
ᥫ᭡ 020
POR SORTE — E POR MEIO DE ameaças — eu fiquei o resto do fim de semana inteiro sem mais piadinhas da dupla dinâmica com quem estou dividindo o quarto. Nós fomos ao cinema ontem à noite com a mamãe e fizemos as pazes, eu estava de bom humor. Quando voltamos para casa após o jantar, Seungmin, Felix e eu fizemos um mini campeonato de videogame que acabou lá pelas quatro da manha. O que quer dizer que nenhum de nós foi visto de pé, antes do meio-dia. Meu plano para evitar caminhadas foi realizado com sucesso.
Seungmin até tentou insistir em remarcaremos para às 17:00h, mas eu já tenho planos e Felix deixou claro o seu ponto de vista quando disse: "Nem morto!". Sendo assim, os dois vão ficar de bobeira em casa enquanto minha mãe não chega do hospital e eu não volto do meu compromisso. Mas, como ainda é cedo, eu fico com eles na sala, nós assistimos à algumas animações, comendo pipoca amanteigada e outra caramelizada que eu mesma fiz. Estava tudo tranquilo e na mais perfeita ordem, até Seungmin começar a falar.
— Jiyoon, sobre aquilo que eu estava te falando ontem... — Kim retoma o assunto sem conteúdo sobre Hyunjin, tudo o que eu não queria pensar ou falar.
— Ah, não! — eu brigo com ele. — Nós estávamos indo tão bem sem vocês me enchendo a paciência por causa dele.
— Por favor, escuta o que eu tenho a dizer.
— Tudo bem, pode falar — resolvo ouvir o que ele tem a dizer, espero não me arrepender.
— Ninguém sabe disso, Yoon — Seungmin fala e eu entendo como um pedido para que não saia daqui. — Hyunjin é uma pessoa legal, eu juro — ele dá a sua palavra. — Ele só está passando por um momento muito muito difícil, acho que não saber como lidar com isso pode estar fazendo ele descontar em você — ele me explica.
Eu entendo a hipótese, todas as pessoas tem os seus próprios problemas. Mas isso o dá o direito de falar comigo de tal modo? Eu penso que não. Também tenho os meus problemas e não desconto nele. Se brigo com Hwang, é por ele fazer isso comigo primeiro, não para jogar os meus problemas nele.
— Seung, isso não é justificativa. Todos nós passamos por momentos difíceis, mas nem por isso andamos jogando nossos problemas sobre os outros.
— Você não está entendendo a seriedade disso. Não é qualquer coisa, é uma barra muito pesada — ele tenta arrumar uma justificativa. A parte ruim de Seungmin ser amigo de nós dois é que ele vai viver tentando ser um mediador, pensando em como pode consertar a nossa relação, para ter um bom convívio dos dois lados.
— E o que seria? — pergunto. Se há um motivo, então que seja plausível.
— Eu o prometi que não contaria a ninguém — ele se nega a esclarecer. Em seguida, pedindo: — Mas, por favor, por mim, seja um pouco mais compreensiva com ele. As coisas pelas quais ele está tendo que passar agora não é para qualquer um. Eu não deveria nem te dizer isso, mas senti que precisava.
— O que você quer que eu faça? Não posso somente abaixar a cabeça e aceitar todas as palavras de ódio — deixo claro o meu ponto de vista. — Eu não sou submissa, não vou deixar ele me tratar assim.
— Deixe a situação comigo, okay? — ele pede. — Eu falarei com ele.
— Seungmin, quando eu estava apaixonada por ele e você sabia, nunca pedi que o contasse nada, parque não queria ninguém se metendo nos meus assuntos. Como um bom amigo, você concordou e se manteve calado. Eu quero que continue assim, não quero que fale com ele.
— Jiyoon, por favor, eu tenho plena certeza de que posso resolver isso — ele diz, confiante de que é possível. — Me deixe conversar com ele, garanto que não falarei mais que o necessário.
— Seungmin...
— Todos vocês me dizem seus segredos como se eu fosse o psicólogo da turma e eu os guardo bem seguros a minha vida inteira. Você me conhece, não falarei nada sobre o que você sente, ou já sentiu. Me deixe tentar resolver isso para você uma vez na vida. Pode ser? — ele pede, está dando o seu máximo para tentar me convencer. — Enquanto isso, tente deixar algumas coisas passarem. Eu não concordo com as atitudes dele, mas ele precisa de um pouco de empatia de alguma parte.
— Tudo bem, eu vou fazer vista grossa — concordo sabendo que levaria, pelo menos, mais uma semana inteira para fazer o Kim mudar de ideia.
— Obrigado — ele agradece sorrindo outra vez.
— Já que estamos falando sobre ele... — Yongbok abre a boca. Ótimo, o papo vai continuar sendo sobre Hyunjin. — Yoon-ah, o que foi aquele barraco na frente da sala? — ele interroga, curioso. Com a presença do inspetor, os alunos ficaram intimidados de comentar. — Eu não te perguntei antes porquê você estava de cabeça quente.
— Ah, nem me lembre — bufo irritada. — Você acredita que ele terminou com a Yujin e por algum motivo ela pensa que eu tenho relação com isso?
— Acredito — Felix assente. — Digo, não. Como seria possível pensar algo assim? — ele corrige depois que o encaro de cara feia.
— Ela me parou para discutir a vida amorosa dela, como se eu tivesse algo com isso.
— Para ser sincero, eu nunca gostei dela — meu irmão conta. — Gente que sempre parece bonzinho demais nunca é alguém verdadeiramente bom. Você sabe, em geral, nos filmes, o supervilão é alguém que você não desconfia, a pessoa que parece mais benévola.
— Você tem razão — concordo. — Mas não acho que nesse caso seja para tanto. Acho que Baek Yujin só estava muito emocionalmente dependente, não é culpa dela. Mas agora chega de falar dos dois. Ah, eles se merecem! — eu fico de pé, jogando a almofada do sofá no meu irmão. — Vou tomar um banho.
Eu saio da sala e deixo os garotos sozinhos, vou ao banheiro e me apresso a entrar debaixo d'água. Ligo o chuveiro e deixo as gotinhas de água sairem, assim como os pensamentos sobre Hyunjin fazem da minha mente. Tenho algo melhor para pensar, o tão esperado encontro com o meu melhor amigo virtual. Empolgação e aflição são dois impulsionadores de reflexão para mim.
Depois dos milhares de cenários que criei em minha mente durante o banho sobre como tudo acontecerá, passei a pensar nisso enquanto seco o cabelo também. Crio hipóteses, monto cenas e faço uma verdadeira fanfic no interior da minha mente. Quando acabam as boas cenas, imagino as de terror. Fico amedrontada.
Durante todo este tempo, venho pensando em Wangja no sentido literal, como um verdadeiro príncipe, mas ainda não tinha passado pela minha cabeça a ideia de que esta pode ser a pior decisão da minha vida. Quando penso sobre isso, não falo somente sobre a nossa relação poder ser estragada já que sabemos excessivamente da vida um do outro, mas sobre ele poder ser um sequestrador, ou no pior caso, um Serial Killer.
Pode ser — e espero — que seja bobeira minha. Eu sei quem ele é. Conhecer as feridas de alguém é bem mais do que conhecer a parte física, estou certa disso. Eu converso com o garoto fazem cinco bons anos, não tenho do que temer, espero. É claro que podemos nos enganar e que situações assim são extremamente perigosas e não recomendadas, mas com ele em específico, eu não acredito que tenha com o que me preocupar. Vai dar tudo certo, tenho fé nisto, mesmo que não pareça eu estou tomando uma decisão sã.
Louca, sem juízo, ingênua, fora de si. Tento encontrar adjetivos que se encaixem comigo. Quem, em perfeito estado mental, sairia de casa sozinha para encontrar uma amizade virtual de quem não tem quase nenhuma informação? Senhoras e senhores, Yang Jiyoon.
São três horas e meia da tarde, eu estou em casa, deitada na minha cama já arrumada. Não me permiti atrasos hoje, eu anseio por esse momento fazem mais de quatro anos, não devo me dar ao luxo de atrasar-me. De cinco em cinco minutos eu me confiro no espelho, vejo se estou bem ou se não devo procurar outra opção. Decido ir casual, mas nem tanto. Algo que parece comum, mas que também mostra que eu me importo com a ocasião. Mas tanto faz, são só roupas.
— Você vai sair? — Seungmin pergunta quando chego na sala. Mas é claro que vou, eles já sabiam disso.
— Sim — sou sucinta.
— Para onde você está indo? — questiona meu irmão, inclinando-se no sofá para me olhar melhor.
— Vou sair com Chan — minto, não tenho todo o tempo do mundo para responder as perguntas que isso acarretaria. — É bem possível que eu demore, então a casa é toda de vocês. Divirtam-se, mas não façam muita bagunça.
— Tá bom, mãe — Yongbok tira uma com a minha cara.
Eu passo pela porta de casa e automaticamente um largo sorriso se forma em meus lábios, feliz por poder ir ver um amigo de longa data.
Como é longe, eu chamo um carro por aplicativo. Não demora para chegar, mas sim para eu me dar conta de que esqueci de comprar a tulipa. Por sorte o motorista é gentil e compreensivo, então mudo minha rota e vou até a floricultura que fica perto da casa do papai. Descobri ela esse dias, enquanto caminhava com Seungmin.
— Olá, eu posso ajudar? — pergunta uma bela atendente de cabelos pretos, com mexas platinadas e uma franjinha adorável. Em seu cartão de identificação diz o seu nome, "Minnie".
— Ah, claro — agradeço por ela estar aqui para me ajudar. — Estou procurando por uma tulipa roxa. Vocês tem?
— Temos sim — ela responde. — Inclusive, você já é a segunda pessoa que as procura hoje.
— Segunda? — eu questiono se ouvi corretamente. De repente tenho uma epifania. — A outra pessoa, foi você quem vendeu para ela? — interrogo, parece que estou chegando cada vez mais perto do meu príncipe.
— Sim, fui eu. Não faz muito tempo.
— E como ele é? — pergunto curiosa ao extremo. — O garoto que comprou, como ele é?
— Nós não podemos dar informações sobre nossos clientes para outras pessoas, é contra a nossa política de privacidade — ela me explica. — Mas, olha... — Minnie olha para os dois lados antes de se abaixar um pouco e sussurrar para mim: — Ele é muito bonito! Você é uma garota de sorte.
— Eu não...
— Você também vai querer apenas uma for, senhorita? — ela pergunta, recompõe a postura quando ouvimos uma senhora entrar na floricultura.
— Sim, por favor.
Minnie sai por um estante, passando por uma porta que dá nos fundos da loja. Quando volta, ela embala a florzinha num papel transparente e coloca um lacinho de cetim vermelho. Ela me entrega assim que pago.
— É uma boa escolha — ela diz, referindo-se à flor. — Elas são lindas. Significam tranquilidade, paz e realeza.
Eu dou um risinho abafado, ele pensa em tudo. Realeza. Bem, acho que combina bastante com ele.
— Obrigada pela ajuda — agradeço. — Eu preciso encontrá-lo agora. Tchau, Minnie. E obrigada, outra vez.
— Tchau, boa sorte!
Eu saio da floricultura com confiança, agora também estou mais perto do ponto de encontro. Talvez, já que estou indo da mesma direção que ele, posso encontrá-lo com mais rapidez.
Eu quero vê-lo logo, mas tento não correr até lá, o friozinho na barriga me impede de acelerar os passos. Vou andando pelo caminho que conheço, sem muita pressa ou preocupação. Eu pego a flor por um instante e inalo o seu aroma, eu não consigo parar de sorrir.
Continuo andando pelas ruas da cidade até chegar às margens do rio. Pela hora e o meu atraso, as luzes da ponte já estão acesas e lindas como sempre, é um verdadeiro show se visto de perto. Resta no céu, um finzinho de por do sol que me permito observar até a noite cair.
Pessoas passam por todo lado, sejam com rapidez ou não. Eu observo elas ao redor, imaginando quem pode ser o garoto bonito que Minnie havia dito. Não tem nenhum jovem por perto e como não imagino Wangja com mais de 25 anos, eu continuo caminhando em volta do rio com a flor em mãos. Para que, se me veja, saiba que estou esperando por ele.
Eu sigo andando e andando com a cabeça baixa — um péssimo hábito que tenho quando me perco nos meus próprios pensamentos —, até esbarrar em alguém. Pensei que seria uma demora sem fim, mas o destino se encarregou de colocar as coisas no lugar. Eu levanto a cabeça rapidamente e tenho o impulso de pedir desculpas, mas me calo ao ver quem é exatamente a pessoa que eu procurava esse tempo todo.
Quando os meus olhos avistam os seus, meu sorriso se desfaz por inteiro, o meu ânimo acaba e eu só quero ter um lugar para onde me esconder. Diante dos meus olhos, está Hwang Hyunjin, com uma tulipa roxa nas suas mãos e uma expressão de choque no rosto.
Nós nos observamos sem dizer uma palavra, nenhum dos dois acredita que está mesmo acontecendo. No dito momento, milhares de memórias vêm na minha mente.
Ele sabe de tudo, desde o princípio. Ele sabe dos meus segredos, os meus traumas, meus problemas, o meu perfil, as histórias que escrevo. Ele sabe que eu era apaixonada por um garoto que agora vivo brigando e vai ser questão de tempo até ele ligar os pontos e ter a munição completa para acabar comigo.
A flor que eu carrego ao lado do peito esquerdo cai no chão, assim como o meu mundo. Eu começo a lembrar de tudo que eu disse para ele e sinto os meus olhos arderem. Por que justo ele? O que eu fiz de tão ruim na minha vida para isso estar acontecendo agora?
— Yang Jiyoon... — ele diz o meu nome. Mas antes que fale algo mais, eu fujo, corro para longe esperando não ser alcançada. Quando já estou numa distância segura, peço outro carro e volto para casa às pressas.
Quando entro em casa não falo com minguem, corro para o meu quarto e me tranco lá, não deixo que ninguém entre até que queiram dormir ou sob a condição de que ninguém me fará perguntas.
Não dormi, nem comi durante a noite. Eu não sei como pude ser tão idiota ao ponto de falar tanto da minha vida para um "estranho" da internet. Eu queria voltar no tempo e não ter aceitado o convite, ou nunca ter escrito as histórias que me levaram até ele. Seria melhor se eu tivesse encontrado alguém que eu não conheço? Ou se eu nunca tivesse descoberto que é ele por trás das mensagens que me consolaram por tantos anos?
Seja como for, sinto que a minha vida está prestes a ser destruída.
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