SEXTO
Meus pensamentos estavam à deriva, tentando encontrar um ponto de lógica entre as informações que começavam a se acumular. Por que Emmett estava com medo? Algo no jeito que ele agiu não se encaixava na imagem que eu sempre tive dele. Um cara despreocupado, irritante até, mas nunca alguém que demonstrasse medo de verdade. O que poderia tê-lo abalado daquela forma?
Peguei um livro aleatoriamente, algo sobre biologia humana, na esperança de que o processo de leitura me tirasse da espiral de pensamentos. Comecei a folhear, buscando qualquer explicação científica para a velocidade que eu testemunhara. "Não pode!" – repeti para mim mesma. O corpo humano não deveria ser capaz de se mover tão rápido, ou ao menos não era o que os estudos diziam. Mas o que vi com Edward contradizia tudo. Ele estava na picape antes que meus olhos pudessem acompanhar. Minha mente ainda tentava processar como algo assim poderia ser possível.
Fechei o livro com um estalo, a confusão rodopiando em minha mente como uma tempestade. "Isso não faz sentido." E então, o som estridente da campainha me tirou de meus pensamentos. Olhei em direção à porta.
Levantei-me, respirando fundo, enquanto a campainha tocava pela segunda vez. "Só pode ser o Charlie," pensei, mas logo neguei a ideia — ele tinha a chave de casa, não faria sentido. Hesitei por um momento antes de abrir a porta, sentindo uma pontada de medo inexplicável subir pela minha espinha. "Merda, só pode ser o Jacob," minha mente insistiu, já formulando uma desculpa para não ir a lugar nenhum com ele.
– Jake, olha... – comecei, puxando a porta com uma certa pressa, pronta para desviar da conversa, mas o que encontrei do outro lado me fez congelar no lugar.
Era Carlisle. Dr. Cullen, em pé ali, na minha varanda, com seus olhos cravados nos meus. E não eram os olhos calmos e serenos de sempre. Não, desta vez havia algo mais... Eles brilhavam com uma intensidade desesperada, quase como se estivessem caçando algo em mim. Seus traços sempre impecáveis estavam mais rígidos, tensos, como se ele estivesse lutando contra algo dentro de si. Seus ombros estavam levemente curvados para a frente, e sua postura perfeita agora parecia carregada de uma urgência que eu não conseguia compreender.
Ele parecia louco. Não sabia explicar o porquê, mas aquele Carlisle que sempre me transmitia uma sensação de segurança agora parecia à beira de um surto. Eu mal conseguia entender como o olhar dele me afetava tanto, mas meu coração acelerou.
— Dr. Cullen? — Minha voz saiu baixa, quase um sussurro.
Eu o observava enquanto ele respirava fundo, tentando dizer algo, mas sem conseguir organizar as palavras. O cabelo loiro perfeito, as linhas suaves do rosto, os olhos que normalmente me deixavam louca, agora me faziam sentir exposta, como se ele pudesse ver através de mim.
Ele não estava ali por causa de algum problema médico, isso era certo.
Ele não respondeu de imediato, apenas entrou e fechou a porta atrás de si, sem nunca desviar os olhos de mim. Eu poderia gritar, mandá-lo embora, mas por algum motivo, não consegui. Uma parte de mim queria que ele ficasse, mesmo com o medo que sua presença impunha.
– Senhorita Swan. – Ele sorriu, mas era um sorriso falso, forçado, o mais forçado que já vi na minha vida.
– Dr. Cullen, o que está fazendo na minha casa? Meu pai não está. Se está procurando por ele, deveria ir até a delegacia. – Cruzei os braços, tentando criar uma barreira entre nós, uma distância segura, física e emocional.
Eu me afastei o suficiente para escapar do perfume que ele exalava, mas ainda sentia seus olhos fixos em mim, como se não houvesse mais nada ao redor que importasse. Seu cheiro me desarmava, embriagava meus sentidos de uma forma que eu não sabia explicar. Ele vestia uma camisa preta apertada, algo que não era comum nele, pelo menos não nas poucas vezes que o vi. A gola alta delineava seus músculos de uma forma perturbadoramente atraente. Eu percebi que estava olhando para ele tempo demais.
– Preciso falar com você. Tem um momento? – Ele perguntou, e aquele sorriso falso se formou novamente.
– C-claro. – Gaguejei, a palavra quase engasgando na minha garganta, e por reflexo, fechei os olhos, amaldiçoando a mim mesma pela reação.
Dei as costas para ele, indo em direção à sala, mas o som de sua garganta sendo levemente raspada me fez parar. Quando olhei para trás, ele estava ali, parado no marco da porta, com aquele ar calmo e ao mesmo tempo inquietante. Ergui minha sobrancelha, esperando que ele explicasse, e então sua voz saiu, firme e controlada, o que só aumentou meu desconforto.
– Podemos conversar em algum lugar mais privado? – Ele perguntou, inclinando-se levemente no batente da porta, os olhos fixos nos meus.
– O quê? – Questionei, confusa. Nós estávamos sozinhos em casa, seria mais privado do que isso? E, para começar, ele nem deveria estar aqui. – Estamos sozinhos, Dr. Cullen. O que poderia ser mais privado?
– Não quero que nos interrompam, caso alguém chegue. – Ele respondeu, os olhos intensos demais, penetrantes demais. – Não quero que sua irmã ou seu pai me vejam aqui.
Minhas mãos começaram a suar. Ele parecia tão... diferente.
Eu senti meu coração disparar no peito quando Carlisle deu mais um passo em minha direção, seus olhos afiados como facas cravando-se em mim, como se estivesse me avaliando de uma forma que me deixava desconfortável. Cada movimento que ele fazia, por mais sutil que fosse, me prendia.
Quando a voz de Jacob ecoou do outro lado da porta, apertando a campainha em seguida de um grito dizendo que havia chego cedo demais, uma parte de mim se acendeu em pânico. Carlisle se virou lentamente para mim, e a mudança em seu semblante foi imediata. O brilho dourado de seus olhos, que antes estava calmo, agora escurecia como o céu antes de uma tempestade.
– Jacob Black? – Ele repetiu o nome com uma voz quase arrastada, o tom baixo e frio.
Ele deu mais um passo na minha direção, e antes que eu pudesse me mover, minhas costas bateram na mesa de canto, forçando-me a parar. Carlisle continuava se aproximando, os olhos ainda presos aos meus, como se estivesse à espera.
– Grace? – Jacob riu, mas aquele som leve pareceu fazer com que Carlisle apertasse os punhos, os músculos de seus braços se contraindo sob a camisa.
– Você vai sair com ele? – Carlisle perguntou, os olhos se estreitando. – Com Jacob Black?
A forma como ele disse o nome me fez estremecer, como se o próprio som de "Jacob" o irritasse de um jeito profundo.
– E-eu... sim, marcamos de sair. – Respondi, gaguejando, tentando ignorar o arrepio que subiu pela minha espinha. – Nós vamos sair na verdade.
Seus olhos estavam fixos nos meus, intensos, quase possessivos.
– Você e eu ainda nem se quer começamos nossa conversa.
— Então eu sinto muito, mas precisaremos deixar para outro momento.
— Você não entendeu, pequena Grace? — A voz de Carlisle ressoou baixa e perigosa enquanto ele se aproximava lentamente, seus movimentos calculados, quase predatórios, como se estivesse desenhando o momento. Seus olhos me devoravam, e o sorriso no rosto parecia contido, sombrio. — Eu preciso falar com você, e não vai ser Jacob que vai me impedir. Estamos entendidos?
Senti meu corpo tremer diante da intensidade de suas palavras. Eu sabia que deveria me afastar, pedir que ele fosse embora, mas algo em sua postura, no jeito como seu olhar não se desviava de mim, me deixava paralisada. Carlisle estava diferente, menos o médico calmo e equilibrado que todos conheciam, e mais... algo mais sombrio.
— Mas eu combinei com ele, você não pode chegar na minha casa me ditando o que fazer, Dr. Cullen! — Rebati, minha voz soando mais forte do que eu esperava, uma tentativa desesperada de recuperar o controle, de afastar a sensação sufocante que ele trazia.
Mas ao invés de recuar, Carlisle inclinou a cabeça levemente, seus olhos fixos nos meus, como se estivesse apreciando o desafio. Ele sorriu, mas era um sorriso afiado, que não alcançava os olhos.
— Posso sim, Grace. — Ele murmurou, dando mais um passo até que seu corpo quase tocasse o meu. — Você saiu com meu filho, e agora se colocou em um problema que não pode resolver sozinha. — Ele ergueu a mão, tocando levemente meu rosto com a ponta dos dedos, e senti meu coração acelerar. — Você é minha responsabilidade agora...
— Eu me meti em problemas por sair com o seu filho!? — Questionei, a incredulidade tomando conta de mim. Responsabilidade, eu era responsabilidade dele agora!? — Do que está falando?
Carlisle não respondeu imediatamente. Em vez disso, ele me encarou, se seus olhos pudessem me devorar, tenho certeza que já tinha o feito.
— Não temos tempo para explicações agora. — Sua voz soou baixa e firme, como um comando que eu não conseguia ignorar. Ele se aproximou ainda mais, passou a língua pelos lábios, um gesto que parecia quase inconsciente, mas que me fez prender a respiração. — Precisa mandar o garoto para casa. — Ele insistiu.
— Mas por que... — comecei a protestar, mas ele não me deixou continuar. — Não vou mandá-lo para casa. — Respondi, tentando manter o mínimo de firmeza na voz, embora meu coração estivesse disparado. Eu sabia que estava brincando com fogo, mas a forma como Carlisle me encarava fazia meus pensamentos entrarem em colapso.
Ele deu um passo à frente, colocando a mão na parede, exatamente acima da minha cabeça, me encurralando sem esforço algum. O perfume dele, o calor do seu corpo, a proximidade... Tudo parecia me paralisar.
— Você quer fazer isso, ou então eu precisarei fazer por você? — Sua voz estava carregada de ameaça, um aviso claro de que ele não estava pedindo. Era uma ordem disfarçada de escolha, e a intensidade em seus olhos deixava claro que ele não hesitaria em fazer o que fosse necessário.
— Dr... — Comecei, mas ele apenas sorriu.
— O que eu preciso fazer para que me chame de Carlisle, boneca? — Sua voz saiu rouca, e o uso daquela palavra me fez estremecer. Seus olhos, me estudavam como se já soubesse cada resposta antes mesmo de eu tentar formular uma.
Meu corpo reagia de formas contraditórias. Eu deveria sentir medo, raiva, deveria mandá-lo embora... Mas algo em mim, algo profundo e estranho, queria ver até onde ele iria.
— Então, Grace? — Ele murmurou, seus lábios perigosamente próximos dos meus.
— Dr... Carlisle, eu não posso. Jacob não deveria ter me procurado como um louco ontem, por uma atitude de insanidade sua. Não vou fazer isso com ele mais uma vez. — Minha voz falhou, mas eu precisava ser firme, mesmo que minhas palavras soassem mais fracas do que eu queria.
Carlisle gargalhou, como se ele estivesse se divertindo com a minha tentativa de resistência.
— Grace? — Jacob gritou do outro lado da porta, a voz forte e impaciente.
Carlisle ignorou completamente o chamado. Seus olhos escuros e frios varreram meu rosto, passando pelos meus lábios antes de subir novamente para encontrar os meus. Seu olhar era intenso, dominador, como se estivesse me testando, esperando por uma fraqueza para se aproveitar.
— Se importa tanto com ele assim? — Ele perguntou, como se a simples ideia de eu me preocupar com Jacob fosse ridícula.
Eu tentei falar, mas ele continuou antes que eu pudesse formular qualquer resposta.
— Está correndo perigo, querida. — Ele murmurou, sua voz agora mais suave. — existem assassinos atrás de você, da sua irmã... Ficar aqui, ficar ao lado de Jacob traz perigo ao seu pai e para ele..
As palavras de Carlisle me atingiram.
— Assassinos...?
Carlisle inclinou-se um pouco mais. Sua mão continuava encostada na parede, bloqueando qualquer rota de fuga.
— Ficar aqui, ficar ao lado de Jacob... — ele repetiu, como se estivesse saboreando as palavras. — Isso trará perigo ao seu pai, e para ele também. — Seus olhos brilharam com algo sombrio, como se ele soubesse o peso da decisão que me impunha. — Você quer mesmo arriscar a vida deles, Grace?
Eu senti minha garganta secar, e meu coração martelava no peito. Ele estava jogando com minhas emoções, com meus medos, me forçando a escolher. E o pior de tudo? Eu sabia que, por mais que Jacob significasse algo para mim, Carlisle estava certo. Eu não poderia arriscar a vida da minha família por teimosia.
Mas ao mesmo tempo, o jeito possessivo, quase obsessivo, com que Carlisle me olhava, me prendia ali. Como se, de alguma forma, eu fosse apenas dele, como se ele não pudesse suportar a ideia de outra pessoa ao meu lado.
— Você está me pedindo para escolher, Carlisle? — perguntei, a voz saindo hesitante.
— Não, Grace. — Ele sorriu. — Eu não estou pedindo.
Jacob gritou mais uma vez.
— E-eu... Tudo bem. Vou mandar Jacob para casa mas depois? — Questionei. — O que eu vou fazer depois!?
— Você irá comigo.
— Não, definitivamente não.
— Você virá, vamos arrumar uma forma de proteger você e sua irmã. — Carlisle segurou meu queixo. — Não tempos tempo Grace.
Eu recuei ligeiramente, o toque de Carlisle no meu queixo queimando como gelo. Tudo dentro de mim gritava para correr, mas suas palavras martelavam na minha cabeça. "Assassinos." Minha irmã. Meu pai.
— Eu... eu não posso simplesmente ir com você. — Minha voz tremeu, e odiava a fraqueza que soava nela. — Você aparece aqui, me diz que estou em perigo, que eles estão em perigo, e espera que eu simplesmente abandone tudo?
Carlisle não piscou, não mostrou qualquer sinal de hesitação. Ele se inclinou mais perto, seu corpo alto e intimidador.
— Grace, — ele murmurou, a voz baixa e penetrante, — você não tem outra escolha. — Ele segurou meu queixo com mais firmeza, obrigando-me a olhar diretamente em seus olhos. — Se você não vier comigo, eles vão te encontrar. E quando isso acontecer... será tarde demais.
Eu tremi. A lógica me dizia que ele estava certo, que havia perigo real lá fora. Mas o jeito como ele falava, como me controlava, me fazia sentir como se estivesse presa em uma teia da qual não conseguiria escapar. Ele sabia disso. E estava usando isso a seu favor.
— Tudo bem, — minha voz saiu em um sussurro. — Eu vou... vou com você.
Seu sorriso foi quase imperceptível, como se soubesse que eu cederia o tempo todo. Ele soltou meu queixo, mas seu toque permaneceu, ecoando na minha pele.
— Boa garota, — ele murmurou, antes de se afastar apenas o suficiente para que eu pudesse respirar novamente. — Agora, mande Jacob embora.
Merda.
Eu abri a porta, o frio do dia me atingindo de imediato, mas a sensação de desconforto não vinha apenas do clima. Jacob estava lá, encostado no capô da picape, com um sorriso meio torto que logo se desfez ao ver meu rosto. Eu podia sentir o peso do olhar de Carlisle em minhas costas, pressionando cada palavra que saía da minha boca.
— Jake... — Comecei, tentando encontrar uma forma suave de dizer, mas as palavras me escaparam, e tudo que consegui fazer foi suspirar. — Acho que a gente vai precisar deixar isso para outro dia.
Os olhos de Jacob se estreitaram, e sua expressão passou de confusa para desconfiada num piscar de olhos.
— O quê? — Ele se endireitou, olhando por cima do meu ombro, provavelmente já sentindo a presença de Carlisle. — Grace, do que está falando?
Meu coração apertou. Eu sabia que ele não entenderia, e talvez nem eu mesma entendesse, mas ali estava eu, mais uma vez, jogando Jacob para escanteio. Por culpa de Carlisle. Por culpa daquele maldito médico que, de alguma forma, sempre parecia saber como virar minha vida de cabeça para baixo.
— Eu... — Engoli em seco, minha voz saindo mais baixa. — Não é um bom momento, Jake. É complicado.
Ele riu, mas foi uma risada amarga, cheia de incredulidade.
— Complicado? — Ele olhou diretamente para mim, e em seguida para a casa. — Isso tem a ver com ele, não tem? — Perguntou, sua voz ficando mais dura.
Eu não respondi de imediato, e o silêncio disse tudo. Ele balançou a cabeça, rindo amargamente mais uma vez.
— Claro. — Ele murmurou, dando um passo para trás. — Claro que tem a ver com ele.
— Jake, eu... — Tentei argumentar, mas ele já estava subindo na picape, batendo a porta com força. Ele me olhou uma última vez, e eu pude ver a decepção em seus olhos.
— Cuide-se, Grace. — Ele disse antes de acelerar o motor e partir.
Fiquei ali parada por um momento, vendo as luzes traseiras da picape desaparecerem na estrada.
Enquanto via a picape de Jacob sumir na estrada, meu coração apertava como se estivesse traindo alguém que só queria o meu bem. A culpa era um peso difícil de carregar, mas, ao mesmo tempo, uma força maior me empurrava para longe de tudo isso. Antes que eu pudesse processar o que havia feito, senti Carlisle se aproximar, cada fio do meu corpo pareceu se enrijecer.
Ele estava tão perto que o calor frio de sua pele tocou minha nuca, e seu sussurro fez cada nervo em mim se acender.
— Muito bem. — Sua voz era baixa. — Agora vamos... você ficará em ótimas mãos.
— Vocês não tem ideia de quanto eu surtei escrevendo esse capítulo, meu Deus do céu! 🫀
— Comentem e votem muitoooo 🫀
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