02
No dia seguinte, Hermione acordou cedo para começar o dia. O café da manhã foi diferente naquela manhã, Harry e Rony estavam mais quietos que o normal, e constatando que eles ainda pensavam sobre tudo o que ela falara na noite passada, se sentiu satisfeita por poder passar aquela parte da manhã tranquila, principalmente sem precisar ter que dialogar com eles, pois sabia que sempre que acabavam conversando, uma briga se iniciava.
Depois de se alimentar, calmamente subiu às escadas novamente, porém, desta vez com uma bandeja com suco, café e algumas coisas salgadas para o novo inquilino. Ela não sabia se Snape reagiria bem ao tê-la entrando em seu quarto novamente, não sabia se ele já estaria acordado, muito menos qual era seu humor, julgando que como sempre, não deveria ser dos melhores.
Equilibrando a bandeja de prata em uma mão, usou a outra para bater na porta de madeira escura, logo entrando mesmo que não obtendo uma resposta. Havia uma vela ao lado da cabeceira, iluminando o quarto que sem ela estaria escuro. Snape estava sentado da mesma maneira que a noite anterior, estava de olhos fechados quase sereno se não fosse pelo seu comentário ácido assim que ela colocou a comida em cima de uma pequena mesa no canto do quarto.
— Eu não disse para você ir embora? — sua voz era rouca e zangada, fazendo Hermione engolir em seco pela tonalidade da voz.
— Isso foi ontem a noite. — respondeu mais decidida.
— Como a bruxa mais inteligente da sua idade, como dizem todos, você deveria entender que meu pedido se estende por tempo indeterminado. — resmungou.
— Bem, desculpe incomodá-lo. Mas Dumbledore pediu que cuidassemos do senhor enquanto estivesse aqui. E é o que farei.
— Eu não preciso ser cuidado sua grifinória perturbada. Nunca precisei, não vai ser agora diferente. Faça o que veio fazer e vá embora. Melhor ainda se não voltar mais.
— Não! — disse num suspiro dolorido.
Hermione não gostava nem um pouco de ser durona, pelo menos não perto de Snape. Parte dela se sentia ainda aquela garotinha de onze anos que entrou em Hogwarts pela primeira vez, e de cara já foram humilhada por ele.
Porém, ela sabia que teria de ser mais firme se quisesse ajudar o homem machucado, mesmo que depois, ele lhe desse inúmeras suspensões assim que pisassem os pés em Hogwarts novamente.
— Sua insolente. Acha que pode falar comigo como bem entender? — gritou, logo fazendo careta quando se moveu mais do que podia. — A senhorita não sabe com quem está lidando.
— Talvez você tenha razão, eu não sei como quem estou lidando, até porque a um dia atrás, eu achava que você era uma péssima pessoa. E bastaram poucos minutos para que eu mudasse completamente de idéia. — disse calmamente. — E mesmo que fosse a pior das pessoas, eu jamais negaria ajuda, a ninguém.
Snape ficou quieto com aquela declaração. Ele não sabia se sentia raiva, nervosismo, ou qualquer outra coisa que o incomodasse. Só não esperava ouvir aquilo, o que o deixou irritado.
— Só saia daqui. Eu não preciso de ninguém.
— Já disse que não vou a lugar algum. — rejeitou qualquer argumento dele.
Seguindo até a janela fechada, a jovem de cabelos cacheados puxou as cortinas para os lados, logo, destravando o ferro que mantinha as portas fechadas, e abrindo-as, deixando o sol e o calor de fora entrar.
A luz era tanta, que precisou acostumar seus olhos em piscadas rápidas, até mesmo Snape teve de fazer o mesmo, podendo olhar um pouco das árvores do jardim estendido no fundo da mansão Black.
Uma leve brisa fresca tocou a pele de Hermione, a fazendo sorrir com tamanha sensação boa, enquanto uma sobrancelha de Snape se ergueu quando teve uma visão privilegiada de parte da coxa da garota, que teve o vestido leve, solto e curto levantado pela brisa de verão.
Seu olhar não se estendeu por muito, ainda estava irritado, tanto pela insolência da garota, como pelo fato de não ter conseguido dormir durante a noite, já que não conseguiu se mover sozinho para poder se deitar, tendo de ficar sentado a noite inteira. Por mais que todos dissessem que Severus era um homem relaxado, e seu apelido de ranhoso houvesse se estendido por anos, até mesmo quando se tornou professor, Snape odiava não conseguir tomar um banho descente, o que o irritava profundamente.
Mesmo que um feitiço de limpeza fosse algo tão fácil de se fazer, não era a mesma coisa, e saber que só conseguiria tomar um banho se tivesse alguma ajuda o deixava pior ainda.
— Aqui! — a voz calma e determinada de Granger o tirou de seus devaneios. — Tome seu café da manhã. Remus vai trazer algumas poções que Dumbledore pediu, assim você melhorará logo.
— Você? Não me lembro de ceder tal intimidade. — disse aceitando a comida.
— Desculpe, senhor! — se corrigiu. — Não sei como tratá-lo fora da escola! — disse sem graça.
— Acredite em mim Granger, nao estaria aqui se fosse de minha escolha.
Aparentemente ele parecia estar lhe dando uma trégua, o que era bom. Apesar dos comentários ainda serem enfadonhos e ácidos, ela acreditava que para um primeiro dia, às coisas estavam indo bem, exceto o fato dela aprender ser um pouco mais confiante perto dele.
O olhando de esguelha, Hermione seguiu até um guarda roupas do outro lado do quarto, sorrindo quando o abriu, e encontrou o que precisava bem ali, algumas toalhas grandes e macias, e um roupão, que ela constatou ser muito útil.
Snape enquanto comia, a observava de canto de olho, cada movimento da garota, e tudo que ela separava. Ele sabia qual era a intenção dela, e não deixaria barato se realmente ela insistisse no fato de que ele teria de tomar um banho. Ele não perderia a oportunidade de provocá-la, a conhecendo como sua aluna a alguns anos, ele sabia que ou ela ficaria muito irritada, ou completamente sem jeito.
Ignorando o fato dos braços estarem doloridos, Severus colocou a bandeja que estava em seu colo de lado, e assim voltou a sua posição normal, encarou os olhos castanhos de Hermione, que corou assim que se aproximou com mudas de panos perto dele.
— Peguei algumas toalhas e um roupão que estava no guarda roupas. Remus trará suas roupas junto às poções que irá tomar. Enquanto isso, achei que gostaria de um banho. — o encarou, esperando a resposta ácida.
— É um prazer saber que uma jovem linda e atraente como você, será quem me dará um banho. — disse sorrindo internamente com a expressão de espanto que Hermione mostrou.
— Co...como? — seus olhos se arregalaram.
— Estou machucado se não de lembra Granger. Uma de minhas pernas está completamente destrinchada, como acha que ficarei de pé no banheiro, ou melhor, como chegarei até ele? — a encarou maligna e maliciosamente.
— Bem, eu não pensei nisso... Quero dizer, eu posso dar um jeito e.....
Com a narrativa de que Hermione estava disposta a ajudar Snape no banho, o homem sentiu o corpo ferver em irritação. Ela só poderia estar zombando dele, e isso Snape não toleraria.
— Ora sua criança tola, saia já daqui. Está louca se acha que deixarei encostar um dedo sequer em mim. — bradou. — Saia daqui. — cruzou os braços, olhando para frente, enquanto sentiu as roupas caírem sobre seu colo, e novamente Hermione sumir pela porta.
~~~
Descendo as escadas, Hermione bufava de raiva. Tudo ia tão bem, e como uma bomba Snape havia explodido novamente. Céus, ela queria tanto, mais tanto o azarar. Como ele podia brincar com ela daquela maneira, e depois ter um ataque por algo que ele mesmo sugeriu?
De repente, Hermione sentiu o rosto queimar ao imaginar uma cena que até aquele momento nunca havia passado em sua mente. Ela seria mesmo capaz de ajudar Snape a tomar uma banho? Ela nunca havia visto alguém nú em sua frente antes, pelo menos não um homem completo e maduro. Seria tão diferente de Rony? Quer dizer, a primeira vez que o viu nú, foi quando tentaram ficar juntos, porém ele foi tão estúpido que ela fugiu antes que ele pudesse encostar nela de fato.
Snape era maior, tinha ombros largos e era mais robusto, e anos sendo sua aluna, ela sempre questionou o que teria por detrás de tanta roupa pesada que ele usava.
Seus pensamentos sumiram rapidamente quando ela se deu conta do que se passava em sua mente, dando lugar a raiva que ela sentiu quando saiu daquele quarto. Ele era tão insuportável e imprevisível, a personificação da bipolaridade ela diria.
— Ali está ela! — ouviu a voz de Harry dizer enquanto chegava até a sala de estar.
— Hermione! — a voz doce e gentil de Remus a encontrou, a fazendo sorrir lindamente.
— Que bom que você veio! Trouxe os remédios dele? — se aproximou curiosa não vendo nada nas mãos do homem.
— Mais do que isso! Trouxe tudo que achei que ele precisaria enquanto ficasse aqui. Roupas, produtos de higiene, os remédios que ele precisa, e alguns livros, já que ele pode ficar entediado com frequência.
— Oh, isso é ótimo. Maravilhoso na verdade.
— Os meninos me informaram que você está cuidando dele. Ele tem se comportado? — Remus sorriu.
— Bem, ele é o professor Snape. Você sabe.
— Sinto muito por estar passando por isso. Posso ajudar em algo?
— Bem, ele precisa muito de um banho. E não acho que eu possa ajudar.
— Oh, eu.... Vou ver o que posso fazer. Levarei as coisas para ele lá em cima. Enquanto isso descanse, ou faça qualquer outra coisa enquanto não precisa vê-lo. — sorriu.
Vendo Remus subir às escadas, Hermione olhou para os dois garotos sentados no sofá. Ela sabia que ambos estavam curiosos para saber como estavam as coisas com Snape, porém ela não diria nada, e nem eles perguntariam por enquanto, já que sabiam que ela ainda se encontrava chateada com eles.
Indo para a biblioteca, ela se sentou em uma poltrona de frente a lareira, e começou a ler um livro qualquer jogado na mesinha ao lado, porém ela não parava de pensar em Snape.
Quando o viu pela primeira vez em Hogwarts, seus olhos rapidamente captaram tudo que ela desejava naquele lugar. Ela rapidamente percebeu que Snape era um grande bruxo, um excelentíssimo professor e que sim, ela aprenderia tudo com ele. Não só seu porte físico e sua atitude de respeito que a encantou, mais sim o fato de ela ter sentido quando o viu, que ele era tão inteligente quanto ela queria ser.
Não foi novidade quando ela se decepcionou logo de cara. Snape era completamente hostil, e seus comentários principalmente dirigidos a ela a quebravam de modo que ela não sabia explicar. Poxa, ela era apenas uma criança conhecendo um mundo diferente pela primeira vez, e que rapidamente reconheceu um homem inteligente como o exemplo de um mentor, mas que logo a decepcionou com seus comentários ácidos.
No segundo ano, quando ela repentinamente criou uma certa atração por Gilderoy Lockhart, e suas maravilhosas aventuras, lá estava ele novamente, superando qualquer expectativas que ela tinha do novo professor. Severus conseguiu acabar com ele sem muito esforço, e aquela decepção que teve com ele em seu primeiro ano, passou para o mentiroso Lockhart, com Snape conquistando mais uma vez um lugar em sua lista de pessoas impressionantes.
Ela nunca havia pensado nele de outra forma que não seu professor, exceto uma vez, quando Gina, Parvati e Lilá começaram um assunto interessante sobre garotos e suas experiências, mudando rapidamente para homens mais velhos, e o quanto Snape deveria ser um homem bem viril e rústico quando se tratava de sexo. Bem, aquela foi a primeira vez que pensou no homem de forma maliciosa, e agora, novamente quando ele sugeriu que ela poderia o ajudar no banho.
Seu rosto se esquentou novamente ao se lembrar da fala dele. E foi aí, que ela percebeu que ele estava zombando dela, por isso ele se zangou quando ela cogitou que poderia o ajudar. Céus, se ele decidisse que seria assim quando ela entrasse naquele quarto, que ele poderia zombar dela, ela estava completamente ferrada.
Era contra seus princípios agir de forma informal ou desafiar qualquer um que fosse superior ao que ela era, e Snape sendo bem, Snape, dificultava às coisas, pois ela sabia que não podia o enfrentar, ela não queria, não conseguiria.
— Aí está você. — Remus a tirou de sua confusão mental. — Snape me expulsou do quarto.
— Você também? — suspirou fundo.
— Nós dois não temos um bom passada juntos, é natural que ele me expulse assim. — sorriu.
— Aparentemente ele não tem um bom passado com ninguém. Isso me faz lembrar que não me arrependo nem um pouco de ter ateado fogo na capa dele.
Remus gargalhou com aquela confissão, pois vindo de Hermione, realmente era trunfo a ser admirado.
— Tenho boas e más notícias para você. — ele continuou, ainda rindo.
— Podemos começar pelas boas então.
— Como queira. A boa, é que organizei todas as poções que ele deve tomar para sua recuperação. Detalhei tudo que você precisa saber, já administrei algumas, e a tarde ele deverá tomar mais algumas doses. — com isso, ele tirou um pergaminho do bolso a entregando os horários e os nomes dos remédios.
— Isso é bom, não precisarei vê-lo até de tarde. — sorriu. — E a má notícia?
— Ele me expulsou de lá quando me ofereci para ajudá-lo no banho. Monstro também está fora de cogitação.
— Ele deverá se contentar com um feitiço de limpeza então.
— Talvez, mas sabemos que só funciona até certo ponto.
— Okay, veremos isso depois.
— Não vai demorar muito para que ele possa andar, mais uma dose de poção esquelesce ele ficará bem.
— Espero que sim. — suspirou.
— Quer um conselho Hermione? — Remus ofereceu. — Trate Snape como ele te trata, e será tudo mais fácil. — ela o encarou aturdida por um momento, logo questionando.
— Mas ele é o Snape, quero dizer. Não posso tratá-lo como faz com os outros, ele me mataria. Ou pior, sabe-se lá o que ele pode fazer quando voltarmos ao castelo.
— No mínimo tirar alguns pontos da grifinória. Nada que Dumbledore não devolva depois. — piscou para ela. — Severus não vai te respeitar se você continuar acuada pelo o que ele fala. Faça igual, e verá grande diferença.
— E se não funcionar. — questionou.
— Só posso dizer que sinto muito. — sorriu.
Sorrindo para ela, ele se levantou logo se despedindo, prometendo entrar em contato e pedindo que ela fizesse o mesmo se precisasse de algo. Ele prometeu também socorre-la se algo não desse certo, o que ela esperava que não acontecesse.
Hermione pensou no que Remus havia lhe dito, talvez tratar Snape como ele fazia com ela fosse uma solução plausível, ela estava disposta a tentar mesmo que isso a fizesse sair de sua bolha, contudo ela estava ciente que aquilo poderia criar um atrito enorme com ele, e uma convivência talvez até pior do que já se encontrava.
Deixando um pouco a preocupação de lado, Hermione decidiu que mandaria uma carta para seus pais. Faziam dois dias desde a última vez que eles lhe mandaram, porém a saudade já se fazia presente.
Ela escreveu que estava sentindo a falta deles, que havia discutido com Harry e Rony e que por enquanto não estavam se falando, porém, ela decidiu que apagaria aquela parte, já que naquele momento, Harry entrara na biblioteca e sentara a sua frente, talvez ela devesse jogar a carta fora e escrever outra mais atualizada agora.
— Eu queria pedir desculpas! — o garoto foi direto, conquistando a atenção da amiga. — Eu sei que Rony e eu temos agido feito idiotas, mais e difícil ser sensato quando se trata de Snape.
— Harry.... — ele não a deixou falar.
— Eu não tive meus pais Hermione, e conviver com um homem que desde que fui para Hogwarts me disse coisas horríveis sobre meu pai não é fácil. Quero dizer, nas aulas de oclumencia com Snape eu vi o que meu pai fazia com ele, e isso me aborreceu por saber que ele tinha razão sobre isso, meu pai era um covarde quando jovem, mais ainda era meu pai. Eu me sinto tão irritado por isso.
— Sei que o professor Snape não colaborou em nada. Ele sempre foi hostil e ameaçador, mais é nosso dever ajudar quem precisa, não é?
— Sei que é? Mas de qualquer maneira ele não iria querer ver a mim ou a Rony não é mesmo? — sorriu.
— Creio que não. A mim ele já expulsou várias vezes do quarto dele, você então.... Sugiro nem passar de frente. — riu. — Desculpe por descontar minha frustração em você e Rony.
— Você quem deve nos desculpar Mione. — Rony entrou, ouvindo a conversa. — Sei que não é fácil conviver com dois idiotas que não entendem nada do que você fala. Você sempre tem uma solução para tudo, que fica mais fácil para nós apenas observar e aceitar. Nunca me passou que isso sobrecarresse você.
— Pois é! Desculpe. — Harry continuou. — Prometemos melhorar e te ajudar mais.
— Tá tudo bem, já passou. — ela sorriu, odiava brigar com eles, porém a às vezes era necessário.
Depois de se desculparem um com os outros, Harry questionou Hermione sobre o primeiro dia com Snape, com ela contando aos dois, como ele a tratou durante a noite e na manhã seguinte, excluindo a parte onde ele sugeriu que ela o ajudasse no banho. Claro, ela não tinha muito o que dizer, Remus chegou logo depois e também foi expulso do quarto, depois disso, ela não voltou mais lá.
— Irei levar o almoço para ele e verei como está, se tudo estiver bem ele não tardará em me expulsar novamente do quarto. — sorriu. — Acha que monstro já preparou o almoço Harry?
— Com certeza sim. Posso ir verificar.
— Vamos todos juntos.
Hermione almoçou primeiro antes de ir até Snape, os meninos pediram que ela avisasse se ele lhe fizesse alguma coisa, e deixando claro que tudo ficaria bem, ela seguiu com a bandeja de comida até o quarto, enquanto os dois decidiram descumprir as ordens de qualquer um, e fugir para o beco diagonal com algum disfarce bobo.
A porta estava como sempre fechada, e batendo como de costume, Hermione entrou, se surpreendendo ao ver Snape sentado com as pernas para fora da cama.
— Professor! — se assustou. — Me deixe ajudá-lo. — tentou ser simpática, mas Snape rosnou assim que ela se aproximou.
— Quantas vezes eu tenho de dizer que não quero que toque em mim? — bradou. — Não preciso de sua ajuda.
Hermione segurou o ímpeto de respondê-lo a altura, parando assim que ele tentou ficar em pé e se desequilibrando mais conseguindo voltar a se apoiar na cama.
Um gelo percorreu todo seu corpo quando achou que ele pudesse cair, e um alívio a possuiu logo em seguida, quando ele tentou novamente se levantar e obteve equilíbrio. Seu corpo se arrepiou quando o ouvir gemer, porém de dor. Quando percebeu que seus passos eram vacilantes, ela correu até um canto para pegar uma cadeira, colocando perto dele para que se apoiasse e logo sentasse.
Aproveitando, ela puxou a pequena mesa que também ficava no canto do quarto, trazendo a bandeja de comida para perto para que ele pudesse comer.
Severus encarou a comida por um bom tempo, parecia que ele estava selecionando com o olhar cada ingrediente daquele prato, até então começar a comer. O silêncio era um tanto quanto constrangedor, contudo Hermione preferiu daquela maneira, até ele terminar e continuar sentado.
— Quer ajuda para se levantar?
— Não! — disse seco.
— Como quiser. Vou pegar a poção que precisa tomar agora.
Enquanto mexia na bolsa de couro que Remus havia trazido, Hermione percebeu que Snape se mantinha inquieto na cadeira, algo o incomodava, a fazendo questionar o que seria, e porque ele simplesmente não falava o que era.
— Aqui está. — estendeu a ele uma poção revigorante que pegou e virou sem cerimônias. — Eu sabia que a poção esquelesce era boa, mais não imaginava que fazia efeito tão rápido. — ela comentou tentando quebrar o silêncio.
Snape respirou profundamente, estalando a língua como se controlasse a si mesmo para não soar ofensivo.
— Geralmente ela funciona depois de oito horas, porém se bem feita o efeito pode ser mais rápido. Uma segunda dose ajudará o osso da perna se restaurar por completo.
Hermione ficou surpresa pela resposta simples e até humilde da parte dele, não que fosse mostrar a ele já a qualquer momento ele a decepcionaria com outro comentário ácido.
Ele continuou mostrando incomodo, passando às mãos nas calças e de vez em quando puxando o colarim da roupa que usava, foi aí que ela se lembrou do óbvio, ele precisava de um banho.
— Você precisa de um banho. — disse.
— Oh, não me diga. — zombou.
— Será.... — respirou fundo. — Será que o senhor pode ser pelo menos um pouco mais gentil? Eu estou tentando ajudar. Sei que vai dizer que não precisa de ajuda, mais não é o que parece, então por favor. Colabore.
— Ora sua sujeitinha.....
— Vou levar suas coisas até o banheiro, e volto para ajudá-lo a caminhar até lá.
Ajeitando tudo que ele precisava, ela se virou para voltar ao quarto, dando de cara com Snape escorado na porta, se apoiando da maneira que conseguia. Era evidente que sua perna ainda não estava boa, contudo já era um avanço ele poder se locomover.
Ela não sabia o que dizer ao vê-lo, não sabia se perguntava a ele se precisava de ajuda, ou qualquer outra coisa.
— Você vai ficar aí olhando, ou eu posso entrar e tomar um banho tranquilamente?
— Oh, c..claro. Certo, eu vou ficar do lado de fora se precisar de alguma coisa e....
— Não seja tola, acho que sei me virar sozinho. — resmungou, batendo a porta na cara dela antes que ela pudesse dizer algo.
A jovem grifinória não sabia ao certo o que deveria ser feito, se ela ia embora ou não, porém decidiu ficar e ver se ele se saía bem sozinho. Ela podia ouvir leves gemidos vindo do banheiro misturado ao som da água caindo, e se ela não soubesse que eram gemidos de dor ela provavelmente pensaria outra coisa.
De repente, sua mente começou a trabalhar em outra coisa. Enquanto ouvia o som da água cair, ela se encostou na parede, fechando os olhos e sentindo o aroma leve e inebriante que vinha do banheiro. O cheiro era tão bom, aquela era o cheiro de Snape? Em todas às ocasiões que o teve por perto, nunca se lembrou de tê-lo sentido antes.
Houve muitos momentos, na sala de poções que Hermione sentiu a presença forte de Snape atrás dela enquanto praticava suas poções. E em todas essas vezes, ela nunca havia reparado se ele possuía um cheiro bom, afinal, todos zombavam dele por não parecer tomar banho, porém, ela nunca notou algum mão cheiro nele, e pela forma que ele estava inquieto, ele até parecia ter um certo toque com higiene.
Como sempre, um barulho alto a tirou de seus devaneios, um gemido alto veio do banheiro e Hermione sentiu o corpo gelar com o que poderia ter acontecido.
— Professor Snape! — gritou batendo na porta. — Está tudo bem? — nervosa, ela tentou entrar, mas a porta estava trancada, a fazendo ficar pior e gritar novamente.
— Professor Snape, o que aconteceu? — ela ouviu um resmungo de dentro do banheiro, e não entendendo e nervosa para saber se ele estava bem, pegou sua varinha e destrancou a porta, entrando afobada.
Quando entrou, ela iria perguntar mais uma vez o que aconteceu, porém suas mãos foram a boca rapidamente ao vê-lo caído debaixo do chuveiro, molhado e completamente nú.
Tão rapidamente, ela se aproximou dele para ajudá-lo, apenas para ele ficar mais irritado e tentar expulsa-la novamente.
— Oh meu Deus. Está tudo bem? Deixa eu te ajudar.
— Não. Não chegue perto de mim Granger! Sequer olhe para cá! — bradou extremamente irritado.
Quando Hermione se deu conta, ela olhava demais para ele. Porém não tanto o suficiente para pegar algum detalhe. Se virando de costas e sentindo-se um pouco ansiosa, perguntou.
— Consegue se levantar? — ele não viu, mas ela mordeu os lábios.
— Não! — bradou depois de ter tentado.
— Eu poderia ajudar se.....
— Não ouse se virar! — gritou.
— Devo chamar alguém? Harry talvez, ou Rony?
— Eu não quero nem mesmo você aqui, acha mesmo que vou suportar que aquele dois idiotas me ajudem Granger? Deve estar ficando louca. — gemeu. — Porém não tenho outra escolha, me ajude. — ela ficou parada por um tempo, até ele dizer em voz alta e firme. — Granger, anda logo.
Dando um leve pulinho, ela de virou, confusa e ansiosa por não saber direito o que e como fazer. Se aproximando, ela abaixou, levando as mãos para debaixo dos braços dele, que a ajudou a levantá-lo. Ele era tão pesado...... Quando estavam quase ficando de pé, Hermione não aguentou o peso de Snape por muito tempo, também escorregando no chão molhado e perdendo o equilíbrio, fazendo Snape ter que segurar ambos para que não voltassem ao chão.
Com isso, acabaram debaixo do chuveiro, onde a água molhou Hermione completamente, ela deveria ter se lembrado de o ter desligado quando entrara ali. Sua respiração parecia ter parado por um momento quando sentiu as mãos grossas de Snape seguraram sua cintura com força, ele as apertava intensamente trazendo arrepio em seu corpo pequeno.
Snape olhava diretamente nos olhos dela, notando os lábios entre abertos numa respiração lenta mas pesada. Às gotas de água escorriam pelo rosto dela, pesando nos cílios pequenos, e olhando um pouco mais para baixo, podia ver o vestido que ela usava mais cedo, molhado, transparente e colado ao corpo. Ela tinha às mãos coladas em seu peito, lhe trazendo uma sensação desconfortável e a muito tempo desconhecida.
Hermione suspirou profundamente, sentiu seu corpo tremer, e algo nela despertou quando sentiu algo com uma certa dureza em seu estômago, sua curiosidade a fez abaixar a cabeça para olhar, mas Snape foi rápido o suficiente para afastá-la de alguma maneira.
— Acho que você já ajudou o suficiente. — disse roucamente. — Pode se retirar.
— Eu.... — ela tentou.
— Por favor! — disse tenso.
Ele pediu por favor? O que havia acontecido naquele meio tempo que fez Snape mudar tão drasticamente? Hermione imaginou que ele poderia estar cansado o suficiente para discutir naquele momento, e ela poderia entender o lado dele. Severus era um homem viril, hostil e obviamente não gostava de conviver com muitas pessoas. Ele sabia o que queria, sabia se virar, e depender de uma aluna, depender dela para algo tão pessoal poderia constranger qualquer um.
Porém, ela também confessava que estava mexida com aquela situação. Não pareceu desconfortável, mas algo foi diferente, e ela sentia que para ele também foi assim, só não sabia dizer o que era.
Ela esperou Snape sair do banheiro, a passos lentos e mancando levemente, ele conseguiu chegar até a cama onde se sentou. Ela queria poder dizer algo, porém o olhar que ambos tiveram pareceu dizer alguma coisa. Pelo menos, foi o que ela achou, mais Snape parecia olhar demais para ela, e quando ela percebeu o motivo, se sentiu inteiramente envergonhada.
O vestido que usava estava molhado e grudado em seu corpo, mostrando a pele por detrás da transparência do vestido, evidenciando o conjunto roxo delicado debaixo do pano. Ela não sabia onde enfiar a cara, e determinada a não falar nada, apenas saiu às pressas do quarto, deixando Snape alí, olhando por onde ela saiu.
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