
𝟎𝟎𝟒 - 𝐎𝗅𝗁𝗈𝗌 𝗇𝗈𝗌 𝗈𝗅𝗁𝗈𝗌
JIHYE permaneceu imóvel, como se seus pés estivessem presos ao chão. O ambiente ao seu redor parecia distante e abafado, como se ela estivesse submersa em um oceano de incertezas. Seu peito subia e descia devagar, mas sua mente estava em caos.
A votação havia se encerrado. A decisão estava tomada.
Os que votaram no círculo comemoravam, trocando sorrisos e palavras de alívio, como se tivessem acabado de ganhar algo. Já os que votaram para sair estavam visivelmente tensos, olhando ao redor como se ainda esperassem uma reviravolta. Mãos trêmulas e expressões carregadas de arrependimento.
Ela não sabia exatamente o que sentia. Talvez fosse um misto de indignação e desamparo, uma raiva silenciosa queimando sob sua pele. Ela queria entender… Como podiam estar tão felizes em continuar? Como podiam ser tão cegos?
O som metálico dos passos dos guardas ecoava pelo ambiente, um lembrete cruel de que nada daquilo era um jogo de verdade. Não era entretenimento, não era uma aposta. Era uma sentença de morte disfarçada de oportunidade.
Seu olhar vagou pela multidão, e seus dedos se fecharam em punhos ao ver alguns rostos familiares entre os que escolheram ficar. O nó em sua garganta apertou.
Eles realmente acreditavam que sairiam vivos dali?
Jihye viu quando seu irmão e as meninas começaram a se aproximar. Pelo jeito que olhavam para ela, dava para ver que iam tentar se explicar. Mas ela não queria ouvir. Não agora.
Não era só por causa da votação, embora aquilo já fosse o suficiente para deixá-la enjoada. O que realmente fazia seu peito apertar era ele. O homem que ela amava. O mesmo que desapareceu sem deixar vestígios. Agora estava ali, bem na sua frente.
E ele escolheu ficar.
O choque foi imediato. O coração dela disparou, e por um momento, parecia que o ar ao redor tinha sumido. Ela queria acreditar que havia uma explicação, que havia um motivo para ele estar ali e fazer essa escolha. Mas, ao mesmo tempo, sabia que nada que ele dissesse mudaria o que sentia agora.
O barulho ao redor foi sumindo, ficando distante, como se não fizesse mais parte daquela realidade. Tudo que restava era a dor e a confusão tomando conta dela.
Antes que Dae-ho dissesse qualquer coisa, Jihye simplesmente virou as costas e se afastou. Não queria ouvir desculpas, explicações ou qualquer tentativa de suavizar o que havia acabado de acontecer.
Ela caminhou até um canto mais isolado, longe dos olhares curiosos e dos sussurros ao redor. Sentou-se no chão, puxando os joelhos contra o peito, com as mãos cobrindo a cabeça como se quisesse bloquear tudo. O coração ainda estava acelerado, e a mente girava sem parar.
Dae-ho e as meninas ficaram onde estavam. Talvez tenham entendido que ela precisava de um tempo, ou talvez só não tivessem coragem de ir até ela agora.
Mas então, os passos de outra pessoa se aproximaram.
Eles eram firmes, seguros, mas hesitantes. Como se a pessoa soubesse que estava entrando em um território delicado.
Jihye ergueu o olhar, e ali estava ele.
Hwang In-ho.
Por um instante, ele apenas a observou, e ela o encarou de volta. Não sabia o que ele queria, o que esperava, ou se sequer tinha algo a dizer.
Mas, ainda assim, ele foi até ela.
── Nós precisamos conversar...
Ela riu, um som seco e descrente escapando de seus lábios.
── Conversar? ── repetiu, virando o rosto para encará-lo. Seus olhos brilhavam com uma mistura de incredulidade e raiva. ── Agora você quer conversar? Depois de dois anos?
In-ho não respondeu de imediato. Apenas se abaixou e sentou-se ao lado dela, mantendo uma distância segura, mas perto o suficiente para que ela sentisse sua presença.
── Talvez você não acredite em mim ── ele começou, com um tom hesitante. ── Mas eu nunca deixei de pensar em você esse tempo todo.
Jihye cruzou os braços, desviando o olhar, como se a simples ideia daquelas palavras fosse uma afronta.
── Eu lutava contra a vontade de ir até você todos os dias ── ele continuou, soltando um suspiro pesado enquanto fitava o teto.
Ela soltou um riso nasalado, balançando a cabeça em negação. Fingir que aquilo não a afetava era mais fácil do que admitir o aperto no peito.
── Se queria tanto me ver, por que não foi? ── sua voz soou mais baixa, mais amarga.
Sem esperar uma resposta, enfiou a mão no bolso e puxou seu livrinho surrado. De dentro dele, retirou um cigarro amassado e um isqueiro. Acendeu com calma, como se aquilo pudesse estabilizar as emoções à flor da pele.
In-ho a observou atentamente. Não disse nada de imediato, mas sua expressão endureceu. A mulher à sua frente não parecia a mesma que ele havia deixado para trás.
── Eu não sabia que você fumava ── ele comentou, a voz soando estranha, como se aquilo o pegasse de surpresa.
Ela deu de ombros, levando o cigarro aos lábios e soltando a primeira tragada antes de encará-lo diretamente.
── Eu não fumava quando te conheci.
O silêncio entre os dois durou pouco. Jihye estreitou os olhos, observando-o com mais atenção antes de inclinar a cabeça para o lado.
── E você? ── soltou a fumaça devagar. ── O que diabos está fazendo aqui, hein? Hwang In-ho. Você não era rico?
Ele olhou ao redor, a postura imediatamente ficando mais rígida. Jihye percebeu a mudança, e isso só atiçou ainda mais sua curiosidade. Antes que pudesse pressioná-lo, In-ho tomou o cigarro de sua mão de maneira brusca, apagando-o e amassando-o entre os dedos.
Ela arregalou os olhos, surpresa com o gesto, mas ele não pareceu se importar. Apenas olhou para ela com seriedade, a voz mais baixa.
── Me chame de Young-il aqui ── disse. ── Por favor.
── Young-il? ── ela perguntou, o olhar desconfiado. ── O que você está escondendo?
── Nada, é só que... ── ele fez uma pausa, como se tentasse encontrar as palavras certas. ── Eu não confio nesse lugar, nem nas pessoas por trás disso. Quando liguei para participar dos jogos, usei esse nome por precaução. Então, por aqui, sou Young-il.
Ela cruzou os braços, o olhar cético fixo nele, enquanto franzia o cenho e balançava a cabeça em compreensão, mas com uma desconfiança clara.
── Então, Young-il... ── começou ela, o tom debochado evidente. ── Vamos começar com você me explicando por que sumiu sem ao menos dar um sinal de vida e o que está fazendo aqui. O seu irmão tem me rondado, fazendo perguntas sobre você. E eu me lembro que, na mesma época em que nós estávamos nos encontrando, ele já estava te procurando. Então, é hora de se explicar.
── Bom, eu nunca te contei sobre mim, então talvez seja a hora de você saber. ── Ele a encarou, os olhos fixos nela. ── Quando meu pai morreu, eu decidi que precisava de um tempo longe, um tempo só para mim. Mas a minha mãe e o Jun-ho nunca entenderam isso direito. Desde então, ele sempre me procurou. E, na verdade, ele me encontrou naquela época. Foi aí que eu soube que nossa mãe estava muito doente e precisava de tratamento.
── Tá, mas ele ficou sumido por alguns dias e depois foi encontrado inconsciente, em coma. ── Jihye ainda estava desconfiada, com o cenho franzido.
── O quê? Eu não... não sabia disso. Como você sabe? ── Ele perguntou, visivelmente surpreso.
── Uma das minhas melhores amigas é ex dele. Inclusive, ele terminou com ela quando foi te procurar. ── Ela o olhou diretamente nos olhos. ── Mas, bom, você disse que sua mãe precisa de tratamento. Por que não pagou?
── Quando eu te conheci, já estava perdendo tudo o que tinha. Fiz muitas dívidas e apostas, e por isso vim parar aqui: para tentar quitá-las e ajudar a minha mãe.
Jihye suspirou, passando a mão pelos cabelos, e, dessa vez, algo dentro dela suavizou. Ela podia entender o que ele estava dizendo, embora ainda houvesse uma mistura de sentimentos.
── E por que será que seu irmão estava me fazendo um monte de perguntas? ── ela perguntou, com a expressão mais séria agora.
── Talvez ele quisesse saber sobre você, sobre a gente... Porque, quando eu o vi, falei da mulher que eu amava... ── a voz dele foi ficando mais suave enquanto falava, como se cada palavra pesasse mais do que ele gostaria de admitir.
Kang não conseguiu segurar o sorriso que se formou em seus lábios. Seus olhos brilharam, carregando uma mistura de surpresa e euforia, como uma criança que acaba de ganhar seu doce favorito. Então, ele a amava?
Caramba.
Era muita coisa para processar de uma vez. Seu coração parecia correr em disparada, enquanto sua mente tentava acompanhar. Algumas das emoções que sentia naquele momento eram confusas; outras, pesadas demais para ignorar. Mas aquela, em especial, trouxe um alívio inesperado, como se, por um instante, tudo ao redor tivesse ficado um pouco mais leve.
── Olha… ── ela tocou a mão dele, o polegar roçando de leve contra sua pele. ── Eu fico feliz por te ver de novo… apesar das circunstâncias e do fato de eu querer te matar.
Havia um humor ácido em sua voz, mas a sinceridade estava ali, cravada em cada palavra.
In-ho deixou escapar um riso baixo, um som raro vindo dele. Sem pensar muito, entrelaçou seus dedos aos dela, como se esse simples gesto pudesse fazê-la acreditar nele de novo. Seu olhar percorreu o rosto da mais nova, tentando gravar cada detalhe, como se temesse que ela desaparecesse de novo.
Ele podia tentar se enganar, dizer que tudo aquilo era um erro, que deveria manter distância. Mas, no fim, a verdade era simples e inevitável: Jihye era sua fraqueza, sua obsessão. A única coisa que, por mais que tentasse, nunca conseguiu – e nunca conseguiria – deixar para trás.
── Você ainda não me contou o que te trouxe até aqui... ── ele perguntou, com a expressão curiosa. ── Quando nos conhecemos, sua vida parecia... boa. O que aconteceu?
Ela deu um suspiro longo, a expressão mais cansada do que o normal.
── É... eu tinha uma vida boa. ── Jihye falou, olhando para o nada. ── Mas a minha doença começou a destruir tudo.
── Doença? ── In-ho franziu o cenho. ── Você nunca me contou sobre isso.
Ela balançou a cabeça lentamente, como se fosse algo difícil de engolir até para ela mesma.
── Eu não sabia. Não sabia até pouco depois de você ter ido embora. Descobri na época, e foi aí que tudo começou a desmoronar.
O silêncio se instalou por um momento enquanto ele processava o que ela acabara de dizer.
── É grave? ── perguntou, mais preocupado do que queria demonstrar.
Jihye respirou fundo e, por um instante, pareceu que ela estava se preparando para algo mais pesado.
── Já ouviu falar de porfiria aguda? ── ela disse, a voz baixinha, como se ficasse mais leve ao falar da doença. ── Eu nunca tinha ouvido até ser diagnosticada. E, bom... basicamente, estou morrendo, mas isso não é o pior. ── Ela parou, tentando juntar coragem para continuar. ── Eu tenho dívidas com agiotas... que, para ser bem sincera, já estão querendo me matar. E também com o banco. Tudo isso me fez parar de trabalhar e até deixar a faculdade. O pior é que meu irmão acabou se endividando por minha causa, e agora ele está aqui também.
Ele a olhou; os olhos dela brilhavam com dor. 001 sentia o peso daquelas palavras, mas, ao mesmo tempo, queria muito poder mudar a situação dela.
── Eu não sei o que dizer... ── murmurou ele, claramente atingido pelas palavras dela. ── Como a doença afeta você?
Kang deu um suspiro, fechando os olhos por um momento, como se aquilo fosse uma ferida ainda aberta.
── Dores fortes, principalmente no abdômen. ── Ela fez uma pausa, dando um pequeno sorriso amargo. ── Convulsões, náuseas... o corpo fica fraco. E a mente... muda, sabe? Às vezes eu nem reconheço a minha própria mente. Além disso, isso afeta o meu sistema imunológico. Vai piorando com o tempo... ── Ela olhou para ele, os olhos um pouco marejados. ── Está ficando cada vez mais difícil.
In-ho ficou em silêncio por um bom tempo. Ele sentia que a realidade estava pesando sobre ele. As palavras dela haviam se cravado nele de uma forma que ele não conseguia entender completamente, mas, ao mesmo tempo, queria acreditar que poderia fazer algo, qualquer coisa, para mudar o que estava acontecendo.
Mas ele sabia que, talvez, fosse tarde demais para isso.
O que ele podia fazer era mudar seu voto de agora em diante. Mas sabia que só mudar nas próximas votações poderia não ser suficiente para tirá-la dos jogos. Ele queria muito que ela saísse, mas não podia confiar que uma simples mudança fosse dar a ela a chance que precisava. Por isso, começou a pensar em alternativas mais drásticas. Ele não podia simplesmente esperar o resultado da votação e torcer para que tudo desse certo, também não podia simplesmente tomar a decisão e se deixar ser descoberto. Se fosse necessário, ele poderia eliminar aqueles que votaram contra o "X" e garantir que os outros jogadores não interferissem nos planos dele.
Ele estava disposto a ir até o fim para que a votação do "X" ganhasse, significando que encerraria aquela edição de uma vez por todas. Não importava o que fosse necessário. Ele sabia que precisava tomar o controle da situação e estava disposto a fazer o que fosse preciso para que Jihye saísse daquele lugar e recebesse o tratamento de que tanto precisava.
── O que mais essa doença faz você sentir? ── ele perguntou, ainda com a preocupação transparecendo na voz.
── Bom, tem muitas outras coisas, mas eu contei o que mais lembro. As mais frequentes, pelo menos. ── A mulher respondeu, tentando manter a calma.
Sem pensar, ele a puxou para um abraço apertado. A cabeça dela descansou sobre seu peito enquanto ele passava as mãos pelos cabelos dela, tentando acalmá-la.
Era surreal tê-la assim novamente. Nos braços dele. E provavelmente também era surreal para ela estar ali com ele depois de tanto tempo e tudo o que aconteceu.
── Eu fiquei curiosa... ── ela murmurou, quebrando o silêncio ── Você viu que o jogador 456 disse que já participou desses jogos? No primeiro jogo, ele sabia exatamente o que acontecia. De qualquer forma, salvou todos que ainda estão aqui.
Front Man olhou para o jogador 456 à distância. Ele estava cercado por várias pessoas, respondendo perguntas, com as amigas de Jihye e Dae-ho também presentes.
── Vamos falar com ele, então! ── ele disse com um tom quase casual, mas seu olhar estava distante. Ele a ajudou a se levantar, mas, por dentro, sua mente já estava em outro lugar.
{...}
Seong Gi-Hun achava que as coisas seriam como da outra vez, que os jogos seguiriam o mesmo padrão. Mas não era bem assim. In-ho havia mudado tudo intencionalmente, desde a quantidade de dias até os jogos, justamente porque sabia que Gi-Hun voltaria. Mas agora, os planos dele eram outros. O jogo não importava mais. Ele só queria uma coisa: tirar Jihye dali. Depois disso, retomaria tudo outra vez.
── Espera ── ela parou, segurando o braço dele com firmeza.
── O que foi?
── A minha amiga, ex do seu irmão, também está aqui. Ela sabe quem você é ── ela expressou, com o tom de voz tenso. ── Eu vou falar com ela, pedir para te chamar de Young-il, só por precaução.
O mais velho ficou em silêncio por um momento, refletindo sobre as palavras dela, e então, sem dizer mais nada, depositou um beijo no topo da cabeça da jovem.
── Eu já volto!
Ele assentiu, e Jihye se aproximou de Suyeon, tocando suavemente no ombro dela.
── Preciso conversar com você ── sussurrou perto do ouvido dela, com a voz baixa, quase urgente.
Suyeon a olhou com uma sobrancelha levantada, desconfiada, mas não questionou. Vendo a seriedade no rosto de Jihye, ela a seguiu sem fazer mais perguntas. A amiga a guiou até um canto mais afastado, onde Hwang In-ho, ou melhor, Young-il, a aguardava.
── O que foi, chata? Se for sobre eu ter votado no círculo, olha só...
── Suyeon! ── interrompeu, sua voz firme, deixando claro que não queria ouvir mais nada.
Suyeon revirou os olhos, mas quando seus olhos encontraram o homem à sua frente, ela parou. O reconhecimento foi imediato.
── Não pode ser... ── ela se virou para Jihye, confusa e claramente surpresa.
── Presta atenção, você não pode chamá-lo pelo nome aqui ── falou, olhando-a sério. ── Chame-o de jogador 001 ou Young-il.
── Young-il? Por quê?
── Porque foi o nome que usei quando liguei para entrar nos jogos, e eu pretendo manter essa identidade aqui ── Hwang explicou, tomando a frente e mantendo a calma.
Suyeon deu de ombros, parecendo não dar muita importância à explicação, embora ainda estivesse um pouco desconfiada.
── Isso é estranho, mas não é da minha conta ── ela respondeu, com um sorriso leve, mas o olhar ainda cético. ── Então, tudo bem! ── olhou para ele e, então, com um tom mais suave, acrescentou ── Mas, pela Jihye, não por você.
── E sobre a votação... ── Jihye interveio, com uma leve pressão na voz. ── Depois, a gente fala.
A conversa foi encerrada por ela e, sem mais palavras, os três seguiram em direção ao grupo onde o jogador 456 estava, cercado por outros participantes. Front Man avançou entre os jogadores, passando por eles com um ar calmo e calculista até alcançar Gi-Hun, que ainda estava conversando.
── Olha, eu confesso que cheguei a considerar a ideia de votar para ir embora daqui ── ele começou, com um tom pensativo. ── Mas aí eu ouvi você dizendo que já passou por todos os jogos e fiquei pensando: talvez ainda tenha uma chance para todos nós. Acredito que a maioria de vocês também pensou assim, certo? ── Ele olhou ao redor, direcionando seu olhar para os outros jogadores, que começaram a acenar com a cabeça, concordando com o que ele dizia. ── Se você puder nos ajudar, podemos passar por mais um jogo e depois finalmente ir para casa.
Jihye também passou entre os jogadores e se aproximou, chegando perto dos mais velhos. Ela parecia animada, quase empolgada.
── Sabe o que eu achei mais interessante? ── começou ela, dando um sorriso ao se lembrar da cena. ── Quando o jogador 456 colocou a mão sobre a boca assim ── ela levantou a mão e cobriu a boca, imitando o movimento de Gi-Hun. ── E começou a gritar: "PAROU!"
Ela fez a imitação com perfeição, com o irmão, Dae-ho, ao seu lado, fazendo o mesmo.
── Sério, foi do caralho!
── Foi mesmo, virei fã! ── Dae-ho completou com um sorriso largo, dando uma leve risada.
001, que estava ouvindo tudo com atenção, ergueu a sobrancelha e se aproximou ainda mais de Gi-Hun.
── Então... ── ele começou, com um tom mais direto. ── Qual será o próximo jogo?
O jogador 456, com o olhar desconfiado, analisou todos ao redor antes de fixar seus olhos em 001. Ele suspirou fundo, como se estivesse pesando suas palavras, e então finalmente falou:
── Colmeia de açúcar!
── Colmeia de açúcar? ── o jogador 390 repetiu em voz baixa, claramente tentando entender a informação.
Gi-Hun assentiu, olhando para o grupo que agora estava mais atento.
── Eles nos dão quatro opções para escolhermos. O triângulo é o mais fácil, na verdade ── ele fez uma pausa, tentando simplificar. ── Tem que destacar a figura do doce sem quebrar, usando uma agulha.
Sohyun, com os olhos brilhando de curiosidade, perguntou:
── E qual é o mais difícil?
0 456 não hesitou em responder, ainda olhando diretamente para ela.
── É o guarda-chuva.
A reação de todos foi quase instantânea. In-ho, com uma expressão divertida, riu baixo e comentou:
── Nossa, então quem escolheu o guarda-chuva deve ter se ferrado bastante, né?
Seong Gi-Hun permaneceu em silêncio por um momento, seus olhos fixos em In-ho, com uma expressão mais séria agora. A atmosfera ao redor deles parecia ter mudado instantaneamente, e a tensão aumentava à medida que o foco se voltava para o homem à frente.
── Você escolheu o guarda-chuva, né? ── Jihye comentou, com os braços cruzados.
Antes que Gi-Hun pudesse responder, as portas se abriram novamente, atraindo a atenção de todos. Os guardas entraram, e mais uma vez, o líder deles avançou para o centro da sala.
── Jogadores! ── sua voz cortou o ambiente, imediatamente chamando a atenção de todos. ── Tenho um anúncio importante.
Todos se calaram, focando no que ele iria dizer.
── Diferente das edições anteriores, esta terá um total de treze jogos, ou seja, serão treze dias aqui. Claro, para os que conseguirem passar das fases e optarem por continuar nas votações. ── Ele fez uma pausa, observando as reações.
Treze dias... Jihye sentiu um peso se formar no peito. Ela sabia que não tinha esse tempo. Seu estado de saúde não permitiria. Mesmo que tentasse, as chances eram mínimas. Ela trocou um olhar rápido com In-ho, seu pensamento cheio de dúvidas.
O líder dos guardas seguiu, sem dar tempo para questionamentos.
── Com a decisão de aumentar o número de jogos e a duração do tempo, vocês também terão direito a um banho após as refeições. Mas o uniforme não será trocado. Estaremos entregando o alimento agora, junto com um pequeno kit de higiene, contendo o básico para cada um. Por favor, formem filas para receber.
As filas começaram a se formar, e In-ho, com um braço ao redor da cintura de Jihye, a guiou até uma delas. O irmão dela observou a cena de longe, mas preferiu não questionar naquele momento.
Kang ficou posicionada à frente de 001, com as mãos dele ainda firmemente em sua cintura. Ela sorriu de forma ladina, aproveitando a proximidade, e se encostou contra o corpo dele de maneira proposital.
── Quer me dizer alguma coisa, hm? ── ele se curvou ligeiramente, sussurrando em seu ouvido com um tom baixo e provocador.
Jihye mordeu levemente o lábio inferior, sentindo um arrepio percorrer seu corpo. Ela passou a mão pelos próprios cabelos, como se estivesse apenas brincando, mas com um toque de malícia.
── Eu? Não! Mas se você entendeu alguma coisa, então talvez seja a sua mente, fofinho. ── ela respondeu, com um sorriso travesso no rosto.
Ele balançou a cabeça com um meio sorriso, apertando a cintura dela com mais intensidade.
Quando finalmente chegou a vez de Jihye, ela pegou a pequena marmita e o kit de higiene, ficando à espera de In-ho.
── Imagina passar treze dias sem banho aqui? Eca! ── ela comentou, começando a caminhar ao lado dele em direção às camas. ── Pelo menos disponibilizaram o básico.
── Ainda bem! ── ele respondeu, seguindo-a.
Os dois se sentaram em uma das camas do andar superior. Jihye colocou os pés sobre o colchão e ficou ali, imóvel, observando a comida por alguns instantes, como se não soubesse por onde começar.
── O que foi? ── ele perguntou, notando sua hesitação.
── Eu não estou com fome. ── ela murmurou, afastando o olhar da marmita.
── Mas você precisa comer para estar forte para o próximo jogo. ── In-ho insistiu, tentando convencê-la.
── Essa comida está me deixando meio enjoada, eu não quero. ── respondeu, franzindo a testa, claramente sem vontade de comer.
── Você quer sim! ── ele disse, pegando a marmita e começando a empurrar um pedaço para sua boca, mesmo que ela relutasse.
Ela hesitou por um momento, olhando para ele, mas logo cedeu, tomando um pequeno pedaço, sem mais protestos.
── Sabia que eu ainda quero bater na sua cara? ── Jihye disse, após mastigar o primeiro pedaço, mantendo os olhos fixos em In-ho.
── Você sempre foi meio... ── ele começou, tentando encontrar as palavras certas.
── Meio o quê? ── ela interrompeu, cruzando os braços e encarando-o com uma expressão séria. ── Você merece levar uma surra depois de tudo o que fez. E não pense que eu vou esquecer tão cedo... Na verdade, eu não vou esquecer nunca. ── Ela finalizou com um sorriso, como se o que acabara de dizer fosse a coisa mais normal do mundo.
── Você é meio doida!
── Eu sou doida mesmo! ── Jihye respondeu, puxando o canivete do bolso e colocando-o contra a garganta dele. ── Claramente, rasgaria sua garganta antes de você ir embora outra vez.
Front Man permaneceu imóvel por um momento, o olhar fixo entre ela e a lâmina afiada que a mulher segurava. Mas, após um breve silêncio, ele lentamente abaixou a mão dela, liberando seu pescoço, e então soltou uma risada baixa, quase desdenhosa.
── Será mesmo que você faria isso, hm? ── Ele questionou, ainda com um sorriso de canto, enquanto colocava mais comida na boca dela.
002 deu uma risada abafada e desconfiada antes de voltar a mastigar a comida.
── E você faria o que se eu fosse embora? ── perguntou, ainda com um sorriso no rosto, mas com uma curiosidade clara nos olhos.
── Primeiro, eu não iria deixar você ir, jamais! ── respondeu com firmeza, como se fosse óbvio.
── Ah, é assim?
── Você é minha, Jihye! ── A voz dele saiu grave, carregada de uma intensidade inusitada, e o olhar profundo dele a fixou de maneira possessiva.
── Hm, então tá bom, Young-il! ── respondeu com um tom debochado.
In-ho balançou a cabeça, rindo baixinho, antes de continuar alimentando-a, sem se importar com a atitude dela. Ele parecia se divertir com a situação, mas seu olhar ainda carregava uma leve seriedade.
{...}
Os guardas retornaram mais uma vez, mas algo estava diferente. O tempo parecia ter se esticado, mas era difícil calcular quanto exatamente havia se passado. Jihye, porém, sentia que a noite já estava caindo. Ela estava em conversa com Jun-hee e as amigas, tentando afastar um pouco o pensamento do homem que, com certeza, não tirava os olhos dela.
── Jogadores! É hora do banho. Peguem seus kits de higiene e saiam em grupos organizados. As mulheres de um lado, os homens do outro.
Jihye pegou o pequeno kit e se juntou às amigas, ajudando a jogadora 222, que mancava um pouco ao caminhar. O grupo era pequeno, e entre elas havia também uma senhorinha de cabelos grisalhos e expressão gentil.
Ao chegarem ao banheiro, uma guarda com a máscara de triângulo se posicionou na porta e disse, firme:
── Vocês têm cinco minutos.
Em seguida, retirou-se, ficando do lado de fora para aguardar.
── Só cinco minutos? ── 002 fez um biquinho de descontentamento, segurando a toalha antes de entrar em uma das cabines.
Assim que abriu o chuveiro, sentiu um arrepio percorrer seu corpo. A água não era quente, mas, pelo menos, não estava absurdamente gelada. Suspirou, deixando o cansaço se dissolver, mesmo que por pouco tempo.
Ela se lavou o mais rápido que conseguiu, passando o sabonete pelo corpo apressadamente. O cheiro não era dos melhores, mas era melhor do que nada. No ambiente, o som da água caindo se misturava com as vozes das jogadoras. Algumas conversavam baixo, outras apenas tentavam aproveitar o raro momento de privacidade.
── Não acredito que temos que colocar a mesma roupa imunda depois disso. ── Sohyun resmungou do lado de fora.
── Pelo menos não vamos dormir fedendo a suor. ── Jihye rebateu, terminando de enxaguar o corpo antes de fechar o chuveiro.
Ela se secou rapidamente, vestindo o uniforme ainda úmida. A sensação era incômoda, o tecido grudando contra a pele, mas não havia escolha. Quando todas terminaram, a porta foi aberta novamente, e a guarda fez um gesto para que saíssem sem demora.
O caminho de volta foi silencioso, o cansaço pesando sobre todas. O banho, mesmo curto, trouxe um alívio momentâneo, mas a realidade daquele lugar ainda era sufocante.
Assim que entrou no dormitório, a mulher passou os dedos pelos cabelos úmidos e olhou ao redor.
E, como esperado, In-h também já estava de volta, e seus olhos estavam cravados nela.
── Já tomou banho? ── perguntou, sentando-se ao lado dele.
── Já, sim. ── Ele respondeu, sem perder tempo em puxá-la para seu colo.
Ela não protestou, se aconchegando ali com naturalidade, os braços envolvendo o pescoço dele. Seus olhares se encontraram e, por um instante, o barulho ao redor pareceu distante.
── E aí, sobreviveu ao banho frio? ── 001 perguntou com um sorrisinho de canto.
── Nem me fale. ── Ela bufou. ── Cinco minutos e ainda tive que colocar essa roupa nojenta de novo.
── Bem-vinda ao que parece ser o inferno.
── Você, pelo menos, deve ter se secado direito, né? Aposto que a ala masculina é mais tranquila.
── Se por "mais tranquila" você quer dizer um monte de caras se empurrando e falando bobagens, então sim, foi bem pacífico.
Jihye riu, apoiando o queixo no ombro dele.
── Aposto que você ficou me esperando voltar.
── E se eu disser que sim?
── Hm... ── Ela fingiu pensar, mordendo o lábio. ── Eu diria que você está bem obcecado por mim, Young-il.
Ele apertou a cintura dela em resposta, estreitando os olhos.
── E você adora isso.
Ela não negou. Apenas sorriu, traçando círculos com os dedos na nuca dele.
── Só acho justo. Eu sou viciante mesmo.
Ele soltou um riso abafado, segurando o rosto dela com uma das mãos.
── Metida.
── Convencida. ── Ela corrigiu. ── Com motivos, aliás.
Os olhos dele analisaram os dela por alguns segundos antes de responder:
── Isso eu não posso negar.
As pessoas iam e vinham, algumas parecendo mais revigoradas, outras ainda com expressão cansada. Jihye observava o movimento ao redor, notando que, aos poucos, todos estavam retornando às suas camas. Pelo menos parecia que todo mundo havia conseguido se higienizar — ou, pelo menos, tentado.
── Pelo menos agora está todo mundo menos fedido. ── Murmurou para si mesma, cruzando os braços.
Olhando ao redor, percebeu que o clima no dormitório parecia um pouco mais leve, apesar de a tensão ainda pairar no ar. Talvez um banho — por mais curto e desconfortável que fosse — tivesse ajudado a dar um mínimo de sensação de normalidade naquele inferno.
── As luzes irão se apagar em cinco minutos. ── A voz mecânica ecoou pelo dormitório, trazendo um breve silêncio antes que o murmúrio dos jogadores voltasse a preencher o ambiente.
Jihye aproveitou para sair do colo de In-ho e se deitar em sua cama, mas, antes que ele pudesse sequer pensar em ir para a dele, puxou-o pelo pulso.
── Você vai dormir aqui comigo e eu não quero saber.
── Você tem certeza? A cama é pequena, não vai caber nós dois direito.
── Melhor ainda. Assim eu me esfrego em você a noite todinha. ── Ela lançou um olhar malicioso, os lábios curvados em um sorriso travesso.
Ele riu, passando a mão no rosto como se tentasse manter o controle da situação, mas, no fim, apenas balançou a cabeça e suspirou.
── Depois não reclama das consequências.
── Eu nunca reclamo.
O homem se deitou ao lado dela e, como esperado, o espaço era pequeno demais. Os corpos ficaram colados imediatamente, o calor dele irradiando contra a pele dela.
Jihye se virou na cama, ficando de frente para In-ho. O dormitório estava mergulhado na escuridão, mas ela ainda conseguia enxergar o brilho sutil dos olhos dele a observá-la. Um sorriso ladino se formou em seus lábios antes que ela começasse a distribuir pequenos selinhos nos lábios dele, lentos e provocantes.
Front Man arfou contra a boca dela, apertando a cintura da mais nova com firmeza, trazendo-a ainda mais para perto.
── Tá brincando com fogo, Kang.
── E se eu quiser me queimar?
A provocação foi o suficiente para que ele tomasse o controle da situação. Em um movimento rápido, In-ho a virou na cama, ficando por cima dela, sustentando o peso nos braços para não esmagá-la.
Ela sentiu a respiração falhar por um segundo, mas logo deslizou as mãos pelo peitoral dele, os dedos traçando caminhos lentos e exploratórios por cima do uniforme. Ela voltou a beijá-lo, agora com mais intensidade, mordiscando o lábio inferior antes de aprofundar o contato.
001 soltou um suspiro pesado, os dedos deslizando pela lateral do corpo dela, explorando cada curva com calma, sem pressa. O calor entre eles aumentava a cada segundo, os corpos pressionados um contra o outro, e as respirações pesadas se misturavam.
As mãos de Jihye subiram para a nuca dele, puxando-o ainda mais para perto, com os dedos entrelaçados nos fios de cabelo. Ele desceu os beijos para o pescoço dela, deixando um rastro de arrepios por onde passava, sugando e mordiscando a pele sensível.
Ela gemeu baixo, apertando os dedos contra os ombros dele.
── Se continuar assim, a culpa vai ser toda sua. ── A voz dele saiu rouca contra a pele dela, com o tom carregado de desejo contido.
A mais nova sorriu, deslizando as unhas de leve pela nuca dele antes de puxá-lo para outro beijo, ainda mais intenso que os anteriores. Eles sabiam que precisavam parar antes que perdessem completamente o controle, mas, naquele momento, tudo o que importava era o toque, o calor e a forma como os corpos se encaixavam tão perfeitamente.
Por fim, Jihye afastou os lábios dos dele, mas sem se afastar por completo. Sua boca deslizou até o lóbulo da orelha de In-ho, onde ela roçou os dentes de leve antes de sussurrar:
── Ainda é muito cedo para você matar a saudade do meu corpo… Vamos dormir um pouco.
O homem soltou um suspiro longo, apertando a cintura dela com um pouco de frustração. Ele a encarou por alguns segundos no escuro, como se avaliasse se realmente aceitaria aquilo; então, fechou os olhos por um instante, respirando fundo.
── Você é um perigo, Jihye.
Com um último selinho nos lábios dela, ele se afastou, voltando a se deitar no colchão estreito. Ela sorriu satisfeita e logo se aninhou contra ele, encaixando a cabeça no peito dele e deixando uma perna entre as dele.
O dormitório foi, pouco a pouco, mergulhando no silêncio. Algumas respirações pesadas ecoavam no ar, denunciando os primeiros jogadores pegando no sono.
Aos poucos, a respiração de In-ho também desacelerou, e Jihye fechou os olhos, sentindo o calor do corpo dele e o ritmo tranquilo de seu peito subindo e descendo.
O primeiro dia tinha terminado, mas ainda havia doze pela frente, ou talvez menos.
𖤐࡛۫ Capítulo publicado e, sem demora, como prometido, haha.
𖤐࡛۫ Espero que gostem e perdoem qualquer erro ou coisa do tipo.
𖤐࡛۫ Deixem seus comentários, seus votos, e é isso. Até o próximo! Não vai demorar muito também; porém, dessa vez, não vou prometer o dia porque a mãe não aguenta. Mas não irei sumir. Beijos!
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