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Capítulo 7


      Jade Evans

Atualmente | Los Angeles

— Então você está dizendo que o cara da Itália foi suspeito de um assassinato e vocês acabaram se reencontrando? — Ayla pergunta enquanto tirávamos as compras das sacolas e as colocávamos nos armários da cozinha.

— Exatamente, e ainda por cima ele me deixou novamente toda desconcertada. — falei, abrindo a geladeira e colocando os sucos dentro.

— Cria vergonha, Jade, isso de novo? Até já sei onde vai dar: você e seu gosto esquisito para macho. Antes era aquele surfista cowboy do Texas; agora é um italiano envolvido com coisas erradas e com ar de gente que não presta.

— Tenho gostos esquisitos para macho, mas e você? Que nega o Leandro desde o ano passado por ouvir um boato de que ele era casado? O homem é lindo, gostoso, é um ótimo médico e ainda por cima fica atrás de você, mesmo você pisando no coitado. — ela vira o rosto e finge arrumar novamente as verduras. — E né, dona Ayla, o sujo falando do mal lavado.

— Ah, cala a boca! Se está tão incomodada, como eu o trato, fica com ele, para de me perturbar. — seu tom de voz muda, e eu dou uma risada.

— Até parece que você deixaria! Eu te conheço, Aylinha, faz de difícil, mas quer ele, sim, que eu sei. — vejo ela pegando uma maçã e jogando em minha direção. — Ui, ficou bravinha, foi?

— Cala a boca, você não sabe de nada.

— Sei que você é apaixonada pelo Leandro. — Seu olhar escurece e parece que ela vai me matar. — Tá, vou calar a boca, pronto, não está mais aqui quem falou. — continuo voltando a guardar as compras.

— Ótimo.

Assim que acabamos de organizar todas as compras, eu lavo a louça e Ayla faz o jantar. Aproveito para ir tomar um banho e lavar meu cabelo, porque amanhã de manhã eu não vou ter pique.

Ayla e eu jantamos enquanto assistimos The Vampire Diaries. Às vezes me questiono se somos adultas ou apenas duas adolescentes fingindo que são adultas, mas acho que somos um pouco dos dois. Ayla é quatro anos mais velha que eu, porém não muda em nada. Acho que compartilhamos o mesmo neurônio; nós nos damos tão bem por sermos às vezes parecidas uma com a outra, mesmo com nossas diferenças. Somos amigas desde pequenas; nossas mães eram muito amigas (na verdade, até hoje são). Gosto que sempre estamos uma com a outra dependendo da merda; podemos estar brigadas, mas ela nunca me abandona, e ela é a metade da minha laranja e vice-versa.

— Se cuida, e não vai abrir a porta para ninguém que seja alto, tatuado, vestido todo de preto, com um sorrisinho safado e um passado sombrio.

Ayla fala pegando as chaves de seu carro e me olha sentada no sofá, e eu dou um sorriso sapeca.

— Tentarei, mas não prometo resistir. — Ela revirou os olhos com minha frase e saiu batendo a porta.

— Eu também amo você — grito para me ouvir e dou risada. — Aí Ayla, eu amo você.

                           ✦✧✦✧

Acordo de manhã com meu despertador tocando alto e, às vezes, eu praguejo por ele ser tão alto. Com o banho tomado, eu faço meu café e penso no que vou usar hoje. Comi meu café da manhã e subi para o quarto para me arrumar. Coloco uma saia lápis um pouco mais curta, na cor branca, e uma blusa sem mangas de gola alta na mesma cor da saia.

Chego na clínica e sorrio para Eva e a cumprimento.

— Bom dia, Eva.

— Bom dia, Jade. Como está? Você já tem um paciente te aguardando na sala. Ele disse que era urgente.

Concordo com a cabeça, sussurro um “obrigada” e caminho para a sala. Assim que entro, não encontro ninguém no sofá, mas sim na minha cadeira, virado de costas; antes que eu pergunte quem é, vejo Zayn.

— Zayn? O que você está fazendo aqui? — questiono, colocando a bolsa em cima da minha mesa e vendo ele me olhar de cima a baixo.

— Vim te fazer uma visita. Eu te avisei, não foi? — o sorriso cínico dele quase se alarga ao ver minha cara confusa.

— Não, você não me disse que viria hoje.

— Ah, é mesmo? Devo ter esquecido de te dizer. É que quando quero algo, eu só vou lá e faço. — cruzo meus braços e caminho até ele.

— Ah, mas as coisas comigo não funcionam assim! Você não pode chegar aqui e fazer o que quiser. Agora sai da minha cadeira; eu tenho pacientes para atender em 10 minutos.

— O paciente daqui a 10 minutos sou eu. — Ele pega uma ficha e estende para mim, e eu vejo a folha de cadastro da clínica com seu nome. Respiro fundo, pegando a folha de suas mãos.

— Por que você quer passar comigo, sendo que já tem um psicólogo? — indago e olho feio para ele. — E levanta da minha cadeira.

Ele se levanta com as mãos nos bolsos da calça, dessa vez na cor azul escura, e se aproxima de mim, se inclinando, e diz:

— Mas eu não quero qualquer um; eu quero você. Quero você cuidando da minha cabeça.

— E por que eu seria sua psicóloga? Tecnicamente, eu também sou qualquer uma.

— Não sei, mas me sinto confortável com você; me traz um sentimento bom de nostalgia, Jade — ele se inclina mais em minha direção.

— Se eu for sua psicóloga, serei somente sua psicóloga, nada mais que isso.

Ergo minha mão e empurro seu peito para que se afaste, mas ele nem se move.

— E se eu quiser que seja mais que minha psicóloga?

— Não rola! Não me envolvo com pacientes, digamos que é proibido.

— Mas eu não sou seu paciente. Você está tentando fugir de mim? — ele pega minha mão e segura com carinho, se aproximando de meu rosto.

— Não estou fugindo de você. Se não é meu paciente, você não tem autorização para entrar aqui sem minha permissão. — me afasto dele, porra, ele está próximo demais! Eu não posso acabar cedendo e caindo nessa tentação.

— Você é bem taxativa quando quer. Há dois anos você não era assim, Anjo. Gosto de como você se tornou novamente um desafio.

— Não era taxativa porque tinha as mesmas intenções que você, mas agora é diferente.

— Por que agora é diferente? Não faço mais o seu tipo ou é porque eu talvez possa ser um suspeito?

— Por que eu tenho que te dar satisfações por não te querer?

— Pensei que tínhamos uma conexão. Não foi isso que disse naquela noite? Que nós iríamos nos reencontrar e tudo isso ia voltar.

— Docinho, vou te dizer uma coisa: quando queremos transar com alguém, falamos uma coisa e outra. Isso foi há dois anos, mas parece que na sua cabeça, isso foi ontem.

— Ah, por favor! Se não está nem aí, por que está fugindo de mim? Vai dizer que isso não te afeta mais? — sinto suas mãos em minha cintura e, em um movimento rápido, ele me puxa mais contra seu corpo. — Não sente falta?

Sinto meu corpo se arrepiar com a proximidade.

— Não sinto e não me afeta. — tento soar firme. — E você está passando dos limites.

O empurro com minhas mãos, porém não adianta nada! Sua mão segura meu cotovelo e me puxa para mais perto.

— Para de me rejeitar, Jade! Se tem uma coisa que eu sei é quando alguém está querendo algo. — sua voz sai um pouco rouca.

— Não estou te rejeitando. Não consegue aceitar que não quero? Zayn, sempre achando que sabe de tudo.

O aperto em minha cintura se torna mais forte. A mão que segurava meu cotovelo sobe para meu rosto; seus dedos acariciam meu queixo e seus olhos estão concentrados em minha boca.

— Posso até estar errado, Jade, mas aposto que você vai querer e vai acabar cedendo mais cedo ou mais tarde.

— Você acha que eu vou ceder? Na verdade, eu acho que você está ansiando para que eu ceda. — sussurro perto de sua boca. — Mas já deixo claro que não vai rolar nada.

Dou um sorriso e afasto meu rosto do seu.

— Isso é o que você diz, só que o seu corpo tão entregue assim diz outra coisa.

— Diz o quê? Que não consegue se soltar do seu aperto? Não estou nem encostando em você.

— Jade, por favor, seu corpo está se arrepiando só por eu estar falando. Você não está com saudades, Anjo?

Vejo o sorriso em seu rosto surgir, e eu o encaro. Não vou negar que ele mexe comigo e que eu queria muito beijar sua boca, ainda mais com ele me apertando assim contra seu corpo e me deixando encurralada. Mas o fato de ele estar sendo investigado está me brecando. O fato de eu olhar para seu rosto e não conseguir decifrar o que é verdade e o que é mentira. E sei que se eu acabar cedendo, isso não vai acabar cedo ou de uma forma boa.

As batidas altas na porta me despertam e antes que eu consiga me afastar, ouço a voz de Eva.

— Oh, me desculpe por atrapalhar, mas Jade, o Investigador está aqui. Ele quer conversar com você.

Ela diz rapidamente e sai, fechando a porta.

— Você tem que ir embora. — o empurro novamente e, dessa vez, ele me solta, mas continua próximo de mim.

— Que peninha! Não vou poder matar a saudade, mas não se preocupe, logo estarei aqui novamente.

— Não apareça aqui sem antes me avisar! Não quero que um desconhecido fique entrando na minha sala sem minha permissão. — passo por ele e me sento na minha cadeira. — Tenha um bom dia, senhor Paganini.

Deixo meu sorrisinho de canto escapar, vendo ele caminhar para a porta e segurar a maçaneta. Ligo meu computador e pego meu caderno de anotações dentro da minha bolsa.

— Jade, antes de eu ir, poderia mandar um beijinho para a Ayla?

Olho para ele confusa e ele passa pela porta, fechando-a.

Mas como ele sabe da Ayla?

                           ✦✧✦✧

É óbvio que ele sabe quem é a Ayla. Como fui burra! Passei o restante do dia pensando sobre onde ele a conhecia, mas não demorou muito para meus neurônios trabalharem. Assim que a vi, lembrei que ela trabalha onde? Sim, isso mesmo, no hospital Speranza, onde Zayn é o dono. Porra, Jade, se fosse uma cobra, tinha te picado.

Chego em casa e logo tomo um banho. Hoje seria o dia em que eu faria o jantar e provavelmente jantaria sozinha, já que Ayla chegou cedo e acabou capotando na cama dela.

Ligo a TV do meu quarto e coloco uma série qualquer apenas para passar o tempo.

Aponho a mão na barriga, que já começa a reclamar da falta de comida.
Levanto- me da cama e vou até a cozinha. O piso frio toca meus pés descalços, fazendo-me sentir um pequeno arrepio. Ao abrir a porta da geladeira, olho para umas maçãs, um litro de leite e alguns ovos. Penso  como posso transformá-los em algo satisfatório. Uma omelete talvez?
Ou pão com queijo?

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