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ᝢ 𝒕𝒉𝒓𝒆𝒆

𝑞𝑢𝑎𝑑𝑟𝑖𝑏𝑜𝑙
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Évora reconhecia os corredores de Hogwarts, mesmo enxergando-os de forma distorcida, um rapaz alto caminhava ao seu lado, ele tinha um rosto bonito e cabelos escuros cacheados, em suas mãos carregava uma maleta preta assim como suas vestes. E apesar do homem desconhecido ser atraente de alguma forma, a clarividente pode ver que seu rosto parecia desconfigurado e não de maneira natural, parecia mais com as histórias de magia das trevas que sua vovó Ophelia costumava lhe contar antes de dormir.

A clarividente respirou fundo e o ar gelado preencheu seus pulmões fazendo seu corpo todo arrepiar de frio, os pés descalços também não eram de grande ajuda naquele momento. Os dois caminhavam em silêncio lado a lado, ele não havia notado a presença dela e Évora duvidou um pouco se o rapaz conseguiria, afinal era apenas mais um de seus sonhos, só que diferente dos outros este era mais vívido, as coisas eram pálidas e nítidas ao mesmo tempo como se a Eckford estivesse vivendo aquele momento junto do homem desconhecido.

Ela tentou se dar um pouco de contexto, no entanto a única pista que tinha era a expressão do rapaz, seus lábios em uma linha fina e o cenho franzido, tinha alguma coisa de errado, ele não estava feliz, muito pelo contrário, parecia irado e frustrado. Évora se arrepiou mais uma vez, só que não por causa do frio, mas ao fitar rapidamente os olhos do mesmo quando ele parou de frente para uma parede vazia e  virou a cabeça para os lados checando se estava mesmo sozinho. O fogo de ódio ardia em suas írises escuras de forma que Évora nunca tinha visto antes, seja lá quem fosse, carregava consigo segredos que jamais passariam pela mente da pobre corvina. De repente, uma porta começou a se formar, ela já tinha passado naquele corredor tantas vezes e tinha certeza de que aquela porta não existia, mas o rapaz lhe provou o contrário ao abri-la para dar de cara com uma sala enorme lotada de bugigangas dos mais diferentes tipos.

A Eckford sentiu o calafrio se arrastar por sua espinha e um enjoo forte a atingiu como um soco no estômago, ela piscou algumas vezes afim de acordar, mas tudo o que aconteceu foi a mudança de cenário. Ela não sabia onde estava, era um país diferente com certeza, dava para dizer pelas construções próximas; seu corpo doía por inteiro e cada passo solitário que dava ficava ainda mais assustada. O que diabos estava acontecendo com ela?

— Ele vai matar você, filha — a voz de um homem desconhecido dançou por seus ouvidos a sobressaltando, ela virou para encontrar seu dono e seu coração parou no instante em que o viu. O homem estava em pé, mas em seus olhos não havia nenhum sinal de vida, suas vestes de camponês estavam banhadas em sangue fresco e em suas mãos havia uma jóia, um tipo de tiara com uma pedra azul reluzente, Évora não conseguia mais enxergar direito pois as lágrimas começavam a preencher seus olhos. — Ele vai te matar, e não tem nada que você possa fazer. Ele vai te matar e vai matar todos aqueles que você ama. Ele vai te matar e matar todo-

A clarividente queria acordar, ela se beliscou, ela puxou seu próprio cabelo, mas nada adiantava. A agonia desesperadora de ouvir aquele homem repetindo a mesma frase sem parar consumia cada pedaço de si, a morena levou as mãos aos ouvidos para tapá-los e fechou os olhos com força.

PARA! Por favor, para! — a garota gritou, deixando o choro ecoar por sua garganta enquanto as lágrimas desciam sem parar pelo seu rosto. — PARA! PARA!

O ardor repentino em sua bochecha a fez puxar o ar com força, mas ainda não estava totalmente acordada até que mais um tapa estalado encontrou seu rosto.

— Évora! — ela finalmente conseguiu abrir os olhos apenas para encontrar o rosto de Genevieve em cima do seu. — Caralho, graças a Merlin! Você acordou! — ela soou aliviada. — Anthea, ela acordou!

— Oh, Merlin, obrigada! — a cacheada vinha correndo com um pano úmido e um copo d'água em mãos. Évora assistiu em silêncio sua melhor amiga colocar o tecido quente em sua testa suada e deixar o copo na mesa de cabeceira ao seu lado. — Ficamos tão preocupadas com você, Eve.

— O-O quê? Com o que? — inquiriu confusa, alternando o olhar entre as amigas.

— Você teve um pesadelo, não teve? — Anthea devolveu a pergunta sentando na sua cama, a morena apenas assentiu. — Esse foi um dos ruins, Eve, você gritou bastante.

A Dauchez deu um sorriso terno, brincando com os fios negros suados da clarividente.

— Droga — a garota soltou um suspiro. — Desculpa...

— Tudo bem, Eckford, eu acabei de descontar sete anos de irritação bem na sua cara, isso compensa ter me feito acordar antes do despertador — Genevieve deu os ombros, com seu usual sorriso zombeteiro no rosto.

— Você é uma otária!

Évora ainda sentia sua bochecha arder, com certeza ficaria uma bela marca.

— Foi o único jeito que encontramos, e acredite, para a Anthea ter me deixado dar um bofetão na sua cara é porque não foi a primeira opção — disse a Hwang erguendo as mãos em rendimento. "Ok, é válido" Évora considerou.

— Por que não toma sua água e tenta dormir mais um pouco, joaninha — Anthea ofereceu com um sorriso doce.

— Por que está me chamando assim? — inquiriu semicerrando levemente os olhos. Era a segunda vez que sua amiga lhe chamava do mesmo jeito que Soren.

— Assim como, Eve?

— Pelo mesmo apelido que o meu irmão, só ele me chamou assim a vida inteira — sua voz soava fraca e sonolenta, mas o cansaço não era maior que a curiosidade naquela madrugada.

— Hm, eu vou dormir — Genevieve disse com um riso nervoso, saindo da cama de Évora para voltar à sua em um pulo. A Hwang nem mesmo fingiu, só deitou-se de costas para as amigas e jogou o cobertor por cima dos ombros.

— Ah, qual é — Anthea protestou baixo revirando os olhos enquanto assistia sua amiga — Não esquenta com isso, Eve, tenta descansar um pouco e prometo que amanhã conversamos sobre isso, ok?

Évora não ficou nada satisfeita, mas decidiu aceitar os termos da amiga considerando o horário daquela conversa, ainda mais porque o motivo de todas estarem acordadas era ela e seus malditos pesadelos. A morena assentiu de leve e viu sua melhor amiga se inclinar para depositar um beijo casto em sua testa e voltar para a própria cama.

Não demorou muito tempo para que as respirações tranquilas de Anthea e Genevieve fossem os únicos sons que ecoavam no quarto, indicando que ambas já tinham retomado o sono, mas Évora não conseguiu pregar os olhos nem por um segundo sequer, as imagens do homem morto falando consigo voltavam à sua mente no segundo em que fechava os olhos e um turbilhão de perguntas ecoavam em seus ouvidos como sussurros. Quem era aquele homem de olhos assustadores? Ele quem matou o camponês? E também tinha aquela jóia... um homem tão simples como o do seu sonho não poderia ter comprado uma jóia como aquela, então de quem era ela?

A clarividente só se deu conta de quanto tempo havia passado quando os primeiros raios solares atravessaram as cortinas azuis do seu dormitório, ela soltou um suspiro longo e se espreguiçou o máximo que seu corpo permitia. Finalmente sábado tinha começado, o que significava que teria jogo de Quadribol e seu primeiro dia de treinamento na Ala Hospitalar. Ela tinha passado a porcaria da última semana toda animada para aquele dia e agora levantar da cama parecia uma tarefa quase impossível.

— Apolo deve me odiar mesmo — ela resmungou esfregando o rosto com as mãos. —, e eu achando que era sua filha.

Évora desistiu de vez do seu sono e se apressou em ficar arrumada, naquela manhã ela lavou seus cachos escuros e vestiu as cores da Sonserina, a jaqueta verde e prata que Esben lhe presenteou há alguns anos em um Natal, de acordo com seus irmãos Évora só podia torcer contra a Sonserina se o jogo fosse com a Corvinal, e cá entre nós o time não era dos melhores.

— Por Merlin, você não descansa nunca? — ouviu Genevieve murmurar ainda sonolenta. — Alguém te avisou que hoje é sábado e você pode dormir até tarde?

— Perdi o sono, Gigi — sussurrou não querendo acordar Anthea também. — Você vai ao jogo?

— Fofo da sua parte achar que vou me levantar pra ver um bando de gente que eu nem gosto se matando por uma bolinha.

— Você gosta dos meus irmãos...

— Évora, às vezes eu não gosto nem de você!

A clarividente revirou os olhos, mas foi impossível esconder o sorriso ladino que enfeitava seu rosto ao deixar o dormitório. Como esperado, os corredores de Hogwarts ainda estavam vazios, afinal, o fim de semana era o único momento em que podiam enfim descansar e tudo que ela podia sentir era inveja, sua cabeça pesava de cansaço e os olhos ardiam, mas o silêncio matinal da escola facilitava um pouco as coisas. Naquela hora da matina era improvável que o café da manhã estivesse sendo servido e isso significava que usaria uma gratificação que sua personalidade exploradora aos 12 anos de idade lhe trouxe: a gloriosa cozinha, ela lembrava perfeitamente de como descobriu aquela maçaneta na pêra e a memória a fez abrir um sorriso breve.

Incrível como tudo aos 12 anos parece mais mágico, tudo ainda era muito novo, inclusive aquelas pessoas que a rodeavam.

— Pare de ser idiota, Évora — murmurou para si mesma.

Ela fez cócegas na pêra até se tornar uma maçaneta e no instante em que abriu a porta, o cheiro delicioso de panquecas invadiu suas narinas e fez o estômago gritar, por Apolo, estava faminta.

— Srta. Eckford! — um elfo doméstico a recebeu com um sorriso. Évora não era a favor daquele tipo de trabalho, considerava abusivo e injusto, os bruxos não eram superiores a ninguém e podiam muito bem levantar suas bundas enormes do sofá para realizar as tarefas de casa, pelo menos era isso o que sua família a ensinava há anos. — Se está faminta chegou na hora certa, estamos finalizando as panquecas. Nos desculpe se o café da manhã não foi servido ainda, os alunos não costumam acordar tão cedo no fim de semana...

— Não precisa se desculpar em hipótese alguma, Sr. Aris! E pode deixar que eu mesma me sirvo...

— Não posso permitir, srta., nós elfos-

— Eu sei, mas prefiro apenas que me faça companhia — a clarividente pediu.

Aris pareceu contrariado, mas não iria discutir com ela. A Eckford empilhou em seu prato algumas panquecas com manteiga e um cacho de uvas verdes que até mesmo brilhavam sob seus olhos, Merlin, ela estava tão faminta que poderia engolir aquela cozinha inteira.

— O que faz aqui tão cedo, srta? Hoje deveria ser seu dia de descanso!

— Perdi o sono, Sr. Aris, essas noites têm sido difíceis — aquela não era a primeira vez que ela ia buscar conforto na comida após uma noite de pesadelos, mas que seus sonhos estavam cada vez mais macabros era um fato. — Mas vamos nos animar, certo? Hoje é um dia importante!

— Com o que a Srta. tem sonhado?

Os olhos verdes e redondos do elfo brilhavam de curiosidade, como sempre, vez ou outra Évora abusava um pouco de sua companhia para desabafar sobre sonhos esquisitos e lhe pedia para não contar a ninguém, claro que ele obedecia fielmente.

— Aris, você trabalha aqui há muito tempo, certo?

— Sim, Srta!

— O que sabe sobre a sala secreta de Hogwarts? — a morena não tinha a menor ideia se aquele era mesmo o nome. — Aquela que a porta aparece e some...

— Não muito, Srta. Eckford, nós não ficamos muito nos corredores, mas se qualquer outro elfo souber farei questão de informá-la.

— Obrigada, Sr. Aris, você é um bom amigo!

— Agora preciso retornar aos meus afazeres, se me der licença — disse o elfo, visivelmente desconcertado com as palavras da morena. Évora podia jurar ter visto um rubor subir às suas bochechas magras. 

Ela queria continuar com sua companhia, mas os olhos enormes de Aris meio que entregavam muito do que ele pensava e ele não queria mais ficar sentado com a garota.

— Claro, Sr. Aris, até depois — a Eckford lhe ofereceu um sorriso antes do elfo rapidamente lhe dar as costas.

A corvina se contentou com o café da manhã solitário, não era algo que estava em sua rotina e chegou à conclusão de que precisava fazer isso mais vezes, às vezes o som do silêncio era revigorante. Mas daria alguns sicles para ouvir algum comentário ácido de Genevieve ou Soren que lhe arrancaria risadas mesmo com aquele cansaço sem fim, que Merlin não os deixasse saber disso.

— Sr. Aris, eu vou ter que te implorar por um café preto bem forte e sem açúcar, por favor!

🦋

Évora gostava de acreditar que tudo acontecia por algum motivo, como ser descendente dos deuses antigos lhe dava um propósito, como seu pai se mudou para a Europa anos atrás e até mesmo a vassourada que levou ao se tornar amiga de Anthea e Gigi; mas nada no mundo conseguia justificar o tamanho azar da clarividente ao sair da cozinha e dar de cara com um James Potter muito, muito convencido.

— Ora, ora, o que temos aqui? — o grifinório a cumprimentou com um sorriso convencido brincando em seus lábios enquanto ele bagunçava mais seus cachos escuros. — Está com uma cara de acabada, quem foi que te atropelou?

— Obrigada pela parte que me toca — ela revirou os olhos. — O que faz aqui tão cedo?

— Gosto de me preparar para o jogo, o que me faz notar essa blusa ridícula que está usando. Quando iremos queimar?

— Você sabe que as pessoas que eu mais amo nessa escola estão na Sonserina, não é? — Évora inquiriu com as sobrancelhas arqueadas, rindo leve quando o amigo fez cara de nojo.

— Até onde eu sei, estou vestindo vermelho e dourado, gracinha!

— Não seja tão convencido, gracinha.

Os dois caminharam lado a lado, fazendo questão de importunar um ao outro em cada passo que davam.

— Verde não combina com seus olhos! — o Potter protestou pela milésima vez.

— James, eu fico bonita em qualquer cor-

Um grito não deixou que Évora terminasse de se gabar, ambos trocaram olhares rápidos e arregalados antes de seguirem o som em uma breve corrida. Se o dia da clarividente já tinha começado ruim, agora ele havia acabado de piorar.

No chão, Jade Becker tinha lágrimas finas descendo por seu rosto enquanto o grupo de sonserinos riam ao seu redor. A visão de sua cunhada lufana tão fragilizada fez o sangue da clarividente ferver em segundos, ela não hesitou quando deu passos largos até o garoto Nott - que estava mais perto - e lhe enfiou a mão na cara com gosto. O som do tapa foi alto suficiente para o grupo cessar o riso.

Impedimenta! — ouviu James gritar, ao seu lado Rosier caiu para trás evitando que ele viesse para cima da corvina.

Em segundos, Évora sacou a varinha de suas vestes e pressionou contra o pescoço do sonserino, que agora tinha um brilho de deboche em seus olhos azuis frios.

— Quem diria que a pequena Eckford tem tanta coragem.

— Calado, Nott! — Lucius Malfoy ordenou, as mãos do loiro erguidas em rendimento. — Não vamos fazer algo que podemos nos arrepender...

— Você já fez, Malfoy — James cuspiu, enojado ao proferir o nome do loiro. — Vem, Jade.

Sem tirar os rapazes da Sonserina de sua mira, o Potter estendeu a mão para a loira, que soluçava baixinho, a cena cortou o seu coração. A Becker aceitou a ajuda e em segundos escondeu-se atrás de James, buscando proteção no rapaz. Évora estava mais furiosa que nunca e em sua opinião, seria ótimo ter alguns pacientes para "tomar conta" mais tarde.

— Qual é, só foi uma brincadeirinha inocente! — um garoto de cabelos escuros protestou, parecendo de saco cheio daquela cena. Se sua memória não a enganava, o nome dele era Dolohov. — Nós não temos culpa se a irmã do Marshall é tão fraquinha.

— É melhor você ficar quieto!

— O que está acontecendo aqui?! — a voz grave fez todos se assustar. — Eve?

Era estranho pensar que até para criaturas tão asquerosas de Hogwarts a presença de Esben Eckford era assustadora, ainda mais quando a carranca que ele tinha em seu rosto lhe dava um ar mais sombrio. Quando seus olhos azuis encontraram os escuros de Évora, ela sentiu os pêlos do corpo arrepiarem com a semelhança do irmão com o homem do seu sonho.

Não, não era hora de pensar em uma besteira como aquela, o homem do sonho era um provável assassino, e aquele ali era apenas seu irmão gêmeo furioso.

— Eu fiz uma pergunta!

— Seus amigos imbecis estavam mexendo com a Jade — James quem se pronunciou. — E agora se me derem licença, vou levá-la para longe de gente como vocês.

O grifinório lançou um olhar à clarividente e ela soube o que significava em segundos, aquela conversa não tinha terminado ali; ele passou o braço ao redor dos ombros da loira e a guiou pelo corredor no sentido contrário, não permitindo que ela passasse perto dos sonserinos.

— Évora, solta ele — seu irmão pediu após respirar fundo.

— Você não manda em mim, Esben!

— Obedece seu irmãozinho, Eve — Nott zombou. — Seja uma boa garota, para variar...

A zombaria do sonserino apenas a deixou mais irritada, pressionando a ponta de sua varinha no queixo do rapaz.

— Tib, para com isso — Malfoy pediu, revirando os olhos.

— Não estou nem um pouco afim — ela devolveu, usando do mesmo tom ácido que ele tinha para si.

— Parece que vamos ficar aqui pra sempre então, ou até você ter coragem suficiente para me azarar. O que foi, joaninha? Está com medinho? Aquela sua amiga sangue-ruim te fez fraca?!

Só Apolo sabia o quanto a Eckford odiava quando qualquer outro fora Soren a chamava daquele jeito, para ser honesta ela já estava se incomodando quando Anthea o fazia, mas o que a tirou do sério de vez foi o comentário infeliz sobre Genevieve e isso ela não iria deixar barato. Évora fez o que seu irmão pediu, tirou a varinha de Tibberius Nott apenas por alguns segundos, pois sua mão fechada em um punho se voltou com toda força que tinha no nariz do garoto, ele era centímetros mais alto que a clarividente e mesmo assim a surpresa foi tanta que o rapaz cambaleou para trás segurando o local atingido.

— Mas o que... sua vad- — Tibberius rosnou quando se deu conta do que tinha acontecido, pronto para revidar.

— Nott! — Esben gritou, aproximando-se da irmã e se pondo na frente dela. — Se encostar um dedo na minha irmã eu arranco a pele dos seus ossos! Sai, daqui, Eve, deixa que eu resolvo isso. Vai atrás da Jade.

Évora titubeou por um momento, ela não queria largar seu irmão com aquela roda, mesmo que fossem as pessoas com quem ele andava no dia-a-dia, os olhos de Ted queimavam em cima da corvina com ódio puro, seu nariz já tinha dois filetes de sangue escorrendo pelas narinas até o queixo. Ela não queria que o sonserino descontasse o que ela causou no seu irmão.

— Vai, Eve! — Esben pediu novamente, dessa vez virando para encará-la. As íris azuis perderam aquele fogo frio de quando ele havia chegado e agora lhe transparecia quase tranquilidade, era óbvio que ele queria acalmá-la.

Contra sua vontade, mas preocupada com a lufana, Évora guardou a varinha em suas vestes novamente e alternou o olhar entre seu irmão e os outros rapazes.

— Isso não acabou aqui, Eckford — Nott diz, apontando o indicador para ela.

— Digo o mesmo — a clarividente respondeu, erguendo o dedo do meio ao mesmo tempo que estampou um sorriso sarcástico nos lábios antes de lhes dar as costas.

Ela definitivamente não gostava nem um pouco dos amigos do seu irmão, por que em nome de Apolo ele seria amigo de pessoas que falavam coisas como aquela? Genevieve era uma bruxa excelente, muito melhor do que qualquer um daqueles idiotas jamais seriam, inclusive Nott, que era burro feito uma porta. Évora procurou por James e Jade com os olhos atentos, mas agora os corredores estavam ficando mais cheios e não era fácil localizá-los, até que uma voz conhecida chegou aos seus ouvidos com palavras não muito boas.

— Eu vou matar aquele filho da puta!

— O trabalho já está feito, Black, pode poupar esforços — a Eckford disse, anunciando sua chegada. Os quatro Marotos, como eles gostavam de se chamar, estavam ao redor da sua cunhada que ainda chorava baixo.

Évora quis voltar lá e desferir mais socos contra cada um deles.

— Jade! — a morena correu para abraçar sua cunhada, ela desviou dos rapazes e agachou-se para envolver a menina num aperto. — Eles encostaram em você? O que disseram?

— Não encostaram nela, mas ela não quis contar o que disseram... — Remus contou.

— Eu vou levar ela daqui.

— Quando você diz que o trabalho já foi feito... — o Lupin começou, incerto de como perguntar o que gostaria.

— Quis dizer que ele vai ter que ser muito corajoso para ir até a Ala Hospitalar consertar aquele nariz quebrado, já que a medibruxa hoje sou eu — a clarividente disse como se não fosse nada, dando os ombros enquanto se levantava e puxava Jade consigo. A loira não hesitou em nenhum momento, apenas se deixou ser levada pela cunhada. — Espero que acabem com eles no jogo de hoje! — ela disse olhando para James, mas mais de um Maroto era membro do time, só não gostava de falar com ele.

— Então vai torcer pra gente? — o dito cujo disse com um sorriso faceiro que fez Évora revirar os olhos. — Finalmente um bom gosto, Eckford!

— Eu tenho bom gosto desde que decidi não me misturar com você — rebateu ríspida, mas não houve nenhuma mudança no rosto confiante do Black. — Agora se nos dão licença.

Não esperou que Sirius lhe respondesse, talvez ele nem fosse, mas o incômodo que sentia na boca do estômago sempre que conversava com o rapaz estava começando a dar indícios, era melhor apenas ignorá-lo como sempre. Em completo silêncio, Évora guiou Jade até o jardim do castelo, sabia que a garota adorava a vista do Lago Negro e imaginou que fosse ser um bom calmante para ela; durante o percurso era possível ouvir os outros alunos murmurando sobre elas, especulando o que havia acontecido com uma das garotas mais doces que havia pisado em Hogwarts, mas a clarividente tinha um pequeno palpite.

Jade Becker era a irmã mais nova do seu namorado, uma garota bonita de cabelos loiros e bochechas naturalmente avermelhadas com a personalidade de um urso de pelúcia. Évora amava aquela garota desde o momento que a conheceu na Estação, lembrava-se de como se corroeu de curiosidade quando viu Marshall acompanhado de uma garota fofinha, ele estava todo "orgulhoso" porque sua irmãzinha finalmente estava indo para Hogwarts ficar com ele novamente, mesmo que fosse somente um ano e meio mais velho. Mas a relação deles mudou de forma drástica quando o Chapéu Seletor gritou a Casa dos texugos, Marshall não ficou mais tão orgulhoso, afinal eles eram Beckers: uma longa linhagem de sonserinos. Tinha certeza que os amigos do seu irmão estavam zombando em relação a isso, Évora já estava insistindo há meses para o namorado conversar direito com a irmã dele e esperava que o ocorrido fizesse ele pensar.

— O que foi que aquele trasgo disse? — inquiriu após longos minutos de silêncio, deixando-a apenas aproveitar a vista agradável.

— O de sempre — a loira deu os ombros, desanimada.

— Como assim "o de sempre"?

— Acha que é a primeira vez que aqueles bocós falam algo sobre eu ser da Lufa-Lufa? — riu sem graça. — Ou sobre como minha família deve estar desapontada e blá, blá, blá?! Eu sei que eles estão errados, mas fico magoada do mesmo jeito.

— Eles são só um bando de imbecis, Jadie, não dê ouvidos, ok? Você é uma garota maravilhosa e mesmo que prefira passar mais tempo com as pessoas do seu ano, eu sempre estarei aqui para o que precisar.

Jade soltou um riso fraco e negou com a cabeça algumas vezes antes de voltar suas íris azul céu para Évora.

— O problema não é esse, Évora, o que realmente me magoa é saber que meu irmão anda com pessoas como aquelas e mesmo que ele não fale atrocidades em público, sobre o que acha que eles ficam conversando? Meu irmão, seu irmão... uma hora ou outra você vai perceber que eles são todos iguais.

Mais uma vez o silêncio reinou entre as duas amigas, por inúmeras vezes Évora tentou encontrar uma forma de refutar o que sua cunhada dizia, mas não foi capaz. Ela considerou as palavras de Jade e se chamou de estúpida algumas vezes por não ter considerado isso antes, sempre interpretou a aversão de Soren por Marshall apenas como ciúmes, mas e se havia algo a mais? Ele aguentava a presença do Becker, mas era sempre o primeiro a se mandar quando o restante do grupo chegava. Soren podia ser muita coisa, mas não era um escroto e não suportava ficar perto de um. Era realmente tão cega? O gosto ácido do suco gástrico invadiu sua boca com as vozes que sopraram em seus ouvidos.

"Garota tola, vamos matar você...", "mate todas elas...", "nós vamos matar todas que se dizem filhas do Sol..." ela não conhecia aquela voz, nunca tinha escutado em toda sua vida, mas o som dela foi suficiente para tirá-la de órbita em segundos. O jornal que seu avô lhe enviou passou pela sua cabeça, a professora Hewson era só a primeira, ela não era uma morte aleatória... iriam caçá-las.

— Évora? — ouviu a voz de Jade soar longe. — ÉVORA!

Tarde demais, seus olhos pesaram e cada músculo do seu corpo amoleceu e tudo apagou.

🦋

— O que aconteceu?

— Eu não sei, ela só apagou do nada!

— Pode ter sido o estresse...

— Estresse pelo que?!

— Ela brigou com o Nott hoje.

— E por que ela faria uma coisa dessas?

— Porque ele não calava a boca — Évora resmungou baixo. — igual vocês.

Ela ainda não estava cem por cento acordada, mas era difícil não despertar com aquele aglomerado de vozes incessantes no pé do seu ouvido. A clarividente piscou algumas vezes na tentativa de se localizar, foi rápido notar as paredes claras e cortinas de voil branco nas janelas, estava na Ala Hospitalar. Não pôde evitar de se sentir estúpida por seu feito, era para ela estar lá como auxiliar e não como paciente; recordava-se perfeitamente do que tinha acontecido antes de apagar, do que escutou, era diferente dos sonhos que ela já teve e soava como se estivesse ali presente.

Sua mãe sempre lhe explicou como funcionava ser uma clarividente, elas podiam ver tudo, mas as coisas nunca chegavam com clareza, isso incluía: sussurros aleatórios, sonhos com metáforas, arrepios repentinos e outras coisas que pessoas normais consideraram no mínimo estranhas. Existiam momentos que ficava difícil distinguir o que era passado, presente e futuro, essas coisas iam se aperfeiçoando com o tempo e certo treinamento, apesar de ter nascido com tais habilidades, elas só começavam a florir durante a puberdade o que significava que Évora era consideravelmente nova na coisa e ainda não tinha perfeito controle.

Ela olhou ao redor buscando pelos donos das vozes que a acordou e não foi uma surpresa dar de cara com seus irmãos, namorado e cunhada todos com semblantes aliviados, mas ainda com cenho franzido de preocupação.

— Bem-vinda de volta ao mundo dos mortos, joaninha.

— Que delicadeza, Eckford — Marshall ironizou, Évora viu os olhos do seu gêmeo se revirar tanto que suspeitou ter sido possível enxergar o próprio cérebro. — Você está bem, querida?

— Estou — a garota resmungou, fazendo um pequeno esforço para sentar-se na cama hospitalar. — Como foi o jogo? Já acabou?

— Ah sim, você desmaia e sua primeira preocupação é um com um jogo idiota — a voz de Madame Pomfrey se fez presente pela primeira vez. Ela vinha em sua direção com um copo cheio de líquido azul em mãos. — Beba! Vai se sentir melhor.

Évora conhecia a poção, sabia como prepará-la perfeitamente, mas também sabia do gosto estranho que ela tinha e não economizou na cara feia ao virar o copo inteiro em praticamente uma golada.

— Você esperava o que? Suco de abóbora? — a medibruxa riu. — Logo estará se sentindo novinha em folha, se quiser pode ir para seu dormitório descansar.

— Não! — a clarividente quase gritou. — O jogo já aconteceu ou não, droga? — insistiu na pergunta, agora voltada aos seus irmãos e namorado, visto que esses trajavam o uniforme do time.

— Começará em alguns minutos — Esben respondeu.

— E você não deveria estar lá? — a morena arqueou as sobrancelhas, seu irmão era capitão do time afinal.

— Você é mais importante que um jogo de Quadribol, Évora — o sonserino respondeu como se aquilo fosse óbvio, dando os ombros.

— Se a galera da sua Casa já não era minha fã antes, agora então...

— E quem liga?! — Soren interrompeu. — Mas agora que você está acordada e bem, podemos ir lá e acabar com aqueles idiotas!

Os três rapazes sorriam animados, se a corvina estava consciente eles podiam jogar sem se sentirem culpados.

— Te vejo mais tarde, meu bem — Marshall foi o primeiro a se despedir, selando sua testa rapidamente.

— Cuide-se primeiro antes de ajudar os outros ein, joaninha!

— Se alguém do meu time se machucar você deixa pra Madame Pomfrey, eu os quero inteiros para o próximo jogo.

— Valeu pela confiança, Esben — a morena ralhou ironicamente, revirando os olhos, mas seus irmãos e namorado já haviam partido.

Quando as portas da Ala Hospitalar se fecharam, a paz de um silêncio acolhedor se instalou no ambiente. Apenas os passos leves da medibruxa eram escutados, ela andava para lá e pra cá preparando tudo para quando alguns alunos chegassem machucados pós jogo, em dias comuns de Quadribol aquela preparação toda não era necessária, mas se tratando da Sonserina e Grifinória era sempre bom prevenir.

— Nos deixe ajudá-la, Madame Pomfrey — a voz de Jade se fez presente pela primeira vez em minutos.

— Ah, queridas, não será necessário esse auxílio, vocês podem assistir ao jogo... você também, Évora, os garotos só chegam aqui quando tem um vencedor — a mulher disse sem nem ao menos lhes direcionar o olhar.

— Mas... — a clarividente hesitou, com medo da mulher tentar dispensá-la mais uma vez.

— Vá se divertir um pouco, garota, e depois que anunciarem um vencedor quero você nessa Sala. Agora vão! Vão! — a mulher gesticulou com as mãos na direção da porta. — Sejam jovens por um tempo, pelo amor de Merlin

Évora semicerrou os olhos, sentindo que a indireta era mais para ela do que Jade, mas decidiu não falar nada. Ela sabia que era uma "nerd" insuportável que passava mais da metade do tempo estudando, tinha um histórico escolar impecável, suas notas sempre as melhores da turma, ganhou cargo de monitora – que no fundo odiava com todas as forças, porém aceitou pela honra –, e naquele ano ela ainda havia sido monitora chefe. Chegou até mesmo a ser chamada para o Clube do Slug, teve que dispensar educadamente após descobrir alguns nomes que estavam na panelinha do seu professor de poções. Sempre soube que se queria mesmo se tornar médica então teria um caminho árduo pela frente, só gostaria de ter se preparado melhor para as abdicações que teve que fazer. E uma delas era jogo de Quadribol.

A Eckord tinha experiência nula no esporte e como espectadora também não era grande coisa, pois aproveitava o Castelo vazio para estudar mais, Genevieve costumava dizer que era uma das únicas coisas que a clarividente não era boa. Mais uma das bobagens de Gigi, entretanto, ela era de fato um desastre e até ficou um pouco feliz pela ordem da medibruxa, mesmo com sua indireta bem direta, e como estava contando com o compromisso de passar a tarde toda na Ala Hospitalar não planejou nenhum tempo de estudo para o sábado então poderia enfim acompanhar um joguinho.

— Não fale com ele sobre o que aconteceu — a voz suave da sua cunhada arrancou seus devaneios alegres.

— O que? — Évora inquiriu confusa, franzindo o cenho para a mesma.

— Marshall. Não quero que conte nada pra ele, Évora, isso morre entre nós!

— James e os outros meninos sabem, vai ser questão de tempo até que-

– Não importa! — Jade interrompeu, suas bochechas mais vermelhas que o normal indicavam sua irritação, ou vergonha, Évora ainda não tinha certeza. — Contanto que você não falei nada.

Ela não estava de acordo com o pedido da lufana, tinha que conversar sobre o que os amigos do namorado estavam fazendo com a irmã dele e se o Becker não desse um jeito nisso, ela mesmo iria. E além disso, ficou mais que ofendida com a ênfase, por que algum dos Marotos podiam fazer algo para ajudar e ela não? Mas Jade não parecia mais inclinada a discutir naquele momento, ela apressou o passo no instante em que colocaram os pés na grama. A clarividente seguiu a cunhada enterrando uma ansiedade que crescia dentro do peito, ela não queria parecer uma completa maluca quando chegasse às arquibancadas só que quanto mais se aproximava do campo e a gritaria das torcidas chegavam aos seus ouvidos foi ficando mais difícil de controlar a euforia e o largo sorriso em seu rosto.

— E NOTT MARCA MAIS UM PONTO PARA SONSERINA! LARÁPIOS!  — uma voz conhecida gritou durante a narração do jogo. — Desculpa, Professora! — o som era de um murmúrio em um literal megafone, risadas e vaias foram escutadas vindas de ambas arquibancadas.

— Quem diabos está narrando? — a morena inquiriu, franzindo o cenho por reflexo.

— Acho que é o Sirius — Jade respondeu, ela parecia confusa também já que até onde sabiam, o Black era do time há anos.

Elas se apressaram para subir o restante das escadas, curiosas para saber quem estava ocupando o lugar de apanhador da Grifinória naquele dia e quando se viram naquela imensidão vestida de verde e prata, o sorriso de Évora retornou ao seu rosto. Não queria que a Sonserina ganhasse aquele dia (Apolo proibisse seus irmãos de saberem disso), aqueles alunos mereciam passar o resto da semana sendo zombados por perderem para o principal rival, mas a alegria de todos ao seu redor a contagiou em instantes, não se lembrava de ter participado de um jogo tão animado.

— Olha só, James está como apanhador da Grifinória hoje! — Jade gritou no pé do seu ouvido, apontando para um dos jogadores de vermelho.

Era verdade, Potter não estava ocupando a costumeira posição de artilheiro, coisa que ele era excelente, e sim no lugar de Sirius.

— KATE JOGA A GOLES PARA MCKINNON, QUE GRAÇAS A MERLIN DEVIA DE UM BALAÇO JOGADO POR ECKFORD UM! ELA DESVIA DE MAIS UM IMBECIL DA SONSERINA E... PONTO PARA GRIFINÓRIA! — o garoto berrava em plenos pulmões assim como os torcedores da sua Casa, não tinha ideia de quem foi o responsável por colocá-lo como narrador, mas qualquer um tinha o mínimo de noção que ele seria cem por cento parcial. E isso deixava as coisas mais interessantes. — E EU LÁ VOU SABER QUAL DELES É, PROFESSORA?!

Évora agradeceu pela narração, era difícil acompanhar tudo o que acontecia ao mesmo tempo e tinha que admitir que Sirius era muito bom naquilo, ele soltava as palavras com uma rapidez invejável. Aquele era um dos hobbies favoritos do Black, então por que ele não estava jogando num dia tão importante? Ela teria que engolir aquela curiosidade à seco.

— PARECE QUE JAMES POTTER FINALMENTE AVISTOU O POMO! QUERIA SABER QUEM FOI O MALDITO IDIOTA QUE CONCORDOU COM ESSE CEGO SER APANHA... PROFESSORA! — McGonagall tirou Sirius do megafone com os lábios crispados, de longe Évora podia vê-la dando um puxão de orelhas, furiosa com o rapaz. No jogo, Potter parecia mesmo ter encontrado o pomo de ouro, pois o rapaz mergulhou rapidamente a ponta de sua vassoura com seus olhos castanhos fixos em uma bolinha dourada rápida o suficiente para Évora se esforçar para conseguir enxergar.

O apanhador da Sonserina era Evan Rosier, e ele não ficou para trás, tratou logo de seguir o mesmo caminho que James fazia, mas sua vassoura não parecia ter a qualidade tão boa quanto a do Potter e talvez seria esse o motivo da Casa verde e prata perder naquele sábado. Soren, que também era um dos batedores, tentou atingir o apanhador novo dos adversários com um balaço, mas James conseguiu desviar usando Nott como atrativo e seu plano funcionou, pois a bola destruiu a vassoura do sonserino. Évora assistiu Tibberius cair xingando e seu lado mais profissional gritou de desespero, já que o jogo não parou mesmo quando o garoto enterrou a cara na areia.

Tudo acontecia rápido demais, os artilheiros se esforçavam para marcar mais pontos enquanto nenhum dos apanhadores conquistavam o pomo, agora o time da Sonserina se esforçava ainda mais ao perder um de seus jogadores e o goleiro dava tudo de si. No caso, Marshall, ele ocupava a posição desde o quarto ano e era muito bom. Seu namorado gritou alguma coisa para o time e apontou para a goles nas mãos de Marlene McKinnon mais uma vez, Dolohov usou de seu tamanho e músculos para voar ao lado lagarta e empurrá-la com seus ombros com uma força desmedida, foi possível ver a expressão dela se contorcer em dor, mas a grifinória não largou a goles para o outro artilheiro sonserino que voava embaixo - esperando a bola cair, provavelmente -, ela conseguiu direcioná-la para seu companheiro, e agora estavam cada vez mais próximos dos aros.

Do outro lado do campo James e Rosier ainda disputavam pelo pomo, mas quando o braço do grifinório se estendeu um pouco mais, gritos de protestos se iniciaram na arquibancada dos leões e demorou alguns segundos para Évora entender o que estava acontecendo. Em outra vassoura, Nott se colocou no jogo novamente ignorando o apito da Madame Hooch ou qualquer protesto dos torcedores, o jogadores da Grifinória não se deram o trabalho de parar pois sabiam que os rivais tomariam vantagem daquela distração, no entanto, o que Nott fez em seguida foi definitivamente o motivo para a Sonserina perder.

— Eve... — Jade chamou baixinho quando Tibberius voou na direção de Soren e arrancou o bastão da mão do garoto. Quando seu irmão tentou protestar, o artilheiro usou para bater em suas costas com força antes de ir atrás de um dos balaços, pela segunda vez no dia Évora sentiu vontade de matar o garoto com suas próprias mãos.

O urro de dor de Soren só não foi mais alto que o coro de choque das arquibancadas. A clarividente assistiu o rosto de Esben se contorcer de surpresa pela invasão para repulsa e ódio em segundos, mas não deu tempo para ele tomar atitude em campo, pois Tibberius rebateu a bola com força na direção de James e dessa vez ele não teve atenção suficiente para desviar. A goles de Marlene atravessou o aro no mesmo instante em que o balaço atingiu seu amigo com força na costela e o fez gritar de dor, despencando lá de cima no mesmo instante. Rosier conseguiu o pomo, mas o jogo não importava mais.

Jade soltou um grito agudo ao seu lado quando o Potter atingiu o chão num impacto seco, Évora estava atônita demais para expressar qualquer reação, a garota mal conseguia sentir as próprias pernas.

O apito da Madame Hooch soou mais forte dessa vez e em uma fração de segundo todos do time já estavam no chão, Évora podia vê-los discutindo, porém era impossível ouvir com todos falando ao seu redor e só piorou quando Sirius se livrou dos olhos atentos de McGonagall e recuperou o seu megafone.

— SEU FILHO DA PUTA, DESGRACADO! VAI SE VER COMIGO, NOTT! TÁ ME OUVINDO?! VOCÊ TÁ FODIDO — o Black berrava em plenos pulmões como se o aumento sonoro já não fosse suficiente.

Uma garota ajudou James a se levantar e o Maroto nem mesmo pensou duas vezes, com uma das mãos apertando as costelas e rosto contorcido em dor, ele marchou na direção de Nott gritando algo enquanto apontava o dedo no rosto do garoto, que exibia um sorriso orgulhoso como se não tivesse apanhado de uma garota bem menor que ele mais cedo, mas não foi o Potter quem desferiu o primeiro soco, foi Esben. Soren ainda segurava a região da lombar, assim como o grifinório, no entanto seu irmão gritava de dor e por isso o mais velho estava resolvendo com as próprias mãos.

O que estava uma gritaria ficou mil vezes pior, um coro de "briga, briga, briga" foi puxado pelos alunos e Sirius Black berrava em seu megafone agora, a vice-diretora não se encontrava mais ao seu lado.

— BATE NELE MESMO, ECKFORD! ARREBENTA!

Évora ainda estava em choque, só que foi impossível esconder o pequeno sorriso de satisfação que brotou em seus lábios ao ver seu irmão gêmeo derrubando Tibberius Nott no chão para esmurrar a sua fuça. Os companheiros de time tentaram separar a briga, mas ninguém parecia inclinado a se aproximar muito de Esben que parecia estar soltando fogo como um dragão de tão furioso. E quando Marshall finalmente conseguiu segurar Esben pela cintura, algo que ele falou fez James se enfurecer novamente, pois o Potter esqueceu da dor que sentia e no mesmo instante desferiu um soco no namorado da clarividente. Madame Hooch não sabia se continuava socorrendo seu outro gêmeo ou ajudava a separar a briga, pobre Professora...

— Parece que eu escolhi começar na Ala Hospitalar no dia certo — comentou no pé do ouvido de Jade, fazendo-a rir.

— Acho melhor você ir!

— Só se me contar como terminou depois.

— Mas é óbvio, Eckford — a loira encolheu os ombros com um sorriso faceiro. — Tudo em nome da fofoca.

Antes que Évora estivesse afastada o suficiente do campo, ouviu o grifinório do megafone gritar:

— QUEBRA ELE, JAMES! QUEBRA ESSE BOSTA!

🦋

— Melhor a senhora se preparar, Madame Pomfrey!

— Para o que, querida? — a mulher franziu a sobrancelha confusa e preocupada.

— Caos — foi a única coisa que Évora disse quando chegou à Ala Hospitalar, poucos minutos antes das portas se escancararem com uma onda de alunos com os rostos cheios de sangue berrando um com os outros.

A presença da Professora McGonagall deixou a clarividente mais tranquila, apesar da angústia que apertava seu peito ao ver seus irmãos daquele jeito, bom, Soren no caso porque Esben tinha apenas os punhos ensanguentados e feridos pelos socos que desferiu contra o rosto de Nott, esse no entanto, não se encontrava no melhor de seus dias. O sonserino tinha pelo menos um corte extenso no supercílio de ambos lados do rosto e seu nariz estava torto e muito ensaguentado, de longe era o pior entre os rapazes. Seu namorado não parecia tão mal apesar de alguns filetes de sangue escorrendo pelo rosto e estava óbvio que tinha perdido a briga para James, por um motivo desconhecido ela se sentiu muito mais aliviada por seu amigo estar bem. Soren permanecia com as mãos nas costas, seu rosto vermelho contorcido em dor, a visão fez Évora desejar que Esben tivesse feito ainda pior com Nott. Mas a presença da vice-diretora não era suficiente para fazê-los calar a boca, o quarteto continuava berrando uns contra os outros como um bando de animais.

— Já chega! — a voz da bruxa sobressaiu aos gritos dos rapazes. — Vocês parem com essa gritaria agora mesmo! Eu não vou pedir de novo! — a expressão de McGonagall estava longe de feliz, seus lábios crispados em uma linha fina e olhos semicerrados fizeram Évora engolir seco e o assunto nem era com ela. No mesmo segundo os quatro rapazes se calaram.

— Nós não admitimos esse comportamento em nossa escola! — a mulher afirmou, varrendo seus olhos arbitrários pelos garotos. — Após receberem os devidos cuidados, quero ver todos na sala do Diretor Dumbledore. A Srta. Eckford pode guiá-los — a menção de seu nome a deixou quase surpresa, não imaginou que sua professora de Tranfiguração tivesse notado sua presença silenciosa na sala.

— Évora, querida, pode limpar os ferimentos mais superficiais, por favor? — a Madame Pomfrey pediu no instante em que a vice-diretora os deixou.

— Claro, Madame Pomfrey.

Sem sombra de dúvidas, a primeira pessoa de quem ela cuidou foi Esben, ele não tinha ferimentos graves, muito pelo contrário, mas era pelo simples fato de se importar mais com ele. A garota separou um kit com algodões e uma boa quantidade de poção limpa-ferida antes de ir até a maca que seus irmãos dividiam.

— Esben, diga à ela que não a quero como medibruxa — Soren resmungou quando viu sua irmã se aproximando. Évora não o respondeu de primeira, apenas fez uma careta para ele — Por Merlin, eles não têm amor aos estudantes mesmo...

— Não vou cuidar de você, Soren — a clarividente suspirou revirando os olhos. — Vou cuidar do Esben.

O comentário pegou o mais velho de surpresa, seus olhos arregalados por segundos o denunciaram.

— Eu não preciso ser cuidado!

— Descanse em paz, irmão — Soren murmurou de olhos fechados com força, dramaticamente.

— Ah, por Apolo, fiquem quietos vocês dois.

Ela encharcou uma bola de algodão com a poção e segurou a mão de Esben com firmeza, depositando o líquido com cuidado nas articulações de seus dedos e o assistiu segurar um resmungo de dor, a poção fazia o local ferido fumegar e arder – mas era muito eficiente e fechava o ferimento em instantes –, ela não via a hora de jogar no rosto de Tibberius Nott.

— É por isso que você não queria ser curado, frango? — a garota o provocou, arrancando um riso fraco de Soren, que agonizou segundos depois. Foi a vez de Esben sorrir.

— Fica rindo mesmo, otário.

Seu próximo paciente foi James, ele não estava de todo mal, mas quando o Maroto relatou dores nas costelas e tirou a camisa do time para Évora dar uma olhada na situação, ela não conseguiu disfarçar. Uma grande mancha vermelha ocupava praticamente toda a região e a garota imaginou que se não fosse tratado logo iria ficar um roxo profundo.

— Está feio não é? Maldito Nott — o grifinório suspirou quando ela demorou muito os olhos em seu machucado. — Eu devia ter batido nele antes do seu irmão.

Évora riu e tirou aquele bico emburrado de James no instante em que colocou um algodão no corte do seu lábio.

— Essa poção foi inventada para meio de tortura, por Merlin! — o garoto protestou quando ela se afastou, ele passou a língua no canto do lábio e onde havia um corte há poucos minutos agora não tinha nem cicatriz.

— Você e o Esben são dois bundões, se não aguentam uma poção de cura por que se metem em briga?

— Porque aquele imbecil me acertou um balaço com maldade, arrebentou as costas do seu irmão...

— Não estou dizendo que Nott não merece, James — interrompeu sua reclamação, e quando o brado dolorido do dito cujo chegou aos seus ouvidos, a curva de um leve sorriso moldou os seus lábios —, o que eu quero saber é porque bateu no Marshall.

A expressão de ironia de James se converteu em desprezo em poucos segundos e ele parou de fitá-la para encarar algo atrás dela, ao seguir os olhos castanhos do amigo, Évora se deparou com seu namorado sentado ao lado de Nott, ambos rindo como melhores amigos – que talvez fossem mesmo –, a onda de questionamentos sobre Marshall a atingiu mais uma vez, mas quando os olhos azuis do sonserino encontraram os seus do outro lado da sala e ele abriu um sorriso brilhante, como sempre fazia quando a via, Évora deu-lhe mais um benefício da dúvida. Talvez o amor deixasse as pessoas cegas mesmo, era inegável.

— Quando você abrirá seus olhos, Evie? — o Potter inquiriu, sua voz soando suave como se não quisesse irritá-la. — Sirius era seu melhor amigo e você lhe deu as costas sem mais nem menos para namorar o Becker?!

O arco-íris que havia se formado entre a troca de olhares de Évora e Marshall se desfez em segundos e deu lugar à uma tempestade em sua cabeça, ela voltou de supetão seus olhos negros furiosos para o grifinório e quis devolver o corte em sua boca.

— Agora deu de todo mundo dar pitaco sobre o que não sabe — reclamou estalando a língua. — Você nem ao menos conhece o Marshall! E eu não parei de ser amiga do Sirius por causa dele... — murmurou a última parte olhando de soslaio ao redor, não queria ninguém ouvindo aquela conversa.

— Então por que parou de falar com ele? Por que se afastou de todos nós? — o Potter inquiriu, seus olhos castanhos tinham um brilho confuso e o cenho dele franziu. — Você troca três palavras comigo desde que começou a namorar aquela lagartixa da Sonserina e sempre está ansiosa para se livrar de mim ou qualquer um de nós... agora mesmo você está maluca para me dar as costas, Évora!

— Não me afastei de você, estou aqui, não estou? — a clarividente cruzou os braços na frente do peito e evitou contato visual, envergonhada por mentir na cara dele. — E eu não fujo de vocês, só não temos mais o que conversar.

— Nem se dê o trabalho de mentir! — James quase vociferou, a surpresa fez a clarividente arregalar um pouco os olhos. — Você sempre olha para os pés quando está mentindo e exprime os lábios até suas covinhas aparecerem. Está fazendo isso nesse exato momento!

Em segundos a morena voltou o olhar para o grifinório, estava genuinamente surpresa, em nenhum momento esperou que o Potter fosse reparar tanto assim em seus pequenos detalhes e manias, sua expressão confusa deve ter lhe entregado pois o garoto logo tratou de se explicar.

— Não sou eu quem fica te olhando o tempo todo, se é o que está pensando.

A realização chegou em segundos e não conseguiu conter o revirar de olhos.

— Eu vou cuidar dos que precisam de mim, nos falamos outra hora.

Eu preciso de você! — o cacheado protestou apontando para suas costelas.

— Isso é com a Madame Pomfrey, James, infelizmente não posso apalpar suas costelas provavelmente quebradas e te causar uma onda de dor. Nos vemos depois.

— Essa conversa não acabou!

Ouviu seu protesto quando lhe deu as costas, por Merlin, ela não teria paz tão cedo com aquele grifinório em seu encalço. A próxima pessoa de quem ela cuidaria era seu próprio namorado e por algum motivo, ela não estava muito ansiosa para chegar até ele, bom, o motivo tinha nome e era Nott, a Madame Pomfrey já tinha finalizado os cuidados no sonserino, mas sua aparência ainda estava longe de boa. Esben tinha feito um trabalho dedicado. Évora engoliu o gosto amargo que cresceu em sua boca e caminhou devagar até onde os dois garotos estavam, ambos se calaram no instante em que ela se aproximou que a fez franzir o cenho, Marshall estava de segredo com aquele garoto? Ela estava precisando ter uma conversa muito séria com seu namorado depois que tudo isso acabasse.

— Olha só quem finalmente veio cuidar de mim — o loiro sorriu, mas seu rosto espelhou a dor dos cortes se esticando. — Ficou muito tempo com o Potter, não acha? — Marshall diz olhando por cima de seu ombro crispando os lábios em desagrado, Évora imaginou que James estivesse olhando na direção deles com a mesma expressão. — Deveria estar só comigo.

— Estou aqui agora, não estou? — respondeu simplista, contendo um suspiro cansado em seu peito.

Marshall esticou os braços para aninhá-la em um abraço, mas a clarividente o afastou. Sua reação fez o garoto franzir o cenho confuso, porém não o deixou falar nada e pressionou uma bola de algodão embebida em poção nos ferimentos do namorado. E fitar os olhos azuis de Marshall durante aqueles longos minutos em que ela cuidou dos seus cortes fez sua consciência questionar tantas coisas, todo mundo falava mal dele, por que só ela encontrava as coisas boas? Bom, Esben o tinha como amigo de infância, mas fora os sonserinos, ninguém gostava do Becker. Nem mesmo Soren ou a própria irmã, todos queriam distância, por que ela insistia em ficar?

——— AUTHOR'S NOTES

Boa noite, amores! Como vão?
Escrevi esse capítulo com muito carinho e decidi adiantá-lo apenas para dizer que os próximos capítulos podem demorar um pouquinho (não me matem), porque quero ter uma margem de capítulos escritos (coisa que eu já devia ter feito antes de publicar). Prometo que vai valer a pena!
Espero que tenham gostado, me contem o que acharam! Sério, leitor fantasma desanima muito e eu realmente não quero broxar com essa fic, ela é incrível.
Até mais...

Com amor, Lily

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