01
A neve caía suavemente, cobrindo o chão como um manto de seda branca. A vastidão da floresta, com seus galhos congelados e o silêncio envolvente, era minha paisagem favorita. Sempre amei a neve, a tranquilidade que ela trazia, mas naquele momento havia algo mais que me fazia sorrir ao olhar pela janela. Era a promessa de um dia novo, de experiências que eu havia desejado por tanto tempo.
Com a mochila firme em minhas mãos, eu me encarei no espelho por um instante. Meus olhos brilhavam com uma mistura de nervosismo e empolgação. Sabia que estava pronta. Depois de meses pedindo à minha família, explicando como eu queria conhecer o mundo fora do nosso círculo, eles finalmente cederam. A escola. Pessoas novas. Amizades. Era um sonho que eu finalmente estava prestes a viver.
Não era como se eu não soubesse o que esperar – eu já havia aprendido muito sobre como os humanos viviam. Mas ainda assim, faltava algo: a experiência de ser normal, de me misturar, de criar laços reais que não envolvessem o segredo da minha existência. Eu não tinha amigos ainda, mas havia uma centelha de esperança. Mesmo que por um tempo limitado, eu poderia fingir ser apenas uma garota comum, e isso já era suficiente para me fazer feliz hoje.
Minha mãe foi a primeira a apoiar minha ideia. Embora estivesse empolgada em me ensinar tudo o que eu precisasse em casa — história, ciência, literatura —, ela entendia minha vontade de experimentar algo mais, algo que não cabia dentro das paredes da nossa família. Ela sempre me entendeu de uma forma única, talvez porque, de certa forma, nossas histórias se entrelaçam. Ela sabia o que significava desejar ser parte de um mundo que parecia fora do alcance.
Meu pai, Edward, foi um pouco mais difícil de convencer. Ele tinha aquela expressão preocupada, como se o peso do mundo repousasse em seus ombros toda vez que eu trazia o assunto à tona. Segundo ele, ser alguém como eu, com minhas particularidades, traria riscos. Estar entre humanos significava um tipo de exposição que ele não queria que eu enfrentasse. Mas, no fundo, a quem ele queria enganar? Ele sabia tão bem quanto eu que viver às sombras não era uma solução. Eu tinha o direito de descobrir o mundo fora da segurança das nossas vidas cuidadosas. Mesmo relutante, ele acabou cedendo — talvez porque entendesse que minha determinação era inabalável, ou talvez porque, no fundo, ele sabia que essa experiência era inevitável.
Jacob Black não saía do meu lado, nem por um instante. Era quase irritante, mas ao mesmo tempo, reconfortante. Ele parecia carregar o peso de uma promessa silenciosa de proteção, mesmo que ninguém tivesse pedido por isso. Nos últimos anos, desde aquela tensa visita de Aro Volturi, minha família começou a me explicar aos poucos o que havia acontecido naquela época, quando eu era apenas uma criança. Algumas coisas ainda não faziam sentido para mim, mas Jacob estava sempre lá, pronto para preencher as lacunas — do jeito dele, claro.
Minha tia Rosalie, com seu tom levemente ácido, dizia que tudo isso era "coisa de lobo". Segundo ela, Jacob estava preso a mim de uma forma que ia além do comum, algo que nem mesmo eu podia entender por completo. "Imprinting", era como chamavam. Mas, para mim, parecia mais simples. Ele era meu amigo, meu protetor, e, de certa forma, minha constante. Mesmo que isso significasse lidar com seu humor impaciente e sua teimosia, eu sabia que Jacob não me abandonaria. E, embora eu não dissesse em voz alta, a ideia de tê-lo sempre por perto era algo que me confortava mais do que eu queria admitir.
— Você teve a oportunidade de fugir da escola nas suas mãos e deixou escapar. — A voz de Jacob ecoou pelo meu quarto antes mesmo que eu o visse. Ele estava ali, encostado na porta, os braços cruzados, com aquele sorriso provocador que parecia ser sua marca registrada.
Eu suspirei, me virando para o espelho mais uma vez. Meus dedos passaram pelos meus cabelos, ajeitando-os pela última vez enquanto eu controlava o riso.
— Talvez algumas pessoas tenham a tendência a gostar das coisas que ninguém gosta. — Olhei para ele pelo reflexo do espelho e sorri, desafiando-o com meu tom leve.
Jacob arqueou uma sobrancelha, como se tentasse decidir se eu estava falando sério ou apenas provocando de volta. Era um jogo que nós dois conhecíamos bem, um equilíbrio constante entre ironia e cumplicidade.
Jacob descruzou os braços e entrou no quarto, parando no meio, como se quisesse ser o centro da minha atenção.
— Ou talvez algumas pessoas sejam simplesmente teimosas demais para admitir que não precisam disso tudo. — Ele retrucou, balançando a cabeça com um meio sorriso. — Escola? De verdade, Nessie? Eu aposto que você vai durar um mês antes de se cansar.
Dei meia-volta para encará-lo, cruzando os braços agora eu mesma.
— E quem disse que eu quero "precisar" disso? Talvez eu só queira... tentar. — Minha voz saiu mais firme do que eu esperava. — Nem tudo precisa ter um propósito profundo, Jacob. Às vezes, a gente só quer viver coisas simples.
Ele inclinou a cabeça, avaliando minhas palavras.
— Coisas simples, hein? — Ele repetiu, com um tom que misturava descrença e curiosidade. — Vamos ver quanto tempo você aguenta antes de ligar pedindo pra eu te buscar.
Revirei os olhos, embora não conseguisse conter um sorriso.
— Pode apostar, Black. Vou aguentar mais tempo do que você aguenta me provocar sem se dar mal.
Ele deu uma risada baixa, aquele som rouco e familiar, antes de dar de ombros.
— Tô contando os dias, então. — Ele respondeu, enquanto começava a se virar para sair. Mas antes de cruzar a porta, olhou por cima do ombro. — Boa sorte, Ness. Vai precisar.
Eu estava pronta. Mesmo que Jacob achasse o contrário.
Coloquei a mochila nos ombros novamente, respirando fundo antes de me dirigir para a escada. Assim que comecei a descer, lá estavam eles, todos reunidos na base, como se eu estivesse prestes a embarcar na aventura do século. Seus olhares estavam cheios de expectativa, preocupação e... algo mais que eu não conseguia decifrar.
Por mais que eu adorasse ser o centro das atenções, havia momentos em que toda essa intensidade me fazia sentir algo diferente, algo que eu só poderia descrever como sufocante. Talvez fosse porque cada um deles parecia colocar sobre mim uma parte das suas próprias histórias, seus medos, suas esperanças. E hoje, mais do que nunca, isso parecia estar pesando.
— Bom dia, querida. — Meu pai foi o primeiro a se aproximar, inclinando-se para beijar minha testa com aquele carinho que nunca falhava em me tranquilizar, mesmo quando ele parecia mais ansioso que eu. Antes que eu pudesse responder, minha mãe me envolveu em um abraço que parecia ao mesmo tempo protetor e um pouco desajeitado, como se ela quisesse me soltar, mas não conseguisse.
— Vai ser um grande dia. — Ela disse com a voz suave, tentando esconder a apreensão.
— Não é como se eu estivesse indo para uma guerra. — Respondi com um sorriso leve, tentando aliviar o clima. Mas, ao olhar para o rosto de cada um deles, percebi que, para eles, talvez fosse algo quase tão significativo quanto.
Olhei para o restante da família. Carlisle estava na cozinha, concentrado, mexendo em algo no fogão. Era óbvio que ele estava preparando o café da manhã — mas, claro, para a única pessoa nesta casa que realmente precisava de comida. Ele parecia tão tranquilo, como se isso fosse apenas mais um dia comum, mas eu sabia que ele também estava acompanhando cada detalhe com atenção típica dele.
— O que você deseja comer, querida? — Ele perguntou, sorrindo enquanto segurava algumas coisas nas mãos, provavelmente planejando algo sofisticado para variar.
— Obrigada, mas estou sem fome. — Respondi com um sorriso sincero, tentando demonstrar que estava bem. — Acho que já estou pronta para ir...
Carlisle assentiu, compreensivo, e ao redor da sala, percebi que o resto deles também apenas concordava em silêncio. Jacob, como sempre, foi o primeiro a quebrar o momento.
— Então vamos. — Ele disse de forma casual, já se virando para caminhar em direção à porta.
Antes de segui-lo, dei um beijo rápido na bochecha do meu pai, que sorriu levemente, embora seus olhos denunciassem um misto de orgulho e preocupação. Minha mãe me segurou por um breve instante a mais quando me inclinei para beijá-la também.
— Vai dar tudo certo. — Ela disse baixinho, apertando minha mão antes de me soltar.
— Bom dia mãe.
Eu apenas assenti, sentindo o calor familiar da segurança que eles sempre me transmitiam. Então, sem olhar para trás, segui Jacob até a porta, pronta para enfrentar o dia — e o mundo fora das paredes desta casa.
Entrei no carro, sentindo o ar gelado se dissipar assim que a porta se fechou atrás de mim. Jacob deu partida no motor, e o ronco familiar preencheu o silêncio enquanto eu encostava minha cabeça no vidro frio da janela. Do lado de fora, a neve caía preguiçosa, cobrindo Forks com sua típica melancolia branca. Era o tipo de dia que fazia a cidade parecer parada no tempo, como se o mundo lá fora não existisse.
Meus olhos vagaram pelo cenário monótono, mas logo se detiveram no meu pulso. A pulseira estava ali, delicada e firme, uma lembrança que Jacob havia me dado no meu último aniversário. Dezessete anos. Não que eu fosse, de fato, uma adolescente comum de dezessete. Minha vida sempre foi um paradoxo, uma confusão entre ser algo entre humana e imortal.
Passei o dedo levemente sobre o pingente preso à pulseira, uma pequena escultura em madeira que ele havia entalhado com suas próprias mãos. Era algo simples, mas significativo. Jacob sempre soube como colocar um pouco de si em cada presente. Com todos eles, eu poderia facilmente mobiliar um quarto inteiro. Havia quadros, esculturas, pequenas peças artesanais... ele parecia sempre encontrar algo novo para me dar, como se precisasse me lembrar constantemente de sua presença.
Sorri de canto, mas o sorriso logo se desfez. Não era culpa de Jacob, mas algo dentro de mim começava a pesar. Uma inquietação que nem mesmo ele conseguia dissipar. As paisagens de Forks, os presentes, a vida cuidadosamente construída ao meu redor — tudo parecia estático demais. Eu era metade humana, metade vampira, mas, no fundo, sentia como se estivesse vivendo menos do que poderia.
Fiquei ali, olhando para a pulseira enquanto o carro deslizava pela estrada coberta de neve. Jacob, como sempre, falava alguma coisa, mas eu não ouvia. Meu coração estava em outro lugar, talvez em um lugar que nem eu mesma entendia ainda.
Talvez fosse sempre a mesma coisa.
Os mesmos dias cinzentos, as mesmas conversas e, principalmente, as mesmas limitações.
"Renesmee não pode fazer isso."
"Renesmee, não vá."
"É perigoso demais."
Era como se eu estivesse presa em uma redoma de vidro, com todos ao meu redor me dizendo o que eu deveria ou não fazer. Talvez fosse isso. Talvez eu estivesse simplesmente cansada. Cansada de toda aquela superproteção que pairava sobre mim como uma sombra constante.
— Está me ouvindo? — A voz de Jacob cortou meus pensamentos, mais alta desta vez, impaciente.
Levantei o olhar para ele, percebendo o leve franzir de suas sobrancelhas enquanto mantinha uma das mãos firmes no volante.
— Ah, sim. — Minha resposta saiu apressada, quase automática, enquanto eu tentava disfarçar o fato de que não havia escutado uma palavra sequer do que ele disse.
Jacob soltou um suspiro, um daqueles que parecia carregar toda a paciência que ele insistia em ter comigo.
— Você parece distante hoje. Alguma coisa errada? — perguntou, tentando me olhar de relance, mas mantendo os olhos na estrada.
— Não, só... só pensando. — Minha voz soou mais dura do que eu pretendia, e me odiei por isso. Ele só queria ajudar, como sempre. Mas talvez fosse exatamente isso que me sufocava.
Encostei novamente a cabeça no vidro, o frio da superfície tocando minha pele enquanto eu fechava os olhos por um instante. Aquele cansaço não era sobre Jacob, ou sobre Forks, ou mesmo sobre os Cullen. Era sobre mim. Sobre quem eu era e o que eu poderia ser, se ao menos me deixassem descobrir.
Jacob estacionou o carro em frente à escola de Forks, e meu estômago deu um nó. Do lado de fora, parecia uma colmeia desordenada de adolescentes, andando de um lado para o outro como formigas sem rumo. Era muita gente. Mais do que eu imaginava.
— Boa sorte. Você vai precisar. — Jacob falou, com um sorriso que ele tentava parecer reconfortante, mas que soava mais como uma advertência. Seu olhar estava fixo na entrada, como se analisasse o campo de batalha.
— Obrigada... — murmurei, tentando soar despreocupada, enquanto abria a porta do carro e saía rapidamente.
Respirei fundo, ajustando a mochila nos ombros enquanto olhava para a entrada da escola. Era a minha primeira vez em uma escola de verdade. Meu primeiro contato com esse mundo que todos sempre acharam que eu devia evitar.
Caminhei em direção à entrada, sentindo os olhares pousarem em mim, cada passo como um novo holofote aceso. Eles me encaravam com curiosidade, talvez tentando adivinhar quem era a garota nova que acabara de chegar em pleno meio do semestre.
Mas, para ser honesta, aquilo não me incomodava. Eu estava acostumada a ser o centro das atenções, mesmo quando não queria. Crescer entre vampiros e lobisomens não era exatamente um treinamento para passar despercebida.
Com os passos firmes, mantive a cabeça erguida. Mesmo que por dentro eu estivesse nervosa, não deixaria isso transparecer.
Minha mãe foi bem clara: eu precisava ir até o centro de informações para pegar as instruções sobre minhas aulas. Embora relutante, segui o conselho. Todos esses anos, minha família fez questão de me ensinar tudo o que sei. Os livros de Carlisle foram minhas melhores companhias, cheios de conhecimento e histórias fascinantes.
Agora, porém, as coisas eram diferentes. Eu estava ali, em uma escola cheia de humanos, pronta para encarar o que seria praticamente meu último ano. Tudo isso porque, em algum momento, a ideia de ser "normal" me pareceu atraente. Mas, agora que estava realmente acontecendo, essa escolha já começava a soar como um erro monumental.
Caminhei pelos corredores, tentando ignorar o barulho, as risadas e os cochichos ao meu redor. O lugar em destaque, com uma placa na parede, parecia ser exatamente onde minha mãe havia mencionado que eu deveria ir.
Olhei ao redor, absorvendo o ambiente, até que me virei sem prestar atenção e esbarrei em alguém. O impacto foi mínimo, mas o grito que ecoou em meus ouvidos me fez recuar instintivamente.
— Ah, meu Deus, me desculpe! — disse a garota, apressada, abaixando-se para juntar os livros que haviam caído de seus braços.
Fiquei parada por um momento, sem saber o que dizer. Meu cérebro parecia estar um segundo atrasado, tentando processar a interação.
— Está tudo bem, eu não vi você... — murmurei, finalmente, abaixando-me para ajudá-la a recolher as coisas.
Ela ergueu os olhos para mim, o rosto ligeiramente corado.
— Eu sou uma desastrada, perdão... — pediu desculpas novamente, a voz carregada de constrangimento.
Eu apenas balancei a cabeça, entregando o último livro que ela deixara cair.
— Não foi nada — respondi, ainda tentando ajustar o tom para soar mais... humana?
A garota sorriu, um sorriso pequeno, mas genuíno. Eu ainda não sabia o que fazer ou dizer, mas aquele encontro inesperado foi o primeiro vislumbre real de como seria viver nesse mundo "normal" que eu havia escolhido.
— Sou Anna... — disse ela, estendendo a mão para mim.
Olhei para seus dedos, que tremiam levemente, como se ela não estivesse acostumada a esse tipo de interação.
— Sou Renesmee. — Sorri de forma breve, tentando parecer amigável. — Estava tentando descobrir onde seriam minhas aulas.
O sorriso de Anna se alargou, iluminando seu rosto de forma sincera e despreocupada.
— Garota nova. — Ela afirmou, quase como se fosse um diagnóstico. — Vem, eu posso te mostrar.
Hesitei por um segundo, mas acabei assentindo. Havia algo genuíno nela, algo que me fazia querer aceitar sua ajuda, mesmo que eu não precisasse realmente.
— Obrigada — respondi, ajustando minha mochila enquanto ela começava a caminhar ao meu lado.
Anna parecia confortável com o papel de guia, andando com passos confiantes à minha frente, enquanto eu tentava me situar naquele lugar barulhento e confuso. Os corredores estavam cheios de estudantes que pareciam saber exatamente para onde ir, o que só reforçava o quanto eu estava deslocada.
— Então... — começou ela, virando o rosto para me observar. Seus olhos brilhavam com curiosidade. — Você chegou agora na cidade ou só é nova na escola?
— Nova na escola. — Respondi, ajustando a mochila no ombro e evitando entrar em muitos detalhes.
Ela assentiu, parecendo satisfeita com a resposta.
— Pensei que fosse isso. Forks é tão pequena que todo mundo conhece todo mundo. Alguém novo sempre chama atenção.
Chama mesmo, pensei, sentindo mais uma vez os olhares presos em mim enquanto passávamos. Era como se cada aluno parasse o que estava fazendo para observar a "garota nova". Mas Anna não parecia notar, ou talvez simplesmente não se importasse.
— E de onde você veio? — Ela tentou novamente, sua curiosidade transbordando.
— É uma longa história. — Minha resposta saiu educada, mas firme, cortando o assunto.
Ela me lançou um olhar rápido, mas não pareceu ofendida. Em vez disso, deu de ombros, como se já estivesse acostumada a lidar com respostas evasivas.
Depois de algumas viradas e escadas, Anna parou diante de uma porta com uma placa que dizia "Informações".
— Aqui estamos. — Ela sorriu, recuando para me dar espaço.
Eu a observei por um momento, surpresa pela sua insistência em ser tão prestativa.
— Obrigada por me trazer até aqui.
— Sem problemas. — Ela abriu um sorriso ainda maior, cheio de uma simpatia quase desarmante. — Se precisar de alguma coisa, estarei por aí.
Com um aceno breve, ela se afastou, e eu empurrei a porta da sala de informações. O contraste era imediato. Lá dentro, o barulho dos corredores desaparecia, dando lugar a um silêncio quase intimidador.
Um senhor de meia-idade estava sentado atrás de uma mesa, o olhar rígido e cansado por trás de óculos pequenos. Ele ergueu os olhos assim que entrei.
— Renesmee Cullen? — perguntou antes mesmo que eu dissesse uma palavra.
— Sim.
Sem dizer mais nada, ele pegou um papel com meu horário de aulas e apontou para um mapa pendurado na parede ao lado.
— Aqui está. Bem-vinda.
— Obrigada — murmurei, pegando o papel e analisando as informações.
Ao sair da sala, não pude evitar o pequeno sobressalto ao ver Anna encostada na parede do corredor, esperando como se fosse algo completamente natural.
— Conseguiu tudo? — Ela perguntou, os braços cruzados e aquele sorriso fácil ainda em seu rosto.
— Sim. Agora só preciso tentar não me perder pelos corredores.
Ela riu, o som leve e agradável, parecendo se destacar em meio ao caos do ambiente.
— Não vai se perder se estiver comigo. Vamos, te levo até sua primeira aula.
Por um instante, hesitei. Estava acostumada a fazer as coisas sozinha, a depender apenas da minha família. Mas, de alguma forma, aceitei sua ajuda. Talvez porque, pela primeira vez em muito tempo, eu estivesse disposta a tentar algo diferente.
Enquanto seguíamos juntas, ela começou a me apontar lugares e dar informações, como se fosse um guia turístico da escola. Embora eu prestasse atenção, minha mente vagava, pensando no quão irônico era estar ali, tentando me misturar, quando tudo sobre mim gritava que eu não pertencia àquele mundo.
Ainda assim, havia algo reconfortante na simplicidade de Anna e na maneira descomplicada como ela parecia aceitar a minha presença. Por mais estranho que fosse, aquilo tornava o meu primeiro dia um pouco menos assustador.
Eu estava no chão.
De novo.
A raiva queimava em meu peito, mas não tanto quanto a humilhação. Felix, com aquele sorriso presunçoso estampado no rosto, parecia se divertir. Para ele, era um jogo. Para mim, era um insulto. Mais uma vez, ele me derrubara no treinamento, como se eu fosse um mero novato tentando provar meu valor.
A terra fria pressionava minhas costas, mas era a ferida no meu orgulho que ardia de verdade. Não dava para ignorar o brilho de diversão nos olhos dele, como se fosse fácil demais. Ele não estava errado, e isso me irritava ainda mais.
— De novo! — gritei, a fúria transformando minha voz em um rosnado enquanto me levantava. Minha mão limpou a poeira de minhas roupas com movimentos bruscos, cheios de raiva. Meu corpo pulsava com uma energia que exigia vingança.
Ele apenas sorriu, provocador, já assumindo a posição de combate. Eu podia sentir a expectativa em seu corpo, o desejo por mais uma vitória. Mas desta vez, ele não sairia impune. Se ele achava que podia brincar comigo, eu estava mais do que disposto a tornar isso um pesadelo.
A luta estava apenas começando.
Felix deu um passo para frente, relaxado demais para o meu gosto. Ele não me levava a sério, e aquilo apenas alimentava a ira fervendo dentro de mim. Ele não entendia que, mais cedo ou mais tarde, todo predador encontra um igual — ou algo pior.
Eu não era estúpido a ponto de deixar minha fúria nublar meu julgamento. Não, eu usaria isso. Contra ele. Contra aquele maldito sorriso que parecia zombar de mim.
— Está mesmo certo disso, Demetri? — Felix provocou, dando um passo lento e deliberado. Seu tom carregava uma falsa preocupação que apenas me fazia desejar apagar aquele ar de superioridade de seu rosto.
— Vamos.
Ele arqueou uma sobrancelha, mas seus olhos brilharam, como se ele estivesse genuinamente animado. Ele gostava disso. Do desafio, da tensão crescente. Bem, eu ia dar a ele o que queria — e talvez um pouco mais do que podia suportar.
Fingi um avanço brusco, apenas o suficiente para que ele erguesse os braços e se preparasse para o golpe. Era exatamente o que eu queria. Felix era forte, mas ele confiava demais em sua força bruta. Isso o tornava previsível, vulnerável.
Meu corpo se moveu antes que ele pudesse reagir. Rápido, letal, preciso. Evitei seu bloqueio e atingi sua lateral com um chute que fez seu sorriso vacilar por uma fração de segundo. A sensação de impacto percorreu minha perna, um estalo satisfatório.
— Parece que você não é tão intocável assim, não é? — provoquei, meu tom baixo e carregado de ironia.
Felix riu, mas desta vez havia um toque de irritação em sua voz. Perfeito. Ele adorava ser o caçador, mas estava prestes a descobrir o que acontece quando a presa decide revidar.
— Meus caros amigos, preciso interromper essa digníssima luta. — Aro entrou na arena improvisada como se fosse o maestro de uma sinfonia desajustada, seus passos tranquilos ecoando pelo espaço, a voz tão calma que quase me irritava.
Felix e eu imediatamente interrompemos, os músculos ainda tensos. Minha atenção se voltou para ele, porque, se Aro havia decidido intervir, era porque queria algo. Ele sempre queria algo.
Eu me endireitei, já focado. Felix, ao meu lado, fez o mesmo, ambos em sincronia como os soldados que éramos. Não era necessário perguntar; quando Aro falava, nós ouvíamos.
— Como sabem, alguns anos atrás tivemos um pequeno... problema com os Cullen e a querida criança híbrida. — Aro sorriu, aquele sorriso cheio de segredos que só ele conseguia usar, enquanto seus passos nos circulavam, lentos. — Anos se passaram e não tivemos notícias de como a garota está, muito menos de como nosso segredo anda escondido.
Eu não movi um músculo, mas meu olhar encontrou o de Felix por um breve momento. Era óbvio onde aquilo ia dar. Aro nunca mencionava os Cullen sem um propósito claro.
— Preciso que um de vocês vá até Forks e fique de olho em nosso pequeno problema. — A voz dele cortou o ar como um bisturi, suave e afiado.
De novo Forks. De novo os Cullen. Eu quase podia sentir o cheiro insuportavelmente doce de toda aquela santidade sufocante. Fiz um esforço para manter o rosto impassível, mas por dentro minha mente já estava trabalhando, planejando.
— Só um de nós? — questionei, a voz calma, mas carregada com a curiosidade forçada. Claro que a pergunta era retórica. Era óbvio que Aro estava criando outra de suas pequenas competições, nos manipulando para dar o melhor — ou o pior — de nós mesmos. Ele fazia isso com maestria.
— Naturalmente, Demetri. — Aro sorriu, o tom leve como se aquilo fosse uma gentileza. — Não há necessidade de desperdiçar mais recursos do que o necessário, e, convenhamos, você ou Felix será mais do que suficiente.
Eu sabia que ele queria que nos provocássemos, que a tensão entre Felix e eu aumentasse, mas eu não daria a ele esse prazer. Pelo menos não ainda. Em vez disso, lancei um olhar preguiçoso para Felix, deixando que ele pensasse que tinha a vantagem.
— Parece que temos trabalho a fazer, Felix. — Sorri, um canto da boca se erguendo em desafio. — Que o melhor vença.
Felix riu baixo, aquele som grave e carregado de satisfação. Ele adorava um bom jogo, e Aro sabia disso. O bastardo estava jogando conosco como se fôssemos peças de xadrez — e, de certa forma, éramos. Mas se Felix pensava que eu facilitaria as coisas para ele, estava redondamente enganado.
— Que o melhor vença, sim. — Felix respondeu, o sorriso afiado como uma lâmina. Havia algo na maneira como ele me olhava, algo que dizia que ele já se considerava o escolhido. Arrogante.
Aro continuava a circular, os olhos brilhando com o prazer de ver sua influência surtir efeito. Ele adorava plantar a semente do conflito, assistir enquanto crescíamos e nos tornávamos ainda mais implacáveis por conta disso.
— O que espera encontrar, mestre? — perguntei, minha voz controlada, quase indiferente, embora eu estivesse curioso. Forks não era um lugar que Aro mencionaria levianamente. Havia algo mais ali, algo que ele não estava nos contando.
Aro parou, seu sorriso se ampliando apenas o suficiente para parecer enigmático, mas não revelador.
— Nada além de informações. Quero saber se a garota cresceu, se se tornou uma ameaça. — Ele inclinou a cabeça, como se considerasse o próximo ponto com cuidado. — E quero ter certeza de que os Cullen não esqueceram quem realmente controla o equilíbrio deste mundo.
Ah, então era isso. Não era apenas sobre a criança híbrida. Era sobre poder. Controle. Aro não suportava a ideia de que algo — ou alguém — pudesse desafiar os Volturi, mesmo que indiretamente.
— E quanto à abordagem? — Felix perguntou, a voz casual, mas havia um brilho perigoso em seus olhos. Ele esperava por permissão para algo mais violento.
Aro riu, baixo e quase paternal, como se Felix fosse uma criança ansiosa demais.
— Observação, apenas. Por enquanto. — Ele enfatizou as últimas palavras com um tom que sugeria possibilidades futuras. — Não quero chamar atenção desnecessária... ainda.
Felix pareceu desapontado, mas eu sabia que ele aceitaria a ordem. Assim como eu. Não era a primeira vez que nos enviavam para missões com restrições tão irritantes quanto inúteis. O importante era que eu sabia o que Aro realmente queria: resultados. Não importava como.
— Então, quem vai? — Felix quebrou o silêncio, os braços cruzados, um sorriso no rosto que me dizia que ele estava pronto para me desafiar.
Eu o encarei por um longo momento, avaliando. Ele era forte, mas não era tão meticuloso quanto eu. Forks era um jogo de sutileza, de sombras e rastros. Era o meu território, não o dele.
— Não me importa. — Dei de ombros, um sorriso preguiçoso no rosto. — Mas você sabe que eu sou o melhor nesse tipo de trabalho.
Felix arqueou a sobrancelha, como se considerasse rebater, mas Aro interveio antes que ele pudesse abrir a boca.
— Demetri, esta missão é sua. — Aro decretou, seus olhos fixos em mim, cheios de confiança. — Não decepcione.
Eu inclinei a cabeça em um aceno curto, um sorriso lento se espalhando pelo meu rosto.
— Nunca decepciono.
Anna Stanley
— Espero que tenham gostado do primeiro capítulo, prometo atualizar todos os dias!
— Comentem e votem muito!
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro