𝑻𝒘𝒆𝒏𝒕𝒚 𝑭𝒐𝒖𝒓
Quatro dias passaram.
Quatro inebriantes dias que poderiam ser resumidos em estressantes e letárgicos. A dor de cabeça era uma colega constante, aparecendo e desvanecendo quando queria, se agravando quando [Nome] lembrava que tinha que comer e parar de encher o copo sobre a mesinha.
Seria uma mentirosa se dissesse que não ficava excitada com cada nova descoberta, mesmo que não chegasse a ser esperança, mas sabia que era alguma coisa parecida com uma iminente vitória.
Contudo, aquela manhã foi diferente, ela acordou depois de passar cinco horas tomada pela inconsciência entre os lençóis, sem ter nenhum sonho, e vestiu uma saia rosa perolada que fazia conjunto com um top que passava por seu pescoço, então saiu para fazer compras.
Querendo ou não, tinha uma pequena lista de inconvenientes pendentes. E uma delas — graças a Adrien — era Hidetaka.
Foi uma pequena surpresa descobrir que ele fora acolhido por uma família influente quando criança, mas depois de pesquisar mais um pouco, soube que a relação deles não era das melhores e que Hidetaka tinha saído de casa antes da maioridade, indo viver com Arata.
Ele tinha um irmão adotivo, Junichi Sato, um colecionador que realizava eventos beneficentes e era muito conhecido no meio social. Junichi recebeu toda a herança depois de seu pai morrer, assumindo a liderança e, ao que parecia, os dois escolheram não manter contato público.
Se Hidetaka estivesse metido em problemas, procuraria o irmão? [Nome] não sabia, mas era sua única pista e não deixaria escapar.
Ela borrifou o perfume mais caro que tinha por toda a extensão de seu pescoço exposto, as finas gotas deslizaram e imediatamente emanaram aquele cheiro sedutor e levemente doce, sumindo no profundo decote coração do vestido de veludo carmesim sem alças.
Fazia tempos que [Nome] não se arrumava para grandes eventos sociais, por aquele motivo — e, talvez pela vaidade — ela passou o dia procurando uma roupa adequada para a noite.
De frente ao espelho do banheiro, ela passou a mão pelo singelo enfeite brilhante na altura do quadril, ele marcava o final do corset firme, que apertava ligeiramente seus seios, e o começo da fenda na perna esquerda.
O pano descia como uma cortina por seu corpo, formando uma pequena calda aos seus pés, mesmo que o salto louboutin preto a deixasse quinze centímetros mais alta.
Ela abriu sua caixa de jóias, pegando um par de brincos de diamantes e uma pulseira prata, e não teve nenhuma dificuldade em colocá-los com as unhas em formato stiletto pintadas de preto.
O colar fazia conjunto com os brincos, e era uma única pedra reluzente.
[Nome] também pegou um pingente de cobra com detalhes prateados brilhantes que lembravam escamas, era pequena o suficiente para caber na palma da mão, mas ficaria lindo se o colocasse na lateral do penteado elegante, qual puxava a parte superior direita de seus cabelos para trás por dois pequenos grampos.
Tocou na trava de segurança localizada no final da cauda, observando a fina corrente de aço com extremidades afiadas se desenrolar até atingir o chão.
A usara poucas vezes, e apesar de não ser uma de suas favoritas, gostava dela. O firmou entre os fios, arrumando o restante do cabelo solto que descansava em suas costas.
[Nome] sorriu consigo mesma diante da imagem no espelho, tinha algo de diferente entre se arrumar para uma noite de bebedeira e farra e uma festa de gala, onde as pessoas não estavam se importando com a própria diversão, mas sim prestando atenção aos arredores.
O delineador deixava seu olhar dócil, e era um contraste com o fatal batom vermelho escuro.
Fechou e guardou a caixinha, sabendo que não seria revistada na entrada, mas evitou levar uma pistola ou qualquer coisa aparente.
Se algo acontecesse, a cobra daria conta muito bem.
[Nome] pegou a graciosa bolsa de mão preta, já estava pronta para ir ao leilão beneficente, que tinha como anfitrião e organizador, Junichi Sato.
☾︎
O barulho abafado da pistola silenciada correu pela sala de reuniões quando a bala atravessou o crânio do homem. Seu corpo inerte caiu da cadeira, salpicos de sangue mancharam o chão.
Manjiro trocou a arma de mão, puxando a luva preta nos dedos, ele fez uma leve careta ao ver uma gota do líquido rubro próximo demais de seu sapato social.
A katana de Sanzu cortou o ar do outro lado do apartamento, os gritos chegaram aos seus ouvidos em segundos, misturados com uma risada baixa que o Sano conhecia bem.
Ao menos alguém estava se divertindo.
Passou por cima dos cinco corpos esfriando no tapete sujo, as expressões petrificadas em pura aflição e angústia, os sangues distintos se misturavam ao redor dos pés dele, dando vida a cena fúnebre que trouxera a quietude para a mente de Manjiro.
Sentou na cabeceira da mesa retangular, o sangue nas solas de seu sapato deixaram resquícios de pegadas vermelhas para trás, até que sumissem no chão marrom.
Ele pegou um dos copos dispostos entre os papéis, o enchendo do whisky ainda fechado sobre uma bandeja de cristal, tirando alguns fios loiros do rosto enquanto guardava a pistola na cintura.
Haruchiyo entrou no escritório, cantarolando uma música indecente com a espada suja apoiada em um dos ombros, pingando a cada passo, arrastando consigo uma cadeira de rodinhas, onde Kojirou estava amordaçado e amarrado, as mãos expostas nos braços da cadeira.
Acuado como um ratinho encurralado em uma armadilha.
Sanzu assobiou alto ao ver o cenário pintado por Manjiro, empurrando Kojirou na outra cabeceira, perfeitamente à frente do Sano. O estômago dele se chocou com força contra a extremidade de vidro, seus olhos se arregalaram de dor, olhando rápido cada corpo retalhado no chão.
— Amarrado e quieto — falou, apoiando a lâmina no chão, o terno azul claro manchado de sangue.
Ver a roupa de Sanzu fez Manjiro lembrar das próprias, de todas as camadas do conjunto de terno que usava, e se mexeu, desconfortável. Kojirou se assustou com o movimento.
— Pare de tremer desse jeito patético — Sanzu deu um tapa estalado em sua nuca, os cabelos castanhos bagunçaram pela agressividade.
— Admiro sua ousadia de tentar fazer alguma coisa contra mim e achar que ia sair ileso, Kojirou, mas pessoas simples como você não deveriam ser ousadas — Manjiro disse com uma mão apoiada no queixo.
— Por favor — sua súplica foi quase inaudível, mas a risada que Sanzu deu enquanto passava uma das mãos pelo cabelo recém cortado e tingido de rosa, não.
— "Por favor"? Deveria me agradecer, você viveu todo esse tempo porque eu queria ver até onde sua brincadeira ia — bebeu mais um gole, olhando os papéis bagunçados, alguns foram jogados no chão pela pressa que tiveram em escondê-los — achou mesmo que estava me enganando?
Manjiro pegou uma prancheta com as informações falsas que Draken havia soltado na gangue semanas antes. Ah, ele foi paciente em esperar que agissem, e cuidadoso em fazer cada mentira parecer uma verdade.
— Ei, Mikey, eles acreditaram mesmo que um dos caminhões com as novas armas iam para Osaka — Sanzu também pegou os papéis, os passando com uma risada debochada.
— A essa altura seus amigos devem estar esperando no armazém — largou a prancheta na mesa com um baque — ou Angry e Smiley já começaram o trabalho.
— Bem, eles tem mais sorte que você, Kojirou.
Manjiro ignorou os gemidos baixos, achando irritante a forma como nem mesmo uma mordaça conseguia calá-lo completamente, contudo, os clamores pararam quando sua mão enluvada tocou uma pasta preta sem identificação nas linhas brancas.
Levando os olhos até ele, balançando o copo levemente, analisando a forma como seu peito estava se estufando cada vez mais. O Sano não pôde evitar ficar muito interessado no que poderia ter ali dentro.
— Que segredos você está escondendo? — falou, se deleitando em ver o desespero tomar cada fibra do corpo de Kojirou.
Encostou tranquilamente na cadeira, abrindo a pasta nas mãos, e foi como se tivessem roubado os sentidos de Manjiro quando ele viu a foto guardada dentro do primeiro plástico transparente.
Ele a tirou devagar, sem saber se era cólera comandando seu corpo ou medo da imagem se desfazer com um único toque de seus dedos. Manjiro apreciou o rosto jovem demais antes de ver o verso, procurando alguma escrita, mas não achou absolutamente nada.
Passou pelos plásticos vazios adiante com calma, procurando qualquer coisa que indicasse sua serventia. Não achou nada.
Era uma pasta vazia guardando uma foto de [Nome].
Observou os detalhes do uniforme azul marinho que ela usava com um emblema dourado, o blazer bem arrumado exibia linhas que combinavam com a gravata vermelha.
Manjiro apoiou o copo na mesa, levantando da cadeira enquanto balançava a foto entre dois dedos, um sorriso ladino apareceu em seus lábios, assim que os olhos roxos de Kojirou se arregalaram mais.
— Eu vou perguntar uma vez, e você vai responder, não vai ter segunda chance, escutou? — disse pausadamente, então empurrou a base da cadeira com o pé até que tivesse espaço o suficiente para que se encostasse na mesa, apertando a superfície de vidro com força — por que tem isso?
Sanzu tirou a mordaça com um puxão, tentando fazer o possível para esconder sua curiosidade sobre o que estava acontecendo.
Esperava uma súplica ou um "eu não sei", mas Kojirou não proferiu nada, apesar da respiração pesada.
O Sano puxou um dos piercings ainda não totalmente cicatrizados no lábio inferior, aceitando a onda de dor que se espalhou por sua boca, se juntando a adorável sensação de sentir o medo de Kojirou pairar na sua frente.
Fez um aceno com a cabeça na direção da mesa, Sanzu recolheu os papéis e os juntou em um monte desorganizado, e, daquele modo, nenhuma das novas pistas foram manchadas quando ele tirou a pistola da cintura e disparou na mão direita de Kojirou, não dando tempo dele assimilar a dor lancinante antes de atirar contra a outra.
O grito saiu alto e descontrolado, uma lágrima solitária desceu pelo rosto inchado dele.
Manjiro fez pressão na base da cadeira quando ele ameaçou se afastar, o mantendo preso no mesmo lugar. Kojirou jogou a cabeça para trás quando outra bala atravessou sua coxa esquerda, o sangue começando a escorrer em gotas grossas.
Esticou a mão, pedindo a katana de Sanzu, a qual foi recebida pelo Sano com um risinho quando ele friccionou a ponta no ferimento da mão esquerda, girando e girando enquanto absorvia o timbre da voz dele quebrando em gritos sufocantes.
Suor descia pela testa de Kojirou, seus olhos estavam arregalados. Ele morreria pela perda de sangue ou desmaiaria de dor antes?
— Diga a Smiley para deixar alguém vivo, o que ele julgar mais útil — avisou, Haruchiyo ligou para o chefe da quarta divisão, as palavras não importavam para ele, não quando olhou a foto novamente.
— Por favor, Mikey — Kojirou tentou de novo com a expressão deprimente, o Sano afundou mais a lâmina na carne viva, a sentindo atravessar até o braço da cadeira, e escutou um grunhido no lugar de um grito.
Provavelmente desmaiaria.
— Você tem uma reunião em vinte minutos, Mikey, quer que eu lide com isso? — Haruchiyo ofereceu.
— Não, tenho outro trabalho para você — apoiou a arma na testa suada de Kojirou, encarando fundo em seus olhos cansados enquanto ele ainda estava acordado, e atirou.
— O quê? — Manjiro lhe entregou a katana depois de guardar a pistola na cintura, segurando na lâmina para que Sanzu a pegasse corretamente.
O Sano sabia o quanto ele estava impaciente depois de ter sido afastado de suas obrigações como punição por ter passado por cima de seus desejos e ido atrás de [Nome] para fazer uma avaliação sem necessidade.
Aquele era seu primeiro trabalho em dias, o qual deveria ter demorado mais tempo para acontecer, mas Manjiro o encurtou enquanto furava seu lábio e fumava com Haruchiyo depois dele ter pintado o cabelo.
— Primeiro, ligue para Ken-chin e diga para mandar alguém vir limpar o apartamento.
— Não fazer a "limpeza"? — indagou, se referindo ao fato de investigarem o lugar.
— Não, isso vai ficar por sua conta, quero saber de qualquer coisa relevante que achar aqui — com isso, Sanzu se afastou para falar com Draken.
Manjiro caminhou até à parede de vidro no fundo da sala, a qual dava visão para uma noite de Tokyo iluminada pelas luzes dos outros prédios. Ele tirou um baseado do bolso do blazer, tão hipnotizado pelo rosto de [Nome] que não se incomodou em acender, apenas o deixou descansando nos lábios.
Batucou o dedo na parte de trás da foto, apenas para não ficar totalmente em silêncio com seus pensamentos se agarrando em sua pele.
Ela estava alheia à câmera que capturava aquela cena, não sorria, não tinha nem mesmo aquele toque de malícia que ele gostava de ver em seu olhar, sem aquela sede insaciável que Manjiro não conseguia descrever.
Precisou tirar um isqueiro do bolso e acender o baseado, tragando fundo, tentando acalmar o líquido quente correndo pelas veias, tentando não pensar no quanto queria ver aquele sorriso diabólico de novo.
Mas não conseguia, foi tão inútil quanto todas as vezes que achou ter esquecido do quão próximos estavam e do quanto sua voz irradiava diversão quando falou com ele na doceria.
Que expressão ela faria se estivesse presente no momento em que Manjiro fez Saiko virar nada mais que um cadáver esfarelado pegando fogo?
Resquício de fumaça passou pelo meio riso que escapou de sua boca, sabia que ela provavelmente iria inclinar a cabeça, jogando os cabelos para trás do ombro enquanto assistia às chamas consumir tudo, dizendo com um sorriso que ele não valia a fama que tinha se havia deixado alguém tão supérfluo vivo durante tanto tempo.
[Nome] era o conjunto de tudo o que era mais pecaminoso e profano, desde a forma como conseguia proferir palavras de desprezo com um rosto imaculado até a forma como se movia.
E aquilo estava jogando Manjiro em um abismo de penitência eterna, porque ela o achava solitário e paranóico.
Talvez fosse, talvez sua opinião sobre ele piorasse se descobrisse que o Sano ainda pensava em sua mão enrolada em seus cabelos.
Foi um momento fugaz, mas tão marcante.
Estava sendo terrível ter que conviver com sua mente lhe pregando peças, o fazendo modificar aquele acontecimento durante a noite, e Manjiro quase sentia os dedos em seu cabelo novamente, mas diferente daquela vez, eles desciam por seu pescoço, apertava e arranhava.
Não foi difícil encenar aquilo em sua cabeça depois de vê-la olhar com tanta curiosidade o local antes de voltar a comer o pão doce, o envolvendo em palavras tão perspicazes, tentando adivinhar se ele estava mesmo a seguindo.
Bem, não negaria que havia saído da cama naquela manhã com o intuito de encontrá-la, usando a desculpa de que iria acompanhar o caso de Saiko.
Contudo, queria somente suplantar aquele chamado esquisito que só se calava quando estava perto dela.
Não se permitiu entrar naquelas águas turvas de novo, sabendo que se continuasse, passaria horas pensando e deixando aquela atração mais forte.
A foto voltou ao seu campo de visão, então tragou de novo.
Talvez ela fosse um alvo por saberem que se envolvia com a Toman, mas se fosse mesmo, por que usariam uma foto tão antiga? Por que não uma mais recente, uma de quando estivesse com ele ou Takemichy ou qualquer outra pessoa?
[Nome] estava visivelmente mais nova, exatamente como lembrava, e ter uma foto daquela época fez Manjiro ter certeza de que tudo não foi um devaneio da própria mente.
— Mikey, temos dez minutos para chegar na reunião.
Sanzu lembrou, ele jogou o baseado no chão, apagando a ponta com o pé, contente e irritado por ter que deixar de pensar nela.
Era ótimo colocar na conta de Draken e Haruchiyo toda a burocracia, dando ordens por telefone e não precisar ver ninguém, mas os velhos da elite criminosa eram como abutres esperando a hora de comer, e Manjiro tinha que aparecer vez ou outra para mostrar o que acontecia se, por acaso, se esquecessem de quem comandava o Japão.
Por aquele motivo estava usando um terno tão formal, com direito a colete e um relógio caríssimo no pulso. Não eram, nem de longe, suas roupas preferidas, mas Sanzu insistiu que usasse.
— Vá até a casa deles e as reviste, encontre o motivo deles terem isso — entregou a foto, passando por cima dos corpos até chegar na sala anexa.
— E depois fala que não está obcecado por nada, humph — Sanzu disse com deboche.
— A sensação de se afogar foi boa? — tirou uma bala do bolso, sentindo o gosto forte de menta somente depois de brincar com ela na língua.
— Admito que [Nome] não é insignificante, mas não é difícil achar pessoas que lutam bem por aí, ainda não sei porque se interessa tanto por ela — deu de ombros, encostando no elevador.
— Você exagera muito, Sanzu.
— Exagero, é? Então não ficou mais exaltado quando viu que Kojirou tinha isso aqui, ein? — ergueu a foto.
— Kojirou não era mais importante.
— Imagino que os idiotas da divisão do Baji também não fossem — começou, como quem não quer nada — eles não eram úteis, mesmo, mas também não eram importantes a ponto de morrerem pessoalmente por suas mãos.
Manjiro olhou Sanzu com os olhos cerrados enquanto ele falava, com um sorriso no rosto:
— E também teve a visita que você fez para aquele engomadinho da segurança de aviação e, de novo, você foi lá para dar um trato nele, aí veio essa súbita vontade de matar Saiko — continuou — Sabe o que todas essas pessoas têm em comum?
— Você não estava em Tokyo, como sabe disso?
— Tenho meus altos e baixos com Draken, mas em relação ao trabalho, tenho certeza que ele acha minha opinião válida — a cicatriz na boca se moveu quando sorriu, aquele maldito fofoqueiro — aposto que não foi só eu que percebeu um padrão nisso aí, Mikey.
— Que você guarde sua opinião para você mesmo, e não me encha com isso.
Falou, mas quando sua mandíbula trincou ao morder a bala, puxando outra do bolso, teve certeza que Haruchiyo confirmou todos os seus palpites.
Na recepção do hotel, seu celular tocou, e ele demorou para criar coragem e atender, pedindo para não ser Draken o apressando até o local de encontro, mas assim que leu o nome de Kokonoi na tela, voltou a expressão de tédio.
— Espero não estar atrapalhando nada, chefe — falou com um ar de riso.
— Não, fala — Sanzu deu ordens atrás de si sobre isolarem o sétimo andar, o carro já estava parado na rua, o esperando.
— Eu e Inui estamos no leilão, como combinado, mas acabei de ver uma coisa muito interessante.
— O quê? — não estava muito interessado, mas perguntou mesmo assim, Hajime não ligaria por nada.
— A linda Miyazaki com alguém que até mesmo eu estou evitando — Cerrou os olhos com o apelido, eles se conheciam?
— Quem?
— Um dos irmãos Fukushima, o que ninguém gosta, e a conversa parece ser bem boa — Manjiro chamou Haruchiyo com uma mão enluvada suja pelo sangue da katana, descendo rápido as pequenas escadas.
— Diga o que está acontecendo.
☾︎
Meia hora antes:
Tudo na enorme mansão estava harmonioso, desde a fonte no jardim da frente como a música clássica no salão principal, todo adornado de mesas redondas e garrafas de espumante. Sua atenção vagava pelo lugar com calma, ela não se deixava impressionar pela decoração ou por todos os detalhes bem pensados.
Observou um quadro perto da mesa de ponches, ele com certeza não iria ser leiloado e provavelmente só estava ali para preencher o vazio da parede enorme.
Um garçom se aproximou, oferecendo uma taça de vinho, a qual ela pegou, agradecendo por não ser champanhe.
A cada gole eletrizante, [Nome] ia cada vez mais longe de sua mesa e seu lugar no tão aguardado show da noite que custara algumas notas dela.
Viu Junichi Sato do outro lado do salão, todo feito de sorrisos e um cabelo penteado para trás com boas camadas de gel, sua roupa brilhava em laranja e verde quase néon, e fazia ser impossível não o notar. Ele estava dando atenção aos homens velhos com charutos nos lábios sentados próximo ao palco.
Alguns casais de braços dados observavam as peças em exposição, [Nome] se pegou imaginando o motivo de Hidetaka ter entrado para o crime.
Poderia ser simplesmente um negócio de família, o que fazia Junichi não ser um simples homem que gostava de arte.
Se ele fosse um criminoso, aí ela não precisaria ser tão civilizada.
Continuou a andar entre as conversas e as risadas baixas — provavelmente falsas — com os olhos amigáveis, tentando parecer estar se divertindo. Estaria mentindo se dissesse que estava passando despercebida, com certeza não estava, mas não era conhecida o suficiente para merecer um segundo da atenção de Junichi.
Ruim para ela, que teria de esperar para ter um momento a sós com ele e, ao que parecia, muito bom para os milionários sentados.
Eles a encaravam como se a comparasse com o restante dos objetos que seriam leiloados, inspecionando o vestido que passava e muito da casa do milhão.
[Nome] não retribuía o olhar, estava focada em observar as obras no salão e em acompanhar Junichi pelo canto de olho. Se ela comprasse algo de alto valor, poderia falar com ele? Talvez até mesmo conseguisse entrar em seu escritório, o qual sabia que ficava localizado naquela mansão.
O pequeno suspiro que saiu de seus lábios pintados foi quase um apelo a Deus para ter êxito e voltar para sua cama com alguma pista, mas pareceu ter tido o efeito reverso quando viu que alguém andava em direção a ela com uma taça na mão e um sorriso no rosto.
— Olhe só quem eu encontrei! Como eu estou feliz com a oportunidade de conversar com você, [Nome] Miyazaki! — disse com a voz divertida, [Nome] cruzou os braços, girando levemente o vinho em mãos — não sabia que tinha voltado a Tokyo.
— Não teria como saber, não te conheço.
Pela visão periférica, conseguia ver que as pessoas ao redor tentavam disfarçar os olhares para os dois.
— Jin Fukushima, a seu dispor — virou a palma da mão para cima, como se esperasse que [Nome] depositasse a dela ali para receber um beijo.
Contudo, ela bebeu um gole sutil de vinho, observando o sorriso divertido que Jin mantinha, mesmo com a rejeição de seu gesto de gentileza.
Um homem de terno marrom se posicionou atrás de Jin, mas [Nome] encarou o homem de cabelos pretos em sua frente com cautela. Tinha um resquício de pó branco em seu nariz meio rosado, o qual combinava com a parte que deveria ser branca de seus olhos castanhos.
Aquela deveria ser uma noite de novas descobertas, não de reviver coisas do passado, contudo, foi impossível não lembrar dos trigêmeos Fukushima, do colegial, quando tinha literalmente um em sua frente.
Assim que começou a estudar, teve um único aviso de Mizuki, e não tinha sido um "preste atenção nas aulas de matemática" ou "tire uma nota baixa, e você vai ver", mas lembrava de estar sentada no sofá com ela em pé no meio da sala, dizendo para [Nome] prestar atenção em quem conversava, porque aquela era uma escola de elite, exclusiva para os filhos das pessoas que faziam o Japão girar.
No primeiro dia, ficou sabendo sobre todos os alunos que eram aclamados, e soube que deveria ficar longe dos trigêmeos Fukushima se quisesse ser uma boa filha e orgulhar Mizuki.
Seguindo seu plano, [Nome] tentava não atrair problemas, mas claro, aquilo mudou quando Hayato ficou com idade de frequentar o colégio e Shigeru, primo de primeiro grau dos Fukushima, resolveu se juntar aos outros e bater nele.
Aquele foi o mais perto que chegou de um Fukushima, e era no mínimo estranho ver Jin agindo como se fossem amigos que não se viam a muito tempo.
— Essa é a [Nome]? — ela piscou delicadamente, encarando o homem de terno marrom.
— Já se conhecem? — Jin indagou, ela não respondeu, sua inexistente vontade de falar com eles estampada no rosto.
— Sim, a gente dançou junto aquela vez — sorriu torto.
Foi uma descrição inútil, mas ela também não estava se esforçando.
— Vamos, não faz muito tempo — ele passou uma mão na lateral do cabelo, e ela não gostou de ter se recordado.
A jaqueta de couro que o fazia parecer um adolescente bêbado sendo substituído por um terno com certeza era uma mudança brusca.
Também foi no dia em que falara seu nome a Manjiro. Bebeu de novo, não gostando de pensar novamente nele.
— É amiga de Jin? Eu teria sido mais insistente se soubesse — piscou um olho, ela franziu as sobrancelhas bem feitas.
— Todo mundo se encontrando, não é?! É algo para se comemorar — chamou um garçom com a mão, deixando a taça vazia na bandeja, pegando outra com um sorriso que exibia dentes — Meu primo ficaria mais feliz que eu em vê-la!
— Hum, qual deles? — o homem do bar perguntou.
— Shigeru.
— Você é mais interessante do que eu pensava! Não é nada fácil fazer amizade com os Fukushima.
— Se com amizade você quer dizer mandar ele para o hospital, então sim, são bons amigos.
— Hospital? E ainda está viva? — falou, balançando a cabeça em negação — Realmente, você é um achado.
— Sim, um achado único, uma pena que eu descobri isso tarde demais.
— Se já acabaram, vou gastar meu tempo com outra coisa — conseguiu dar um passo antes que Jin entrasse em seu caminho, o rosto relativamente bonito se alargou em um sorriso.
— Ora, não faça isso comigo, quero conhecê-la melhor — passou um dedo em uma mecha de seu cabelo, ela o afastou em um movimento calmo do corpo.
— Não sabia que minha presença causava tanta comoção — riu com deboche.
— E como faz! Eu gostaria de conversar em um lugar mais reservado, o que acha, Miyazaki? — tentou tocar seu ombro desnudo, mas [Nome] fechou a mão em volta de seu pulso.
— Acho que você pensa que é muito importante.
— A língua tão afiada… eu gosto de personalidades fortes, sempre soube que deveria ter me aproximado antes — ela apertou mais os dedos, o sorriso dele vacilou.
— Não faça isso, não vou ser tão generosa quanto fui com seu primo — Jin riu alto.
— Já sei o que é capaz de fazer pela sua família, mas e quando é sobre você, hum? Quero saber — ele tentou puxar o pulso, e foi recebido por outro aperto bem no osso sensível — pensa que me importo com o que fez com Shigeru? Ele apenas teve o que mereceu… Apesar de que eu a achava bonita demais para causar tanto estrago.
Cerrou os olhos, pensando que já tinha problemas demais acumulados para ter um Fukushima em seu encalço. Mas quis, muito, arrancar os olhos dele assim que rolaram para seu decote.
— Jin, é melhor irmos — o outro homem chamou, visivelmente nervoso.
— Garanto que vai gostar da nossa conversa, posso te dizer coisas interessantes — disse, ignorando totalmente o acompanhante.
Ela o soltou, batendo levemente a mão que usou para segurá-lo na saia vestido, a limpando com um sorriso de escárnio.
— Desculpe, mas você não pode me dizer nada que eu já não saiba.
Deu as costas para os dois, observando as pessoas sussurrarem enquanto a olhava, tentando disfarçar a falta de educação com a taça na frente dos lábios.
— Vamos nos encontrar de novo, [Nome], pode ter certeza.
Não se deu o trabalho de olhar para trás, mas reprimiu um suspiro de irritação ao olhar em volta e não ver Junichi em lugar algum.
Era uma tarefa simples: encurralá-lo e conversar de forma amigável até descobrir se ele sabia sobre o paradeiro do irmão.
Não encontrar pessoas e entrar em uma conversa sobre sua terrível época escolar.
[Nome] entrou em outro salão do primeiro andar, esse sem tantas pessoas, analisando as esculturas e as obras de arte penduradas ao longo das paredes pintadas de laranja.
A cada novo minuto passado os fotógrafos se posicionavam ao redor do palco e a imprensa se amontoava na frente do edifício.
Mordeu o lábio ao se aproximar de um expositor com réplicas de papiros antigos, decidindo participar do leilão e chamar a atenção de Junichi.
De repente as conversas que antes eram baixas foram se extinguindo aos poucos, até que não sobrasse mais sussurros. Olhou por cima do ombro, querendo saber o motivo da aflição deles, então começou a bater uma unha no vidro atrás de si, seus olhos descendo sem nenhum comando por Manjiro.
Ele estava todo em cores escuras, desde os sapatos lustrados até a gravata preta arrumada e enfiada dentro do colete cinza escuro com dois únicos botões, e juntamente com uma pistola mal escondida na cintura, eram os únicos pontos brilhantes em toda sua roupa.
O blazer jogado sobre seus ombros dava a ele um ar elegante, apesar de que as mãos nos bolsos e o olhar desinteressado denunciavam seu tédio diante da exposição.
O Sano mantinha a cabeça erguida, afastando uns fios soltos do rosto, a ação mostrando um relógio no pulso.
[Nome] já o tinha visto tão arrumado? Não, provavelmente não, mas ela poderia dizer, com todas as letras, que ficou impressionada com o ar social e que ele estava exalando, sem sorrisos, sem nenhum sentimento no rosto além de fria indiferença.
Balançou a cabeça, se negando a admitir, mesmo que em silêncio, o quanto Manjiro era lindo. Ela evitava pensar no assunto, se recusando a aceitar o fato, mas não era cega, apesar de hipócrita.
Era perigoso alguém como ele ter posse de tanta beleza e ali, andando entre os ricos e os fazendo se sentir como nada, a sensação que [Nome] tinha era a de observar algo inalcançável.
Parou de batucar a unha quando o Sano estreitou os olhos em sua direção, um sorriso cínico se abriu em seu rosto enquanto andava até ela.
— Se veio ver as as peças egípcias, vou dizer que deixam a desejar — disse, notando os lábios avermelhados, o inferior enfeitado por dois piercings.
— Participa de muitos leilões beneficentes? — mesmo com a distância, o cheiro do perfume a atingiu quase imediatamente, fazendo ela inalar o aroma forte e sensual.
— Sou muito caridosa — os olhos negros desceram dos seus, passando pelo colar acima dos seios, do vestido moldando seu corpo até seus saltos, subindo sem nenhum pressa pela fenda em sua perna nua — não esperava que viesse, achei que estivesse ocupado fazendo… o que quer que faça como chefe da Toman.
— Quem você acha que ajudou a financiar esse evento? Se eu soubesse que estaria aqui, teria me arrumado mais.
[Nome] deu um sorrisinho, bebendo um gole do vinho para espantar o cheiro tentador que ele estava exalando. Os sussurros tinham se transformado em conversas em algum momento, mas não conseguia pensar direito com toda a atenção que Manjiro depositava nela.
Talvez inflasse o ego dele se soubesse o quanto [Nome] tinha pensado nele nos últimos dias, excedendo — e muito — o limite que gostava de estabelecer quando o assunto era manter alguém na própria mente.
Ela revirou todas as coisas que Manjiro pudesse querer e pensou em todos os seus encontros, todas as vezes em que ele sorriu quando não deveria, quando fora impassível e em todas as oportunidades que ele teve de tentar machucá-la, e não o fez.
Então achou que a resposta mais provável era a de que o Sano tinha falado a verdade e tudo girava ao redor de sua diversão.
Por isso [Nome] decidiu que iria achar uma forma de atraí-lo depois do leilão, porque se ele estava tecendo um jogo, ela se certificaria de mostrar que estava jogando também.
No entanto, ali estava Manjiro, e não precisou fazer o menor esforço por isso.
Talvez fosse mesmo abençoada com sorte.
— Mas eu estou curioso, [Nome], por que está aqui?
— Já disse, sou uma pessoa caridosa.
— Junichi ser irmão de Hidetaka não é o motivo? — sorriu confiante — por que está procurando ele?
— Você está supondo coisas demais — cantarolou, bebendo outro gole do vinho.
— Não tem outro motivo para você estar aqui — tirou uma mão no bolso da calça social — Arata está morto e, como viu, estou de olho em Riki, mas Hidetaka… procurou por ele e não o encontrou, certo? Está aqui atrás dele.
— Por que quer saber?
— Porque posso te contar algumas coisas se for o caso — disse com um ar de riso, movendo o corpo e, consequentemente, a cortina de cabelos que escondia a tatuagem.
[Nome] esqueceu o que já falar quando viu seu pescoço exposto.
— No que está pensando?
— Na sua tatuagem. O que é? — perguntou, e o piercing refletiu a luz quando Manjiro sorriu, inclinando a cabeça para o lado, a olhando como se dissesse "Quer saber? Venha olhar".
Ela não hesitou, e não precisou dar mais que um passo para conseguir tocá-lo, segurando os fios loiros e os afastando da pele pálida pintada pelos riscos negros que já tinha visto antes. As mechas sedosas deslizavam por entre seus dedos, ela teve que segurar com mais firmeza para conseguir analisar a figura direito.
Alívio indesejado correu por seus braços ao ter certeza que não era um pássaro, mas seus pulmões foram preenchidos pela fragrância do perfume dele ao inspirar fundo demais.
Manjiro começou a afrouxar a gravata escura, os dedos indo até os três primeiros botões da camisa social para abri-los devagar.
[Nome] fixou os olhos no movimento, sem saber o motivo dele ter aberto a camisa, mas supriu suas dúvidas quando ele afastou mais o pano, revelando os traços que se estendiam até o começo de seu ombro.
— Acho que você gosta de puxar meus cabelos.
Ignorou a forma como sua voz estava baixa demais, mesmo que tivesse, sim, enchido a mão mais que o necessário. A atenção dele estava se alternando de um olho dela a outro, como se não conseguisse escolher apenas um para olhar.
— Draken tem uma igual… É uma forma de dizerem que são os líderes? — Manjiro lhe deu um sorriso mordaz.
— Não preciso de símbolos para mostrar que estou no comando — as unhas negras de [Nome] desceram pela pele, traçando as linhas da tatuagem — se queria ver isso, era só ter pedido mais cedo.
Pedir. Era somente aquilo que tinha que fazer? Se ela pedisse, o Sano obedeceria e iria embora, a deixando falar sozinha com Hiroshi? Se pedisse, a deixaria interrogar Riki? Teria lhe mostrado a tatuagem se soubesse que ela queria?
Marcel tinha um estranho costume de exibir felicidade quando [Nome] estava sofrendo, chegando a rir se a situação fosse mais desconfortável que o normal.
Entretanto, ali estava Manjiro, sorrindo para ela com uma expressão tão linda que chegava a ser difícil continuar acreditando que era falso.
A situação gerou um riso riso incrédulo e baixo, e sentiu a pulsação de Manjiro aumentar na ponta de seus dedos, o vendo passar levemente a língua sobre um dos piercings, talvez inconscientemente, mas foi uma visão que [Nome] não achou que gostaria de ver.
— Hidetaka tem algo que eu quero — falou com a voz suave.
— O quê?
— Isso é um pouco pessoal…
— Vai matar ele? — ela inclinou levemente a cabeça, os diamantes brilharam em suas orelhas, mas Manjiro desceu o olhar até a jóia maior, entre seus seios, desviando com uma rapidez que a fez duvidar se realmente aconteceu.
— Não vou.
— Você parecia querer atirar nele da última vez que o viu.
— Hum, talvez eu ainda queira, e isso não muda o interesse que sinto por alguém — disse tranquila, mas ele piscou rápido, de uma maneira afetada.
— Hidetaka sumiu — revelou, não era uma informação nova, mas fingiu prestar atenção mesmo assim.
— E está me dizendo por quê?
— Porque você pesquisou e descobriu que ele tinha um irmão, então veio até aqui ver se o encontrava — sua feição ia se suavizando a cada nova palavra, até seu rosto ficar sereno — O que ele pode te oferecer que valha todo esse trabalho?
— Manjiro Sano! — alguém chamou, a voz era mais estridente e fina que a de Jin.
[Nome] tirou a mão ainda pousada no pescoço do Sano, olhando por cima de seu ombro e sendo recebida por tons vibrantes de laranja abóbora e desenhos verdes. Manjiro revirou os olhos, virando de lado para ver o dono da festa com uma expressão tediosa.
A forma como seu humor mudou de uma hora para outra era tão perceptível quanto o enorme sorriso de Junichi.
— Me perdoe por deixá-lo esperando tanto tempo! Mas só fui informado de sua presença agora, vim o mais rápido que pude — Manjiro o avaliou em silêncio, a expressão do Sato vacilou por longos segundos.
— Pare de fazer esse alvoroço ridículo.
— A-ah, certo… Querida, nos de licença, precisamos conversar sem interferência — ele abanou com a mão, era uma forma bonita de a mandar embora sem dizer que sua presença era dispensável — eu estou muito curioso a respeito de sua visita, senhor Sano, porque fui informado de que não viria.
Ela sabia que seria fácil lidar com um homem como Junichi, entretanto, somente naquele momento soube que gostaria de lidar com ele.
Manjiro sorriu de forma amigável, passando um braço ao redor da cintura de [Nome] antes dela conseguir entender a situação, mas sentiu o queixo dele sendo apoiado levemente em seu ombro.
— Já achei o que eu queria — a parte de seu corpo que a tocava se impulsionou para frente antes de dar uma explicação — vamos, ma chérie.
Tamanho foi o espanto dela ao escutar as últimas palavras, mas não se deixou mostrar, e quando passou ao lado de Junichi, estendeu a taça pela metade a ele com um sorriso viperino.
— Boa sorte com as arrecadações, quem sabe a qualidade do vinho não melhora na próxima — o Sano riu baixo, e aquela lufada de ar foi diretamente até seu pescoço.
Sato não fez nada além de segurar a taça com uma expressão embasbacada enquanto era deixado para trás.
[Nome] sentia a mão de Manjiro subir por sua cintura com cuidado, como se fosse todo feito de fitas e estivesse com medo de desfazer o laço.
Ela não sabia interpretar seu ar de riso enquanto entravam no salão principal e, se antes [Nome] recebia olhares de avaliação, agora eles haviam sido substituídos por aparente surpresa.
Queria dizer alguma coisa, somente para ser a última a falar, mas estava mais atenta a qualquer flash dos jornalistas espalhados.
— Não me diga que está irritada com a atenção? Porque não deveria, você já sabe que chama atenção suficiente sem precisar fazer nada.
O olhou de lado, tendo o prazer de vê-lo começar a sorrir. Droga, Manjiro realmente era lindo.
A tensão no salão pareceu cair e grudar nas paredes quando eles saíram, sendo recebidos pelo ar gelado da noite.
— Chérie — se afastou devagar de seus braços, o peso em sua cintura sumindo e quase fazendo falta — que original.
— Já foi chamada assim muitas vezes?
— Eu morava em Paris, acha que ninguém nunca me falou isso?
— Bom, acho que vou precisar me esforçar mais, então — ela conseguia imaginar aquelas palavras vindas acompanhadas de um sorriso, mas seu tom fora sério.
— Melhor não me dar apelidos — em um piscar de olhos Manjiro ficou perigosamente perto, [Nome] notou que a blusa social ainda estava aberta e a gravata bagunçada.
— Não me importo se quiser me dar um.
Riu com o rumo que a conversa estava tendo, a noite realmente estava sendo uma surpresa.
— Você já tem um, "Mikey o Invencível"... você que se intitulou?
A pergunta fez um tom avermelhado cobrir o alto das maçãs do rosto dele.
— Não, mas não é mentira — deu de ombros — esse é um título formal, não foi nisso que pensei quando sugeri que me desse um apelido.
— Eu sei, mas não acho que vai gostar, sou muito criativa — a sombra de um olhar lascivo refletiu as íris negras.
— Acho que vou sim, gostei do último.
— Último?
— Loirinho, reforça que você gosta mesmo do meu cabelo — o sorriso cresceu mais — ou pode voltar a me chamar de gatinho.
Ela cruzou os braços, em um estado entre confusão diante sua fala ou pura indignação.
[Nome] sabia que, mesmo que Manjiro tivesse aquela estranha fixação sem sentido nela, não significava que aquilo acontecia exclusivamente com ela, contudo, também não amaciou seu ego ver que estava sendo confundida com alguma mulher que ele havia saído.
— Aproveite a festa — disse, fazendo um movimento simples com a cabeça na direção das portas principais.
— Não vai ficar para o leilão?
— Meu único interesse não está aqui, então não — ele estalou sutilmente a língua no céu da boca.
— Veio só?
— Sim.
— Bem, mas não vai voltar sozinha — fez um gesto com a mão, [Nome] viu um dos seguranças que guardavam o local sumirem através da noite.
— Não precisa me ceder seu motorista.
— Eu vou dirigir — sorriu sem mostrar dentes.
— Junichi vai ficar terrivelmente chateado se você não ficar — falou, deixando claro a ironia.
— Bem, meu interesse também não vai estar aqui, não tenho porque ficar — o olhar do Sano estava intenso, e pela segunda vez, ele passou sutilmente o braço em sua cintura, como um convite silencioso para aceitar a carona.
— Por que se incomoda em ser gentil?
— Porque quero tirar minhas dúvidas sobre você — a voz dele saiu mansa, como se soubesse que os cabelos de sua nuca se arrepiavam quando sussurravam.
— O que acha que sabe sobre mim para ter dúvidas? — os dedos em sua cintura se apertaram levemente.
— Não tanto quanto eu queria — Manjiro analisou seu rosto descaradamente, levantando a mão livre para tocar uma mecha de seu cabelo, passando a ponta dos dedos no enfeite de cobra — O que essa faz? Dispara facas?
Seu tom irônico tinha voltado acompanhado de um sorriso ladino, mas ao invés de rebater, [Nome] afastou os dedos dele das escamas brilhantes, tirando o enfeite e o entregando.
Entendendo a insinuação, ele brincou com o objeto, até achar a trava de segurança e a calda se deslocar, a corrente começou a cair entre os dois como se fosse líquida.
— Nossa, você é mesmo muito criativa — franziu as sobrancelhas para ver melhor as finas pontas — Para quê serve?
— Para enforcar — falou com uma feição meiga, encarando o pescoço exposto dele.
— Precisa chegar perto para usar, não é muito útil.
— Não é um problema, eu sempre chego perto — disse baixo, rindo de como ele não falou nada de volta, mesmo que não tivesse se movido um centímetro — vamos, ou quer saber se tenho outras coisas interessantes para mostrar?
— Tem? — perguntou, o rosto se inclinando enquanto desviava o olhar vagaroso até sua boca.
As reações de Manjiro estavam sendo inesperadas, mas ótimas de se olhar. [Nome] tocou a base do corset, subindo até o decote devagar, o vendo acompanhar o movimento.
— Eu tinha um vestido parecido com esse, e quando eu puxava a borda do pano — fez o que disse, passando as pontas afiadas das unhas pelo busto — apareciam agulhas de quinze centímetros do forro.
Ele pareceu ter prendido a respiração enquanto encarava o corset, subindo até a faixa de pano carmesim sumir e dar lugar a pele retida e apertada de seus seios.
— Esse faz isso?
— Talvez, mas se quer mesmo saber mais sobre mim, Sano, vai ter que descobrir sozinho.
— Não teria graça se você contasse tudo — a mão que descansava em torno de sua cintura desceu para suas costas, fazendo uma leve pressão.
— Não mesmo.
Abriu um sorriso prazeroso no rosto enquanto colocava a corrente dentro do interior oco da cobra e a arrumava no penteado novamente, sabendo que Manjiro estava com a respiração afetada por causa dela.
Mas ele não disse nada enquanto pegava a chave do automóvel com o manobrista e abria a porta para ela.
[Nome] sentou no banco de couro da BMW m5 cs preta, arrumando o longo vestido ao seu redor e descansando a bolsa sobre seu colo, então levou o olhar até Manjiro, que ainda estava parado com a mão na porta, ele virou o rosto para longe antes de fechá-la.
Ela sentiu o cheiro dos produtos que emanava dos bancos ser rapidamente substituído pelo aroma do perfume do Sano quando ele entrou, jogando o blazer sobre as pernas enquanto exibia os músculos dos braços ao ligar o carro, apertando o volante a cada novo metro rodado para longe dos portões dourados da mansão.
A forma como seu corpo parecia inquieto fez o sangue dela correr mais rápido, porque tinha gostado da forma como o fez perder o foco enquanto encarava sua boca.
Era um caminho perigoso, mas quando se tratava dela, quais não eram?
— Qual o seu relacionamento com Fukushima? — perguntou depois de fazer uma curva rápida, ela piscou surpresa, vendo uma das luvas pretas que estavam sobre o painel cair.
— Fukushima?
— Sim, são amigos?
Aquela noite foi a primeira vez em anos que via Jin, e se o Sano estava perguntando sobre uma possível relação entre os dois, significava que ele estava a observando na festa.
— Ele não é alguém agradável para se manter por perto — Manjiro a olhou de lado, aquilo não respondia a pergunta dele, mas deixava subentendido que eles se conheciam, sim — estudei na mesma escola que ele.
— Hum.
[Nome] se inclinou para pegar a luva com textura de couro, mas a mão direita de Manjiro se fechou em seu pulso.
— Não toque, está suja — avisou.
Ela não quis ser ríspida quando se afastou do toque dele e deixou o objeto cair seus pés, mas aquela situação era diferente da que se desenrolou na casa de Takemichi, ali, não tinham armas ou uma trama mais importante para manter o foco.
Se Manjiro tocasse o local com calma, sentiria as cicatrizes.
— Por que quer saber sobre Jin? — decidiu mudar de assunto, cruzando as pernas, a fenda deslizou por sua coxa como uma carícia suave.
Manjiro tirou os olhos da rua, observando a ação com atenção demais para alguém que estava dirigindo. Franzindo as sobrancelhas loiras, ele voltou a olhar para frente.
— O que é isso?
Ela olhou a tatuagem de escorpião que aparecia pela metade, ponderando se mostrava ou não, mas tinha visto a dele, poderia retribuir. [Nome] desceu a mão até a faixa de pano, subindo o suficiente para mostrar o escorpião pintado ali, as letras tatuadas não eram legíveis por estarem sob o vestido.
— Não me disse que também tinha uma — Manjiro apertou o volante de novo.
— Você não perguntou — deu de ombros.
— O que está escrito?
Não conseguiu controlar o sorriso crescendo no rosto, o Sano puxou o piercing levemente, parecendo ansioso por uma resposta.
— Por que não se aproxima e tenta ler?
A provocação lhe rendeu um olhar de soslaio tão rápido que sentiu certa satisfação, e, como era de costume, esperou um flerte depois de ver o olhar que ele carregava.
Mas uma chuva de balas caiu sobre o carro, batendo e raspando na traseira e portas, fazendo um barulho alto.
Manjiro pisou fundo no acelerador.
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