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Capítulo 3 : Bem me Quer

Dois dias se passaram e tudo continuava na mesma, calmo, tranquilo e sereno...

Eu me perguntava: quando eu seria capaz de me encontrar com ele novamente?

O sentimento de pensar nele era inexplicável, era uma mistura de euforia e, em simultâneo, medo... E isso me deixava perdida, e o mais desligada da realidade o possível.

- Saara! - Gritou a senhora Ellen.

- Sim, senhora Ellen.

- Onde você está com a cabeça minha, jovem?

- Conheceu algum rapaz? - Disse ela em um tom brincalhão, sem perceber que estava dizendo realmente a verdade.

- Acho que sim...

- O quê? Me conte tudo. - Pediu, largando até mesmo a sua novela de lado.

- Sabe aquele rapaz que me salvou?

- Claro. Um jovem, estou certa?

- Isso. Bem, sabe o jantar de ontem? Foi ele que me enviou juntamente com aquelas flores, e para ser sincera, eu não tenho conseguido esquecê-lo desde dois dias atrás. Ele disse que nos veríamos de novo, caso eu quisesse encontrá-lo, mas até agora nada.

- E digamos que eu não sei se devo ou não vê-lo novamente?

- Como a senhora me aconselharia?

- É complicado, afinal, você não o conhece muito bem. No entanto, se você se interessou por ele, deveria dar uma chance de conhecê-lo melhor. Mas, é claro, priorizando a sua dignidade e o seu presente.

- Não entregue isso para ninguém, antes do casamento. Pois os homens podem enganá-la só para conseguir o que eles querem.

- Você acha que ele tem dó de mim?

- Dó, não pode ser a palavra certa, mas talvez ele queira apenas jogar com você.

- Jogar... É isso que os homens fazem?

- Cafajestes sim. Já rapazes decentes e compromissados nunca jogam com os sentimentos de uma garota.

- E é esse tipo de rapaz que você precisa para sua vida. Alguém que te faça feliz e cuide de você.

- Mas primeiramente dê uma chance a ele, e veja se as suas intenções são tão boas como ele diz.

- Certo. - Concordei, apreensiva.

DIVISÓRIA

Passando-se as horas, a senhora Elen decidiu participar do bingo com as senhoras de sua idade, e como compensação eu decidi ficar em casa e terminar de arrumar tudo que eu precisava ajeitar.

Liguei a TV e comecei a assistir "Friends", estava passando uns episódios bem engraçados enquanto eu comia um balde grande de pipoca e uma latinha de Lima.

Até que a campainha tocou!

- Já estou indo! - Gritei, pausando a TV e prosseguindo até a porta.

Abrindo-a, eu logo me deparei com ele... A pessoa que me salvou...

E no mesmo instante, o meu coração acelerou ao percebê-lo!

- Você... - Afirmei ainda pasma.

- Olá, Saara, com dois A.

- Esperou muito?

- Oh... Não... Imagina.

- Não irá me convidar para entrar?

Acho melhor não, não quero ser encontrada morta pela senhora Elen, ela com certeza teria um enfarto e morreria junto comigo.

- Acho melhor não, eu estou sozinha.

- Entendo...

Ele se aproximou lentamente de mim, abaixando-se conforme a altura de minha cadeira de rodas.

O mesmo colou nossos rostos, e nossa respiração já estava sincronizada, enquanto eu morria de vergonha e pensava... Será que ele vai me beijar?

Seus lábios estavam próximos dos meus, quando ele disse:

- Você não gostaria de saber o meu nome?

- O seu nome... É claro.

- Eu me chamo... - disse ele roubando um beijo meu.

Mas, antes que seus lábios se completassem aos meus, eu me afastei! Evidentemente, irritada com sua atitude repentina.

Entretanto, ele ainda completou a sua última palavra:

- Aiden...

Estava sem ter o que dizer. Seu nome era bonito, mas Ação há poucos minutos me fez duvidar de sua postura, o quanto ele tanto defendia.

- Você não está brincando comigo, não está?

- O quê?

- Sei que posso ser uma paraplégica, mas não sou frágil como você pensa que eu sou.

- Eu nunca disse que você era frágil.

- Então por que me beijou?

- Você não gostou?

- Esse não é o foco. Mas nós acabamos de nos conhecer, ou seja, eu não sei se você quer tentar algo sério comigo ou se quer apenas fazer joguinhos.

- Não pense que estou em desvantagem só porque não posso andar com as minhas próprias pernas. - Continuei, rapidamente obtendo um sorriso do mesmo.

- Eu não penso assim de você.

- Mas então, por que você age como se estivesse interessado por mim?

- Talvez eu tenha gostado de você.

- Mas de quê? O que tenho para ter lhe chamado a atenção?

- Seus olhos, a sua vida, o seu silêncio...

- Eu te olho e simplesmente consigo perceber o quanto você já sofreu, e pergunto-me: o que você já passou para ter esse coração ferido...

- Quando eu te olhei pela primeira vez, eu pensava que você era uma garota normal de apenas cabelos claros. Mas durante a nossa conversa percebi que você era igual a mim, irritada com a vida, cansada de tanto sofrimento e se atormentando com memórias.

- Você não é a única a passar por esse sofrimento.

- E por isso, sinto que tenho uma ligação com você. Você pode não entender, mas há algo seu que me cativa, e devido a isso eu quero me aproximar.

- Você me permitiria, Saara?

Meus lábios se fecharam naquele momento, pois receber um pedido não seria algo que talvez aconteceria há 3 dias atrás, mas o improvável aconteceu. Porém, qual seria a minha resposta?

Eu fiquei pensativa por um tempo, até que respondi:

- Tudo bem... Eu permito que se aproxime, mas sob uma condição, quero que me respeite.

- Certo... eu concordo com isso. - Concordou ele.

Assim, sorrimos mais ou menos um para o outro, e ficamos sem ter o que dizer, até que eu quebrei o gelo:

Bem, já que você está aqui, gostaria de um copo de água, suco ou café? Antes que a senhora Elen chegue. - Perguntei.

-Aceito um copo de suco, por favor. - Respondeu ele, entrando juntamente comigo no apartamento.

- Tudo bem. - Afirmei, indo até a cozinha e pegando o suco na geladeira.

De igual modo, eu reparei que Aiden observava cada detalhe do apartamento, olhando as fotos na estante e na parede da senhora Elen. Até que ele parou, com um dos retratos na mão.

- Esta aqui era você, Saara?

- Sim. Eu tinha 7 anos nessa época.

- Você não mudou nada.

- Continua com os mesmos olhos e o mesmo cabelo dourado.

- Obrigada, eu acho...

- Aqui está o seu suco. - Disse-lhe entregando o copo, enquanto ele agradecia com apenas o olhar.

Permitindo que eu reparasse pela primeira vez as grandes tatuagens que corriam de suas mãos até os seus braços aparentemente magros.

- Você tem tatuagem! - Afirmei surpresa.

- Sim. Você não gosta?

- Eu não sei... Mas fazer isso não é doloroso?

- É, mas a palavra certa é suportável. - Sorriu.

Eu dei um pequeno sorriso, enquanto Aidan voltava a encarar as fotos no quadro.

- Mudando de assunto, quem é a senhora Ellen?

- A senhora Ellen foi quem me adotou depois que meus pais faleceram.

- Se não fosse por ela, eu talvez estaria na rua. Então, digamos que devo tudo a ela e quero retribuí-la o máximo possível.

- Você tem um coração bom, Saara. - Sorriu ele.

- E esta Senhora também.

- Eu teria sorte de ser cuidado por você.

- Ah, e sobre o beijo... Me perdoe, acho que me precipitei.

- Eu não queria deixá-la desconfortável, afinal, estas não são as minhas intenções.

- Eu não costumo fazer isso, além disso, eu nunca namorei ninguém.

- Você é a primeira mulher que eu tento.

Após as suas palavras, o meu coração se aqueceu. E eu pensei: será que isso é uma confissão, será que ele quer ter algo a mais comigo?

- Eu não entendo... Isso significa que...

- Isso significa que quero tentar algo a mais com você, ou seja, te conhecer melhor.

- E se tivéssemos um encontro, você iria?

- Acho que sim.

- Então está marcado. Eu te pego aqui às 18h00.

- Este é o meu número, me envie uma mensagem assim que possível. - Disse ele, me entregando um cartão preto com seu nome e número de telefone.

- Está bem. Até amanhã, Aiden.

- Até amanhã, Saara com dois A.

Sorrimos.

Ele saiu do meu apartamento às 15h57 da tarde, quase a tempo da senhora Elen chegar, às 16h10.

Eu preparava cookies caseiros e chaleira de chá para o café da tarde, já que a senhora, Elen, estava exausta após o bingo.

Vocês devem estar se perguntando: como eu cozinho?

Bem, não é tão difícil, já que essa cadeira foi elaborada exclusivamente para mim, conforme a altura dos móveis e do fogão. O que também facilitaria o meu andar, garantindo o meu conforto.

Algo super notável.

DIVISOR

Assim que terminei, levei uma bandeja com tudo para a vovó e dei-lhe a xícara de chá nas mãos.

- Como foi a sua tarde?

- Boa. E da senhora?

- Tranquila, há tempos que não me engraço com um homem.

- Oh, meu Deus! Lembre-se dos conselhos que a senhora me deu.

Sorrimos.

- Só estou brincando, querida. Não sou esse tipo de velha.

- E aquele rapaz?

- Oh, sim, o Aiden!

- Quer dizer que você descobriu o nome dele!

- Sim... Ele veio aqui.

- O quê? Vocês ficaram aqui sozinhos?

- Não por muito tempo, nós conversamos da porta, ele apenas entrou para tomar um pouco de suco.

- E não aconteceu nada mais? - Disse, apertando os olhos.

- Sei muito bem do fogo que existe nos jovens de hoje em dia.

- Bom... Nós nos beijamos.

- O quê? Mas já!

- Você não o achou muito atirado, para mim, isso não é a atitude de um homem sério.

- Agora que você me disse isso. Estou querendo conhecê-lo. Traga-o aqui.

- Mas, senhora Elen, eu acabei aceitando ter um encontro com ele... Ele me disse que quer me conhecer melhor.

- Você acha que fui muito fácil?

- Querida, não podemos colocar a culpa em você, afinal, você é muito ingênua para a sua idade, já que você não chegou até um convívio maior com os jovens de hoje em dia.

- Você sempre estudou em casa, nunca mais foi à escola depois que os seus pais faleceram, e vive desde então com a velhinha aqui. Então, é de se entender que você não acompanhe a juventude como ela é.

- Mas agora que disse sim, você deverá cumprir com sua palavra. Além disso, um encontro é uma boa chance para conhecer um rapaz.

- Então, vista-se, passe perfume e penteie o cabelo da melhor forma possível.

- É claro.

- Mas eu te peço apenas uma coisa.

- Sim?

- Antes de ir, eu gostaria de conhecê-lo, afinal, ele pode ser o futuro marido da minha menina, mesmo sendo um pouco atirado.

- Tudo bem, eu o apresentarei à senhora.

Sorrimos.

De repente, a tela da TV nos expõe a uma reportagem, apresentando vários casos de assassinato nos últimos dias, aqui em Northwest. A polícia estava chocada com tantos casos já descobertos, sendo no total de 27 mortes, todas sendo as vítimas mulheres, entre 15 e 30 anos. Elas tinham na maioria das vezes seus órgãos perfurados por uma faca de 40 centímetros ou marcas de sufocamento ao redor do pescoço, e isso era simplesmente amedrontador...

- Que bom que sou uma velha, não há perigo nenhum dele vir atrás de mim. - Brincou ela.

- Acho melhor você carregar sempre um borrifador de pimenta quando for sair, essas ruas estão perigosas, cheias de ladrões, assassinos e pervertidos à solta.

- E não podemos confiar mais na polícia, do jeito que eles são lentos.

- Isso eu concordo.

- Mas o que mais me chama atenção é por que este criminoso só mata mulheres?

- Isso é algo que os investigadores terão que descobrir.

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