
𝐑𝐄𝐆𝐑𝐀 #𝐎𝐎𝟰 ── 𝖵𝗂𝗏𝖺 𝖺 𝖾𝗑𝗉𝖾𝗋𝗂𝖾̂𝗇𝖼𝗂𝖺
O sol estalava sob as cabeças dos tripulantes quando o navio atracou logo muito cedo em Lança Solar, capital do distrito de Dorne, parecia que só o fato de terem se aproximado das águas do Sul já os deitava bem mais calorentos, alguns poderiam até pensar como a família Martell, dona da maior parte das coisas no distrito, conseguia sobreviver em um calor que se alastrava por quase todo o ano, mas a verdade é que eles tinham se adaptado após décadas e mais décadas vivendo naquele calor e feito a sua soberania valer.
Dorelle tinha escolhido um passeio panorâmico, nunca de verdade tinha ido a Dorne, então era de sua curiosidade saber um pouco sobre o distrito, queria tirar fotos, mandar para mãe, eles sempre quiseram uma viagem como aquela, mas com os anos tudo vem ficando mais caro. Ao entrar na lancha, já que o barco tinha ficado em mar aberto, ela percebeu as pessoas entrando lentamente no veículo, em um canto, quieto, estava Daemon Targaryen de óculos e silencioso ainda.
Em terra, eles tomaram um ônibus, Daemon ainda estava distante, mas Dorelle parecia ser atraída a olhá-lo, mesmo que não quisesse, como se estivesse curiosa com quais outros problemas ele escondia, sabia que não era apenas a questão com Baelon, havia muito mais coisas, parte era jornalista, parte era o que ela não entendia e não queria entender. Para o almoço o grupo foi levado a uma belo restaurante ao centro de Lança Solar, dispostos em mesas, Dorelle viu Daemon a algumas de distância, comendo calado, sem nenhum Targaryen ou Velaryon ao seu redor, ela se perguntou se havia ocorrido outro atrito.
No meio da refeição, enquanto ela se entretia com as palavras das pessoas a sua volta, mesmo que a maioria só parecesse ricos fúteis falando de suas viagens, ela notou Dameon se levantar apressado, passar por uma porta lateral de uma sacada pequena, dava para ver pelo vidro da porta que era uma discussão, mesmo que em voz baixa, entre ele e quem quer que estivesse do outro lado da linha, a Tarth suspeitava que fosse Baelon, a forma como Daemon gesticulava levava a achar isso.
Após o almoço ela sai sozinha para compras em uma das paradas do tour, eles tinham duas horas, foi o que o guia havia lhes dito, era o suficiente, ela só queria comprar algumas coisas, lembranças, ainda tinha medo do que gastaria com o tal cartão que tinham dado a ela, achou prudente, é claro, ir devagar. Comprou coisas para mãe e também para o pai, claro que Mynora ganhou alguns doces dorneses, como ela bem amava e Dorelle sabia.
Passando com sacolas de volta para onde o ônibus estava, ela parou na esquina, vendo a passagem dos carros e vendo, curiosa ela olhou para uma joalheria cara, a figura lá dentro seguia magnética aos seus olhos, vendo Daemon conversar com um homem e olhar anéis, como ele continuava reaparecendo em sua vida? Um dia após o outro, como ela foi levada logo até ele. Dorelle permaneceu assim por um tempo, até que os olhos dele a vissem lá fora e na pressa, em meio as pessoas, ela só correu para o outro lado da rua.
As compras tinham ficado no ônibus quando, perto do meio da tarde, os tripulantes em passeio foram levados a um belo mirante em Lança Solar para assistir o pôr do sol, um belo lugar a beira-mar, as pessoas se amontoavam no beiral da pequena sacada para assistir e Dorelle, como era pequena, não conseguia ver direito, ao notar algumas pessoas mais corajosas descendo por uma escada lateral rumo a praia, ela decidiu fazer o mesmo, hesitando um pouco no último degrau, quase na areia, mas depois tirando a sandália que usava e indo.
Ela não costumava ir muito à praia, mesmo que King's Landing ficasse perto do litoral, não havia uma praia banhável, não, era mais o porto, as pessoas não tinham lugares como aquele, ela também não costumava viajar, então apenas ergueu o vestido, se afastou um pouco das pessoas e sentiu o mar batendo nos pés, parecia tão revigorante, calmo e gentil, o calor não parecia forte demais ali, então ela só fechou os olhos sentindo o vento fresco.
De um ponto mais alto e fotografando a paisagem, Daemon percebeu as pessoas na praia e a reconheceu pelo vestido florido, não sabia o que ela estava fazendo lá e toda forma como Dorelle se portava ou agia era sempre um mistério para si, parecia envolta numa espécie de misticismo ou só fora da bolha que ele vivia, quase inalcançável.
── Como uma pintura. ── Ele sussurrou tirando fotos dela com meio sorriso, como sua musa naquele instante.
O sol lentamente se deitou depois de um tempo e com a noite vindo outra coisa também era necessária, o retorno ao navio. O guia reuniu os grupo, organizando a caminhada para dentro do ônibus, ele contava um a um, perguntando seus nomes assim que entravam no veículo, Daemon já estava sentado vendo as fotos que havia tirado, quando o homem jovem que havia os guiado no passeio entrou afoito no ônibus.
── Dorelle Tarth. ── Ele falou olhando todos. ── Dorelle Tarth está aí?
── Não. ── Uma senhora que estava sentada ao lado de uma poltrona vazia respondeu. ── O lugar dela é ao lado do meu, mas ela não está aqui.
── Fiquem todos aí, eu vou voltar e procurá-la. ── O guia anunciou.
Não tinha muito por onde ir, o homem rodou o mirante, já iluminado por luzes de velas e organizado para a rodada de jantar daquela noite, vinte minutos depois, quando ele retornou ao ônibus ofegante, ainda estava sozinho, sem ela, assim que Daemon o viu ele se ergueu, levando suas coisas consigo e agarrando o guia pelo braço até fora do ônibus, a movimentação chamou a atenção de algumas pessoas, que olharam pela janela, mas não dava para ouvir a conversa.
── Eu vou ficar e procurar por ela. ── O Targaryen avisou ao guia.
── Sr. Targaryen o navio sai em 2h, não podemos deixar dois passageiros em terra. ── Ele tentou explicar. ── Por favor, volte conosco, vou acionar um guia local para acompanhá-los e eu mesmo tento achar a Srta. Tarth, eu sou de Lança Solar, eu ficar aqui não é um problema.
── Pode ter acontecido algo com ela, não podemos deixá-la só com estranhos. ── Daemon não sabia porque estava genuinamente preocupado. ── Eu conheço Dorne, Qoren Martell e eu jogamos pôquer todo mês, se eu ficar em Lança Solar, eu tenho como e onde me virar.
── Eu não sei ...
── Confia em mim. ── Daemon colocou as mãos no ombro do guia. ── Eu vou achar ela.
── Vocês têm 1h30 para estar no porto, depois disso o navio começa seu procedimento de saída, mesmo com ele no porto, vocês não vão poder embarcar. ── Ele alertou Daemon. ── Não importa se você é um Targaryen.
── Isso soou meio ofensivo. ── Daemon estreitou os olhos. ── Mas vou considerar que é só seu nervosismo.
Daemon voltou ao mirante, mas de início não a encontrou, sue maior medo é que ela tenha resolvido entrar no mar, não sabia muito bem o que estava passando na cabeça dela na hora, poderia ser algo mais profundo e triste, será que ela achou que ali era um bom lugar para partir, Daemon se lembrava de Alyssa e aquilo se tornou muito mais melancólico.
Anos antes, quando ele e Viserys ainda eram jovens, Alyssa perdeu seu brilho lentamente por brigas dentro da família, a saúde dela foi minando e minando após o nascimento - e morte - do irmão caçula dos dois, ela queria tanto dar muitos filhos a Baelon que ao saber que não poderia entrou em uma depressão profunda, eles passaram um tempo em Driftmark, mas não ajudou muito, em uma manhã ela saiu para andar na praia sozinha e nunca mais voltou, seu corpo foi achado dois dias depois.
Desesperado ele chamou Dorelle pela praia, mas ainda nada, nenhuma pista, uma bolsa deixada na areia, pegadas, nada, ele subiu correndo a escadaria do mirante, a que dava acesso à praia e que possivelmente ela teria usado, perguntou por ela aos funcionários, nada, nenhuma pista, como ela poderia só ter desaparecido assim. Então ele virou em direção à sacada que as pessoas usavam para ver o pôr do sol, foi então que ele a viu.
Ela parecia tão pequena, tremia de frio ou de algum tipo de dor, houve um alívio escorrendo frio pelo corpo de Daemon ao vê-la ali, parecia segura, apesar de estar chorando desesperadamente a algum tempo, ele apenas conseguiu se aproximar em silêncio, mas ela o percebeu, olhou com seus olhos caramelho avermelhados pelas lágrimas e foi como ver um ponto de luz. Dorelle se agarrou nele em um salto, como se quisesse garantir que era verdade ele lá e assim eles ficaram em silêncio por um tempo.
── Você está aí. ── Ele falou, ainda ofegante. ── Estou a quase uma hora atrás de você.
── Eu ... ── As palavras delas se embolavam. ── Desculpa, eu fiz você perder a partida, eu ...
── Tudo bem, fica aqui, eu vou ligar pro navio, dizer que te achei. ── Ele ainda a apertava entre os braços. ── Pede uma água para um garçom no bar, eu já volto.
── Só ... Seja discreto com isso, por favor. ── Ela pediu sem jeito. ── Eu não ...
── Tudo bem. ── Ele só respondeu a soltando e se afastando.
Dorelle pede uma água, a paga e volta a se sentar onde estava, de lá ela pode ver Daemon falando com alguém no telefone, parece uma conversa agitada, porque ele gesticula com as mãos, um pouco impaciente, mais do que Dorelle achou que ele estaria, de verdade, ela sabia que era culpa dela e só dela, aquilo a deixava com um nó na garganta só se pensar.
Foi inevitável não chorar de novo, agora menos teatralmente e mais contida, se apoiada na pilastra, olhando o mar, sua demora tinha um motivo, ela havia se perdido em seus pensamentos, lamentando sobre o irmão que havia perdido anos antes, o sonho de Dorcan era justamente ver o mar, mas ele trabalhava demais, ajudava os pais no pequeno restaurante em sua cidade natal, não tinha tempo para férias, pensar nele ainda doía.
Daemon deu as coordenadas para que eles fossem buscados, quando voltava em direção dela a via chorando mais contida, limpando as lágrimas correndo, para que ele não visse, mas os olhos dela brilhavam por causa delas, não tinha como não saber, o Targaryen lembrou-se quando - mais de uma vez - conselhou Rhaenyra mais nova ou Laena pelos problemas familiares, mas Dorelle não era uma menina como as sobrinhas, era uma mulher. Ele pegou as mãos dela, lembrava como Alyssa fazia.
── Ei, não chora, ok? ── Ele tentou forçar o sorriso. ── Isso pode acontecer com qualquer um.
── Eu não costumo perder a noção do tempo. ── Ela falou segurando o choro. ── Mas me lembrou do meu irmão e ...
── Tudo bem, não precisa falar, eles já estão vindo nos pegar. ── Ele acariciou a mão dela com o polegar. ── A quarta regra do mar: Viva a experiência, das melhores as piores.
── Desculpa atrasar você. ── Ela falou tão baixo que quase sussurou.
── Relaxa, eu precisava mesmo de um tempo longe daquilo. ── Ele sabia que não estava mentindo pra ela, não agora.
A carona para levá-los levou mais cerca de 10 ou 15min para chegar até lá, o suficiente para deixar Dorelle nervosa e Daemon tentando acalmá-la alisando sua mão. O caminho foi silencioso e por sorte eles conseguiram embarcar de forma discreta, as pessoas não sabiam que um passageiro tinha ficado para trás até então, apenas os que estavam no ônibus, mas não é como se a notícia tivesse corrido muito rápido em pouco tempo, ricos preferiam guardar segredo.
Dorelle só queria enfiar a cara dentro de um buraco e não aparecer em público tão cedo, mas não era assim que as coisas funcionavam, ela sabia. Para piorar sua vergonha Daemon insistiu em acompanhá-la até seu quarto, o silêncio no corredor pelo lado dela era de vergonha, pelo dele de preocupação, no que ela faria, quando ambos chegaram a porta de ambas as suas cabines eles pararam, em silêncio ainda por breve.
── Obrigada por me trazer até aqui, mas não precisava.
── Só queria garantir que está bem, mesmo. ── Ele sorriu de canto. ── Posso falar com a Laena e eles trazem seu jantar aqui.
── Eu vou subir lá no refeitório geral e como algo. ── Ela encolheu os ombros. ── Não quero ser alvo do papo na mesa.
── Eles não vão falar, as pessoas aqui só ignoram os assuntos. ── Ele a acalmou.
── Mesmo assim, desculpa por te atrasar. ── Ela desviou o olhar do dele, o lilás mais bonito que tinha visto, procurando seu cartão da cabine. ── Boa sorte com o pedido de casamento.
── Pedido? ── Ele arqueou a sobrancelha.
── É, eu vi você comprando a aliança pra sua namorada. ── Ela finalmente achou o cartão, destravando a cabine. ── Espero que ela goste. Boa noite, Daemon
── Ah, claro. ── Ele riu da fala dela, não querendo corrigí-la. ── Boa noite ... Dory.
Ela some cabine a dentro, de certo mais aliviada por terminar com aquilo, já ele fica olhando a porta rindo um pouco, pensou em entrar na sua cabine, mas tinha marcado de falar com Viserys, o sorriso sumiu lento de seu rosto enquanto caminhava pelo corredor por onde eles tinham vindo, olhou pra trás uma última vez, para se certificar e depois sumiu entre um corredor ou outro.
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