𝔸𝕣𝕒𝕣𝕚𝕟𝕙𝕒
Eu e você
Não fomos feitos
Um pro outro
Nós dois finos feitos de
Pó de estrela e fragmentos do sol
Mesmo que não
Sejamos para todo o sempre
Ainda haverá
Sua luz em mim
E meu brilho em você.
-Eclipse.
Tsukishima Kei.
{07/07/2023}.
15:30.
Chequei mais uma vez o horário pelo celular, minhas mãos estavam um pouco trêmulas e meus dedos suados deslizava com facilidade pela tela do celular, embaixo do meu sovaco estava um grande buquê de belas rosas-silvestres, as pontas das frágeis pétalas eram pintadas de uma leve coloração rosada, olhei para cima desviando a atenção do aparelho e focando no sinal o qual havia finalmente ficado verde, guardei de modo apressado o telefone em meu bolso da calça jeans e tirei o buquê de meu sovaco apertando fortemente as flores cobertas do papel fino cor marrom-claro e enfeitada com um grande laço cor vermelho vivido.
Me pus a correr como um louco até o outro lado da rua com medo que o sinal fechasse novamente, minhas pernas estavam um pouco bambas de tanto tempo andando, meu estômago se revirou por alguns segundos e eu tive uma súbita vontade de vomitar, tive que parar por alguns segundos para recuperar o ar com desespero, me encostei na parede de uma loja qualquer e tentei acalmar meu coração que batia em ansiedade.
Eu me pergunto se sempre será a mesma coisa...
Perguntei em meu íntimo enquanto encara o céu, a cor azul normalmente é remetida à tranquilidade assim que o olhamos para ela, é muito usada para simbolizar a tristeza em muitas obras artísticas, entretanto, sempre que olhamos para ela somos dominados por calmaria, ultimamente tenho olhado muito para o céu e as vezes acabo por perder longos minutos olhando para a imensidão.
Um suspiro fundo, um pensamento intrusivo, e eu finalmente estou de volta, meu coração ainda bombava como louco em meu peito e meus dedos ainda estavam suados com as mãos trêmulas, porém, agora estava com mais energia e eu conseguiria percorrer o resto do caminho com rapidez.
Acho que vai ser isso até o fim...
O pensamento passou pela minha cabeça, meus pés andavam rápidos mesmo que não estivessem correndo.
O desespero era dado por uma possibilidade que ia e voltava em minha mente, "e se ele estiver morrido?", era oque eu pensava em algum momento do meu dia, sabia bem que em algum dia isso não será apenas um pensamento e isto me assusta pra caralho, como posso dormir tranquilamente sabendo que a pessoa que eu amo incondicionalmente está em uma cama de hospital e a qualquer momento irá morrer? Eu simplesmente não consigo descansar, não consigo focar-me por muito tempo em uma coisa como costumava focar, a ansiedade tem me deixado demasiado sobrecarregado, e isso tem me afetado tanto fisicamente quanto emocionalmente.
Primero começou com a dificuldade em dormir que resultou em noites em claro ou pesadelos realistas demais, e então veio o cansaço em excesso tanto físico e mental que eu só costumava sentir depois de uma árdua partida de vôlei, logo após veio os enjoos e as súbitas vontades de vomitar mesmo que eu não tenha comido muito ou ingerido algo estragado, e por fim veio os pensamentos intrusivos ou depressivos que não paravam por um instante.
É fudidamente cansativo para meu corpo aguentar, eu sei, todos em minha volta também percebiam já que as vezes me aconselhava a pegar mais leve ou apenas me encaravam com um semblante de pena palpável, no início eu fiquei irritado com o quão persistentes eles podiam ser em questão à minha saúde, porém, agora eu só estou pensativo demais para importar-me.
Mas o que eu posso fazer? Não sou eu que estou em uma cama em estado terminal sem esperança nenhuma de sair vivo, parar para chorar como uma criança ou não me preocupar o suficiente é egoísmo demais para mim, eu seria um péssimo namorado se não estivesse sendo firme por ele, por nós, estou fazendo uma coisa relativamente simples e mesmo assim estou desabando como um moribundo, não posso deixar isto acontecer!.
Balancei a cabeça tentando expulsar essas assombrações denominadas por pensamentos.
Agora eu estava em frente ao hospital onde Yamaguchi reside, como sempre estava muito movimentado, olhei hesitante para a grande porta de vidro que me permitia ver por dentro.
O ambiente passou a ser familiar demais para mim, eu passei a conhecer cada corredor do grande prédio e não precisava mais de ajuda para chegar na sala onde Tadashi reside, até mesmo o rosto de algumas enfermeiras ficaram gravadas na minha mente.
Yamaguchi Tadashi.
15:40.
Foi uma demanda muito grande me manter de pé, os meus músculos eram moles como gelatina e parecia que eu havia feito diversas séries de exercícios pesados, meus olhos ficam extremamente ressecado ao serem expostos à luz da lâmpada tal como expostos ao sol, meu cérebro pareceu estar solto dentro de meu crânio e por isso doía como uma enxaqueca muito severa.
Tudo era extremamente dolorido em mim, os remédios que antes tinham gosto tão horrível quanto wasabi passaram a ficar sem sabor algum em meu paladar, eu comecei a viver no automático, acordava cedo sempre com a mesma enfermeira de sorriso grande avisando em tom baixo que já era de tomar meu remédio, ela então fazia algumas perguntas repetitivas e logo saía para buscar meu café da manhã, após isso ocorrer uma fisioterapeuta vinha e me acompanhava em exercícios leves para manter-me minimamente saudável, e então ela me deixava novamente em meu quarto aonde eu tomava mais pílulas e checava rapidamente o celular começando a conversar com o Tsukki.
Tsukki.
Ele tem sido uma pequena escapatória da realidade mórbida, todo dia ele vinha com um buquê de flores diferentes e me puxava para uma dança calma de durava cerca de 1 minuto antes de me colocar delicadamente sobre a cama e começar a falar sobre tudo, era como se apesar de não fazermos isso antigamente nada tenha mudado, suas palavras eram sim carregadas de amor e ternura, porém, continuava com os assuntos que costumávamos conversar antes do câncer, eu podia me sentir como um adolescente normal por alguns segundos antes de mais uma enfermeira chegar e anunciar o fim do tempo de visitas.
Há também os meninos do time, cada um com sua própria personalidade e jeito de lidar com a situação, eles são verdadeiros amigos que tem me mantido entretido tanto quanto Tsukishima, eles no entanto não me visitam todo dia, no início eu cheguei a pensar que não queriam me ver no leito de morte e estão vindo apenas por boas maneiras, entretanto, Sugawara, fez questão de me esclarecer que eles sentem tanta saudade quanto Tsukishima mas sentiam que era de extrema importância dar privacidade à mim e ao meu namorado.
Mamãe... minha querida mãe, ela tem sido tão compreensiva quanto todos, vejo em seu rosto o quão cansada ela está com tudo, e mesmo assim, todo dia que ela passa por aquela porta esbanja um sorriso resplandecente apesar de um pouco fraco, ela então se senta na poltrona ao meu lado parecendo não conseguir mais se manter de pé por muitos minutos e em seguida desata a falar sobre tudo.
Podia ser pior.
Pensei sorrindo em meio as dores recorrentes, eu não podia reclamar da falta de companhia, porquê não há, todos faziam questão de sempre se manter perto e me manter entretido.
E havia o Tsukki, ele tem sido simplesmente um namorado sensacional e eu só posso chorar por nosso pouco tempo restante, se houvesse mais tempo eu iria fazer tantas coisas, eu consigo idealizar perfeitamente nossa vida alternativa futura, iríamos morar em um pequeno apartamento, todo dia eu iria acordar ele com um beijo no rosto e nas mãos uma bandeja de café da manhã, ele iria reclamar por eu acordar-lo tão cedo e abriria um grande sorriso ao ver o café em sua frente, iríamos conversar um pouco e logo cada um sairia para ir ao seu devido emprego, de noite iríamos beber uma taça de vinho enquanto assistimos um seriado qualquer e eu aproveitaria seu cafuné e principalmente sua companhia. Em feriados e folgas conjuntas iríamos sair com nossos amigos para algum bar ir qualquer outro lugar, e em todas as noites eu iria dizer "eu te amo".
Eu queira mais tempo.
Suspirei sonhador e me pus a sair da cama, ainda dolorido peguei o lenço cor verde esquecido encima da cômoda e delicadamente enrolei sobre minha cabeça desprovida de cabelo.
Assim que terminei de amarrar o lenço a porta é aberta pela enfermeira sorridente, ela acenou mais animada que o comum e jogou seus cabelos estranhamente rosas e encaracolados para trás, com a prancheta em mãos ela se aproximou da cômoda pegando dois frascos de remédios na mão e pegando duas pílulas de cada potinho, ela estendeu a mão com o conteúdo, eu apanhei e ela rapidamente pegou o copo com água que repousava também na cômoda e me estendeu, terminei de tomar os comprimidos.
Bianca Smith, ela é uma enfermeira que sempre esbanja um sorriso de orelha a orelha e me pergunta sobre minha estadia tardia no hospital, ela é uma das poucas enfermeiras que parece realmente gostar do que faz, hoje ela era especialmente feliz.
Yamaguchi: Por que está tão feliz?.- perguntei não me contendo.
Ela abriu ainda mais o sorriso, com entusiasmo ergueu os braços para o alto os balançando de maneira animada, Bianca é realmente uma mulher muito animada e nunca à vi com um semblante triste.
Bianca: Hoje é meu aniversário!.- falou entusiasmada.
E em um movimento repentino ela me abraçou delicadamente, seus braços me envolviam de maneira delicada, ela estava na ponta dos pés para conseguir me abraçar corretamente, seu rosto estava escondido em meu peito e ela estava animada. Eu fiquei alguns segundos processando o abraço antes de envolver meus braços em volta dela.
A porta de repente foi aberta, de lá saiu meu namorado, em suas mãos um grande buquê de flores levemente rosadas, ele parecia estar muito cansado como ser estivesse corrido uma marota. Sua expressão como sempre era de enorme cansaço, os seus lábios trêmulos abriram um sorriso desajeitado e fraco, era como se ele quisesse me falar que está tudo bem ou quisesse disfarçar o aparente cansaço, em passos lentos ele se aproximou, Bianca, desfez o abraço e com um aceno animado de comprimento se despediu de nós fechando á porta ao sair.
Agora estávamos a sós no quarto, ele me entregou o buquê com um simples dizer "eu te amo" que tinha um peso muito maior que mil declarações, naquela tarde ele me estendeu a mão com um pedido mudo de dança, como costumávamos fazer de vez em quando, não havia música tocando, não era necessário para eu sentir a harmonia que havia em nós, bem como não era necessário falarmos algo, ali no chão do hospital nossos pés bailavam em sincronia e nossos corpos se moviam de forma orgânica, Tsukki, obviamente parecia brilhar ao realizar os passos elegantes de valsa, ele dançava tão bem quanto um profissional e eu me pergunto se ele fez algumas aulas.
Nossas orbes se encaravam com brilho, por trás daquele cansaço extremo que o maior sentia eu podia ver o amor que lá tem, o loiro era verdadeiro em cada demonstração sua em relação à mim, ele me ama tanto bem como eu o amo, eu só sinto que não demonstro tanto quanto ele, eu poderia ser um namorado bem melhor em todos os sentidos da palavra.
Enquanto dançavamos eu sorri verdadeiramente, apesar de todo o cansaço, do clima mórbido que as vezes eu sentia na pele, da preocupação sufocante que os meninos inconscientemente demonstravam de vez em quando, do diagnóstico irreversível, das dores tanto físicas quanto mentais, do câncer... Eu agradeço verdadeiramente, eu sou feliz, e enquanto estiver do lado de pessoas tão incríveis quanto minha mãe e Tsukishima Kei eu viverei em paz, até meu último suspiro eu dedico toda minha felicidade à eles.
De repente minha cabeça começou a doer para valer, eu senti meus braços e pernas fraquejar antes de subitamente ceder ao desmaio.
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