03. the end of a tiring day
Anthony e Marjorie ficaram se provocando até Violet intervir e mandar cada um para um canto da casa. Logo depois, Daphne e Simon foram para casa a fim de descansarem até o jantar na casa de Lady Danbury. Hyacinth e Gregory estavam no quintal com Francesca, Lady Bridgerton e Anthony conversavam na sala de estar e Marjorie arrumava suas coisas no quarto temporário que pertencia a sua cunhada, enquanto conversava com Eloise e assim ela passou o resto da tarde até que começou a chegar a hora do jantar e ela teve que se arrumar.
Havia sido decidido que apenas Eloise e os mais novos não iriam ao jantar de Lady Danbury, todos os adultos iriam. Mesmo que nem todos de fato queiram ir.
Marjorie estava sentada na penteadeira em seu quarto, ou melhor, no antigo quarto de Daphne, enquanto penteava seus cabelos, e se perdia em mais um de seus devaneios, onde Benedict era o ponto central. Como havia sido em praticamente toda a sua vida.
─── Posso pentear seus cabelos? ─── Lady Bridgerton perguntou encostada na porta do quarto, puxando Marjorie do mundo distante em que ela se encontrava. ─── Eloise não me deixa apronta-la e Daphne não precisa mais de mim. ─── A mais velha se justificou com certa tristeza.
─── Claro.─── Marjorie lhe lançou um sorriso singelo. A jovem duquesa não havia experimentado o amor materno vindo de sua própria mãe, mas não podia reclamar em relação a Violet.
A mais velha entrou no quarto e se encaminhou até a penteadeira, ela pegou a escova de cabelo das mãos de Marjorie e começou a pentear seus longos e grossos cabelos escuros.
─── Seus cabelos são tão lindos quanto os de sua mãe eram.─── Violet sorriu olhando Marjorie pelo espelho.
A mais nova deixou escapar um sorriso fraco, quase imperceptível.
─── O que está lhe deixando tão cabisbaixa? ─── Indagou a mais velha um pouco preocupada.
─── Eu não estou cabisbaixa, apenas estou pensando.─── Marjorie tentou passar confiança para a Lady, a jovem não queria de forma alguma incomodar sua madrinha com as batalhas de seu coração.
─── Eu lhe conheço desde quando você veio ao mundo, eu sei quando você está mentindo.─── Violet parou de pentear os cabelos de Marjorie enquanto ria tentando deixá-la mais confortável.
A jovem duquesa se virou, ficando de frente para Lady Bridgerton. Por alguns segundos Marjorie apenas a olha tentando achar as palavras certas. Durante esses segundos Violet a olha com expectativa, mas com ainda mais carinho.
Marjorie suspirou.
─── A senhora acha que Benedict sente raiva de mim? ─── Marjorie perguntou olhando para suas mãos inquietas sob seu colo.
─── Claro que não, meu bem...─── A mais velha se ajoelhou em frente à Marjorie.─── Ele nunca teve sentimentos ruins relacionados a você. Não sei o que se passa na cabeça dele, mas sei que no coração dele você nunca foi embora.
Marjorie sabia que uma hora ou outra teria que desabafar, e que a única pessoa que ela confiava mais que qualquer outra pessoa, era Lady Bridgerton. Ela sentia pela mulher todo amor que não podia dar para sua mãe.
Ela respirou fundo e começou a falar.
─── Não consigo não me sentir traída e magoada por não fazer mais parte da vida dele. Mas ao mesmo tempo me sinto culpada por me sentir assim, já que não é certo com a esposa dele ou muito menos com o bebê que ele está esperando. Mas, ao mesmo tempo...─── Ela olhou para a mulher buscando qualquer sinal de desaprovação que a fizesse parar, mas ao contrário disso encontrou mais apoio, então ela continuou. ─── Por que ele não me escreveu nem uma vez durante todos esses anos? Ou quem sabe, por que ele não me disse que tinha se casado? Por que ele não me disse que ia ser pai? Por que ele me deixou fora de tudo? ─── Ela perguntou voltando seu olhar para baixo.
Mas ela ainda não tinha coragem de fazer uma última pergunta. Por que não era ela vivendo tudo isso com ele?
─── Meu Bem, eu não posso responder essas perguntas porque eu não possuo as respostas. O único que pode lhe dizer é ele mesmo. Mas, posso te dizer como uma mulher experiente e que teve a chance de viver um grande amor, que você não deve se sentir culpada. Nós não escolhemos quem nosso coração quer amar e muito menos como eles nos amam de volta. Mas quero que saiba que você sempre será bem vinda aqui, e que você é amada por todos nós.─── Violet abraçou a afilhada com muito amor e carinho.
A jovem duquesa estava se sentindo um tanto perdida, ela passou muito tempo longe, estudando e se aperfeiçoando, tudo bem que ela sabia que a vida dos outros não iria parar, mas ela não imaginava que tudo pudesse acontecer tão rapidamente e que ela estaria de fora. Tudo que ela precisava naquele momento, era um abraço, se sentir querida, se sentir amada, se sentir completa. E ela achou todo conforto que seu coração ansiava nos braços de Lady Violet Bridgerton.
─── Obrigada! ─── Ela sorriu contra o ombro de sua madrinha.
─── Você já sabe que joia irá usar?─── Perguntou Violet sorrindo.
─── Ainda não, mas acho que irei usar o colar de minha mãe. ─── Marjorie sorriu ao lembrar de sua mãe, mesmo ela não a conhecendo direito, o apreço e carinho que a duquesa sentia por sua mãe era inegável.
─── Eu sei que você adora o colar de sua mãe, mas eu tenho algo que você irá adorar.─── Violet sorriu acariciando o cabelo de Marjorie, que por sua vez estava com uma expressão curiosa em seu resto. Violet sorriu e ergueu um de seus dedos, indicando que voltaria logo e assim ela saiu do quarto.
Marjorie permaneceu sentada em frente a penteadeira, ela colocava seus brincos enquanto cantava uma melodia que ela conhecia desde pequena mas nunca soube com certeza de onde essa ema vinha, mas ela nunca conseguiu esquecê-la. Distraída enquanto revezava entre assobios e sua voz, ela não notou um certo Bridgerton parado em sua porta a observando a alguns segundos.
─── A senhorita está encantadora.─── Benedict elogiou encostado no batente da porta, chamando a atenção de Marjorie.
A duquesa se surpreendeu. Desde pequenos os dois nunca se trataram com formalidade. Sempre foram melhores amigos e confidentes que tratavam um ao outro pelo nome ou por apelidos fofos, nunca por senhor ou senhorita. A ficha dela estava caindo e ela não estava gostando.
─── Senhorita? Não somos tão distantes para você me chamar assim, Benedict. Ou melhor, acho que ainda não somos.─── Ela disse de forma suave sem olhá-lo. Benedict ficou em silêncio, apenas olhando para baixo, sem pronunciar uma palavra sequer.
Não era a intenção dela deixar o clima pesado entre os dois, muito menos magoá-lo de alguma forma, porém ela simplesmente não conseguiu não dizer a primeira coisa que veio em sua cabeça e muito provavelmente o que sentia em seu coração. Mas, não significa que ela não esteja arrependida.
─── Tudo bem, eu fui um pouco grosseira, obrigada pelo elogio.─── Ela lhe lançou um sorriso fraco.
Ele apenas assentiu com a cabeça e saiu. Droga, pensou Marjorie, Piorei as coisas. Ela soltou um suspiro cansado enquanto se debruçava sobre a penteadeira. Após a interação minimamente estranha com Benedict, Marjorie terminou de se arrumar com o auxílio de Lady Bridgerton e como adereço, um colar de pérolas que pertenceu a mãe de Lady Bridgerton, a duquesa juntamente com os membros da família Bridgerton que iriam comparecer ao jantar, desceram para o hall afim de finalmente irem para o evento. Foi decidido que as damas iriam em uma carruagem e os cavaleiros na outra, sendo uma delas a da família e a outra de Simon. Para o infortúnio de Marjorie que adorava quando dividia a carruagem com seu irmão ex tirano, Anthony o atual tirano e Benedict o cavalheiro, já que com eles ela sempre pode discutir política e todos os assuntos que as mulheres não deviam.
Mas, infelizmente sua vontade não foi superior a dos outros. Marjorie estava sentada ao lado de Daphne e de frente para Sophie e Violet. A duquesa não tinha nada contra Sophie, pelo contrário, mas ela ainda estava com um pé atrás, ela não queria forçar a barra com Sophie, mas também não queria parecer grosseira ou rude. Ao contrário da duquesa, que é uma mulher que não tem medo de dizer o que pensa, de fazer o que tem vontade, Sophie respeita e segue tudo o que a sociedade e a rainha impõem. Daphne e Violet se encontravam em uma conversa própria, ambas imersas no assunto, Sophie e Marjorie estavam quietas em um silêncio constrangedor.
─── Se a senhora não se importa, Sophie, como você e Benedict se conheceram? ─── Marjorie perguntou, quebrando o gelo.
Sophie sorriu parecendo honrada com a pergunta da duquesa, mesmo que as duas não se conheçam além das formalidades, Sophie tem uma grande estima por Marjorie e ficou feliz pela duquesa ter se dirigido a ela.
─── Bom, nós nos conhecemos em um Baile de máscaras, eu fui ao baile escondida da minha madrasta e meu pai. Quando descobriram o que eu fiz, fui mandada embora. Eu tive que trabalhar na casa de uma família rica, mas eu quase fui violentada pelo filho de meus patrões...─── Ela parou com a voz falha. ─── Mas Benedict estava lá, ele me salvou e desde então ele é um anjo em minha vida.─── Ela terminou sorrindo enquanto secava algumas lágrimas.
Malditos hormônios.
─── Benedict sempre foi um ótimo e belo Cavalheiro.─── Marjorie sorriu.─── Estou feliz por vocês.
Ela sabia que nunca tinha dito uma mentira tão deslavada quanto essa.
─── Obrigada. Mas e a senhora? Como conheceu o vosso marido? ─── Sophie perguntou inocentemente.
─── Oh, eu não tenho um marido.─── Marjorie respondeu, não tristemente, mas surpresa.
─── Mil perdões, eu achei que por conta do vosso título como duquesa, a senhora fosse casada.─── Sophie estava se sentindo envergonhada, a nova Bridgerton, não sabia muito sobre a Duquesa.
─── Tudo bem. ─── Marjorie sorriu. Não precisa se sentir culpada.─── A duquesa segurou na mão de Sophie. ─── Eu realmente não fiquei ofendida. Meu título vem de meu irmão, Simon pediu muitos favores usando o nome de nosso falecido pai para que eu permanecesse como duquesa da maneira que minha mãe havia desejado antes de morrer. Se não fosse por ele, eu não teria isso. ─── Ela sorriu.
─── A senhorita é muito independente e forte, eu a admiro.─── Sophie sorriu segurando nas mãos de Marjorie, a duquesa não conseguiu não sorrir e não se arrepender de sequer ter cogitado desprezar Sophie, que parecia tão sincera e verdadeira.
A carruagem dos Cavaleiros chegou primeiro, os mesmo desceram e esperaram as damas. Simon ajudou Daphne a sair da carruagem quando a porta foi aberta, assim como Benedict ajudou Sophie. Sobraram apenas Violet e Marjorie. Antes que Anthony empurrasse Colin para que o mais velho pudesse ajudar Violet e não ter que ajudar Marjorie, Colin foi mais rápido e ajudou a matriarca a sair da carruagem.
─── Parece-me que o senhor será meu acompanhante, está noite.─── Ela sorriu enquanto ele segurava a mão dela para que ela saísse da carruagem.
─── Azar ou sorte? ─── Ele perguntou estendendo o braço para ela.
─── Depende do vosso comportamento.─── Ela sorriu entrelaçando o braço ao dele.
( ... )
─── Bem vindos! ─── Lady Danbury recebeu seus convidados de braços abertos quase acertando sua bengala em um deles.
─── É um prazer vê-la.─── Daphne sorriu, enquanto Simon afastava a bengala de Lady Danbury de seus joelhos.
─── Senti a sua falta na reunião de quinta-feira. ─── A mais velha piscou para Daphne que riu.
─── Espero que a senhora não esteja levando minha esposa para o mal caminho.─── Simon sorriu.
─── Não seja tão cego, Vossa graça.─── A mais velha sorriu ladino. ─── Finalmente a duquesa está de volta. Pensei que fosse apenas se formar em medicina e não na arte de desaparecer. ─── A mais velha disse ao ver Marjorie caminhando com Anthony.─── Vossa graça.─── Ela sorriu abaixando sua cabeça.
─── Por favor, sem formalidades. ─── A mais nova se soltou de Anthony e abraçou a Lady.─── Eu senti muito sua falta.
Marjorie de fato não foi criada pela Lady como Simon havia sido. Mas na arte de ser uma mulher forte e fazer o que deve ser feito independente de qualquer coisa, bem Agatha sempre a deu aulas. E com imensa felicidade, fez de tudo para que a jovem fosse para a faculdade.
─── Eu também. Afinal de contas quem mais poderia me agraciar na arte de falar mal de seu irmão.─── Ela sorriu. ─── A lady piscou para a duquesa que começou a gargalhar enquanto seu irmão a olhava como se pudesse dizer ''conversamos em casa'' mas sua expressão era divertida.
Após as formalidades necessárias, todos se encaminharam para a sala de jantar.
─── Qual foi o motivo da vossa volta?─── indagou Lady Danbury assim que todos se acomodaram à mesa.
Marjorie sabia que após anos em exílio e com sua volta inesperada ela teria que responder sua pergunta com muita frequência.
─── Bem, além de sentir muita falta das sobremesas de minha madrinha; da minha linda família; de importunar meu irmão e claro de nossos encontros semanais...─── A duquesa sorriu agraciando a todos. ─── Principalmente, o nascimento do meu sobrinho.
Daphne sorriu segurando a mão de Simon. Marjorie sempre esteve presente na vida da mesma, desde antes do nascimento da quarta herdeira dos Bridgerton e desde seu nascimento as duas sempre foram muito próximas e teriam continuado mesmo antes de Simon se fazer também presente em sua vida. Daphne mal conseguia conter a alegria de que sua cunhada, uma pessoa de sua própria família iria fazer o parto de seu primogênito.
─── Então, Vossa graça tem certeza que é um menino? ─── Indagou Sophie impressionada.
E todos murmuram em concordância. É literalmente impossível saber o sexo do bebê antes de nascer, até mesmo se é apenas um bebê.
─── Com toda certeza.─── Ela confirmou confiante enquanto sorria.
─── Eu acredito que será uma menina! ─── Exclamou Violet ao lado de Colin.
─── Desculpe-me, minha sogra, mas devo concordar com minha irmã. ─── Simon se intrometeu.
─── Que lisonjeiro! ─── Marjorie brincou.
─── Nossos pais tiveram um menino e por último a menina. Assim como Lady Violet e o falecido Lorde Bridgerton. Creio que a genética não falhará. ─── Simon sorriu orgulhoso.
Anthony riu da ponta da mesa.
─── Vejam só, Simon aprendeu a falar como um adulto! ─── O Visconde provocou.
─── Creio eu, Vossa graça...─── Lady Danbury chamou a atenção de Marjorie. ─── Que deve haver algum outro motivo pela vossa volta. ─── A mulher indagou "inocentemente" enquanto cortava sua carne.
A mesa parou apenas prestando atenção na duquesa que se serviu de um pouco de vinho.
─── Posso imaginar quais motivos estão passando pela cabeça da senhora. Mas, não. Minha volta não tem nada haver com isso. ─── Marjorie pigarrou um pouco, trocando seu vinho pela água.
─── Bem, a senhorita já tem quase vinte e três anos. Precisa se casar antes que a sociedade te rotule como imprópria. ─── Lady Danbury tentou dizer da maneira mais delicada mas ao mesmo tempo que deixasse claro sua mensagem.
─── Eu compreendo que não goste do assunto, meu bem. Mas eu preciso concordar com Lady Danbury. Não queremos que as pessoas tenham motivos para falar de você. E acredito que todos aqui nessa sala lhe ajudaremos a encontrar o homem mais adequado.─── Violet lançou a Marjorie seu sorriso caloroso de mãe.
─── Na semana que vem no baile de Daphne e Simon, creio eu que possamos arranjar algumas opções e apresentações. Certo, Lady Violet? ─── Lady Danbury disse enquanto tomava um gole de seu vinho.
─── Com toda certeza!
─── Agradeço imensamente os esforços das duas, mas temo que não seja de minha vontade. ─── Marjorie tentou recusar com delicadeza.
─── Não entendo a vossa recusa, Marjorie. Afinal, seu irmão se casou, Benedict também, Eloise será apresentada a sociedade. Todos estão encontrando seu pares, está na hora de procurar o seu. ─── A Lady disse séria.
Marjorie não pode deixar de pensar que já havia encontrado o seu par, mas o perdeu.
─── Lady Danbury, eu não sou mais uma debutante, eu nunca fui, ao invés de ficar aqui e me casar, eu fui atrás do meu trabalho, sinto muito mas não acho que seja propício.─── Marjorie respondeu cortando sua carne.
─── Eu não estou pedindo que você seja uma debutante, querida. Apenas que considere um pouco de conversa e talvez dance com alguns cavalheiros. Vossa graça tem a minha palavra, que não te prometi e nem te prometerei a nenhum deles.─── Lady Danbury finalizou, aguardando a resposta de Marjorie.
Após uma grande pausa, Marjorie começou a passar e repassar a ideia em sua cabeça. Quando ela resolveu voltar, pensava que voltaria para Benedict, com essa ideia esmagada. Ela precisava de outra coisa para distrair sua cabeça ou simplesmente para não pensar que era tão ruim assim ao ponto de ser trocada.
─── Com tanto que nenhum deles tenha algum problema com a minha profissão ou meu status social, ou não seja burro como uma toupeira, eu não me importo em conhecer alguns cavaleiros apropriados.
─── Marjorie! ───Simon exclamou. ─── Nem pensou em consultar seu irmão mais velho?
─── Não seja tão temperamental, meu irmão.─── Marjorie respondeu segurando a vontade de mostrar a língua.
─── Com a morte de nosso pai, eu sou responsável por você, eu decido se você irá conhecer algum cavaleiro, eu decido se você poderá falar com ele, ou se ele poderá chegar perto de você.─── Ele disse a olhando em tom de desafio.
─── Não use esse tom comigo, eu não sou um de seus animais, Simon! ─── Ela disse séria o olhando.
─── Naturalmente, estou brincando, minha irmã. Você pode fazer o que quiser profissionalmente, mas em relação aos homens da sociedade eu vou estar ao seu lado, irmã! Nenhum deles irá te machucar. ─── Ele sorriu e ela retribuiu o mesmo.
( ... )
Após o jantar e da excelente sobremesa, todos foram para a sala de estar onde foram servido vinho, doses de licor e whisky e também onde Colin tentou tocar piano, todos riram e planejavam estender a noite com conversas animadas e muitas risadas. Marjorue por sua vez estava tremendamente cansada, tanto pela viagem quanto pelas notícias que recebeu durante o dia. Ela pediu licença e desculpas para a anfitriã e logo partiu sozinha com seus pensamentos.
─── Ei, onde a senhorita está indo.─── Anthony disse ofegante correndo logo atrás de Marjorie.
─── Ora, não me ouviu dizer que quero dormir? ─── Ela parou segurando a base de seu vestido.
─── A senhorita não pode ir sozinha, está muito tarde.─── Ele respondeu.
─── Eu não irei caminhando, irei de carruagem, Anthony, não vejo nenhum problema nisso.─── Ela andou até a carruagem.
─── Eu vou com você.─── Ele disse Pegando seu casaco e o jogando nos ombros dela.
─── Não precisa, Anthony.
─── Eu não estou fazendo por você, mas sim pela minha mãe, eu não quero receber outra bronca dela. Da última vez ela puxou minhas orelhas muito fortes. ─── Ele disse ajudando ela a subir na carruagem e em seguida entrando.
Os dois ficaram de frente um para o outro, apenas encarando um ao outro, sem dizer uma palavra sequer. Marjorie nunca gostou muito de quando Anthony ficava quieto. Nesse momento ela não queria continuar a brincar de xadrez de provocações com Anthony.
─── Eu não estou disposta para suas brincadeiras ou provocações, Anthony Bridgerton.─── Ela disse séria apontando o indicador no rosto do Visconde.
─── Eu não fiz nada.─── Ele se defendeu chocado. ─── Apenas estou curioso para saber o por que da senhorita querer ir tão cedo para casa.─── Ele perguntou.
─── Porque eu estou cansada, Anthony. Eu apenas quero dormir, ficar algumas horas sem ter nenhuma surpresa ou informação para processar, eu apenas quero a minha cama.─── Ela disse cansada esfregando as têmporas.
Mesmo que o homem tentasse deixar claro que ele não tolerava a duquesa e que ficava completamente desgostoso e aborrecido na presença dela, era nítido a todos que puderam estar na presença dos dois que ele sentia algo há mais por ela, não algo como Benedict sente, mas sim algo familiar com o que ele sente por Daphne e Eloise, o amor de um irmão para sua irmã.
A duquesa mesmo que não admitisse e não entendesse direito, ela sentia a mesma coisa pelo visconde, o mesmo sentimento de irmão, talvez não tão forte quanto o que ela sente pelo próprio irmão ou não tão grande a ponto de ela demonstrar afeto abertamente ou diretamente por ele, mas ainda sim é um sentimento mais doce do que ela seja capaz de admitir.
─── Vamos, Marjorie! Por que não me provoca um pouco?! ─── O Visconde sugeriu animado.
─── Por que quer tanto brincar agora? ─── Ela indagou desconfiada.
─── Porque a única coisa pior do que você feliz, é você triste ou decepcionada. É impossível ficar em tua presença. ─── Ele disse sorrindo convencido.─── Eu não sei como Benedict consegue. ─── Acrescentou após alguns segundos.
─── Para a sua sorte, chegamos.─── Ela disse no momento em que a carruagem parou.
O primeiro comentário de Anthony não havia ofendido a duquesa, pelo contrário havia a motivado a rebater a ofensa, porém o segundo comentário cujo aquele em que ele menciona Benedict e indiretamente seus sentimentos para com a duquesa, havia mexido com o coração dela e não de uma maneira boa. E o visconde havia percebido o erro a qual tinha cometido. Anthony abriu a porta da carruagem e desceu, logo em seguida ele ajudou a duquesa a sair da carruagem.
─── Obrigada.─── Ela agradeceu a ajuda do mesmo, mesmo que sua vontade seja dar um tapa nele.
─── Finalmente uma frase sem me insultar.─── Ele disse enquanto os dois caminhavam pelo hall de entrada.
O visconde não pediria desculpas, pelo menos não por agora, mas sabia que tinha ferido os sentimentos dela e que deveria se desculpar ou pelo menos deixar as coisas entre os dois menos instáveis.
─── Não seja por isso, amante de cantoras de ópera.─── Ela sorriu tirando suas luvas.
Mas, os pensamentos da duquesa não eram os mesmos que os de Anthony. Ao invés de deixar para lá, ela queria ofendê-lo. De certa forma, ela procurava por qualquer maneira de se sentir melhor e ela passou que praticar um de seus hobbies favoritos seria a resposta.
─── Não posso nem elogiar que a senhorita já volta ao normal.─── Ele disse subindo as escadas ao lado dela.
─── Deixá-lo sem paciência ou insultá-lo, é um de meus passatempos favoritos, Milorde.─── Ela sorriu. ─── Por que está subindo as escadas? Pelo meu conhecimento, apenas o seu escritório permaneceu aqui. Milorde não tem nenhum outro lugar para estar?
─── Quando a senhorita fala desta maneira, eu tenho uma leve impressão de que a senhorita me odeia.─── Ele a olhou de relance. ─── Decidi dormir aqui esta noite.
─── Eu não te odeio, eu simplesmente não gosto muito de você.─── Ela sorriu abertamente.
Ignorando a frase da duquesa, Anthony decidiu trocar ligeiramente de assunto.
─── Diga-me, por que a senhorita está de volta? ─── Ele indagou sorrindo e ela revirou os olhos, já estava cansada de responder essa pergunta.─── A senhorita realmente pensou que logo eu acreditei quando disse docemente que voltou pela sua família. Você me ofende pensando que sou tão tolo assim. Sem desculpas desta vez, Marjorie.
─── Você sabe perfeitamente por quem eu voltei, Anthony. Não precisa de jogos, mas você se tornou tão sádico ao ponto de me torturar para que eu admitisse?
─── Sim, eu sei. Mas, devo acrescentar que é...
─── Que é errado e imoral, porque ele é um homem casado e está esperando seu herdeiro e eu devo voltar para Cambridge o mais rápido possível. ─── Ela disse rapidamente e logo mudando seu humor para algo muito mais triste do que ela queria.
─── Pelo contrário...───Começou o visconde e a mulher não o deixou terminar.
─── Como pelo contrário? ─── Ela indagou de forma brusca.
─── Eu estava prestes a lhe dizer que se você ficar conosco por tempo o suficiente e mostrar a ele o que ele significa para você, facilmente a senhorita perceberá que ele sempre foi seu e que não existe nesse mundo uma mulher que pudesse tirá-lo de você. ─── A voz do visconde estava suave e calma como nunca esteve antes, mas atingiu a duquesa como uma bala de canhão de emoções.
─── Anthony, isso é....
─── A verdade, sim. Você esteve ausente por muito tempo, mas não o suficiente para ele deixar de amá-la.
─── Como ele pode me amar estando casado com outra? ─── Ela indagou com a voz falha.
─── Ele tem um segredo, Marjorie. Algo que mudará o rumo da vida dele, da sua e de Sophie. Quando tudo estiver acertado, você saberá a verdade e poderá ser feliz.─── Ele disse docemente, essa noite ele não soava como Anthony. ─── Ou talvez você fique sem descobrir a verdade e vai embora e nos deixe em paz.─── Ele pareceu pensar no assunto. ─── Bem, acho melhor conversar com Benedict e mudar o plano.─── Isso sim soava como Anthony.
Sem dar nenhuma chance de resposta para a duquesa, os visconde acenou em despedida para a mulher e correu escada acima em direção aos seus aposentos.
─── Boa noite, Milorde.─── Marjorie disse baixo mais para si mesma do que para Anthony.
A duquesa rumou para seu quarto com a cabeça maquinando. Marjorie fechou a porta, e respirou aliviada por poder tirar o corset que a machucava e todas as camadas do vestido que ela usava. Aos poucos ela conseguiu ficar livre de todos os tecidos que a enrolavam. A jovem duquesa nunca foi o tipo de mulher que adorava se produzir, usar os vestidos mais extravagantes e as maquiagens mais exuberantes, ela sempre foi como sua mãe, preferia um vestido simples, um penteado simples, que ela ficasse mais confortável. Mas devido a sua posição social e a sociedade que ela tanto desprezava e tentava fugir, ela tinha que se vestir como manda o figurino. Mesmo que sempre que possível, ela tentava burlar um pouco o padrão.
Marjorie desmanchou o penteado que Violet havia feito em seu cabelo, deixando seus longos cabelos pretos soltos, ela vestiu sua camisola branca e se deitou na cama, tentando colocar seus pensamentos em ordem, tentando entender verdadeiramente o que havia acontecido durante todos esses anos, tentando entender a mudança repentina em Benedict, de alguma forma, ela sentia que tinha algo errado, que alguma peça desse enorme quebra cabeças estava em um lugar errado. Ela conhecia Benedict Bridgerton com a palma de sua mão, e ela sentia que ele escondia algo, bem agora não era apenas uma suspeita, Anthony acabara de revelar que o irmão esconde algo e pelas palavras do mesmo, provavelmente sentimentos, mas quais seriam esses?
Talvez seja realmente verdade que ele esconda algo, ou possa ser o jeito que Marjorie tem de aceitar Sophie, talvez seja a única maneira de seu coração aceitar a falta de consideração e informação, talvez ela apenas esteja arrumando um jeito de aceitar a situação. Ou quem sabe é o seu coração dando sinais para ela ficar atenta ao que acontece ao seu redor, ficar atenta aos sinais escondidos que Benedict deixa no ar em suas falas e andados. Mas, ela também sabia que no fundo torcia vivamente para que ele sentisse por ela o que ela sente por ele, mas sua moral, sua ética a impedia em muitos quesitos, ela não quer de forma alguma destruir um lar, ela não quer que Sophie fique sozinha com um filhos para criar enquanto a duquesa vive seu sonho de amor com Benedict. A jovem duquesa sabia que não poderia fazer nada por agora, que apenas uma boa noite de sono a ajudaria a ficar menos cansada, e amanhã ela poderia pensar mais claramente, ela organizou seus travesseiros de uma maneira confortável e se cobriu com o lençol azul que estava ao pé de cama, e finalmente aquietou a sua mente, descansando depois de um longo dia.
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