Capítulo 11 : Bem me Quer
O quarto estava escuro, e a luz do sol mal entrava entre as janelas imensas do lugar, e aquele mesmo cheiro de eucalipto também se mistura com o cheiro de remédios diferentes.
Aidan, estava deitado em sua cama, com um edredom de seda cobrindo apenas a parte de baixo de seu corpo, seus olhos estavam fechados e seu cabelo estava bagunçado.
Seus cachos já estavam defeitos, quando eu me aproximei, observando cada detalhe do seu rosto.
Sua feição genial, seus belos cílios e lábios finos. Ele não é um deus grego como muitos livros dizem sobre seus personagens principais, mas posso afirmar que ele é lindo, mesmo com seus os defeitos.
Lentamente, toquei levemente sua testa, encostando em uma parte de seus cabelos.
Ele estava um pouco febril, e suando de leve. Mas nada que parecesse preocupante.
O que certamente me tranquilizou.
- Você é hipócrita, ou o quê? - Questionou Aidan, abrindo os seus olhos.
- Aidan! - Exclamei surpresa.
- Entra no meu quarto, me toca, e age como se nada tivesse acontecido. - Disse assentando-se na cama.
- Você acha que sou idiota?
- Acha que sou retardado, e não lembro das coisas que você me disse?
- Não... Me desculpe. - Encarei o chão.
- Por que você veio aqui?
- É... Vim ver se você estava bem... E para conversar com você...
Ele riu, debochando de mim.
- Perdeu seu tempo, pois eu não tenho nada a lhe dizer.
- Quem te deixou entrar? Foi a Joanna, não foi?
- Sim. Mas não a prejudique, por favor.
Aidan, revirou os olhos.
- Vai embora.
- Aidan, por favor, vamos conversar.
- Que parte você não entendeu que eu não quero ouvir a sua voz.
- Saia daqui.
Suspirei fundo, segurando as lágrimas que Já se formavam por baixo dos meus olhos.
- Me perdoe, Aidan... Eu não queria ter dito aquelas coisas a você, eu fui egoísta, pretensiosa e não levei os seus sentimentos em consideração.
- Gosto de você... Mas...
- Mas, você tem medo de mim.
- Eu não medo de você, eu tenho medo da situação, eu já passei por muitas coisas quando era mais nova, e isso ficou na minha mente, e eu tenho receio de confiar nas pessoas.
- Então, o problema não é você... Mas é o meu coração, entende...
- Sinto muito, se insinuei estar pronta, eu não queria te dar esperanças de um relacionamento.
- Acho que fomos apressados demais, então por que não começamos de uma maneira diferente agora.
- Podemos tentar ser apenas amigos, o que você acha?
Ele continuou em silêncio, evitando o meu olhar.
- Aidan... Gosto da sua companhia, e você também gosta da minha, e eu não quero ficar longe de você, e nem que fiquemos brigados.
- Então, vamos apenas nos conhecer, nos divertir, passear e fazer coisas diferentes juntos.
- Sei que haverá coisas que poderão nos limitar, graças a minha deficiência. Mas acredito que será bom para nós.
- Vamos deixar apenas o tempo nos levar... Tudo bem?
- Me dê um tempo para pensar... - Disse ele, virando de costas para mim, encarando a parede.
- Certo. - Concordei.
Tentei tocar a sua mão, mas ele rapidamente a afastou.
- Posso ficar aqui, com você? - Perguntei.
- Chame a Joanna. - Afirmou ainda de costas.
- Tudo bem... Se precisar de alguma coisa... - Disse um pouco engasgada.
E rapidamente, empurrei as rodas de minha cadeira até a porta, bati de leve, e Joanna a abriu.
- Vocês terminaram?
- Sim... Obrigada mais uma vez, Joanna.
- Estarei indo para o meu quarto... Caso você precise, estarei lá...
- Pode deixar, qualquer ajuda será bem-vinda.
Sorrimos uma para outra, e imediatamente fui para o meu quarto, mas antes que eu entrasse, a minha barriga roncou, e pensei: estou com fome.
E sem demora, desci até a cozinha, não havia nenhuma empregada ali, então pensei, essa é a minha chance.
Prepararei algo especial para o Aidan também!
O que poderia ser? Será que tem algum caderno de receitas por aqui?
Comecei a caçar por todas as gavetas dos armários, mais nada encontrei.
Bom, acho que não.
Terei de pensar, em uma receita diferente.
- Receitas rápidas e fáceis. - Pesquisei por voz, no Google.
E no mesmo instante, várias imagens de receitas apareceram na tela do meu celular. Fiquei observando a que mais parecia saborosa, até que encontrei.
Ovos beneditinos com molho holandês!
Parece uma receita ótima, eu só preciso tomar cuidado com as temperaturas e no modo de preparo de cada ingrediente.
Espero que dê tudo certo.
Primeiramente separaremos todos os ingredientes, eu preciso de:
1 gema de ovo
½ colher de chá de vinagre de maçã
¼ xícara de manteiga derretida
sal
pimenta
2 ovos
2 fatias de pão
1 avocado picado
6 fatias de salmão defumado
alcaparras para salpicar
Certo! Cozinharemos.
Peguei todos os ingredientes nos armários, e comecei a preparar e organizar tudo, cortei o salmão defumado, piquei as alcaparras, fatiei o pão e separei a clara da gema.
Peguei uma vasilha de vidro temperado, recolhi o fout e comecei a misturar a gema, mexendo o pulso com firmeza e agilidade, até ficar espumoso e esbranquiçado.
Em seguida, coloquei as gemas batidas, em banho-maria, despejando vagarosamente a manteiga nas gemas, com cuidado. Batendo com um fout para incorporar do jeito certo sem desandar, até atingir a consistência certa e reservar.
O molho holandês, está pronto!
Agora, vamos para o ovo pochê!
Enchi uma panela média de água, despejando uma colher de chá de vinagre de maçã. Assim que ferveu, eu fiz um redemoinho, e lancei o ovo (Gema e clara) dentro daquele redemoinho, e deixei cozinhar por 2 ou 3 minutos mais o menos.
Graça a Deus, tudo nessa cozinha é do meu alcance! Afinal, eu ando de cadeira de rodas, então dificulta um pouco me achegar a alguns eletrodomésticos e armários altos.
Após os minutos necessários, meus acompanhamentos estão prontos!
Agora é só em-prata.
Comecei colocando a fatia de pão no prato, por cima dela o avocado, então o salmão defumado e, sobre ele, o ovo pochê. Cobri tudo com o molho holandês e salpiquei as alcaparras.
E enfim sós, meu prato estava pronto, para ser degustado pelo Aidan!
- Espero que ele goste. - Sorri animada.
Com toda certeza, eu também preparei um para mim e um para Joanna, e ali mesmo devorei o meu! E senti todos os condimentos, ervas e ingredientes presentes.
Esse salmão, está realmente divino!
Não sei se é porque estou com fome, mas está um café da manhã delicioso.
Agora, é só levar um para o Aidan e para Joanna.
Saí da cozinha apressadamente, acompanhada pela minha grande amiga, cadeira de rodas. E cheguei ao segundo andar.
Prossegui pelos corredores até chegar ao quarto de Aidan, bati na porta rapidamente e Joanna a abriu.
Agora é orar para que tudo dê certo!
- Olá, Saara.
- Você precisa de alguma coisa?
- Não, imagina. Vim aqui para... Quer, eu preparei um café da manhã para vocês...
- Oh! É uma generosidade sua, eu já estava indo à cozinha preparar.
- Ótimo! Fico feliz por ajudar.
- Poderia entregar ao Aidan?
- Claro. Sem problemas. O cheiro está ótimo.
- Obrigada... Também preparei um para você. Espero que goste!
- Oh, muito obrigada!
- Se quiser esperar... Posso te dizer o que ele achou do prato. - Sussurrou ela sorridente.
- Com certeza... Estou torcendo para que ele goste. - Sorri.
Espero que o seu humor esteja melhor...
Após isso, Joanna adentrou para o quarto, e ficou, alguns minutos ali, então, pensei, ele deve ter gostado dos ovos beneditinos!
Um sorriso de satisfação, surgiu em meus lábios. Ufa!
Até que, Joanna saiu do quarto, com prato nas mãos, e ainda cheio.
Ele não rejeitou a comida que fiz... Ou sim?
- Sinto muito, Saara...
- O Aidan, disse que não quer nada de você e que pode jogar fora. - Disse ela com pesar.
Fiquei em silêncio naquele momento, um nó havia se formado na minha garganta, e eu estava triste com toda aquela situação.
Eu o magoei... E talvez não haja nenhuma chance dele me perdoar...
E pergunto-me, será que ele está pensando no que eu disse a ele?
Será que ele, sente a minha falta como sinto a dele?
- Tudo bem... Jogue fora.
Fui uma tola em pensar que ele fosse aceitar.
Acho melhor, eu tentar outra hora... Talvez eu esteja apressada demais.
- Bem, eu já vou indo então... - Disse me retirando e prosseguindo para o meu quarto.
Joanna, me olhava ir embora com o coração na boca.
Até que, eu bati a porta com força atrás de mim.
Agora, eu entendo o que o Aidan passava, pois morar nessa mansão é o mesmo que estar só.
Além de Joanna e Harrigan, os funcionários daqui não parecem se comunicar com o Aidan, talvez, pelo fato deles o acharam anormal, devido as suas crises de raiva.
E pelo que pude notar, o Sr. Frankfurt não passa muito tempo em casa a não ser a noite.
Então, os seus dias devem ser simplesmente monótonos, como os meus estão sendo...
As horas se passaram, e logo a noite chegou, ainda mais entediante o possível...
Até que, eu decidi tomar um copo d'água na cozinha, afinal, depois de vários cochilos a cada 5 minutos, eu estava morta de sede.
Ao chegar na cozinha, eu notei a luz um pouco acesa, e curiosa, fui de mansinho para ver quem era?
E logo, avistei Aidan, assentado a cadeira da ilha de mármore, e dessa vez, seu cabelo estava completamente liso, ou seja, ele se banhou, e vestiu um robe amarelo. . . Aquilo é do Pikachu? Ou estou cega?
Ele está vestindo um pijama de anime?
Bom, isso é novidade.
Em seguida, percebi que ele estava comendo algo, que, no entanto, eu não conseguia enxergar. E nesse exato momento a minha curiosidade aumentou mais, então me aproximei.
- Aidan! - Chamei, e rapidamente ele se assustou.
O mesmo continuava paralisado na mesma posição, talvez suando frio e tenso ao descobrir a minha presença.
- O que você está fazendo? - Questionei aproximando-me.
- Fique longe... - Resmungou ele, se levantando ainda de costas.
- Você está comendo os ovos que eu fiz?
- Não. - Afirmou.
- Então, o que é isso? - Apontei para o prato vazio (Que eu o entreguei, mais cedo) na bancada.
- É apenas um prato, ou seja, eu estava fazendo um lanche, apenas isso.
- Aidan... Sei a louça que eu peguei.
- E agora te pergunto, você jogou fora a comida que eu preparei?
- Sim.
- Aidan...
- Pare de insistir, e me deixe em paz.
- Você não se lembra do que eu disse a você?
- Fique aqui, mas não esbarre comigo.
- Pare com isso... Tentaremos de outra forma...
- Não há outra forma para mim!
- Aidan, vamos apenas conversar, me diga o que devo fazer para você me perdoar?
- Você pode pensar que não, mas, eu estou me sentindo péssima com o que tem acontecido entre nós.
- Sinto a sua falta...
- Sinto falta das nossas conversas, de quando você me fazia rir, da sua voz quando falava comigo, de como você dizia meu nome...
- Já chega! - Ordenou ele.
- Talvez... Seja melhor você ir embora.
- Aidan, eu só quero conversar com você!
- Qual parte você não entende que eu não quero falar com você.
- Você não consegue me perdoar?
- O problema é que você fica me questionando em tudo que falo, e eu detesto isso.
- Mas, eu só te conhecer melhor...
- Eu te disse que não.
- Eu só quero que volte a ser como era...
- Entenda! Se você quer que eu te perdoe, deixe que eu faça isso no meu tempo.
- Mas por enquanto, não fale comigo, não me toque, não entre no meu quarto, não me leve comida para mim, apenas me deixe em paz.
As suas palavras machucaram o meu coração, eu estava triste, por ele me querer longe, por ele me afastar, eu só queria que ele voltasse a ser o mesmo Aidan de antes...
Comecei a chorar, mas antes que as lágrimas caíssem eu me virei de costas e me retirei da cozinha.
Subi até o andar de cima, chorando em silêncio. Até que, me encontrei com o senhor Frankfurt!
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