10
- Aquele garoto sobre quem Noah nos falou ontem à noite... Eu vou matá-lo. Ele é perigoso - informou Carl ao pai enquanto ambos saíam para o alpendre da casa.
Todo o grupo também estava saindo. Aaron havia dito que podiam explorar Alexandria o quanto quisessem antes de começarem seus trabalhos, e esses eram os planos para o dia.
A Carl não haviam designado nenhum trabalho, por mais que ele insistisse em conseguir um.
Sentia-se inútil por não poder contribuir com a comunidade, especialmente se aquele lugar era realmente o que diziam ser: um local seguro onde Judith pudesse crescer sem preocupações.
Ele gostaria de ajudar de qualquer forma, como fazia na prisão, mas Deanna recusara por causa de sua idade. Pelo menos, ela o encorajou dizendo que seria apenas "por enquanto".
Naquele momento, Carl empurrava o carrinho de bebê que haviam lhe dado para levar Judith, mas ela ainda não estava nele, pois Michonne terminava de alimentá-la.
Ao redor, estavam Daryl, Carol e seu pai, todos parados no alpendre e observando além, mas sem vontade de sair após as palavras de Carl, pelo menos não sem antes terem uma conversa.
- Ele parece inofensivo - comentou Carol, dando de ombros levemente.
- Sim, bom, você também parece inofensiva - respondeu Daryl, como se isso bastasse como argumento.
E, na verdade, bastava. Todos ali sabiam do que Carol era capaz para defender os que amava, mesmo vestida da maneira mais inocente possível. Eles a conheciam bem demais para serem enganados.
- Carl... Não acho que a melhor solução seja matá-lo. Pelo menos, não por enquanto - Carol continuou, olhando primeiro para Carl e depois para Rick, que permanecia em silêncio, braços cruzados, encostado na parede da casa com uma expressão pensativa -. Rick, você sabe que não seria inteligente matá-lo, não agora que acabamos de chegar.
- Mas sabemos que ele é perigoso - começou Rick, e Carl não pôde evitar um pequeno sorriso ao ver que seu pai o apoiava.
Lá estava. Até mesmo seu pai pensava: aquele garoto precisava morrer. Se era perigoso, deviam cuidar disso.
Noah já havia deixado isso claro na noite anterior. Sua história fora suficientemente cruel para que considerar matá-lo não fosse uma ideia absurda.
- E agora que sabemos disso, tomaremos cuidado. Carl poderia até mesmo vigiá-lo, mas...
- Não - interrompeu Rick. Todos ficaram em silêncio.
- Se queremos ficar aqui, não podemos matar - concluiu Daryl após uma breve pausa, em um tom de voz baixo que sugeria a Carl que ele, na verdade, não se importava tanto com a ideia de permanecer em Alexandria.
Daryl deixou-se cair no chão do alpendre, recostando-se em uma das colunas e olhando para o vazio antes de continuar:
- Talvez... Vigiá-lo.
- Não podemos matá-lo - finalizou Rick, assentindo, ao que Carol soltou um suspiro aliviado. - Mas também não será Carl quem vai vigiá-lo.
- O quê? Por que não?! - protestou Carl, elevando um pouco a voz e recebendo um olhar de advertência do pai. Bufando, continuou em um sussurro audível para todos: - Você sabe que eu daria conta dele se tentasse...
Ele não terminou a frase, porque a simples ideia de alguém tentar matá-lo em um lugar como Alexandria parecia estranha. Depois de tudo o que Noah dissera, Carl começava a duvidar do garoto.
- Rick... Se esse garoto vive em um lugar como este, me custa acreditar que ele ainda seja como Noah nos contou - explicou Carol, em um tom calmo, aquele que ela usava para convencer as pessoas.
Carl assentiu em concordância. As palavras de Carol resumiam exatamente o que ele não sabia como explicar.
- E parece que ele se dá bem com Aaron - murmurou Rick, ainda pensativo.
Talvez o silêncio de seu pai se devesse ao fato de não querer que Carl estivesse em perigo. Mas Carl discordava. Ele sabia do que era capaz - e incapaz. E ele era muito capaz de matar alguém.
Seu próprio pai, de todas as pessoas, deveria saber disso.
Mas talvez fosse justamente por essa razão que Rick não queria que Carl vigiasse o garoto. Como na prisão, queria que Carl se afastasse do perigo e deixasse que outros, como Daryl ou Tyreese, lidassem com as ameaças, enquanto ele plantava tomates e cuidava de porcos.
Só que Carl não queria mais ser deixado para trás. Não de novo.
- Eu posso vigiá-lo. Se ele tentar me machucar, eu dou conta dele! Eu não sou fraco, eu posso... - Carl parou ao perceber o olhar que seu pai lançava, o suficiente para calá-lo mais uma vez.
- Não estou dizendo que você não sabe se defender. Sei muito bem que você conseguiria... - Rick parou, soltando um suspiro pesado antes de continuar.
- É apenas a sua preocupação como pai - concluiu Carol.
E talvez fosse algo mais, ou talvez fosse apenas isso. Carl não conseguiu saber, porque Rick simplesmente assentiu às palavras dela.
- Sim... Acho que deve ser isso - murmurou Rick, levando a mão ao rosto como se fosse tocar a barba, mas, ao chegar ao queixo, notou que já não a tinha. Um gesto reflexo.
- Então posso vigiá-lo? - perguntou Carl, a esperança brilhando em seus olhos, mas ciente de que, se seu pai dissesse não, ele não poderia fazer mais nada.
No momento em que Rick estava prestes a responder, Michonne apareceu carregando Judith. Ela lançou um olhar interrogativo a todos, mas ninguém disse uma palavra.
- O que está acontecendo aqui? - perguntou Michonne, um pequeno sorriso no rosto e um olhar curioso que dirigiu diretamente a Carl, pois confiava mais nele.
Carl apenas deu de ombros, lembrando-se de como, no dia anterior, seu pai havia comentado sobre o entusiasmo de Michonne por Alexandria e sua confiança de que aquele era o lugar que estavam buscando.
Se Michonne descobrisse que estavam falando sobre matar ou vigiar o garoto de quem Noah lhes contara, com certeza teria algo a dizer. Por isso, todos preferiram guardar silêncio.
- Disseram que podíamos explorar o lugar, não foi? - perguntou Rick finalmente, ajudando Michonne a colocar Judith de forma segura no carrinho que estava bem à frente de Carl. - Bom, vamos explorar.
Michonne não pareceu muito convencida com a resposta, mas, por fim, assentiu e começou a descer as escadas do alpendre.
Rick e Carol ajudaram a descer o carrinho de Judith e, depois, Carl assumiu a responsabilidade de empurrá-lo pelas ruas. Mas, quando estava prestes a começar a andar, seu pai o deteve.
- Tudo bem, Carl. Você pode ficar encarregado disso - disse Rick com um aceno firme. Carl sorriu e aceitou, retribuindo o gesto antes de começar a empurrar o carrinho de Judith.
Samuel Scott... Não, Dust. Parece que agora o novo nome dele é Dust, então... Bem, vou me certificar de vigiá-lo, pensou Carl, enquanto começava a procurar o garoto pelas ruas. Caso, por acaso, o visse, percorreria as ruas daquele que poderia se tornar seu lar, mas que ainda não era.
Revisado.
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