09 - FEAR
CAPÍTULO NOVE
❛medo❜
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Lyra sempre teve uma relação peculiar com o medo. Para ela, ele nunca foi apenas uma reação instintiva; é uma presença familiar, quase íntima. O medo não a paralisava, mas também não a impulsionava como faria com outras pessoas. Em vez disso, ele a acompanhava como uma sombra silenciosa, sempre presente, mas raramente intrusiva.
Ela o encarava com curiosidade, tentando decifrá-lo como um quebra-cabeça, mesmo quando sentia o coração acelerar ou a garganta apertar. Para Lyra, o medo era menos sobre evitar perigo e mais sobre entender os limites da sua coragem e onde sua mente tenta protegê-la. Essa estranheza a fazia hesitar onde outros correriam ou avançar onde outros recuariam, como se o medo fosse algo que ela precisasse provar que podia controlar — ou pelo menos coexistir.
Lyra não foi criada pra ter medo. Para Anya, o medo era sinônimo de fraqueza, assim como qualquer outro sentimento. Ela acreditava que emoções apenas atrapalhavam, sendo distrações desnecessárias e tornando as pessoas vulneráveis. Lyra nunca concordou. Para ela, o medo era uma ferramenta ambígua: tanto podia salvar quanto matar, dependendo de como fosse enfrentado. Era apenas mais uma força, como tantas outras, a ser compreendida e controlada.
Ela optava por ódio, no entanto, era mais fácil de sentir do que medo. A raiva a fazia sentir no controle. O medo era passivo, sutil, uma presença que sussurrava fraquezas em sua mente, mas o ódio era fogo — visceral, imediato, capaz de consumir qualquer hesitação.
A raiva era ativa. Era uma resposta que ela podia dirigir, moldar, usar. Era o grito de desafio em meio ao caos, a energia que transformava vulnerabilidade em força bruta. Enquanto o medo a tornava consciente de suas limitações, a raiva as ignorava. Com a raiva, ela podia lutar. Podia sobreviver. Anya dizia que sentimentos eram armadilhas, mas Lyra aprendeu sozinha que a raiva podia ser uma arma, e armas sempre foram permitidas.
É mais fácil controlar um incêndio do que uma sombra.
Facilitava a sua vida. Ter ódio por pessoas como Roan e Titus lhe dava coragem para continuar, tendo que conviver com eles mais do que queria. Entretanto, sentir raiva de pessoas que você devia temer não é seguro, muito menos confiável.
Ela sabia que não devia estar alí. Não era prudente. Mas ela não sabia que aqueles olhos azuis tinham ficado tão presos na mente dela até que ela o viu novamente. Por meses ela tentou ignorar o que aconteceu o máximo que pôde, mas então ele estava alí, próximo dela novamente, no mesmo ambiente.
O maun — Emerson, como Clarke o chamou — estava preso na sala do trono. Sua execução seria ao anoitecer, Wanheda tinha ficado responsável por decidir sua sentença. Lyra sabia que não estava autorizada a estar alí, mas a curiosidade a venceu. Talvez fosse o medo de esquecer aquele rosto, ou a raiva de não entender por que aquilo importava tanto. Ela se esgueirou pelos corredores vazios, o som de suas botas abafado pelo cuidado em não ser ouvida. Lyra tinha anos de prática em se mover como um fantasma, uma habilidade que Anya desprezava, mas que servia bem em momentos como esse.
Ao entrar na sala do trono, a luz do entardecer pintava as paredes de tons dourados e sombrios, um contraste quase cruel para o que estava prestes a acontecer. Emerson estava em pé no centro, as mãos amarradas em um tronco e o pescoço preso como uma coleira, o rosto duro, mas não sem marcas de cansaço. Lyra não sabia se o que a incomodava mais era sua expressão indiferente ou o fato de ele não parecer temer o destino que o aguardava.
Ela não queria que ele fosse indiferente. Queria ver medo. Queria que ele tremesse, que soubesse o peso das vidas que tirou, o sofrimento que causou. Mas ele só a encarava, como se já tivesse aceitado tudo. E foi nesse momento, ao encontrar os olhos dele, que Lyra percebeu algo que nunca quis admitir: o ódio não era a única coisa que sentia.
— Não achei que você fosse durar tanto. — Ele soprou, a voz rouca parecendo cansada, mas afiada. — Nem parece a garotinha fraca que só ficava calada dentro da jaula.
— Você não é ninguém pra me chamar de fraca. — Lyra disse com frieza.
— Talvez não. — Ele respondeu, os lábios curvando-se em algo que não era exatamente um sorriso. — Mas sou alguém que te viu. E sabe o que vi? Medo.
Lyra sentiu a raiva queimando em seu peito, mas a manteve sob controle. Ela mal sabia porque estava alí de fato. Sequer lembrava do rosto dele até o levarem aos aposentos de Lexa. Ela cerrou os punhos, as unhas cravando na palma das mãos enquanto encarava Emerson. Ele parecia tão distante, tão alheio ao peso que ela carregava. Não era o que esperava. Não era o que deveria estar sentindo.
Por que aquilo a incomodava agora? Ele era só um nome, um fantasma que assombrava as histórias do povo dela. Um monstro. E ainda assim, diante dele, sentia algo mais forte do que o ódio. Era como se cada vez que o olhasse, algo mais profundo — mais sombrio — viesse à tona. Uma memória enterrada em algum canto esquecido da mente.
Ela lembrou-se da jaula. Do cheiro de sangue e da ferro enferrujado. Das dores e da fraqueza constante, dos gritos de sofrimento que estavam gravados em sua mente, do peso da humilhação. Mas era a falta de algo que a atormentava mais: ela não se lembrava do rosto dele durante todo aquele tempo. Era como se ele fosse apenas uma sombra, uma figura que existia em meio ao horror. Então, por que agora tudo parecia tão claro?
Por que ela se importava com a indiferença dele? Por que queria arrancar uma reação?
Lyra respirou fundo, o ar carregado com o cheiro de ferro e pedra da sala do trono. Ela não estava ali só por vingança. Estava ali porque, de algum modo, ele era a última peça de um quebra-cabeça que ela não sabia como montar. E isso a aterrorizava mais do que qualquer lembrança da jaula. Deu um passo à frente, as botas ecoando na sala silenciosa.
— Você viu o que quis ver. — Sua voz era firme, mas havia algo subjacente, uma tensão que nem ela conseguia esconder completamente. — Isso não faz de você um vidente, Emerson. Faz de você um homem condenado tentando se agarrar ao que não importa.
Ele inclinou a cabeça — ou tentou, já que as amarras em seu pescoço não permitiram —, avaliando-a como se estivesse analisando um quebra-cabeça.
— Engraçado como você fala como eles agora. Como se o sangue que derramaram fosse diferente do meu.
Lyra estreitou os olhos, a raiva pulsando em suas veias. Não precisava de muito para saber de quem ele estava falando: Skaikru.
— A diferença entre você e eles é que você fez isso por queria. Eles fizeram por sobrevivência.
— Sobrevivência? — Ele riu, uma risada seca, quase zombeteira. — É assim que você chama o massacre? Eles só mataram porque podiam. Maridos, esposas, irmãos, amigos, pais, mães, filhos, meus filhos! — Sua voz foi ficando mais raivosa a cada palavra.
Lyra quase sentiu pena. Quase. Perder os filhos devia ser algo horrível. E ela tinha convicção de que as crianças não mereciam nada disso. Porém, uma coisa no discurso dele a fez entender muito sobre o homem com quem estava falando.
— Quantas pessoas tinham naquelas jaulas? — A pergunta dela fez Emerson prender a respiração. — Qual é! Tinham muitas jaulas. Quatrocentas? Quinhentas? Fora que vocês viviam tirando e trazendo mais gente. Eu ouvi que vocês estão na montanha desde a época das bombas, então vocês tiram o sangue de nós a décadas. — Ela deu dois passos mais perto, ficando cara a cara com o homem. — Quantas pessoas vocês mataram por todos esses anos, huh?
Emerson não respondeu, mas não precisava, Lyra pôde ver em seus olhos a resposta e então tudo ficou claro.
— Você não sabe, não é? — Ela deu o sorriso mais agridoce que já tinha dado em toda sua vida. — Por que você me levou, em primeiro lugar?
O homem engoliu em seco. Talvez procurando por uma resposta ou pensando se devia responder. Lyra não se importava exatamente com a resposta, mas ele o fez.
— Você estava lá. — Emerson murmurou baixo. E Lyra sentiu o sangue ferver tão rápido, que não teve outra reação além de cuspir na cara dele.
O silêncio na sala foi esmagador após o som da saliva atingindo o rosto de Emerson. Ele fechou os olhos, respirando fundo como se estivesse absorvendo o impacto do gesto. Não disse uma única palavra, apenas ficou ali, imóvel, enquanto Lyra recuava um passo, os punhos ainda cerrados e o coração batendo como um tambor furioso.
— Eu estava lá. — Ela riu sem qualquer humor. — E você não se importou se eu era esposa de alguém, filha de alguém, amiga de alguém, irmã de alguém, certo? Você me viu vacilar e pensou que eu era só mais uma, não é?
E aí estava a resposta.
Lyra não quis, mas se lembrou de Bellamy. Se lembrou dos dias e noites no lago, de todas as vezes que ela o pegava se culpando pelo que tinha feito. As crises recorrentes e os pesadelos. Ele puxou aquela alavanca também, ele tinha aquelas mortes na conta e a culpa doía nele, mesmo que ele não tivesse outra opção. Ela também tinha visto Clarke poucas vezes, mas ela sempre parecia sempre carregar um fardo pesado, sempre melancólica, certamente carregando esse peso também. Lyra sabia que até mesmo Lexa sentia culpa por colocá-los naquela situação. E se todos eles podiam sofrer e carregar essa culpa, com Emerson não devia ser diferente.
— Vocês gostavam de nos tratar como "selvagens", mas ainda éramos pessoas. Também haviam maridos, esposas, irmãos, amigos, pais, mães e filhos naquelas jaulas.
Emerson pode não ter matado nenhuma daquelas pessoas diretamente, mas era conivente. Lyra com certeza não foi a única pessoa que ele levou pra lá, então ele também era cúmplice e ajudante. Será que ele nunca tinha se culpado? Será que enquanto ele estava jantando com sua família, ou simplesmente num dia comum de trabalho, ele nunca tinha pensado nas pessoas lá presas, longe de suas famílias, torturadas, miseráveis?
— Era diferente! — Ele cuspiu.
— Diferente? — Lyra riu com amargura, um som baixo e cruel que reverberou na sala. — Claro que era. Vocês tinham o conforto de suas casas, suas refeições seguras, suas vidas intactas. Enquanto isso, nós éramos despidos da nossa humanidade. Era fácil não pensar em nós como pessoas, não é? Fazia o que vocês faziam parecer... aceitável.
Emerson se remexeu nas amarras, os olhos queimando com uma fúria que só podia vir de alguém que sabia que estava errado, mas não conseguia admitir.
— Nós fizemos o que precisávamos para sobreviver! — Ele gritou, a voz ecoando na sala, mas Lyra não se intimidou. Não havia mais raiva em seus olhos, apenas algo mais profundo, quase insuportável: uma verdade que ela sabia que ele não queria ouvir.
— Não há diferença entre arrancar o sangue de alguém com uma agulha ou com uma lâmina. Não há diferença entre matar lentamente, célula por célula, e fazer isso com uma arma. Você só prefere pensar que havia, porque isso faz você dormir à noite.
— Não era só sobre nós. Era sobre os nossos. Sobre manter nossos filhos vivos, nossas famílias a salvo. — Emerson tentou justificar, sua voz ficando mais fervente a cada segundo. Pelo visto, Lyra não era a única que preferia usar o ódio. — Eu fiz o que precisava ser feito.
— E nós? — Lyra deu outro passo à frente, agora tão perto que podia ver as rugas de expressão no rosto dele. — Nós não éramos "os nossos" de alguém? Acha que isso te absolve? Acha que seu ódio justifica tudo?
— Eles mataram os meus filhos! — Emerson rosnou, sua voz finalmente rachando, expondo uma dor crua que ele vinha escondendo.
— E você matou os meus. — Lyra respondeu, sua voz baixa, mas cortante como uma lâmina. Ela não estava falando de filhos literais, mas de todos os irmãos e irmãs que perderá nas jaulas, de todos os amigos que nunca voltariam. — Os garotos vindo do céu? Eram crianças também. Todos eles. Mas é claro que isso não importava, já que não eram os seus.
Emerson abriu a boca para responder, mas as palavras não vieram. Sua raiva parecia prestes a transbordar, mas algo no olhar de Lyra o fez hesitar. Era uma fúria diferente da dele, algo que não vinha apenas da dor, mas de uma convicção que ele não podia rebater. Ele desviou os olhos, como se encarar Lyra fosse mais difícil do que encarar a própria execução.
— Você quer que eu sinta culpa — ele murmurou, sua voz quase inaudível. — Mas culpa não traz ninguém de volta. Nem os seus, nem os meus.
— Culpa não é para trazer ninguém de volta, Emerson. É para lembrar você de que não importa o quão longe ache que está, os fantasmas sempre encontram um jeito de voltar. — Lyra deu um passo para trás, o coração ainda batendo forte, mas sua voz estava firme. — Você quer justificar o que fez porque acha que ninguém vai se lembrar. Mas eu lembro. Nós lembramos.
Ela deu um último olhar para ele, um olhar que misturava desprezo e algo que talvez fosse compaixão, embora ela não estivesse pronta para admitir. Sem dizer mais nada, virou-se e caminhou até a porta. Antes de sair, parou por um momento, a mão na moldura da porta. Sua voz ecoou pela sala uma última vez, fria e afiada.
— Não é o medo que você devia temer, Emerson. É o esquecimento. Porque quando Wanheda decidir seu destino, você será apenas mais uma sombra. E, diferente das nossas, a sua não terá ninguém para se lembrar.
E com isso, Lyra desapareceu pelos corredores, deixando o silêncio e a sombra do julgamento para trás.
Emerson não mudaria. Ele ficaria alí, agindo como se fosse superior a Bellamy, Clarke, Lexa e até a própria Lyra. Agindo como se fosse diferente, como se sua dor fosse maior e sua raiva mais justificável, mas no fim de tudo, ele era tão monstruoso e quebrado como o resto deles. A diferença? Enquanto Emerson tentava esquecer das vidas que tirou, Lyra tinha estrelas, pra se certificar de que ela sempre se lembraria; Bellamy tinha pesadelos, os rostos das vidas que tirou gravados em sua mente, ele não esqueceria nem se quisesse; E Clarke e Lexa ainda tinham o peso constante da liderança, que as fazia ter certeza de que eventualmente, teriam mais vidas tiradas na conta.
Ela meio que achava injusto que a dor dele acabasse hoje, enquanto eles ainda teriam que conviver com ela, mas Emerson não tinha mais da a perder, e pessoas assim eram perigosas. Era melhor eliminar a praga agora e impedir que ela se espalhe.
[•••]
O estrondo das batidas dos tambores ecoava pelo salão do trono, ressoando no peito de Lyra como da mesma forma que seu próprio coração pulsante. Cada batida um prenúncio da morte que se aproximava. As sombras das tochas dançavam nas paredes, alongando a silhueta do prisioneiro acorrentado no centro. Acorrentado e seminu, Emerson aguardava seu destino com o olhar duro, conformado.
Lyra observava da lateral do salão, em pé, ao lado de Titus. Sua posição ali não era oficial — Lexa sempre fora relutante em lhe conceder qualquer autoridade protegendo-a da política e do sangue que
acompanhavam a posição de Comandante, e Lyra realmente nãose incomodava nem um pouco de não precisar ver sangue ser derramado. Naquela noite, no entanto, ela fez questão de estar alí, por razões que nem ela mesmo sabia ao certo.
Quando Lexa entrou, escoltada por seus guardas, Lyra seguiu seu movimento, analisando cada detalhe de sua postura. Sua irmã era a comandante, imponente e inabalável. Mas Lyra via além disso. Via a tensão em seus ombros, a rigidez de sua mandíbula, mesmo que não fosse a primeira vez que eles se uniam alí para assistir um homem morrer.
Lexa se posicionou em frente ao trono, ergueu a mão e a bateria cessou instantaneamente. O silêncio caiu sobre a multidão como um manto pesado.
— Oso hit choda op nat, kon tona gou fon nau, hashta ai hop hef na wan op. — anunciou Lexa, sua voz carregada de autoridade. — Wanheda.
Lyra desviou o olhar para Clarke, que se mantinha imóvel à margem da cena. O olhar indecifrável que ela sempre carregava. Lexa pegou uma lâmina e a entregou a um dos guardas, que se aproximou de Clarke, oferecendo-a.
— A vingança é sua.
A tensão no salão aumentou. Lyra observou Clarke se mover até o prisioneiro, os olhos fixos na lâmina reluzente. E então, a surpresa.
— Não.
Um murmúrio inquieto varreu a sala. Lyra descruzou os braços. Como é que é?
O guarda hesitou antes de devolver a lâmina para Lexa, que manteve a expressão impenetrável. Mas Lyra percebeu o brilho sutil de interesse nos olhos de sua irmã. Clarke se virou para Emerson.
— Não sei se sua morte me traria paz. Só sei que não mereço isso.
Lyra viu Titus avançar, sua fúria mal contida.
— Este homem deve morrer! Se Skaikru não tirar a vida dele, então Heda o fará!
— Heda falará por si mesma. — Lexa foi firme e dura. — Chega, Titus.
Lyra teria sorrido se a situação fosse outra. Ela apreciava ver Titus silenciado. A questão era que, dessa vez, ela concordava com ele, — isso estava acontecendo com mais frequência do que Lyra gostaria — mesmo que por razões diferentes. Emerson tinha que ser executado, ele era um problema.
— Que diabos é isso? — cuspiu Emerson, sua voz repleta de veneno. Mas Clarke se manteve firme.
— Eu não te mataria pelo que você fez. Eu te mataria pelo que eu fiz. — Sem tirar o olhar de Emerson, Clarke aumentou o tom, agora falando com a multidão. — Ai ron disha hef em sonraun op. — Ela então encarou Titus. — Jus nou drein jus daun.
Os murmúrios cresceram. Lyra não estava surpresa com a indignação do povo, estava surpresa consigo mesma por concordar com eles. Eu dou a vida a esse homem. Não havia vida para dar. Ele não tinha mais nada, apenas ódio e desejo de vingança. Ele era perigoso.
Ela quis abrir a boca, quis refutar, dizer algo. Mas não teve coragem ou força, a sala parecia girar, o ar era difícil entrar nos pulmões e ela sentia que ia desmaiar a qualquer momento. Titus estava certo, ela não tinha influência alguma sobre as decisões da Comandante, muito menos nas da Comandante da Morte. Então, do que adiantaria?
— Hosh op! — ordenou Lexa, sua voz cortando o caos. A sala obedeceu. — Emo kripon kom maun, nou na ge gada in kom won hef. Wanheda sabe disso. Suas ações nos mostram uma promessa para um novo futuro. Um mundo em que a violência nem sempre responde à violência. Um mundo em que nossos filhos podem florescer sem a sombra da morte.
Lyra viu a mudança sutil no rosto das mulheres. Para elas, aquilo não era apenas política. Era fé.
Seria lindo, se elas não estivessem cometendo um erro.
— Este prisioneiro está banido da minha terra. — continuou Lexa. — Ele viverá, mas viverá com os fantasmas daqueles que perdeu. Assombrado até o fim de seus dias pelo conhecimento de que ele é o último de sua espécie.
Lyra fixou o olhar em Emerson. Ele tremia, mas não de medo — de ódio. E Clarke se aproximou dele, sua voz firme.
— Que você viva para sempre.
Lyra deixou escapar um suspiro discreto. O destino daquele homem era pior do que a morte. E Clarke, mais uma vez, havia alterado o rumo da história.
Mas Lyra sabia que nem todos aceitariam a nova promessa de um futuro sem sangue.
Parte dela queria que Emerson vivesse, sozinho, que sentisse a dor, o luto, que sofresse como todos eles sofreram. Mas não se dá a vida a alguém que só tem raiva como combustível, que só respira para ver seus inimigos caírem.
Ela não era tola. Sabia que, no fundo, aquilo não era um ato de misericórdia. Era uma condenação. Emerson viveria, sim, mas não como um homem livre. Não era diferente da forma que ele já estava vivendo nos últimos três meses. Na primeira oportunidade, ele foi atrás de Azgeda, de uma forma de se vingar, ele faria de novo.
Lyra percebeu os olhares divididos ao redor — alguns reverentes, outros duvidosos. Titus permaneceu rígido, os lábios franzidos numa linha fina de desgosto.
— Isso foi um erro. — murmurou ele, baixo o suficiente para que só Lyra ouvisse.
Ela não respondeu. Nem precisava. A incerteza que queimava em seu peito já falava por si só.
Quando olhou para Lexa, viu sua irmã manter a postura firme, mesmo com a sombra da tensão ainda presente. Wanheda e Heda se encararam, ambas numa conversa silenciosa, mas que parecia irritantemente esperançosa.
Lyra não conseguia sentir essa esperança.
Ela não conseguia se livrar da sensação de que aquilo não tinha acabado. O olhar de Emerson a encontrou por um breve momento antes que os guardas o arrastassem para fora do salão, e tudo que Lyra viu foi a promessa silenciosa de vingança.
Ela engoliu em seco.
— Ele vai voltar. — Ela murmurou para ninguém em particular.
Titus ainda estava ao lado dela e soltou um som de escárnio.
— Claro que vai. E quando ele voltar, será para destruir tudo o que tocamos.
Lyra o encarou. Dessa vez, ela não tinha forças para discordar.
Pela primeira vez em muito tempo, ela se encontrou em uma situação em que sentir raiva não a ajudaria em nada, então ela se permitiu sentir medo. Muito medo.
3609 palavras.
Olha quem voltou depois de um mês.
Bom, dessa vez a minha enrolação foi totalmente proposital, porque esse capítulo se passa no 3x06 e vocês sabem muito bem o que acontece no 3x07 (E também porque o arco do Emerson é muuuuuito chato. Tão chato que eu tô com esse capítulo pronto a três dias e esqueci de postar ;)
De qualquer forma, não tenho muito o que falar aqui, votem e comentem o que vocês acharam, o próximo capítulo provavelmente sai mais rápido, beijinhos💋
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