1-A Busca
Mal chegara o fim da tarde quando aquelas armaduras cinzentas que pareciam ter vida própria se movimentaram pela cidade rumo a uma moradia em específico. O tilintar do metal pesado fazia todos prestarem atenção nelas — e certamente prestavam porquê odiavam — o ódio era tão grande que não ousavam nem sequer se aproximar delas.
Uma casinha simples, revestida por granito nas laterais e o restante de madeira e cimento —, contendo degraus de pedra à frente da porta, era o alvo das chamadas: "Mensageiras do mal", apelido dado pelos moradores da aldeia.
A criatura toda coberta que parecia ser comandante do grupo atrás de si — se aproximou calmamente da porta e bateu na mesma feito um ser humano normal, usando a gentileza e não pontapés ou qualquer outro tipo de golpe violento —, os passos pesados por conta das botas de metal puro.
Dentro da casa onde os móveis básicos eram todos de madeira e tinha iluminação garantida por velas, estava o jovem desnutrido e bem pobre sentado à beira da lareira que era a única fonte de calor que os esquentava... Ou pelo menos tentava.
Os móveis tremeram pelo caminhar lá fora.
O pai do jovem negro de pele clara se encontrava sentado no pequeno sofá improvisado de madeira que tinham pegado dias antes e demorado quase um ano inteiro para fazer um assento com a lenha em questão. Ele era debilitado pela idade e por isto não podia fazer muito esforço — contava com a ajuda dos filhos e principalmente do mais novo (até porque os outros eram preguiçosos demais).
Ele se movimentou e foi até a porta olhando apreensivo para o pai que ficou desconfiado.
— Olá. — Disse a voz feminina por trás do elmo feito de ferro que cobria todo o rosto dela, deixando somente uma fração mínima dos seus olhos escuros feito as noites sombrias que cobriam o céu quando anoitecia.
No seu boldrié tinha uma espada reluzente e bem afiada com o cabo prateado contendo uma joia esverdeada embutida e abaixo espirais esculpidos nela.
O jovem hesitou com medo daquela lâmina extremamente afiada ser enfiada no seu peito ou rasgar sua garganta num golpe que mal poderia se defender. Pelas lendas e histórias repassadas dos aldeões para seu pai que ele escutou toda a infância —, elas eram cruéis e rápidas feito a luz e qualquer deslize poderia custar a vida.
Não iria querer experimentar para confirmar se era verdade.
— Posso ajudar. — A voz trêmula dele perguntou à mensageira, seus olhos percorreram as muitas outras atrás de si, com roupas iguais e elmos também, porém as espadas eram mais simples no boldrié.
— Vim pedir civilizadamente que nos acompanhe humano, pois queremos conversar sobre suas terras e a de nosso povo. — Explicou seriamente a mulher ainda para no mesmo lugar.
O coração acelerado do rapaz gelou por segundos — não ousaria resistir, não teria nem 1% de chances mesmo que não estivessem armadas —, as mulheres eram titãs, tinham no mínimo dois metros de altura. "Tamanho não quer dizer força", porém, no caso delas poderia rever esta afirmação. Um tapa e pelo menos três ossos se quebrariam feito massa de pão sendo esmagada.
— Eu? Creio que tenha pessoas mais sábias para entrar nesta questão com vocês... Não posso ajudá-las. — O magricela foi de todo sincero, não queria que aparentasse resistência e nem audácia. Realmente não tinha capacidade suficiente para negociar com as titãs e seus povos tenebrosos.
O senhor calvo e lento se dirigiu a porta antes que elas proferissem mais uma palavra.
— Não levem meu filho, eu imploro, é meu menino mais novo e não sei o quê faria sem ele... Por favor, por favor. — Implorou o senhor negro de vestimentas abatidas e mãos calejadas.
Seu filho o abraçou de lado trazendo-o para mais perto de si próprio.
— Não queremos usar a força, não faça resistência... É um conselho. — Disse friamente a Titã. Não se importava com a necessidade do homem de ter seu filho consigo... Nem tinha piedade.
— Meu pai precisa de mim, meus irmãos ficaram desamparados... Tenho certeza que encontraram outra pessoa para melhor lhes ajudar. — Os olhos imploravam e sentiam medo das mensageiras. Protegendo o pai contra o peito fortemente.
Todos os aldeões curiosos ali observavam a cena e nada fizeram... E nem fariam, ninguém arriscaria confrontar as titãs tão assustadoras e preparadas. Seria no mínimo estupidez. Mesmo que, isto custasse ver os dois sendo assassinados.
A mulher desconhecida suspirou, não um suspiro impaciente, mas sim de alguém que não queria fazer o que faria.
Num movimento rápido, retirou a espada da cintura e o som da lâmina afiada fez pai e filho se tremerem abraçados.
— Não vamos machucá-lo, só queremos conversar... Venha conosco, por favor. — Pediu no último fio de paciência que lhe restava empunhando a espada levemente erguida apontando aos dois.
— Eu faço o que quiserem, posso ser escravo de vocês... Só não machuquem meu menino. — Pediu quase chorando o velho homem apertando os braços envoltos no filho um pouco mais alto — com toda força.
— Peguem ele. — Ordenou sem muita força de vontade a titã que desistiu de tentar. Duas das suas companheiras tomaram a frente e não deu tempo nem dos dois entrarem dentro da casa e saírem pela janela da parte de trás da casa.
Agarraram uma cada braço extremamente fino do garoto e afastaram o pai dele bruscamente —, quase o fazendo cair no chão. Aos berros, o jovem implorava para que o soltassem e não machucassem o pobre velho frágil tentando fazê-las soltar o garoto a todo custo. Não lhes incomodava nenhum pouco seus puxões, mal faziam os antebraços delas se mexerem — era como se estivessem recebendo cócegas de uma flor-do-campo.
— BASTA SENHOR. — Gritou irritada a mulher do lado direito, tão alta que poderia tirar o pobre infeliz do chão somente o pegando pela roupa abatida.
— NÃO O LEVEM, JOABE, JASÉ AJUDEM SEU IRMÃO. — Chamara pelos outros filhos que mal reagiram, covardes preguiçosos. Vendo o desespero do pai nem se dispuseram a amparar o coitado.
Se debatendo resistente — o jovem não desistia de lutar. Mesmo assim não fez mínima diferença, as mensageiras temíveis continuaram o levando brutalmente.
— VAI FICAR TUDO BEM PAI, EU PROMETO AO SENHOR. — Gritava enquanto tentava fazer os olhos alcançarem a figura indefesa a poucos metros de distância agora.
Os irmãos aterrorizados não fizeram objeção.
O magricela parou de se debater quando viu que não adiantaria nada... E logo poderia ser ferido se continuasse sendo tão irritante daquele jeito. Não podia fazer muito mesmo.
Elas o levaram feito um saco de batatas —, o sol forte ardia seus olhos e a dor do medo lhe engolia. Medo por nunca mais ver seu pai ou irmãos (que mesmo sendo tão egoístas, amava) medo de ser aprisionado ou torturado... Pior, os dois.
O ódio subiu à sua garganta, aqueles infelizes aldeões não fizeram absolutamente nada —, não moveram um músculo para impedir que o levassem e sabiam que não fariam... Mas, tinha um fio esperançoso gritando dentro de si.
Sua maior preocupação era deixar seu pai a mercê da boa vontade dos irmãos, não duvidava que o deixassem passar fome por orgulho e preguiça. Três marmanjos que só faziam brigar entre si para decidir quem iria fazer tal coisa e sempre sobrava para ele. Sua bondade não contestava ou fazia objeção, pois, seu pai precisava dele... Era um bom homem, honrado.
Todos ali temiam as titãs e eram parcialmente escravizados por elas... A terra dos mortais era dividida por uma fortaleza misteriosa (ninguém ousou cruzar em séculos) e depois havia a terra fértil e considerada um paraíso, das titãs poderosas.
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