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𝗔𝗩𝗘𝗥𝗬.
⚠️ GATILHO: VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER.
Faz quase dez minutos que eu estou parada nua em frente ao espelho pós banho. Meus olhos não se desgrudam de minha tatuagem nem por um único segundo. É como se cada mínimo movimento que eu desse, meu corpo poderia desmanchar. Então, fico estática feito pedra. Talvez eu não seja mesmo uma narradora confiável. Omitir fatos por vergonha ou medo era minha especialidade.
Eu só tinha dezesseis anos.
Eu só tinha dezesseis anos quando o meu ex namorado tentou me matar numa crise de ciúmes. Ele havia perdido a cabeça. Eu me lembro da exata sensação dele me jogando contra a parede da minha cozinha com toda a brutalidade do mundo e afundando uma faca na minha pélvis. Não sei se sorte é a palavra certa, mas os meus pais estavam em casa. Por isso, não demorou pra que eles escutassem os meus gritos por ajuda e numa fração de segundos, meu pai quase mata-lo de tanta porrada. Hoje em dia, o filho da puta está preso. Recorrentemente, eu tenho pesadelos com essa merda.
Apenas os meus pais sabem dessa história, inclusive, foi minha mãe que me levou até o tatuador após eu pedi-la pra me acompanhar e segurou minha mão enquanto eu chorava na maca. Incrivelmente, não era de dor. O desespero queimava todo o meu corpo por estar apelando à algo para tapar uma marca de minha quase-morte. Algumas pessoas usam isso como parte da minha história, mas eu não. Isso não faz parte de mim. Se possível, eu gostaria de apagar todo o terror que isso causou em mim por tantos anos e ainda causa em certos momentos de fraqueza.
Ontem mesmo havia sido exemplo disso.
Parecia que Rafe sabia exatamente o quê estava por baixo daquela tatuagem. Não sei se sua língua sentiu a textura da minha cicatriz, mas seus olhos estavam tão chocados sobre mim que me passou a exata certeza que talvez ele soubesse exatamente o quê aconteceu. Nem mesmo as minhas melhores amigas com tanto tempo de amizade notaram que eu tinha feito um desenho em cima da marca que quase me matou um dia. Como eu quase fui assassinada com dezesseis anos.
Lembro de sentir um pânico surreal. Na minha cabeça, eu sabia que iria morrer. Ninguém merecia passar por esse tipo de desespero, seja lá qual fosse o caráter da pessoa. Eu já conhecia bem o comportamento agressivo do tal ex, mas como uma adolescente apaixonada e que se esforçava pra tudo dar certo no meu conto de fadas, eu aguentava tudo. O primeiro tapa, o primeiro xingamento, e por fim, a primeira e única tentativa de assassinato.
Falar sobre isso não é um tabu pra mim, mas é uma memória que eu preferia que fosse deletada da minha vida. Na minha família e círculo de amigos, eu era conhecida por colecionar lembranças boas, também por fazer todo mundo passar por momentos incríveis ao meu lado. Bom, é o que minha mãe sempre repetia. Acho que esse caso é uma exceção. Meu ex namorado não deve ter uma boa lembrança de mim dentro da cadeia.
Eu faço terapia até hoje. É. Não consegui passar três anos sem ter tantos colapsos mentais sozinha. Minha terapeuta foi quem me segurou todos esses anos. Meus momentos com as minhas amigas, o estudo da faculdade e as incontáveis coisas que aconteciam dentro do campus me distraiam da minha realidade tão lamentável. Na época, por ser adolescente, eu era assombrada com isso todo santo dia. Agora eu sou adulta. Sei lidar melhor com o fato, mas ainda assim, não é algo que eu romantizo. De forma alguma.
Eu respiro fundo enquanto prendo meus cabelos num rabo de cavalo. Faço toda a minha skin care matinal e ponho minha roupa. Num domingo como esse, meu programa principal seria ficar deitada durante o dia inteiro, mas eu precisava ocupar minha mente. Então, ao calçar os tênis, caminho até a porta do meu quarto e logo noto que Sarah está acordada.
⏤ Tô indo pra academia. ⏤ aviso.
Sarah apenas ergue a mão num sinal positivo sem tirar os olhos do celular. Novamente, eu suspiro e saio do quarto. Ela provavelmente estava brava pela cena fora do contexto que presenciou ontem na praia. Sei como ninguém que ela é a irmã ciumenta número um do país, assim como Rafe é com ela. Mas ela não entende. Caras como ele não enchem os meus olhos e durante aquela palhaçada, ele era a única opção plausível que restava. Pretendia conversar com ela quando voltasse.
Fiz tudo que eu pretendia naquela manhã de domingo. Me exercitei, devorei duas barrinhas de cereal antes de correr em volta do campus e, como eu esperava, Sarah ainda estava na cama quando retornei.
⏤ Hey ⏤ sorrio. ⏤ você já sabe que horas a Kiara volta hoje?
⏤ Antes das oito, eu acho. ⏤ me respondeu, ainda sem olhar pro meu rosto.
Eu cruzo os braços na altura do peito, insatisfeita em como ela estava agindo comigo por bobeira. Somos melhores amigas maduras ou não, cacete?
⏤ Tá brava comigo, Sarah Cameron? ⏤ ela sabia que toda vez que eu a chamava pelo nome, havia algo de errado.
Ela mexeu o queixo de maneira desconfortável e desligou seu celular, virando pra mim. Assim como eu, ela cruzou os braços e fez o típico biquinho nos lábios como toda vez que está brava.
⏤ Por que tá mentindo pra mim sobre o meu irmão?
⏤ Não estou mentindo sobre nada, cara ⏤ reviro os olhos. ⏤ o que tá pensando?
⏤ Que estão transando ⏤ diz, como se fosse óbvio. ⏤ não sou idiota.
Balanço minha cabeça negativamente. A habilidade dela de criar coisas na própria mente era impressionante.
⏤ As meninas de ontem me desafiaram a escolher alguém pra fazer bodyshot em mim. Todos aqueles caras eram desconhecidos e Topper tem uma "namorada" ⏤ faço aspas com os dedos. ⏤ a única opção que restava era o Rafe.
⏤ O meu irmão, Avery? Na minha frente? ⏤ ela estava mesmo brava.
Encaro-a em silêncio e expiro o ar dos meus pulmões. Me sento ao seu lado, vendo como ela não muda a postura rígida por nada no mundo.
⏤ Por que tá agindo assim? Não vejo você surtar quando ele está comendo todo mundo dessa faculdade.
⏤ Porque você é minha amiga, Av ⏤ ela suspirou. ⏤ e eu conheço bem o tipo de homem que o meu irmão é, apesar de defende-lo com unhas e dentes.
Ela se aconchega na cama para ficar de frente pra mim.
⏤ Caras assim têm os amigos como os pilares da própria vida. Se ele ficar com você, vai querer se gabar pra todo mundo, inclusive esfregar na cara do JJ que transou com a ex dele.
Honestamente, eu não conseguia imaginar mesmo Rafe fazendo isso. Afinal, ele parecia se preocupar demais com os amigos para tentar irrita-los com birras idiotas. Sarah praticamente lê minha mente.
⏤ Não duvide do ego de um homem que sempre teve tudo que quis, Avery ⏤ ela puxou o cobertor na altura dos ombros quando se deitou de novo. ⏤ você é só a próxima conquista.
A frase de efeito me atingiu um pouco. Eu sabia bem como eles colocam meninas numa posição de troféu. Algumas delas adoram, inclusive, já ouvi muitas se gabarem por ficar com um ou dois dos jogares do time de hóquei.
E eu fiquei com todos eles.
Eu praticamente bufo de raiva por saber que Sarah tem razão. Me levanto da cama e ando até o banheiro, retirando as minhas roupas pra me enfiar embaixo do chuveiro. Penso bastante sobre tudo que ela me falou.
Rafe tinha o ego do tamanho do planeta terra e cuidava dele como um tesouro. Qualquer mínima brecha que eu desse à ele, seria o suficiente para alimentar o rei na sua barriga pelos próximos meses. Então, sei no mesmo instante que eu tinha que fazê-lo se arrepender de ter tanta vaidade.
Esse cara vai se rastejar por mim ou eu não me chamo Avery Jackson.
☼
alexa, toca cheia de marra do mc livinho!
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