➣ 𝐂𝐀𝐏𝐈́𝐓𝐔𝐋𝐎 ━ 𝐎𝟐
Draken observava seu reflexo pelo espelho enquanto escovava os dentes após acordar para mais um dia de trabalho, entretanto, diferente do habitual, não havia Mikey ao seu lado para lhe abraçar por trás e desejar um "bom dia!" com a voz embargada de puro sono e preguiça, com seus fios bagunçados de uma maneira engraçada e que Ken foi acostumado desde quando se conheceram, ainda criança.
Muitas coisas mudaram após Mikey pedir um tempo no relacionamento que vinha definhando com os problemas diários, principalmente por terem 3 filhos para criar. Draken não lembra quando foi que perdeu a mão e deixou que a distância fosse palpável em seu lar, mesmo quando deitavam para dormir, pareciam afastados, e o Ryūguji frequentemente dizia estar cansado nas vezes em que o mais novo queria fazer sexo.
Ele realmente estava.
Draken entende que tem sua parcela de culpa e tenta reatar o casamento com Mikey, afinal, constituiu uma família ao seu lado e quer tê-los de volta. Apesar da situação, é presente na vida dos pequenos, quando o ex não impede suas visitas com frequência. Draken consegue entender a visão de Mikey nesta circunstância, todavia, não deixá-lo ver os filhos, dói. Ama aqueles pequenos com todo o seu coração, e a Mikey também.
Tudo que tem, foi construído ao lado dele.
Independentemente dos acontecimentos, tenta seguir da melhor forma que consegue. Sua loja de motos tem seguido bem, embora haja contratempos vez ou outra, gosta do que faz e se distrai desse modo quando sua mente quer lhe pregar uma peça, onde o protagonista é Mikey e exibe o tempo em que eram um casal feliz em pleno início de casamento e não havia desavenças. É certo que a culpa bate com força...
Draken deixou os pensamentos de lado e seguiu pelo pequeno apartamento de sala, quarto, banheiro e cozinha, onde se encontrava, disposto a preparar o café da manhã quando ouviu o toque do celular, indicando a chegada de uma mensagem. Pegou o aparelho sobre o balcão e um sorriso bobo se fez presente em seus lábios ao visualizar o papel de parede. Era Mikey junto dos pequenos em uma sessão de fotos feita no ano passado. Belíssimos.
Logo seus olhos seguiram para a barra de notificação e clicou. Inui havia mandado um áudio, imaginando ser algo relacionado a M.D.K Motos.
Afinal, quem mandaria mensagem às 08:30 da manhã?
— O Haitani? Depois da minha briga com ele, nunca imaginei que compraria nada com a gente — respondeu em seguida, rolando a tela e observando as outras mensagens não respondidas, essas sendo de Baji, que parecia não ter o que fazer, simplesmente mandando vídeos de gatos do TikTok. Todos os dias.
— Esse cara... — estalou a língua no céu da boca e riu.
Draken não tardou em terminar o café e pegar suas coisas. Saiu do apartamento e o trancou, logo seguindo até o elevador que daria para o estacionamento. Ao chegar ao seu destino, avistou a bela moto que comprou no ano anterior e que havia lhe rendido muitas reclamações de Mikey por conta do valor exuberante (apesar de saber que não iria interferir em sua renda). Entretanto, para Draken, não era questão de valor, e sim beleza e gosto, afinal, era uma belíssima Kawasaki Ninja ZX-10R de cor preta e detalhes verdes.
Nunca iria se arrepender dessa compra.
Draken subiu na motocicleta e pilotou para fora do lugar, seguindo pelas ruas pouco movimentadas naquele horário, especialmente por ser sábado, então não teria o vislumbrar das crianças uniformizadas caminhando pelas calçadas, em direção às suas respectivas escolas. Isso lhe fez lembrar os gêmeos que não eram muito fãs de estudar, principalmente Mikeyru que preferia comer – especificamente, Dorayaki – escondido durante as aulas, e que em certas ocasiões era pego no flagra pela professora.
O garoto mais novo não dispensava nada, enquanto Kenzuri sempre preferiu comer frutas, entre outras comidas saudáveis, igualmente o pai.
Só o pensar nos pequenos fez o coração de Ken esquentar. Claro, não poderia esquecer da bebê Manako: a menina de bochechas grandes e avermelhadas, era um dos seus tesouros. Lembra com clareza o dia de seu nascimento e do quanto ficou emocionado ao vê-la em seus braços. Ken queria muito ter uma filha menina para completar a família que iniciou ao lado de Mikey, e ao cair a fixa de que aquele pequeno neném era seu, as lágrimas se fizeram presente em seus olhos.
Adorável e delicada como uma boneca. Porém, pode ser bruta quando está com raiva. Esse lado foi puxado de Mikey, apesar dele dizer que não.
O caminho até a loja foi curto. Draken alugou um apartamento perto do estabelecimento justamente para não chegar atrasado. A entrada, de cor acinzentada, fazia com que o nome ficasse em destaque com o tom de vermelho carmesim, e a logo do dragão acima. As inicias ali penduradas, era apenas uma das confirmações de que sua família era importante. Os vidros faziam com que pudessem visualizar o ambiente por dentro que seguia a mesma tonalidade das cores da fachada.
O belo e limpíssimo piso amadeirado e as paredes, perdiam o foco para as motos espalhadas pelo local grande e que se mantinha fresco pelo ar-condicionado. Draken, ao adentrar, pode sentir a brisa frienta bater em seu corpo, diferente do lado de fora. As luzes já ligadas naquele horário, faziam refletir o brilho daqueles tanques que o Ryūguji admirava com frequência. O cheiro de novo era muito agradável.
Parando de admirar as obras, foi chamado por Inui, que vinha da direção oposta à sua, conversando com um dos funcionários, que logo foi dispensado pelo loiro usando a camisa do time. Draken riu abobado por saber que o modelo foi pensado por Mikey e confeccionado pelo Mitsuya. Como poderia esquecer do dia em que teve que segurar o baixinho que queria voar no pescoço de Takashi por não achar suas ideias boas? Eram um pouco... Absurdas e horrendas, confessa.
Um evento caótico que durou 1 semana até chegar em um acordo.
Por fim, a blusa ficou na cor preta com as bordas vermelhas e a logo da mesma cor.
— Bom dia, Draken — o Inui desejou, segurando uma pasta em mãos — Ran virá daqui a pouco. Ele me disse alguns modelos que gostaria de dar uma olhada. Assim facilita o seu trabalho — abriu um sorriso presunçoso. Sabia da "briga" que ele tinha com o Haitani mais velho.
— Com certeza! Obrigado pelo excelente trabalho, senhor Kokonoi! — Draken revirou os olhos e cruzou os braços, fazendo o menor soltar uma risada — Como está se sentindo? — questiona de repente.
— Bem, apesar dos desejos... Estranhos que deixam Koko louco?! — levou uma das mãos ao ventre de 4 meses aparente — Lembro-me que Mikey teve um desses, não é?
— Oh, sim! — sorriu abobado — Na gestação de Manako, ele queria comer sorvete com arroz — riu junto do amigo, sentindo-se nostálgico — Além das vezes que ele me obrigava a comprar peixe frito e salgadinho. Mikey misturava tudo e comia como se sua vida dependesse disso — fez barulho de vômito com a boca. Seishu apenas deu mais risadas.
— Na gravidez de Ika, cheguei a desejar areia — recordou, vendo os olhos do Ryūguji arregalar — Koko enlou-
— Olá! — o Inui foi cortado pela voz que vinha atrás de si.
Draken torceu o nariz e o de olhos verdes balançou as sobrancelhas.
— Bom dia, Haitani — o homem virou-se e logo a expressão emburrada suavizou ao ver Smiley e os gêmeos de 7 anos ao lado dos pais — Nahoya!
— Draken, Seishu! — o homem sorridente cumprimentou a dupla e os pequenos logo fizeram o mesmo. A dupla era uma cópia perfeita do casal.
Após a pequena formalidade, Draken seguiu com a família em direção ao que Ran desejava comprar. Era apenas mais uma moto para a garagem, tendo em vista que o Haitani possuía 6 até o momento. Metade era de Smiley que preferiu ficar conversando com Seishu enquanto os filhos analisavam os itens, como se eles próprios fossem adquirir. No fundo, o de cabelo cacheado sabia que se deixasse, Ran já estaria ensinando os filhos a pilotar e fazer disputas com os primos, (também gêmeos), filhos de Rindō e Sōya.
Passando-se algumas horas de trabalho sentado em sua sala, revisando alguns papéis, Draken recebeu uma mensagem de Mikey dizendo que queria encontrá-lo para conversar. Ken imaginava do que se tratava, além de que, poderia vê-lo novamente e tentar uma reconciliação, como vem fazendo, entretanto, Mikey parece irredutível e não abre caminhos para poder passar.
Como marcado, apareceu na cafeteria poucos minutos após respondê-lo, apesar de saber que ele não esperaria por uma resposta. Draken estacionou a moto de frente para onde o mais novo se encontrava sentado, especificamente, ao lado de fora do estabelecimento. Não sentiu necessidade de descer, por tanto, debruçou sobre o tanque e mirou os olhos no homem que deixou o celular de lado e o encarou seriamente.
— Oi, Draken.
Ken odiava como era chamado por Mikey quando mais jovem, todavia, aquele tom firme na maneira como pronunciou seu nome, o fez engolir a seco e dar um breve suspiro. Era preferível ouvi-lo chamá-lo de Kenzinho... Agora poderia parecer tão carinhoso. Seus olhos escuros pareciam tão frios e irritados.
— Olá, a- Mikey — se corrigiu, desviando o olhar brevemente. A palavra "amor" já não deveria ser dita e ele sabia disso.
— Te chamei aqui para podermos falar sobre suas visitas, como você deve imaginar — começou após dar um gole na xícara de café, sentindo as olhadas do mais velho para si — Bem, para você ver nossa filha, terá que visitá-la e com os meninos, pode levá-los para sair e passar um tempo em sua casa. Assim eles param de me perturbar sobre você.
— Certo... — Draken consegue imaginar que os pequenos possam estar perguntando sobre ele muitas vezes. Sempre foi um pai muito presente e tem uma boa convivência com a dupla — Posso pegá-los aos finais de semana. Nas sextas-feiras depois do trabalho, passo na sua casa para ficar um pouco com Manako.
Concordar com as decisões de Mikey, não significa que Ken iria aceitar tudo isso.
— Por mim não tem problema. Agora vamos ao outro assunto — limpou a garganta, cruzando os braços sobre a mesa, trocando olhares com o mais velho — Peço que você pare de me ligar constantemente, Draken. Não me obrigue a te bloquear, até porque, nem você e eu queremos isso. Temos três filhos juntos, e o que eu mais quero é um pouco de paz.
— Mikey... — Draken franziu o cenho e desceu da moto, sentando-se ao lado do citado, pegando em suas mãos, parecendo um pouco desesperado.
E ele estava.
Pelo horário do almoço, Inui encontrava-se na área onde os demais empregados faziam sua refeição. Foi quando recebeu a notificação em seu celular de Draken dizendo para que ele cuidasse de tudo por hoje, pois não tinha cabeça para voltar ao trabalho. O loiro sabia o motivo pelo qual seu chefe não voltaria. A conversa com Mikey deve ter seguido por um caminho complicado.
Minutos após terminar de almoçar, ao sair daquela área, pôde ouvir a voz alta de um conhecido que seguia pela sua direção.
— Cadê o chefe de vocês? Aquele vagabundo não trabalha?
Baji gesticulava junto de um funcionário da loja quando avistou o cunhado com uma escova de dentes em mãos, lhe dando um olhar de tédio, como se não gostasse de sua presença no local. Não que ele se importe com isso, pelo contrário. Era só mais um motivo para frequentar o estabelecimento. Keisuke sorriu abertamente e abriu os abraços, dizendo estar com saudade do loiro.
— Me poupe do teatro, Baji — estalou a língua no céu da boca quando recebeu aquele abraço, desnecessariamente apertado — Você vai matar sua sobrinha, bruto — sentiu o ar lhe faltar brevemente, empurrando o outro que gargalhou.
— Tão arrisco, isso me faz lembrar seu irmão — lambeu os lábios ao pensar no garoto com quem vinha se envolvendo. Isso fez o Inui querer vomitar.
— Diz o que você quer aqui. Ao contrário de você, tenho que trabalhar — apontou a escova de dentes na direção do outro que recuou, ainda sorrindo.
— Quero saber do seu chefe. Mandei mensagem para ele e não obtive resposta. Iríamos almoçar juntos hoje — pegou o aparelho do bolso, na esperança de vê-lo online e xingá-lo por deixá-lo esperando.
— Draken saiu há algumas horas. Ele foi conversar com Mikey e um tempo depois me disse que não voltaria hoje para à loja.
— Oh, entendo — Baji coçou a cabeça e fez careta — Imagino onde ele possa estar. Vou atrás dele.
— Me manda mensagem quando o encontrar, ok?
— Pode deixar, cunhadinho! Manda um abraço 'pra ranheta mais velha e se cuida — o de fios escuros fez um breve carinho no ventre do loiro que deu um tapa em sua mão e o mandou sair de uma vez — Tchauzinho!
— Não acredito que Chifuyu gosta desse boboca sem noção — balançou a cabeça em negação, massageando a barriga — Espero que você não puxe seu tio, bebê.
Baji subiu na sua moto e colocou o capacete, ouvindo os cochichos das mulheres que adentravam o local. Riu e mordeu o lábio inferior, estufando o peitoral marcado pela blusa preta colada em seu corpo. Colocou o capacete e pilotou para o lugar onde Draken aparecia quando tinha alguma discussão com Mikey. Hoje não poderia ser diferente, apesar deles não estarem juntos.
O homem de longos fios escuros desceu da motocicleta ao chegar ao seu destino e entrou no bar, ouvindo a música alta e melancólica tocando ao fundo, passando o olhar brevemente pelos demais à procura do Ryūguji, ignorando o cara que passou por si quase caindo no chão. Logo seus olhos miraram no loiro repousado no fundo do bar, servido com uma garrafa de uísque e logo dando um gole de uma só vez na bebida que o fez fazer uma careta que tirou um riso do Keisuke.
— O amor é complicado.
Baji bufou e seguiu até o amigo.
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