3
A semana após a morte da Senhora Wilson se estendeu como um pesadelo interminável. Trabalhando na área há dois anos, eu já tinha enfrentado a perda de muitos pacientes, mas nada preparou meu coração para a partida dela. Cada morte é um golpe pessoal, mas quando alguém como a Senhora Wilson, que havia sido um pilar de bondade e sabedoria, se vai, a dor parece se aprofundar.
Na manhã seguinte à sua morte, o asilo parecia diferente. O corredor que antes era preenchido com o som das conversas dela agora estava mergulhado em um silêncio pesado. Cada passo que eu dava parecia ecoar a ausência dela. O processo de lidar com a morte de um residente nunca era fácil, mas a perda dela deixou um vazio que parecia impossível de preencher.
Os residentes mais próximos dela, como o Senhor Thompson e a Senhora Lee, estavam visivelmente perturbados. O Senhor Thompson, que sempre fazia questão de compartilhar suas memórias da época de juventude com a Senhora Wilson, passou o dia em seu quarto, olhando pela janela com uma expressão distante. A Senhora Lee, que costumava se sentar ao lado da Senhora Wilson durante as refeições, chorava silenciosamente em um canto da sala comum. Cada lamento e cada olhar vazio eram um lembrete cruel da perda que todos compartilhávamos.
No meu turno, eu tentava manter a compostura, mas a dor era quase insuportável. Conversar com os residentes e ajudá-los com suas necessidades se tornou um desafio. A tristeza parecia pairar sobre cada tarefa, e eu lutava para manter um semblante calmo enquanto lidava com o impacto emocional da perda.
No intervalo, juntei-me aos meus colegas de trabalho, Tom e Clara, na pequena sala de descanso. O ambiente estava carregado de um silêncio carregado, quebrado apenas pelo som ocasional de uma xícara sendo colocada na mesa. Tom, normalmente um homem reservado e pragmático, parecia mais cansado e refletivo do que o habitual.
-Eu não consigo parar de pensar na Senhora Wilson - Tom comentou, a voz baixa e carregada de desânimo - É como se ela tivesse levado um pedaço de todos nós com ela. A gente se apega tanto aos nossos pacientes, e quando eles vão embora, fica esse vazio.
-Sim, é verdade - concordei, tentando controlar a emoção que se acumulava em minha garganta - Cada perda parece adicionar um peso novo, como se o mundo se tornasse um pouco mais escuro a cada vez. E encontrar alguém que realmente entenda o que passamos... é tão difícil.
Clara, que sempre teve um espírito otimista e uma capacidade de ver o lado bom das coisas, estava visivelmente abatida. Seus olhos, que normalmente brilhavam com energia, estavam opacos e cheios de preocupação.
- Precisamos de mais apoio, não só entre nós, mas também de profissionais que realmente compreendam a carga emocional que carregamos. A cada vez que perdemos um paciente, é como se o mundo ao nosso redor ficasse um pouco mais pesado.
Sua observação ecoou a dor que muitos de nós sentíamos. O estigma associado ao luto profissional e a falta de recursos adequados para o apoio psicológico criavam um ambiente de frustração e solidão. A sensação de estar lutando sozinho com o peso das nossas responsabilidades era esmagadora.
O final do turno chegou com um alívio misturado com uma sensação de cansaço profundo. O trabalho parecia ter se tornado um ciclo interminável de tristeza e demandas físicas, e a perspectiva de enfrentar mais uma semana nesse ritmo era desalentadora. A tristeza se arrastava em cada tarefa, e eu me sentia como se estivesse lutando para manter uma fachada de normalidade.
Naquela noite, enquanto os residentes se acomodavam para a noite, decidi que precisava de uma pausa.
Naquela noite, enquanto os residentes se acomodavam para a noite, eu sabia que precisava de uma pausa. O dia havia sido pesado e eu sentia a necessidade de um escape. Enquanto caminhava em direção ao vestiário, avistei Tom e Clara pegando suas bolsas e se aproximando de mim. Clara, sempre a mais energética do trio, pulou em minha direção com um entusiasmo contagiante.
- Megumi! Amor da minha vida, minha flor de cereja! Vamos ao bar? Por favor! - Clara exclamou, seus olhos brilhando com uma mistura de diversão e preocupação.
Eu sorri diante da sua animação.
-Bom...
- Por favor, nunca te pedi nada!- Clara insistiu, com um tom de súplica brincalhona que nunca deixava de me fazer rir.
Tom, que geralmente era mais reservado, finalmente se manifestou .
- Eu não vou carregar nenhuma das duas cacheiras - ele disse, olhando para Clara com um olhar de desaprovação divertido, o que fez Clara rir ainda mais e me soltar, voltando para seu namorado com um sorriso travesso.
-Você vai sim - ela respondeu, enquanto se afastava para brincar com Tom.
Saímos do vestiário com minha bolsa e vi Clara me esperando na frente de um carro. Ela estava radiante, com um pequeno sorriso no rosto, e parecia aliviada por ter conseguido me convencer.
- Megumi, eu vou para casa me arrumar. Quer carona? Eu te levo e depois venho te buscar com o Tom!z ela disse, sua voz cheia de energia.
-Claro, obrigada! Eu realmente preciso de um drink hoje - eu respondi, sentindo um alívio ao ver a oferta de ajuda.
Subi no banco de trás do carro de Clara, e começamos nossa viagem para minha casa. O trajeto levou cerca de 30 minutos, e durante o percurso, Clara continuou a falar animadamente sobre o que planejava fazer à noite e como o bar seria o lugar perfeito para descontrair. A conversa ajudou a manter meu ânimo, apesar do peso emocional do dia.
Quando chegamos em minha casa, Clara me deixou com um sorriso encorajador.
-Vou te buscar em 40 minutos. Até lá, espero que esteja bem bonita! Não vá estragar minha noite com uma aparência desleixada, hein? ela brincou, piscando para mim antes de partir.
Fechei a porta do carro de Clara e dei um aceno para ela antes de começar a caminhar até a portaria do meu prédio. O caminho até a entrada foi curto, e logo coloquei minha digital no leitor da porta. A entrada se abriu com um leve estalo, e eu me encaminhei para o elevador. No entanto, um impulso repentino me fez optar pelas escadas, apesar de estar exausta.
Enquanto subia os degraus, o peso dos dias cansativos e da semana difícil parecia se acumular a cada passo. Sabia que deveria ter pegado o elevador, mas o esforço físico da escada me ajudou a distrair a mente, mesmo que temporariamente.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro