𝑻𝒘𝒆𝒏𝒕𝒚 𝑶𝒏𝒆
Avisos:
Oii gente, espero que estejam tudo bem com vocês. Vim rapidinho agradecer pelo 14k na fic, sério, fiquei tão feliz que tive que comemorar kkkk muito obrigado pelos mais de 1k de votos, e por todos os comentários, são realmente muito importantes para mim!
É só isso mesmo gente, amo vcs, bebam água!
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Várias palavras-chaves foram criadas, tantos códigos que [Nome] passara semanas as decorando. Porque um único deslize geraria um problema qual não queria lidar.
Daquela vez, não sabia qual havia sido para ter quatro agentes franceses dentro de um minúsculo sobrado em um bairro de Yokohama.
Estava fazendo 12° durante a madrugada, festeiros e turistas agasalhados banhando as ruas com suas cantorias altas e as conversas, todos caminhando pelas calçadas das lojas de comida, todos querendo roubar um pouco mais da beleza da noite.
O cheiro de carne assada temperou a boca de [Nome], o estômago quase convencendo seu cérebro a descer das escadas de emergência e ir pegar um espeto na barraca ao lado.
Ela cruzou as pernas, se escondendo mais contra os tijolos velhos quando um dos homens saiu de dentro de um quarto do segundo andar, segurando a touca quando o vento forte ameaçou tirá-la da cabeça. Do lugar em que estava, ele teria que olhar para cima e ter uma ótima visão para distingui-la do restante da noite.
Depois de olhar o beco e a calçada da frente, entrou deixando a janela aberta, as cortinas laranjas esvoaçantes revelando outros dois pares de botas. Sem sinal de Adrien.
Levantou da estreita taboa enferrujada, analisando novamente o beco escuro que separava o edifício em que estava escondida e o prédio de dois andares ao lado.
Checou as duas facas que prendeu em coldres nas coxas, a última estava bem guardada dentro da bota. Apertou mais o cinto contra o quadril, deixando as duas pistolas automáticas bem seguras e prontas para serem pegas a qualquer momento.
[Nome] subiu a máscara, nenhum fio de cabelo foi solto do firme coque baixo ao girar o braço e jogar a bolsa preta em um pedaço de metal retorcido da escada que estava. Ela acertou o alvo, balançando antes de se estabilizar.
Não tinha como pegar distância para o pulo, agradecia pelo beco ser estreito e a varanda do outro lado grande o suficiente.
Seu pouso foi silenciado pelos barulhos da rua, a mão coberta pela luva com ferro cravado nos nós dos dedos tocaram a madeira com calma, o macacão preto fosco evitou que a luz fraca de dentro da sala de estar refletisse nela.
A televisão estava ligada, [Nome] notou ao esgueirar perto dos vasos de plantas e se aproximar da janela.
O homem sentado na frente dela tinha uma tatuagem abaixo do olho, e aproximando mais, conseguiu ver o que saira na varanda segundos antes, um hematoma decorava seu rosto. Sorriu ao pensar que Adrien não se entregara tão facilmente.
Faltavam dois. Fogos de artifícios brilharam no céu quando [Nome] saltou da varanda para o parapeito da janela iluminada ao lado, se endireitando após apoiar as botas em pequenos buracos na parede.
Seu olhar se aguçou ao vê-lo amarrado a cadeira, o casaco surrado manchado de sangue, os cabelos negros e emaranhados jogados sobre o rosto caído. Parecia estar desmaiado. Ela se apoiou melhor, puxando uma das armas da cintura com calma ao achar os outros dois que faltavam.
— Esse folgado mentiu para a gente! — o ruivo barbado reclamou, andando de um lugar para outro.
— Tá tá, o ajudante dele só vai chegar daqui a algumas horas, relaxa. — o que estava sentado na cama de solteiro disse, passando uma página da revista que lia.
— Que se lasque também, vou pedir comida italiana.
Marchou para o outro cômodo, reclamando e xingando Adrien de todos os nomes possíveis. O que ficou balançou a cabeça, e sequer tirou o olhar da revista quando [Nome] levantou mais o vidro já aberto da janela.
O cano da arma bateu contra uma das barras de ferro, finalmente atraindo a atenção dele. Ouviu seus passos atentamente, e assim que soube que ele estava perto o suficiente, [Nome] surgiu na janela, a bala silenciosa em sua testa fez seu corpo ficar mole em segundos.
Ela pulou para dentro do quarto antes que o corpo sem vida batesse no chão, vendo o outro surgir na porta na mesma velocidade que uma de suas facas o atingiu no pescoço.
A raiva que sentia pedia por um pouco mais de adrenalina, entretanto, Adrien era a prioridade no momento, podia atender seus próprios caprichos depois.
O outro se jogou através do arco, pulando o corpo do companheiro em direção ao meio da sala, não viu quando [Nome] o agarrou por trás, cobrindo sua boca e puxando o gatilho.
Virou rápido, jogando o corpo para trás, encima do quarto e último homem francês, ela apontou certeira em seu peito. Os dois caíram um sobre o outro no tapete verde.
— Acorda. — falou ao se aproximar da cadeira, a pistola silenciada ainda em uma das mãos enquanto cortava a corda que prendia suas mãos para trás. — Adrien, acorda!
Segurou devagar seu rosto, começando a considerar a possibilidade dele estar drogado quando seus olhos verdes se abriram.
O cansaço neles era palpável, mas não poderiam demorar mais que o necessário ali.
— As férias acabaram. — o segurou pela cintura, o levantando do lugar. Ele não respondeu, parecendo estar desnorteado o suficiente para não conseguir andar sozinho.
— Que bom que ainda tem senso de humor. — reclamou ao ser apoiado na poltrona da sala, a televisão ainda ligada.
— Me recuso a acreditar que uns socos tiraram sua energia. — olhou em volta, achando os papéis que vira da varanda, todos espalhados encima de uma mesa de madeira.
Não as leu completamente, quando percebeu que eram importantes as dobrou e colocou no compartimento do traje.
— Ah não, vão precisar de mais. — passou a mão pela têmpora, apertando os olhos com força.
— Tocou em algo. — indagou indo buscar sua faca, a limpou no pano da poltrona quando voltou.
— Não. — o modo como se levantou gritou que chegariam na varanda meio-dia com aquele ritmo, ela não falou nada ao puxá-lo para si, o ajudando a andar.
Sentiu seu coração bater através das roupas sujas, o calor de vida que o corpo de Adrien irradiava. Estava vivo. Ela chegara a tempo.
— Pode ser mais delicada, dessa vez? Acho que quebrei uma costela. — reclamou, [Nome] revirou os olhos.
— Sim, princesa.
Um som parecido com um riso saiu dele ao se encostar nas enormes janelas abertas. [Nome] puxou a velha escada de emergência, ela deslizou contra o cimento desgastado da parede com um ruído grave.
— Achei que estava vendo coisas quando te vi. — Adrien suspirou, [Nome] o segurou pelo braço.
— É agora que você declara que sou uma ótima amiga? — passou pela de proteção enferrujada, fixando os pés nas barras encrustadas entre os tijolos.
— Não é mais a chefe que não me paga? — a seguiu além, ela segurou os ferros da escada para que ele tivesse apoio.
— Talvez eu te dê um salário esse mês.
Adrien começou a descer, seus suspiros por alguma dor foram ouvidos por ela em toda a sua descida. O viu se encostar na parede com cuidado, não queria demonstrar mais o quanto aquele ataque o afetara.
O isqueiro quase queimou sua mão com a promessa do fogo que viria, [Nome] aproximou a chama fraca na cortina, vendo o fogo se alastrar por ela, como se estivesse com fome e fosse consumir tudo.
A sensação de satisfação que a atingiu foi amarga e deliciosa, do tipo que era capaz de até mesmo arrepiar os cabelos de sua nuca. O calor tocava seu rosto coberto como uma carícia de boas-vindas, ela sorriu por baixo da máscara, evitando o desejo de tocar a cicatriz no pulso.
Não o fizera nos últimos dias, e claramente não faria em um momento de vitória.
As chamas começaram a tomar conta de tudo, do papel de parede rasgado, do tapete esfarrapado.
Quando supriu sua necessidade visual de ver os corpos queimando, saiu pela varanda e deslizou até o chão sujo pelo cano de ferro da saída de emergência, evitou o chão sujo, pulando encima de uma caçamba de lixo fechada e pegando a bolsa pendurada acima dela.
— Vamos, sua carruagem te espera. — passou seu braço pelo pescoço, o ajudando a andar pela faixa extensa e escura a frente.
Vendo de fora, pareciam dois bêbados voltando para casa depois de várias rodadas de saquê, e queria permanecer assim, mesmo com as luvas e as armas.
Para falar a verdade, parecia estar sequestrando Adrien.
Tirou a máscara assim que saira do beco, o vento frio açoitando seu rosto, um contraste com o fogo que crescia no sobrado rua acima.
— Ah, a minha moto. — ele pareceu se lembrar de sua parceira ao ver uma Suzuki GSX estacionada ao lado de uma loja de tacos. — eles destruíram a minha moto!
O deixou reclamando sobre o veículo destruído, xingando todos os homens – qual ela iria lembrá-lo depois – que já estavam mortos.
— Pare de se lamentar e suba. — ele fez uma careta, olhando da moto até ela.
Para sua surpresa, Adrien não fez nenhuma reclamação antes de se posicionar atrás dela na garupa.
[Nome] ligou a moto, a arrancando da rua composta por lojas de comida e hotéis de hospedagem barata.
Sentiu a hesitação do homem atrás de si em se apoiar nela, sorriu, acelerando.
— Sugiro que se segure. — avisou, e logo uma das mãos dele estavam em seu ombro, a outra segurava forte o ferro de apoio.
Uma culpa pesada caiu por cima dos ombros cansados de Adrien, evitando pensar muito ao tentar relaxar o corpo.
Fizera merda e [Nome] teve que sair de Tokyo as pressas para ajudá-lo, entretanto, focava na dor de cabeça pulsante. Por Deus, como queria dormir, mas a velocidade que ela aumentava a cada segundo o fazia manter os olhos bem abertos.
[Nome] apertou as mãos cobertas pela luva ao redor da manopla, deixando o vento beijar seu rosto, abraçando os segundos de liberdade que estavam sendo concedidos a ela.
O céu da madrugada estava pintado de estrelas, as nuvens ao longe apenas um sussurro da chuva que poderia ou não banhar a cidade.
A preocupação que sentira ao saber que a vida de Adrien estava comprometida era inegável, e ela se misturava com a adrenalina. Estava tentando descontar a raiva na velocidade.
As batidas do coração tão trovejantes quantos os clarões ao longe, o corpo dela atrás de si um lembrete de que havia dado certo.
Por mais que aquele pensamento asqueroso de que não cumprira o que falara sobre o deixar seguro contornasse sua cabeça. Havia dado certo.
Falara que era amiga dele antes, mas será que tinha o direito de tal coisa?
A paisagem estava ficando mais borrada a cada novo pensamento, então respirou fundo. Pensaria nos detalhes mais tarde, depois de ter tomado um longo banho.
☾︎
O vapor que manchara o vidro do box foi se dissipando depois que [Nome] desligou o chuveiro e começou a pentear os cabelos.
Vestia a roupa que usou ao sair da casa de Takemichi, uma calça cintura alta preta e um cropped de gola alta verde escuro – ou também as primeiras peças que achara.
Depois de pronta, observou o que a falta de uma boa noite de sono estava fazendo consigo mesma.
— Me passa a garrafa. — pediu ao voltar ao quarto, Adrien a estendeu do local onde estava sentado. — esse chão é tão confortável assim?
— Trocaram os panos, o cheiro está deixando meu nariz irritado. — ela pegou o whisky, bebendo um gole pequeno.
— Quase quebrou uma costela e não quer irritar o nariz?
— Posso dormir com umas dores no corpo, mas com dificuldade para respirar, não. — apoiou a cabeça entre as palmas das mãos, então [Nome] notou os ferimentos nos nós dos dedos.
— Como você foi parar lá? — indagou, ele não se moveu pelos próximos segundos, mas então disse:
— Eu tinha umas coisa para tratar lá, não percebi quem eram até que bateram minha cabeça no balcão do bar.
— Eles contaram a alguém que você está aqui?
— Não fiquei acordado o tempo todo, mas fingi desmaiar um momento, e pelo o que entendi, eles fizeram muita merda e queriam me lavar sem avisar a ninguém. — como um prêmio. Ela completou mentalmente por ele, porque sentiu sua repulsa durante a fala.
— Foi um golpe de sorte. — bebeu outro gole, o frio que vinha do ar-condicionado arrepiou sua nuca. — Quando eles te levaram?
— Ontem a tarde. — suspirou. — E antes que pergunte, não disse nada sobre você.
— Então porque permitiram que você me ligasse? — indagou, Adrian se levantou com pouca dificuldade, pegando a garrafa dela.
— Eu disse, depois de ouvir sobre o quanto estariam ferrados se fodessem com as coisa de novo, que eu tinha um contato importante no Japão, o contato que estava me escondendo aqui. — ele riu venenosamente, encarando o tapete felpudo que pisava. — mais algumas doces palavras e eu consegui enganar eles.
— Você sempre foi muito bom em enganar as pessoas.
— Sim, convenci eles que você era uma velha nojenta. — riu de lado, sua beleza não sumindo com o corte do lábio.
— Que cruel.
— Já que não posso enganar você, vou te fazer sentir os efeitos colaterais. — saiu para a primeira sala, [Nome] pegou a bolsa de cima dos travesseiros, o acompanhando.
— Não pode, ou não consegue? — disse maldosa, tomando a garrafa dele novamente.
— Olha, eu estava um pouco desesperado aquele dia. — deu de ombros se jogando no sofá, ela encostou no canto, virando dois eletrizantes goles. — e hoje em dia... Não quero mais problemas.
— Sempre inteligente.
— Sabia que eles estavam aqui? — o sorriso dele diminuiu aos poucos, [Nome] precisaria de outro gole para entrar naquele assunto.
— Eu tinha uma... Vaga ideia. — viu o olhar que se apossou das íris verdes, e não desviou, por mais intenso que fosse.
— Claro, e não pensou em dividir seus pensamentos? — ao contrário do que transmitia, sua voz saiu calma.
— Não tinha certeza absoluta, e diria, sim, se soubesse que você iria sair de Tokyo.
Achou que fosse ficar irritada em falar sobre aquilo, mas parecia que todos os sentimentos que guardava haviam sido carbonizados junto com o sobrado em Yokohama.
Não tinha sobrado nada.
— Okay, eu deveria ter avisado que ia sair. — passou a mão pelos cabelos escuros e molhados.
— Sabe a foto que pedi para você imprimir? — ele se sentou, prestando atenção. — aquele cara com os japoneses era um homem francês.
— Puta merda. — voltou a se deitar. — que porra eles estão fazendo aqui? Não é o território deles.
— Não sei.
— Um dos caras era Arata Ono, certo? — esperou uma confirmação antes de continuar, ela agradeceu a consideração. — tem alguma chance da Toman estar envolvida?
Inclinou a cabeça, [Nome] havia pensado em tantas possibilidades, tantos e se, que seria mentira se negasse que era, sim, uma opção. Mas não fazia sentido, o que a gangue Manji queria com agentes franceses?
— É improvável. — ponderou. — não é segredo que a França tem negócios em outros lugares, talvez esses idiotas de hoje fossem apenas um encontro ruim.
— Você não trabalha com talvez. — deu de ombros.
Bebeu novamente, e dessa vez, não por prazer, era apenas para cessar os pensamentos um pouco. Sempre era eficiente.
— Dependendo do que seja, é mais uma batalha vencida pela incrível [Nome], e mais um na lista de favores que te devo. — sentou de repente, pegando a garrafa das mãos dela.
— Estou apenas mantendo minha parte do acordo. — qual dizia que o manteria seguro, e falhara, mil vezes falhara e teve sorte de ter conseguido arrumar as coisas a tempo.
— O acordo era me manter vivo, e não atrair atenção a você. — bebeu, seus inteligentes olhos tentando captar alguma coisa da expressão dela. — mas fico feliz em saber que posso continuar contando com seus serviços.
— É sempre bom reafirmar um contrato. — as mesmas botas de ponta de ferro que usara para tirá-lo do sobrado – agora limpas – mal fizeram barulho ao caminhar até ele. — eu esperaria um dia ou dois para sair na rua de novo.
— O quê é isso? — pegou o cartão da mão dela, verificando frente e verso.
— Um cartão? — Adrien revirou os olhos.
— Isso eu sei, quero saber para quê está me entregando.
— Pela lata velha que joguei no rio Marne.
— Lata velha? Você não está falando da minha moto, não é? — perguntou quase desacreditado, [Nome] sorriu.
— Estava tão enferrujada que afundou sem eu ao menos perceber. — deu de ombros diante o olhar dele. — agora que você está sem uma decidi fazer essa nova boa ação, parceiro meu não pode andar a pé.
— Engraçado que eu passei um ano sem transporte depois daquilo, e você não pensou nem em se desculpar.
— Eu já vou indo, faça bom uso do meu presente. — falou já puxando a porta, deixando um Adrien sem saber o que dizer.
— Se isso for uma brincadeira da sua parte—
— Então vai ser uma que você vai se beneficiar em cair, me ligue se acontecer alguma coisa.
— Droga, não deixe de me dar notícias!
Por fim, saiu, liberando o extenso e doloroso suspiro que guardava dentro dos pulmões.
Se livrar dele pareceu deixar um buraco no peito dela, um que não se importou em tentar preencher com qualquer falsa esperança enquanto ligava a moto e dirigia por Tokyo.
☾︎
Estacionou a moto na garagem ao lado do gramado, fazendo uma nota mental de dizer a Takemichi que ele precisava trocar algumas peças dela.
Saiu pela porta dos fundos que dava para a entrada, [Nome] entrou e rapidamente subiu as escadas, deveria falar com o primo e saber se alguma coisa relevante havia acontecido, e a partir do que descobrisse pensar no que fazer.
Tinha uma vaga ideia de seus próximos passos, entretanto, dependendo do rumo que o assunto "Sanzu e Saiko" tomasse, deveria os adiar em sua lista de prioridades.
O que aconteceu ao virar o primeiro corredor depois das escadas foi rápido. Ver um corpo se movendo na sua direção dentro daquela casa silenciosa a fez puxar a faca personalizada do cós da calça e disparar um soco, desejando não ter colocado as pistolas na bolsa.
Ele também revidou, protegendo o rosto e a empurrando contra a parede com um impulso que reverberou pelos ossos dela.
[Nome] se preparou para que a joelhada acertasse seu abdômen, mas a pessoa se afastou o suficiente para escapar, ela aproveitou a deixa e segurou seus cabelos, apontando a faca de ponta afiada e retorcida para frente ao mesmo tempo que sentia o cano da arma tocar sua barriga.
Tentou afundar mais a lâmina em seu pescoço, e a sentiu tocar a pele exposta na mesma medida que a pessoa apertava seu pulso esquerdo, usando o peso do próprio corpo para prendê-la a parede.
— Pare agora, ou vai estar morta antes de pensar em fazer alguma coisa. — reconheceu a voz contra o escuro, a luz que entrava pela janela no fundo do corredor projetou luz o suficiente para ver seu rosto.
— Acho que consigo sobreviver com uma bala no estômago, mas você não iria com a veia do coração partida em duas.
De fato, as facas de [Nome] estavam tão afiadas que poderiam cortar pele como uma tesoura cortava papel.
Foi sua vez de se apertar contra o Sano, evitando que ele mudasse a mira da pistola e a depositasse em seu coração.
— Veio terminar o que Sanzu não conseguiu? — a atenção dela desceu pela lâmina, parando na tatuagem que enfeitava seu pescoço. Era a primeira vez que a via.
— Minhas prioridades são outras. — Manjiro apertou as sobrancelhas acima dos olhos turvos, tentando tirar sua mão de seus cabelos loiros.
— Tentar ficar vivo? — sorriu com o fiapo de raiva que o atingiu, o aperto se intensificou, [Nome] puxou seu pescoço para perto da lâmina.
— Me solte. Agora.
— Por que não solta a arma e tenta me convencer a parar? Se sente ameaçado sem ter alguém protegendo suas costas? — o riso que escapou foi genuíno. — tem medo do que eu posso fazer quando estou sozinha com você?
Manjiro não respondeu, e [Nome] sentiu a arma se mover, entretanto, nenhum vislumbre de morte passou por ela, nenhum assombro ou arrepio.
— Você mente com uma facilidade impressionante.
— Vou novamente pedir para que me lembre.
Piscou, os olhos escuros dele se estreitando, estavam perto demais, sentia a respiração de Manjiro na mesma intensidade que o aço da arma contra si.
— Não estou blefando, me largue.
Uma calma que não achou que fosse sentir se instalou em seus ossos, acalmou os músculos. E uma aceitação sombria pairou sobre ela. Uma que errou as batidas de seu coração.
— Se afaste primeiro.
Guardou o pesar para si, e não teve uma confirmação antes de parar de ser espremida contra a parede gelada.
Soltou devagar os cabelos loiros, um puxão, um único empurrão contra a lâmina que segurava e o líder da Toman estaria morto.
Claro, ela provavelmente não veria o sangue escorrer, porque estaria mais preocupada em remover a bala de si e parar a hemorragia.
Valeria a pena?
Um metro se instalou entre os dois. O calor que a agitação se formou esfriou, deixando os pensamentos sobre aquela casa estar silenciosa demais a preencher.
— Achei que você tivesse mais amor a própria vida. — ele relaxou o braço, a arma ainda em mãos, mas não apontada diretamente a ela.
— Ficaria impressionado se soubesse o quanto está errado. — moveu a faca pelos dedos. — o estado em que deixei Sanzu deveria dizer mais que palavras.
A expressão de Manjiro endureceu. Mas ela não recuou, pelo o contrário, sorriu com a satisfação de vê-lo daquele modo.
— Aquilo foi o mesmo que pedir uma execução.
— Okay, eu deveria ter deixado ele me matar, desculpe.
— Isso vai ser discutido quando você aceitar ouvir. — as sobrancelhas dela se juntaram em uma desconfiança que não evitou em mostrar.
— Então diga, porque ele não me deu explicação alguma.
Cruzou os braços, a faca balançando entre os dedos. Manjiro olhou o movimento despreocupado. [Nome] imaginou se ele abaixaria a guarda daquele jeito se soubesse o quão boa ela era segurando uma lâmina.
— Não parece mais interessada em me bajular. — ela piscou, em sincero espanto.
— Não me lembro de já ter feito algo parecido.
— Conversou comigo nessa casa, como se não soubesse quem eu era e me escutou falar da vida de um dos meus subordinados. — a lembrança inundou a mente dela, pouco a pouco, reconhecendo cada palavra que ele falava. — me diga que não estava tentando ganhar alguma coisa com isso.
Um riso saiu dela, desmanchando automaticamente o sorriso do rosto bonito dele.
Como iria dizer que apenas queria que ele não a olhasse como uma ameaça? Que subitamente não a visse como um brinquedo interessante.
Queria que Manjiro a visse como parecia ver o resto do mundo, com aquele descaso agarrado nas íris negras.
Queria que a visse como estava se mostrando: uma garota baladeira que gostava de beber com desconhecidos.
— Você realmente é muito paranóico e solitário se achou que uma simples conversa significava que eu queria alguma coisa de você. — ele pareceu ter ficado incrédulo por um segundo, a disfarçando com um movimento casual, o enorme casaco que usava se movimentando junto.
— Deveria ter continuado a agir daquele modo, talvez sua situação estivesse melhor.
— Obrigada pelo concelho. — sorriu com ironia, ele tirou os olhos de algum ponto da parede para observá-la. — pode falar, estou escutando. — Manjiro pareceu inclinado a não dizer nada pelo seu mínimo revirar de olhos.
— Sanzu vai ser penalizado por agir contra minhas ordens.
Uma inquietação atingiu [Nome], não uma de satisfação por saber que ele iria ser castigado – por menor que fosse sua sentença – mas sim porque riscava Manjiro de sua lista de mandantes.
Vontade própria poderia ser uma opção. [Nome] não foi exatamente receptiva com a Toman, mas pelas contas que fizera na cabeça, tivera a sorte de todos serem inimigos infiltrados, com exceção de Saiko, que ainda era uma pendência que deveria resolver.
— Eu imagino que Sanzu saiba sobre os traidores. — uma pergunta não dita se instalou em Manjiro. — ouvi Draken falar sobre ele ser seu secretário pessoal.
— Sabe.
Aquela única palavra riscou outro motivo da lista mental dela.
Sem acertos de contas por amigos mortos e feridos, sem comandos de nenhum de seus superiores.
[Nome] encontrou apoio na parede, sentindo estar em um campo minado.
— Saiko é um traidor?
— Não, e esse é o outro motivo pelo qual eu vim. Atacou ele? — ele se aproximou meio passo, novamente tentando ler seu rosto.
— O que garante que vai acreditar em qualquer coisa que vou dizer? — devolveu a pergunta, estranhando o fato dele estar perguntando e não afirmando.
— Não tem garantia. — [Nome] abafou um suspiro irritado.
Se explicar era a coisa que mais odiava fazer, e piorava naquelas circunstâncias.
— Ele me seguiu no meio da noite, então me certifiquei de não ser pega desprevenida.
— Saiko não fez nada?
— Além de parecer suspeito? Não. — não pediria desculpas, não diria que não havia feito nada demais.
— Chifuyu me disse do motoqueiro, ele negou o envolvimento de outra pessoa.
— Jura?
— Saiko deixou tudo nas mãos de seu capitão, e disse que estava apenas passando quando você começou a atirar nele. — a voz dele estava terrivelmente baixa.
O silêncio retornou, [Nome] sabia que não acreditariam nela, e sinceramente, estava pouco ligando se confiassem ou não no que dizia.
— Kisaki quer permissão para investigar a 5° divisão.
— Como? — indagou, levando a atenção até ele novamente.
— A divisão de Takemichy é diferente das outras, ele pode investigar traidores internos sem minha aprovação. Agora, Kisaki acha que ele faz parte dos traidores e quer uma carta branca como compensação.
O ar que passou por seus pulmões ardeu, poderia lidar se as consequências caíssem sobre ela, mas trazer outro problema... Se aquela investigação ao menos se iniciasse, colocaria as suspeitas de Kisaki a mostra, e outras pessoas poderiam começar a compartilhar de seus pensamentos.
— Saiko não morreu, pelo o que ele quer uma compensação?
— Foi um ataque direto da 5° divisão, não vai passar impune.
— Se eu provar que foi planejado, sua decisão vai ser revogada?
— Ainda não tomei nenhuma decisão. — o suspiro que reprimiu saiu cortante. — mas sim, se conseguir.
A provocação não passou despercebida pelos sentidos afiados dela.
— Quanto tempo tenho?
— Um dia, depois disso, vou deixar nas mãos de Kisaki.
[Nome] afastou a dor de cabeça. Fizera mais em menos tempo, conseguiria provas de que foi armação.
Um toque de desconfiança tomou o olhar dele, ela notou e a segurou com os próprios por segundos.
— Parece que Takemichy ser investigado é um problema. — ele começou a descer as escadas, como se não tivesse insinuado algo.
— O problema é que você parece deixar fazerem qualquer coisa com alguém que te defende com tanto afinco. — tocou o corrimão, levantando o queixo quando ele olhou por cima do ombro.
A porta da frente revelou Chifuyu e o primo, Draken os seguindo com a aparência cansada. O sol nascia do lado de fora, e ela sequer percebeu.
Ninguém falava nada, a quietude se quebrou apenas quando Manjiro cansou de observar [Nome] e atravessou a sala, suas botas quase como penas caindo no chão. Nem mesmo falou com qualquer um dos três.
Ken o olhou ligeiramente, voltando a ela com um ar confuso, fechando a porta atrás de si e impedindo Takemichi de ir atrás de Manjiro. Porque ele se virou a saída com expectativa.
— Por favor, me diz que não fez o que eu estou pensando que fez. — o primo pediu encarando a faca na mão dela.
— Depende do que está pensando. — sentou nos degraus, Chifuyu subiu três antes de encostar no corrimão de vidro.
Por incrível que pudesse parecer, Draken não disse uma palavra, apenas se encostou nas costas do sofá e esperou.
Foi a deixa de [Nome] contar a conversa que tivera com Manjiro, claro, focando apenas nos detalhes importantes.
— Como vai provar isso? — Matsuno indagou.
— Não sei, mas tenho um dia para pensar.
— Você é realmente muito teimosa, desde pequena. — falou com um brilho de nostalgia tomando cada palavra. — mas era melhor quando sua rebeldia não colocava sua vida em risco.
— Ah, então você conheceu Mizuki errado. — ele riu.
Ela só não sabia dizer se era um riso de preocupação ou de nervosismo, qual dizia que apenas não confiava nela o suficiente para aquilo.
— Está calado, Draken, não tem nada para dizer? — perguntou, ele pareceu ter saído de um transe ao observá-la.
— Eu tinha, ontem a noite. — então ele realmente fora ali ver ela.
— Foi sorte minha não estar aqui?
— Acho que foi, sim.
Com um suspiro audível, [Nome] se levantou e arrumou a bolsa nas costas.
— Já que nossa breve conversa acabou, vou me retirar.
Sussurros de confirmação foram deixados para trás a medida que se aproximava do quarto.
A bolsa pousou na mesinha de cabeceira, mas [Nome] não parou e se inclinou até o outro lado da cama, onde havia revistas de moda e alguns dos livros que acomodara ali.
Puxou um de capa dura com alguma coisa sobre filosofia escrita na capa, abrindo na página 58, revelando a foto que Adrien entregara a ela.
Subiu a blusa e tirou os papéis dobrados que pegou dos franceses de um dos bolsos internos dela, os lendo atentamente.
Cada informação escondida ali mostrava o quanto era valiosa, fazendo seu sangue esquentar, a mente quase não acompanhando seus olhos.
O pulso esquerdo pesou, então tocou as finas cicatrizes esculpidas ali. Dedilhou sobre as elevações de pele quase imperceptíveis, a marca avermelhada no local que Manjiro apertou.
Quando acabou de analisar todo o conteúdo, dobrou as folhas e os deixou juntas dentro do livro, com três exemplares de romance de época sobre ele.
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