21-As Cortes
Muito movimento dentro do espaço, a noite já havia caído, porém, ainda estava cedo.
Nem sinal de Ierra ou Iduna, ou Amenade.
Súditos de diversos tipos corpóreos estavam preenchendo o salão chegando com suas roupas requintadas e chamativas — alguns tendo consigo animais, como: calopsitas, harpias e cobras, e lagartos — furões brancos, papagaios e araras coloridas.
Tito ficou mais confuso e curioso do que já era.
Perdido em número a muitos rodopios que seu corpo dava, quando as pessoas que passavam por ele e olhavam torto, se aproximavam.
Puft!
O corpo desnutrido dele colidiu com o piso e os ossos estatelaram fazendo barulho diante daquelas milhares de pessoas como num formigueiro cutucado.
— Mil perdões! — Pediu a voz simplória e adocicada ao ver que tinha derrubado o jovem.
O impacto deixou o coitado zonzo e dolorido demais para se levantar rapidamente.
Hora ou outra aquilo aconteceria, e aconteceu.
Amenade agarrou Tito pela cintura de forma cuidadosa e o colocou de pé feito um boneco de pano.
— Sinto muito. — Murmurou novamente dando leves tapinhas na roupa dele que ainda cambaleava após ser atingido por trás.
Amenade estava envergonhada por tal atitude não intencional.
— Tudo bem, eu estava moscando no meio do salão. — Tito balbuciou, sentindo a cabeça doer em uma parte específica.
Ali em meio aquela multidão titã, ele ergueu o olhar finalmente para encarar a rainha.
E seus olhos não poderiam ter visão mais perfeita... Perfeita era uma definição simplória para descrevê-la.
A boca se abriu e o queixo pendeu, quase babando.
A expressão boba fez Nad observar a si mesma, procurando algo errado em suas vestes e adornos, e outras modificações.
— Tem algo de errado comigo? — Olhou para o vestido de ceda azul lavada com desenhos arabescos quase não visíveis de longe —, na barra, sem mangas e contendo um metal dourado contornando abaixo dos seios bem marcados pelo tecido.
— Você está... — O fôlego saiu dos pulmões escapando e fugindo por toda extensão do salão, as pupilas dilatadas feito lagos obscuros.
Só então a rainha dos cabelos agora cacheados percebeu que não havia nada de errado consigo... Era admiração.
— Vem comigo. — Estendeu a mão para ele, serena e sutil.
Os dois atraiam olhares curiosos e incrédulos, até muito preconceituosos.
Entrelaçando a mão dela com a sua, o rapaz seguiu para onde estava o trono de pedra e pararam a centímetros de distância do degrau que o sustentava.
Todos observavam a cena pasmados, enquanto bebericavam vinho ou conversavam entre si —, alguns apenas em silêncio apreciando a música calma e aguda invadindo todo o ambiente com a sinfonia dos violinos e violoncelos.
— De onde vem todas estas pessoas? — Perguntou Tito, não evitando ser distraído por tanta gente que o sufocava.
Amenade apenas soltou um grunhido e se sentou em seu trono, imponente com a rainha que era.
Indicou que Tito ficasse ao seu lado em pé.
— Tem habitantes de diversas cortes aqui. — Respondeu dispersa mexendo nos braceletes dourados em contraste com o glitter das maçãs do rosto igualmente.
— Os de animais e roupas coloridas são da corte de fauna e flora. — Apontou um grupo parado próximo à porta de entrada.
— Aqueles, os de vermelho e laranja: as profundezas vermelhas. — Apontou pessoas aleatórias com tais características citadas e Tito prestava atenção em cada explicação.
— E aqueles... — Tito observou as criaturas aparentemente normais como titãs, mas que era um tanto... Transparentes e vapor... Feito o calor das chaminés.
— Habitantes da corte das almas. — Respondeu Nad acariciando o cimento do braço de seu trono.
Aquelas criaturas não vestiam roupas, nem portavam adornos e não tinham cabelo... Eram quase completamente vapores que flutuavam, exceto pelos olhos pretos, feito piche e a boca, e nariz cadavéricos.
Pareciam até perdidas e desencaixadas, procurando por um lugar adequado a elas para ficarem... Assim como Tito.
Todas tinham aparência feminina por mais que não desse para deduzir pela falta de corpos.
— Quem governa todas elas? — Tito voltou a questionar, desconfortável por tanto falatório vindo do lugar movimentado e abafado.
Amenade parecia aprovar e, ou desaprovar cada pessoa que passava diante dos nevoeiros dela, a acidez não comum, a expressão rígida percorrendo tudo aquilo.
— Ierra governa as montanhas dos horrores, e as profundezas vermelhas ficaram por responsabilidade de Azaya. — O humano ficou mais perturbado ainda com tantos pensamentos.
— E, por que aqui chama Sportarend e não... Alguma corte, sei lá. — Murmurou sem ter alternativas.
— Porque quando meus pais eram vivos nomearam assim e eu não quis mudar. — Ato honroso de valor emocional, entendeu Tito imediatamente.
A solidão mórbida tomou a face da rainha agora inquieta, mexendo no anel dedal de douro em seu indicador direito.
— Que nome daria se não fosse este. — Mais uma pergunta para impedir que o tédio e desconforto o engolissem.
Amenade deu de ombros.
— Talvez... Corte da alvorada. — Pensou rigorosamente naquele nome.
Tito questionou internamente porque ninguém ainda havia curvado-se perante a rainha de Sportarend, ou, por que não lhe dirigiam ao menos acenos ou sílabas... Bizarro.
— E você só tem ela de irmã? — Tito sem perceber havia colocado sua palma sob a mão da rainha.
— Não exatamente... Tenho mais duas irmãs. — Amenade desconversou e inclinou o corpo para frente apoiando o cotovelo no trono e buscando alguém ou algo pela multidão irritante ali.
A grande quantidade de pessoas conversando em uma roda abriram caminho quando a mulher dos cabelos crespos igualmente brancos como os de Nad —, passou a caminhar feito uma deusa por entre eles, atrás dela um grande animal —, um tigre-dentre de sabre maior até do que os comuns temidos pelos humanos.
Somente cabeça do bicho media o humano inteiro.
Ierra empinou o queixo enquanto passava com sua toga branca com detalhes vermelho-escuro e marrom próximo ao contorno da clavícula —, e o turbante faixa pela metade contendo fitas vermelhas embutidas que balançavam conforme andava.
O animal caminhava com tanta serenidade que parecia estar enfeitiçado, atrás da governante de corte.
— Boa noite, irmã. — Cumprimentou com aquela voz rouca e macabra.
Amenade ergueu o olhar e a observou com atenção.
— Precisava trazer este animal que chama tanta atenção, Ie? — Dirigiu o olhar para o animal em questão, todos pararam de conversar e fazer qualquer outra coisa para contemplar as duas fazendo as formalidades.
— Você trouxe seu bichinho de estimação, eu trouxe o meu. — Se referiu a Tito com um olhar debochado.
O humano abriu a boca para xinga-lá e avançou um passo enfurecido, porém a rainha fechou os dedos em volta do seu pulso e lhe lançou um olhar sublimar.
Não vale a pena; foi o que disse o olhar.
— Onde está aquela bruta. — Amenade perguntou a irmã parada em frente ao trono da bela féerica.
— Foi se arrumar, aquela coisa em seu jardim... Exigia muito tempo. — Ierra foi cautelosa ao dizer, pois, Tito estava ali e não queriam que ele soubesse... O que quer que fosse.
— De que coisa ela está falando. — Sussurrou ele de canto para Nad.
Ierra com a expressão debochada e provocativa de sempre.
— Não lhe diz respeito. — Replicou Amenade de forma rude.
— Nada me diz respeito aqui, não é. — Contestou Tito já irritado.
Todos ali presentes de repente voltaram a fazer o que faziam naquele fuzuê do salão, como se saíssem de uma onda mágica de paralisia.
— Sabe, eu sugeri... Aliás, convidei seu amigo para uma noite de diversão e luxúria conosco, porém... Ele não aceitou. — Ierra se fez de magoada, satirizando o rapaz e sua escolha sensata.
Amenade disparou do trono ficando frente a frente com a irmã.
— Repita este tipo de atitude desprezível e verá o que lhe aguarda em seguida. — Proferiu cortante olhando profundamente nos olhos escuros da féerica.
Tito do lado do trono apenas bufou enraivecido, perguntando-se até quando, até quando teria que ser respeitado só porque ela exigia, ou até quando teria que ser salvo e protegido por ela como um bichinho indefeso e medroso.
Não era justo, não queria.
Os súditos não ligaram para tal afronta ali no meio do salão.
— Por Hudamá, Amenade! Está realmente se...
Tito não ouviu mais nenhuma palavra saindo da boca daquela víbora e saiu batendo o pé, tirando da frente com leves empurrões todos que atrapalhavam sua passagem —, e nem deu importância as humilhações e risadinhas desprezando-o quando passava.
💨💨💨
Ierra na mídia.
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