tito.

Não conseguia mexer os pés dali, totalmente catatônica mas a sua alma alcançava o humano, o sentimento era claro suficiente, em relação à ele. A sua magia que era dominada e adormecida quando quisesse, de maneira excelente. Soltou faíscas perceptíveis, de contentamento, como se dançassem, comemorando junto à ela. Parecendo ter vida própria, dispersas dos comandos dela.

— Primeiro; irei reerguer meu reino. — Respondeu sorrindo calorosamente, a vitória e o regozijo eram responsáveis por isso. Reerguer uma cidade tão devastada, não seria tarefa fácil, porém, ela faria com toda honra e mérito que merecia.

O quê? — Balbuciou a voz aguda de Azaya, na melancolia ainda presente no coração da mulher esbelta, foi sumindo a medida que aquelas mulheres foram despertando também. Parecia delírio coletivo, mas não era. Tito sentiu o peso do busto da mulher negra, saindo de suas finas pernas, Nerfa levantou-se ainda zonza e fraca —, parecia ter sido chacoalhada por horas. Haviam cortes em pontos da sua pele sedosa, causados pelos estilhaços de vidro.

— Vocês estão vi-vivas... — A deusa poderosa gaguejou desacreditada, o fôlego foi roubado por um abraço apertado de Denala, que moveu-se como a velocidade das asas de um beija-flor e abraçou a irmã.

A tempestade e os trovões findaram.

Amenade recebeu abraço coletivo das irmãs mais novas, Azaya permaneceu silenciosa feito pedra, olhando a cena bonita entre as irmãs. Nunca presenciou aquilo, pois as suas irmãs eram frias e grosseiras, arriscando dizer até, que Azaya era a mais amolecida de coração, sensível demais, chegando a ser ridícula por expressar muito afeto e sentimentos por elas. Azaya cresceu acreditando que não nasceu para estar naquela família, era desencaixada e jamais adaptaria-se aquele castelo onde vivia. A vida toda, almejou ter o que Amenade tinha com as irmãs dela.

Amor verdadeiro e singelo.

Odiou Tito, no momento em que o viu, pelo mesmo motivo, por saber que ele tinha a relação conturbada com os irmãos, porém, apesar disso, eles amavam-se muito. Tito sacrificou a sua história por eles.

Ela soube, por entrar nas lembranças dele, sem necessitar tocá-lo fisicamente, apenas com os poderes psíquicos que tinha. Os dominou também, que foi imperceptível como ela invadiu a mente dele nos campos.

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