
𝟎𝟎𝟔 - 𝐍𝖺𝖽𝖺 𝖾́ 𝖼𝗈𝗆𝗈 𝖺𝗇𝗍𝖾𝗌.
Seus olhos se abriram devagar, como se até isso exigisse esforço. A visão ainda estava turva e o ambiente ao redor era tomado por uma penumbra suave. Jihye sentia o corpo mais leve, embora a mente ainda flutuasse entre o real e o sonho. Estava deitada em algo surpreendentemente confortável ── um sofá de couro preto, muito mais acolhedor do que as camas rígidas do dormitório.
Havia um cobertor sobre ela, quente e macio. Foi então que notou o leve incômodo em seu braço. Baixou os olhos com lentidão, encontrando ali um esparadrapo firme, daqueles de hospital, segurando uma agulha fina conectada a uma mangueirinha transparente, por onde pingava um líquido contínuo. Soro… ou remédio. Não sabia dizer. Mas, de algum jeito, estava sendo cuidada.
Mas a pergunta era: como e por quê? A última coisa de que se lembrava era o vazio, o escuro, seu corpo cedendo sem aviso e o chão duro recebendo sua queda. Ela lembrava da dor e da sensação de que, finalmente, estava tudo acabando. Naquele momento, ela estava preparada para morrer. E, de certo modo, até esperava por isso.
Mas agora… ali estava ela. Viva. Respirando. Deitada em um sofá que não condizia com a realidade cruel do jogo. Como aquilo fazia sentido?
Sua testa franziu-se de leve, ainda tentando entender se aquilo era real, se era um último delírio da mente ou algum tipo de armadilha. Mas o calor do cobertor sobre o corpo, o cheiro limpo no ar e até o leve som do líquido pingando… era tudo real demais.
Ainda assim, a dúvida continuava: quem a salvou? Por quê? E o que isso significava?
Ela ergueu o corpo e se sentou devagar no sofá, observando o ambiente ao redor com mais atenção. Era tudo muito diferente do que estava acostumada no dormitório — ali, parecia quase outro mundo.
── Mas que lugar é esse? ── sussurrou, ainda tentando entender onde estava.
A porta se abriu de repente, fazendo-a se assustar. Um guarda entrou. A máscara era como a dos outros, mas o uniforme preto o distinguia dos demais. Ele caminhou até ela com passos firmes, colocou uma marmita sobre a mesa de centro e, sem cerimônias, sentou-se na poltrona à sua frente e retirou a máscara sem se importar.
── Gostando da estadia na sala do chefe? ── disse, com um sorriso debochado que era quase audível.
── Não sabia que vocês tinham médicos aqui. Isso não foi informado.
── Quem disse que temos?
Ela o encarou por um momento, a expressão misturada entre cansaço e incredulidade.
── Então… ── sua voz vacilou por um segundo ── por que eu estou aqui sendo cuidada?
O homem se inclinou um pouco à frente, apoiando os cotovelos nas coxas. A forma como a observava deixava claro que sabia muito mais do que deixaria escapar.
── Por algum motivo… o chefe parece gostar de você. Só por isso ainda está respirando.
A 002 arregalou os olhos, surpresa e quase sem reação.
── Chefe? ── engoliu em seco ── Então… ainda existe alguém acima de você?
── Com toda certeza! ── respondeu com um sorriso confiante ── Somos uma espécie de hierarquia. Você deve ter notado: o guarda com a máscara quadrada é o que dá as ordens diretas, o que sempre fala com vocês; os triângulos são os que matam vocês, e os círculos trabalham, preparam as provas e recolhem seus corpos. Eu coordeno todos eles, organizo as tarefas, tomo as decisões internas… Mas sim, existe alguém acima de mim. E é por causa dele que você está aqui agora.
Jihye permaneceu imóvel por alguns segundos, tentando processar tudo o que ouvia. A cabeça girava com perguntas que pareciam não ter fim.
── M-mas… ── começou, gaguejando levemente ── Por quê? O que ele quer comigo? O que eu tenho de diferente dos outros jogadores?
O guarda inclinou a cabeça levemente, quase como se estivesse se divertindo com o questionamento. Um sorriso de canto surgiu em seus lábios, vagaroso.
── Curiosa você, né?
── Eu quero falar com ele, com o seu chefe.
── Isso não vai ser possível. Ele não vai falar com você.
── Por que não? Eu não sou importante para ele? Então quero saber quem ele é.
O homem riu, um riso curto e debochado. Sem pressa, pegou o controle remoto sobre a mesinha e apontou para o telão na parede. A imagem se acendeu, revelando o que parecia ser uma transmissão ao vivo do jogo ainda em andamento.
Um dos últimos grupos restantes aparecia na tela: In-ho estava lá, junto do irmão dela, do 456, da Jun-hee e do 390. O chão de areia estava tingido de vermelho, enquanto os guardas com máscaras de círculo removiam os corpos espalhados.
── Aproveite o filme ── disse, já se afastando ── e coma antes que esfrie.
Ele cobriu o rosto novamente com a máscara preta, virou-se e saiu pela porta, deixando Jihye sozinha diante da brutal realidade estampada no telão.
Kang olhava do telão para a marmita à sua frente, sem saber ao certo onde focar. Não estava com fome. Nem um pouco. Mas sabia que precisava tentar, nem que fosse só um tiquinho. Inclinou-se devagar, abriu o pote e começou a comer. Aos poucos. Sem vontade. Tudo parecia sem gosto.
Voltou a encarar a tela e o coração quase saiu pela boca. Eram eles. Os dela. Seus companheiros. Estavam ali, se preparando para a vez deles no jogo. E não estavam bem. Ela podia ver. Podia sentir. Cada olhar, cada expressão, cada movimento denunciava o cansaço, o medo, o fim de linha.
Queria poder gritar, avisar que estava viva. Que ainda estava ali, de algum jeito. Que eles não estavam sozinhos. Mas... pensando bem, talvez In-ho já soubesse.
Tudo aquilo era estranho demais. Nada fazia sentido. Jihye não se sentia melhor do que os outros jogadores, mas, de alguma forma, parecia ser — ao menos aos olhos do líder dos jogos. E por quê? Ela não o conhecia... ou será que o conhecia? A dúvida pairava como uma névoa espessa em sua mente. Eram perguntas demais, suposições demais, desconfianças que cresciam a cada segundo. Mas, por ora, ela preferia ignorar tudo isso. Queria, só por um instante, acreditar que era apenas paranoia. Que nada daquilo era real.
A jogadora assistia a tudo com o peito apertado, as mãos trêmulas segurando a comida que já nem fazia sentido ali. O desespero tomava conta. O medo de que eles não conseguissem, de que morressem ali, diante dos seus olhos. Mas, por sorte — ou por um fio de esperança que ainda restava — eles conseguiram. E, quando isso aconteceu, ela soltou o ar que nem sabia estar prendendo, como se voltasse a respirar depois de um longo mergulho. Estava feliz por eles, por terem sobrevivido… mas sentia raiva. Raiva pelos que morreram, por aquele jogo cruel e doentio que continuava arrancando pedaços das pessoas.
Foi então que a porta se abriu. Um guarda entrou, mas não era o mesmo de antes. Usava o uniforme comum, com o círculo desenhado na máscara — um dos mais baixos na hierarquia. Não disse uma palavra. Apenas se aproximou com passos calmos e começou a trocar o soro e repor a medicação, como se ela nem estivesse ali.
── Com licença... ── a voz dela saiu baixa, mas firme o bastante para tentar quebrar o silêncio. ── Eu já estou melhor. Quero voltar com os outros.
Nenhuma reação. Nenhuma resposta. Ele seguiu com o protocolo, frio e indiferente. Depois de alguns segundos, estendeu dois comprimidos e um copo d'água na direção dela, como se dissesse que era isso — e nada mais.
── Eu não vou tomar isso. ── Jihye murmurou, a voz baixa, mas firme. ── Eu não sei o que é.
O guarda hesitou, olhando para os comprimidos na palma enluvada da mão antes de responder.
── São remédios que você precisa. ── disse, simples, quase gentil.
── E como sabem do que eu preciso? ── ela insistiu, o olhar ainda preso nos comprimidos.
Ele ficou em silêncio por alguns segundos, talvez ponderando se devia continuar aquela conversa. Então, finalmente, respondeu num tom mais leve, quase... cansado.
── Sabemos tudo sobre cada um de vocês. A gente sabe mais do que devia, na verdade.
A mulher o encarou, surpresa por um momento. O guarda não parecia frio como os outros. E isso só tornava tudo mais confuso.
── Não quero apagar de novo. ── ela falou, quase como uma súplica. ── Eu quero estar consciente. Eu quero entender.
Ele assentiu lentamente, estendendo o copo de água junto com os comprimidos mais uma vez.
── Só vai te ajudar a ficar de pé. Nada além disso.
002 assentiu com a cabeça, sem dizer nada, e engoliu os dois comprimidos de uma vez. O gosto amargo ficou na boca, mas ela apenas fechou os olhos por um segundo, tentando não pensar muito no que acabara de fazer.
── Quando eu vou voltar com os outros? ── perguntou, abrindo os olhos novamente.
── Em breve. ── respondeu o guarda, já se virando para sair.
── Espera!
Ele parou no meio do caminho, voltando o olhar para ela, silencioso, como se esperasse por algo importante.
── Você parece mais... humano do que o seu chefe. ── disse ela, meio hesitante. ── Então me diz... por que o líder dos jogos se importa comigo? Quem ele é?
O guarda ficou quieto por um momento. Era difícil saber o que ele pensava por trás daquela máscara.
── Eu não sei. ── respondeu, por fim. ── Não sei quem ele é. E mesmo se soubesse... acho que não falaria.
Fez uma breve pausa e, então, completou:
── Só sigo ordens. Mas se ele decidiu te manter viva, mesmo quando podia ter feito o contrário…talvez ele veja algo em você que ninguém mais vê. Talvez ele ache que você merece mais do que os outros. Isso te torna especial, goste disso ou não.
Ele deu um passo para trás, se preparando para sair de vez.
── Se for por ele, você já venceu. Só não estrague isso.
Por fim, ele saiu, deixando apenas o silêncio como companhia. Jihye soltou um suspiro pesado, apoiando os cotovelos na mesa enquanto encarava a comida. Não queria pensar — queria um botão de pausa, um minuto de paz, mas seu cérebro parecia estar em looping. Tudo girava: o jogo, os outros, o líder misterioso, os segredos que pareciam se esconder atrás de cada máscara.
Era como se, a cada nova revelação, surgissem mais perguntas. E, no fundo, ela sabia... aquilo ainda estava longe de acabar.
{...}
A porta se abriu novamente, rangendo baixo, e quem entrou dessa vez foi a guarda com o símbolo do triângulo na máscara — a mesma que costumava guiar as jogadoras até o banho. Kang estava com a cabeça tombada para trás, os olhos perdidos no teto, afogada em um tédio quase sufocante. Chegou até a cogitar vasculhar a sala, procurar alguma pista… mas o medo de encontrar o que não queria era maior.
A guarda se aproximou em passos firmes, retirou com precisão a agulha do braço de Jihye e ficou ali, parada, segurando uma MP5 contra o peito.
── Levanta. Você já pode voltar com os outros.
── Finalmente… ── murmurou, soltando um meio suspiro enquanto se erguia, sentindo cada músculo reclamar do tempo parada.
A outra virou-se e caminhou até a porta. Esperou que a jogadora saísse primeiro e, então, a seguiu, praticamente a escoltando de volta ao dormitório.
Assim que desceu, os dois guardas abriram a porta só o bastante para que ela passasse. E no segundo em que entrou, Jihye parou no meio do caminho.
O ambiente estava pesado. Algumas pessoas tinham o olhar perdido, pareciam esgotadas. Outras… riam. Conversavam. Como se aquilo fosse uma vitória. Como se a morte dos outros fosse lucro.
Ela encarou aquilo por alguns segundos, tentando entender. Mas não fazia sentido. Não ali.
Felizes… por estarem vivos ou por estarem mais perto do dinheiro? Difícil saber. E, sinceramente? Ela não queria saber.
Kang atraiu olhares assim que entrou — era óbvio que a maioria achava que ela tinha morrido. Seus olhos logo buscaram os rostos familiares, e, quando encontrou seu grupo, viu o choque estampado neles... mas também alívio. Dae-ho, mesmo de longe, parecia ter chorado. Já In-ho... era difícil decifrar. Mas, se tivesse que apostar, diria que o homem teria um infarto se ela demorasse mais um minuto para voltar.
Ela sorriu, sentindo o coração disparar no peito, e finalmente deu o primeiro passo em direção ao seu grupo. Mas, antes que pudesse chegar a eles, foi cercada pelo 230 e o 124, que se aproximaram rápido, como sempre fazem quando sentem uma oportunidade de encher o saco.
── Olha só quem voltou... ── Thanos comentou com uma risadinha debochada. ── Achei que tinha batido as botas, flor.
── Pra sua tristeza, eu tô inteira. E melhor do que antes.
── Até parece que eu ficaria feliz com a sua morte.
── Ah, não? Porque eu vi muito bem você todo sorridente e fazendo piada quando entrei. Deve ter achado ótimo — quanto menos gente viva, mais grana, né?
Nam Gyu se adiantou, encarando Kang de cima a baixo com aquele sorriso nojento de sempre.
── Vai dizer que não rolou um trato aí? Tá na cara que, se fosse qualquer outro, já teria levado um tiro na testa. O que você fez? Hein?
── Vai ver que ela deu pros caras ── 230 soltou, batendo no ombro do amigo. ── Divide com a gente também. A gente até protege você nos jogos. Estou sendo legal, vai.
Ela deu um passo para trás, encarando os dois com puro desprezo. Balançou a cabeça, incrédula, cruzando os braços.
── Vocês são ridículos.
Ambos deram risada, e uma mulher de cabelos curtos e vários piercings no rosto, mesmo de longe, ergueu a voz:
── Deixem ela em paz, seus imbecis ── gritou, alto o bastante para chamar a atenção.
Foi então que In-ho se aproximou. Seus passos eram calmos, mas a expressão no rosto dizia o contrário: estava sério, fechado… estavam mexendo com o que era dele.
── Algum problema? ── perguntou, parando ao lado de Jihye.
── Fica na tua, velhote! ── Thanos retrucou, gesticulando como sempre, com aquele jeito espalhafatoso. ── Ninguém te chamou aqui.
Nam Gyu ria baixo, cruzando os braços, claramente se divertindo com a situação.
── Vocês não têm vergonha? ── 001 se pronunciou, franzindo a testa. ── Atacando uma mulher dessa forma?
── A gente só quer cuidar dela… ── 230 murmurou com um sorriso torto. ── Do jeito que vagabunda gosta.
── O que você disse? ── o mais velho rosnou, segurando Thanos pelo pescoço com uma força que ninguém esperava.
── Young-il, para! ── Kang exclamou, surpresa com a atitude dele.
Mas 001 a ignorou completamente. Os olhos dele ardiam em fúria, como se algo dentro dele tivesse finalmente rompido.
Foi então que 124 avançou, tentando acertá-lo com um golpe direto — rápido, mas previsível. In-ho se virou no mesmo instante e o derrubou com um único chute, seco e certeiro. O corpo de Nam Gyu caiu com um baque surdo no chão.
Thanos ainda tentava recuperar o fôlego quando o mais velho soltou seu pescoço. Mal teve tempo de se recompor; já partiu para cima de In-ho, mas o velho foi mais rápido. Ele se esquivou com facilidade e revidou com um soco firme no estômago, fazendo o outro cambalear para trás, gemendo de dor.
O silêncio que reinava no dormitório foi rompido por um som inesperado: aplausos. Um, dois, depois dezenas. Um coro de palmas ecoou entre as paredes frias, como se todos ali finalmente tivessem visto algo justo acontecer. Um ato de coragem em um lugar onde a humanidade parecia ter sido enterrada.
In-ho passou a mão pelos cabelos, afastando os fios desalinhados da testa, e deixou escapar um sorrisinho discreto, quase imperceptível — mas estava ali. E todos viram.
Thanos e Nam Gyu recuaram, humilhados e amedrontados, como cães que haviam levado uma surra. Nenhum deles ousou dizer mais uma palavra.
Com a fúria já domada nos olhos, In-ho virou-se para Jihye. Ela ainda parecia atônita, como se tivesse sido arrastada por uma tempestade.
Sem dizer nada, ele a envolveu em seus braços com um cuidado que ninguém ali imaginaria ser possível vindo dele — o homem sério, o mesmo que pouco falava e sempre observava de longe. Carregou-a até a cama com gentileza, afastando algumas cobertas.
E a acomodou ali, como se ela fosse algo precioso demais para tocar no chão novamente.
── Como você está? ── a voz dele soava de maneira suave, como se tivesse guardado aquilo por tempo demais.
── Hm… um pouco melhor do que antes. Mas… bem confusa.
── Confusa? Por quê?
Nesse instante, os outros começaram a se aproximar, sem dizer nada, apenas se juntando devagar. O 388 foi o primeiro a se sentar ao lado dela, puxando a irmã para um abraço apertado, como se só agora tivesse conseguido respirar aliviado.
Jihye sorriu fraco, retribuiu o abraço e soltou um suspiro pesado antes de responder à pergunta de In-ho.
── Não faz o menor sentido terem me ajudado… eles não têm médico aqui. Não tem ninguém que se importe com a nossa dor.
── Não mesmo ── o 456 se adiantou, com uma expressão amarga ── Eles deixam a gente sangrar até morrer. Você sabe disso.
── Tá, mas e daí? ── Sohyun rebateu de imediato ── O que importa é que você está aqui, com a gente. É isso que conta.
── Mas esse é o ponto, Sohyun ── Jihye disse, olhando ao redor. ── Eu não sou melhor do que ninguém aqui. E se fosse qualquer um de vocês… vocês já estariam mortos.
Fez-se um silêncio desconfortável. Então, a voz de In-ho voltou, mais baixa, mas carregada de curiosidade genuína:
── Eles disseram algo a você, Jihye?
── Disseram que o "chefe" se importava comigo… que eu estou viva por causa dele.
── É o líder deste lugar. ── Gi-Hun comentou, se aproximando mais ── Você viu a cara dele?
Ela balançou a cabeça, negativamente.
── Não… mas eu tentei. Tentei descobrir algo, falar com ele, sei lá. A única coisa é que… o lugar onde eu estava parecia ser a sala dele. Tinha um telão enorme e… eu vi vocês. No jogo.
Um silêncio pesado tomou conta do grupo novamente.
── Aquele desgraçado… ── O 456 cuspiu as palavras ── Ele fica lá, sentado, assistindo a gente morrer. Como se fosse um maldito espetáculo.
Jihye abaixou o olhar, os dedos se enroscando nos próprios joelhos. Aquilo tudo era doentio. E pior… ela parecia fazer parte agora.
── Talvez… a gente possa usar isso a nosso favor. Para acabar com os jogos de uma vez por todas.
── Tá dizendo que quer usar a minha irmã de isca? ── 388 rebateu, já se erguendo meio impulsivo.
── Não, não foi isso que eu quis dizer ── Gi-Hun engoliu seco, um pouco desconcertado ── Só… o fato de ele se importar com ela pode ser útil, entende?
── Eu acho que o Gi-Hun tá certo. ── 001 se pronunciou, sério ── Pode ser que, em algum momento, esse tal “chefe” se revele para ela.
Kang cruzou os braços e lançou um olhar direto para o mais velho.
── Me surpreende você concordar com isso… e nem ficar com ciúmes, Young-il.
── Eu sei separar as coisas quando necessário. ── A resposta veio firme, sem hesitação.
── Sabe, né? Mas... o que faria ele se importar comigo? ── Jihye falou baixo, como se estivesse pensando alto. ── Eu nem sei quem ele é. Nada disso faz sentido.
Ninguém respondeu de imediato. Os olhares se cruzaram, alguns baixos, outros inquietos, como se todos estivessem tentando encontrar sentido junto com ela.
Suyeon franziu um pouco a testa, pensativa, apoiando o cotovelo no joelho e o queixo na mão.
── Talvez... ele saiba quem você é. ── falou devagar, como se estivesse organizando as palavras antes de soltá-las.
002 deu uma risada curta, meio sem graça, meio tentando afastar a ideia.
── Ah, claro. Ele sabe de mim, mas nem eu mesma sei de mim. ── passou a mão pelo rosto, cansada. ── Parece que quanto mais eu penso, mais confuso tudo fica.
O irmão, ainda ao lado dela, puxou-a para mais perto, abraçando-a com força e carinho, como se isso bastasse para protegê-la do mundo.
── A gente tá junto, Jihye. Você não precisa entender tudo agora. ── disse, baixinho.
Ela assentiu com a cabeça, permitindo-se deitar a testa no ombro dele por alguns segundos. Quando levantou o rosto, cruzou o olhar com In-ho. Ele estava ali, parado, observando. Havia algo no jeito como ele a olhava — uma mistura de culpa e preocupação — que apertou o peito dela, mas ela desviou o olhar, engolindo a sensação como se não quisesse encarar aquilo.
Como se estivesse tentando convencer a si mesma de que era só coisa da cabeça.
── Que bom que você voltou, Jihye ── disse Jun-hee, com aquele jeitinho contido de sempre, os ombros meio encolhidos. ── Todos nós ficamos muito preocupados.
── E eu preocupada com vocês quando assisti ao jogo pelo telão ── ela respondeu, com um sorrisinho sincero. ── Ainda bem que conseguiram.
Seus olhos foram direto para Dae-ho, e ela arqueou uma sobrancelha, desconfiada, mas divertida:
── Marinheiro que joga Gonggi, é? ── riu, balançando a cabeça.
── Eu sempre joguei com você quando éramos crianças, esqueceu? ── ele rebateu, com um sorriso bobo no rosto. ── Foi assim que aprendi... e ganhei.
Ela riu de novo, dessa vez mais solta, enquanto todos ao redor pareciam respirar aliviados só de vê-la ali, sorrindo de verdade.
Uma senhorinha vinha se aproximando também, com passos calmos, mas firmes. Ao lado dela, seu filho — e mais algumas pessoas, todos parecendo meio inseguros de se aproximar de verdade. Kang percebeu o jeito cauteloso deles e tratou de quebrar o gelo com aquele tom debochado de sempre.
── Eu não mordo, ninguém aqui morde. Só o Young-il.
── Que isso, olha o que você está falando aí no meio de todo mundo ── ele respondeu, ajeitando a postura, sem saber se ria ou se se defendia.
── Ué, eu menti? Você me morde mesmo ── ela deu uma risadinha, fazendo os outros ao redor rirem também.
A mulher mais velha soltou um meio sorriso, daqueles cheios de ruguinhas no canto dos olhos, e os outros atrás dela também pareceram relaxar. Finalmente, deram alguns passos à frente.
── A mocinha está melhor? ── a senhora perguntou, com a voz gentil.
── Sim, bem melhor! Obrigada por perguntar ── Jihye respondeu, com um sorriso caloroso, visivelmente tocada pela preocupação.
O filho da senhora sorriu de leve também e soltou, num tom quase tímido:
── A gente ficou com medo... achamos que tinha morrido.
002 assentiu devagar, com os olhos mais brandos agora.
── Eu também tive medo. Mas estou aqui. E acho que isso já é uma pequena vitória.
── Se precisar de qualquer coisa, pode contar com a gente ── disse a jogadora 120, passando uma mão na outra, como quem tentava afastar o nervosismo.
── Obrigada ── respondeu Jihye com um sorriso gentil.
A movimentação dos guardas começou a chamar a atenção. Eles já estavam se posicionando e os avisos sobre a votação começaram a ecoar pelo espaço. As pessoas começaram a se afastar e a descer para o centro. No fim, restaram apenas Jihye e In-ho ali.
Eles foram os últimos a descer. A votação, diferente da outra vez, começaria do menor número para o maior. Isso tornava In-ho o primeiro a decidir.
Antes de se afastar, ele se inclinou levemente e deixou um selinho breve nos lábios de Jihye. Depois, ergueu o corpo com a postura firme de sempre e caminhou até o painel. Seus olhos percorreram o visor e, depois, os dois botões. Sem demonstrar qualquer hesitação, pressionou o "x".
A mulher sorriu, mesmo à distância. Quando chegou sua vez, caminhou até os guardas com passos calmos. Não pensou. Apertou o “x” e seguiu direto para o lado de 001, sem olhar para trás.
A votação continuou e, como era de se esperar, a maioria inclinava-se para o círculo. E então, assim como o 456 fez da outra vez, In-ho tomou a frente. Tentava convencê-los a desistir do jogo, a voltarem para casa. Suas palavras eram firmes, seu olhar decidido — e foi nesse momento que algo dentro dela vacilou.
Seria tudo fingimento? Ele escondia alguma coisa? Ou era apenas mais um entre tantos querendo sobreviver? No fundo, ela sabia a resposta. Sabia, mas se recusava a encará-la de frente.
Os guardas os contiveram de imediato — ninguém podia interferir na votação. Não havia discussão, nem apelo. Apenas restava aceitar. E, no fim, mais uma vez, a maioria escolheu o círculo.
Mesmo com In-ho, o irmão dela, e as amigas tendo mudado seus votos, outras pessoas que antes queriam ir embora também haviam mudado de ideia. Além disso, havia os que morreram. Cada ausência pesava, tornando tudo mais difícil.
Kang saiu dali frustrada, os ombros tensos e o olhar vazio. Subiu em silêncio de volta para sua cama, sem dizer nada.
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𑁍̸ֺׅDemorei, mas cheguei, hein.
𑁍̸ֺׅSe acalmem, que ainda não acabou. Segue para o próximo capítulo! É, demorei, mas cheguei com dois para compensar.
𑁍̸ֺׅEu espero de verdade que vocês gostem. Agradeço a compreensão pela espera e me perdoem qualquer erro ou algo que eu tenha deixado passar batido.
𑁍̸ֺׅVotem, comentem, surtem e deem risadas aqui.
𑁍̸ֺׅÉ isso, meus amores! Bora para o próximo (logo abaixo desse, hehe)
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