32 | The Lion and the Serpent
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32. O Leão e a
Serpente
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A VITÓRIA JÁ É NOSSA
WEASLEY É-O NOSSO REI...
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Tive a sensação de que estava carregando uma espécie de talismã no peito, nas duas semanas seguintes, um segredo luminoso que me ajudou a suportar as aulas de Umbridge e até tornou-me possível sorrir insossamente ao encarar os olhos horríveis e saltados da professora. Afinal a AD estava resistindo debaixo do nariz dela, fazendo exatamente o que Umbridge e o Ministério mais temiam, e sempre que eu devia estar lendo o livro de Wilberto Slinkhard, durante as aulas, me regalava com as agradáveis lembranças das reuniões mais recentes, revendo como Neville conseguira desarmar Hermione, como Colin dominara a Azaração de Impedimento depois de se esforçar três reuniões seguidas, como Lavender executara um Feitiço Redutor com tanta perfeição que reduzira a pó a mesa em que estavam os bisbilhoscópios.
Harry estava achando quase impossível fixar uma noite por semana para as reuniões da AD, porque precisávamos acomodar os treinos de três equipes de quadribol diferentes, em geral remarcadas por causa das más condições do tempo; mas no fundo não lamentávamos; sentia que provavelmente era melhor manter os horários das reuniões imprevisíveis. Se alguém nos estivesse vigiando, ficaria difícil distinguir um padrão.
Hermione não tardou a inventar um método muito inteligente de comunicar o dia e a hora da reunião seguinte a todos os membros, caso precisassemos mudá-los de um momento para o outro, porque pareceria suspeito se os alunos das diferentes Casas fossem vistos atravessando o Salão Principal para conversar uns com os outros com muita frequência. Ela deu a cada membro da AD um galeão falso (Rony ficou muito excitado quando viu a cesta de moedas e convenceu-se de que Hermione estava realmente distribuindo ouro).
— Vocês estão vendo os números na borda das moedas? — Explicou Hermione ao final da quarta reunião, erguendo uma para mostrar. A moeda brilhava maciça e amarela à luz dos archotes — Nos galeões verdadeiros, este é apenas o número de série referente ao duende que cunhou a moeda. Mas, nas moedas falsas, os números vão ser trocados para informar o dia e a hora da reunião seguinte. As moedas ficarão quentes quando a data mudar, então se vocês as carregarem no bolso poderão sentir. Cada um vai levar uma, e quando Harry mudar os números na moeda dele, porque eu usei um Feitiço de Proteu, todas mudarão para se igualar à dele.
Um silêncio total acolheu suas palavras, e Hermione olhou desapontada os rostos que a encaravam.
— Bom... achei que era uma boa ideia. — Disse insegura — Quero dizer, mesmo que a Umbridge nos mande virar os bolsos pelo avesso, não há nada suspeito em carregar um galeão, há? Mas... bom, se vocês não quiserem usar as moedas...
— Você sabe fazer um Feitiço de Proteu? — Admirou-se Vega
— Sei.
— Mas isso... isso é nível de N.I.E.M. — Comentou Terrence pouco convencido
— Ah. — Respondeu Hermione, tentando parecer modesta — Ah... bom... é, suponho que seja.
— Como é que você não pertence à Ravenclaw? — Perguntou Anthony, fixando-a com um olhar próximo ao assombro — Com uma inteligência dessa?
— Bom, o Chapéu Seletor pensou seriamente em me mandar para Ravenclaw. — Contou Hermione, animada — Mas acabou se decidindo pela Gryffindor.
— Por que o Chapéu Seletor demorou em todo mundo, e lhe falou uma segunda casa, e comigo ele só disse “Outro Weasley!? Ah, vai pra Gryffindor com seus irmãos mesmo, vai”! Acho que ele nem analisou minha mente. — Suspirei fazendo alguns dos presentes rirem
— Acho que ele estava cansado desse sobrenome. — Comentou Katie rindo — E olha que depois de você, ainda teve a Ginny.
— Pois é. — Concordei sorrindo
— Então, isso quer dizer que vamos usar os galeões? — Perguntou Hermione
Houve um murmúrio de concordância e todos se adiantaram para apanhar uma moeda na cesta.
Harry olhou de esguelha para Hermione.
— Sabe o que essas moedas me lembram?
— Não, o quê?
— As cicatrizes dos Comensais da Morte. Voldemort toca em uma delas e todas ardem, e seus seguidores sabem que devem se reunir a ele.
— É mesmo. — Falei pensativa observando a moeda
— Bom... é. — Disse Hermione em voz baixa — Foi de onde copiei a ideia... mas vocês vão notar que decidi gravar a data em metal em vez de gravá-la na pele dos nossos colegas.
— Graças a Merlim, não é? — Comentei rindo
— É... prefiro desse jeito. — Disse Harry, também sorrindo ao enfiar a moeda no bolso — Imagino que o único perigo é que a gente possa gastar a moeda sem querer.
— Não tem a menor chance. — Disse Rony, que estava examinando o seu galeão falso com tristeza — Não tenho um galeão verdadeiro para confundir com este.
— Tadinho do meu irmão. — Toquei em seu ombro meio sorrindo e ele revirou os olhos pra mim
Quando o primeiro jogo da temporada, Gryffindor contra Slytherin, começou a se aproximar, as reuniões da AD foram suspensas porque Angelina insistiu em fazer treinos quase diários. O fato de que a Copa de Quadribol não se realizava havia tanto tempo aumentava o interesse e a excitação que cercava o próximo jogo; os alunos da Ravenclaw e da Huflepuff estavam vivamente interessados no resultado, porque eles, é claro, estariam jogando com as duas equipes no ano seguinte; e os diretores das Casas das equipes competidoras, embora tentassem disfarçar sob um falso espírito esportivo, estavam decididos a ver o seu próprio time vitorioso. Percebi o quanto a Profa. McGonagall queria derrotar a Slytherin quando ela se absteve de passar dever de casa na semana que antecedeu ao jogo.
— Acho que no momento já temos muito com que nos ocupar. — Disse com altivez. Ninguém quis acreditar no que estava ouvindo até vê-la olhando diretamente para mim, Rony e Harry, e dizer muito séria: — Me acostumei a ver a Taça de Quadribol na minha sala, rapazes, e realmente não quero ser obrigada a entregá-la ao Prof. Snape, então usem o tempo extra para treinar, sim?
Snape não foi um partidário menos óbvio; reservou o campo de quadribol para a Slytherin com tanta frequência que a equipe da Gryffindor teve dificuldade em encontrá-lo livre para treinar. Fazia-se também de surdo com relação às muitas queixas de que os alunos da Slytherin estavam tentando azarar os jogadores da Gryffindor nos corredores da escola. Quando Katie Bell apareceu na ala hospitalar com as sobrancelhas crescendo tão densa e rapidamente que obscureciam sua visão e tampavam sua boca, Snape insistiu que a garota devia ter experimentado nela mesma um Feitiço para Engrossar os Cabelos, e se recusou a ouvir as catorze testemunhas que confirmavam ter visto a goleira da Slytherin, Milenna, ou simplesmente Miles Bletchley, lançar o feitiço nas costas da garota quando ela estava estudando na biblioteca.
Eu me sentia otimista quanto às chances da Gryffindor; afinal de contas, jamais haviam perdido para a equipe de Draco. Era verdade que o desempenho de Rony ainda não chegara no nível do de Oliver, mas meu irmão estava se esforçando o máximo para melhorar. Sua maior fraqueza era a tendência a perder a confiança quando fazia uma bobagem; se deixava passar um gol, se atrapalhava e, com isso, se tornava mais vulnerável a deixar passar vários. Em contrapartida, eu vira Rony fazer algumas defesas espetaculares quando estava em forma; durante um treino memorável, ficara pendurado na vassoura por uma das mãos e chutara a goles com tanta força para longe do aro que ela percorrera toda a extensão do campo e atravessara o aro do meio na extremidade oposta; eu e a equipe achamos que essa defesa se comparava favoravelmente com uma outra, feita recentemente por Barry Ryan, o goleiro da seleção da Irlanda, contra o melhor artilheiro da Polônia, Ladislau Zamojski. Até mesmo Fred dissera que Rony ainda poderia fazer com que ele e o irmão se orgulhassem dele, e que estavam pensando seriamente em admitir seu parentesco com ele, coisa que, garantiam-lhe, vinham tentando negar havia quatro anos.
— Vocês me negam como parente também? — Perguntei erguendo as sobrancelhas
— Não, só o Rony. — Disseram os dois
— Mas, todos sabem que o Rony é meu irmão gêmeo. — Falei como se fosse óbvio e não tinha como alguém não saber que éramos parentes
A minha única preocupação real, no entanto, era que Rony estava deixando que as táticas da Slytherin o perturbassem mesmo antes de entrarmos em campo. Harry, naturalmente, aturava os comentários maldosos deles havia mais de quatro anos, por isso, murmúrios como: “Oi, Potty, ouvi dizer que Grimmett jurou derrubar você da vassoura no sábado”, em vez de gelar seu sangue, o faziam rir. “A pretensão de Grimmett é tão patética que eu ficaria mais preocupado se ele estivesse mirando na pessoa ao meu lado”, retrucava ele, o que fazia eu, Rony e Hermione rir e apagava o sorriso presunçoso da cara de Pansy Parkinson. Mesmo eu tendo entrado no time àquele ano, também já estava acostumada com provocações, e coisas como: “Weasley, a Miles me disse que você vai ser a próxima a ser azarada.”, não me fazia se intimidar, pelo contrário, dava era dó. “Manda ela vim, não tenho o título de ‘Louca das Azarações’ atoa, se ela tentar me azarar... pode ficar ciente, que vou lançar uma azarações tão forte na Bletchey que nem o Ministério vai conseguir reverter”, devolvi fazendo Pansy bufar.
Mas Rony nunca estivera sujeito a uma campanha incansável de desaforos, caçoadas e intimidações. Quando os alunos da Slytherin, alguns do sétimo ano e consideravelmente maiores que ele, murmuravam ao passar nos corredores: “Reservou seu leito na ala hospitalar, Weasley?”, ele não ria, e seu rosto adquiria um delicado tom verde. Quando Draco Malfoy o imitava largando a goles (o que ele fazia sempre que os dois se avistavam), as orelhas de Rony irradiavam um fulgor vermelho e suas mãos tremiam tanto que ele seria capaz de deixar cair também o que estivesse segurando na hora.
Outubro terminou numa investida de ventos uivantes e chuvas impiedosas, e novembro chegou, frio como uma barra de ferro congelada, com espessas geadas matinais e correntes de ar cortantes que queimavam as mãos e os rostos desprotegidos. O céu e o teto do Salão Principal estavam um perolado cinza pálido, os picos das montanhas que cercavam Hogwarts, cobertos de neve, e a temperatura do castelo caíra tanto que muitos estudantes usavam grossas luvas de pele de dragão para se proteger quando saíam para os corredores no intervalo das aulas.
A manhã do jogo alvoreceu clara e fria. Acordei primeiro que todos do meu dormitório, com certeza era a ansiedade, sabia que seria um grande dia, e estava eufórica por ser meu primeiro jogo. Nada no mundo poderia me atormentar àquele dia, nada.
Ao chegar no Salão Comunal, percebi que Rony estava muito quieto e pálido, Harry me lançou um olhar cheio de significado, e eu soube de imediato o que meu irmão deveria estar passando.
— Você está bem? — Perguntei
Rony respondeu afirmativamente com a cabeça, mas não falou. Me lembrei sem querer da ocasião em que meu irmão acidentalmente lançara nele mesmo um feitiço que o fez vomitar lesmas; estava tão pálido e suado como naquele dia, para não falar na relutância em abrir a boca.
— Você só precisa tomar café. — Falei pra o animar — Vamos.
O Salão Principal estava se enchendo depressa quando chegamos, a conversa mais alta e o clima mais exuberante do que o normal. Quando passamos pela mesa da Slytherin, o barulho aumentou. Olhei e vi que, além dos habituais cachecóis e gorros verde e prata, cada um deles estava usando um distintivo prateado, que, na forma, lembrava uma coroa. Por alguma razão, muitos deles acenaram para Rony, às gargalhadas. Tentei ver o que estava escrito nos distintivos, mas estava tão preocupada em fazer Rony passar rápido pela mesa que não quis me deter tempo suficiente para ler.
Fomos recebidos entusiasticamente na mesa da Gryffindor, onde todos usavam vermelho e ouro, mas, em lugar de animar Rony, os vivas pareceram acabar de minar o seu moral; ele se largou no banco mais próximo, parecendo estar diante da última refeição da vida.
— Eu devia estar maluco quando fiz isso. — Disse num sussurro rouco — Maluco.
— Não seja tapado. — Disse Harry com firmeza, passando-lhe uma seleção de cereais — Você vai ficar ótimo. É normal se sentir nervoso.
— Sou uma meleca. — Crocitou ele em resposta — Sou um trapalhão. Não sou capaz de jogar nem para salvar a pele. Onde é que eu estava com a cabeça?
— Ronald! — Exclamei séria — Quer parar de se auto-diminuir!? Ou quer que eu lhe meta um soco na cara? Você é incrível! E um excelente goleiro! Mete isso nessa cabeça!
— A Rox está certa. — Disse Harry com severidade — Controle-se, olhe aquela defesa que você fez com o pé ainda outro dia, até o Fred e o George disseram que foi genial.
Rony voltou um rosto torturado para Harry.
— Aquilo foi por acaso. — Sussurrou infeliz — Não era minha intenção, escorreguei da vassoura quando vocês não estavam olhando e, quando tentei me endireitar, chutei acidentalmente a goles.
— Bom... — Falei recuperando-me rapidamente da desagradável surpresa — Mais alguns acasos iguais àquele e o jogo está no papo, não acha?
Hermione, Ginny e Vega sentaram-se defronte a nós três usando cachecóis, luvas e rosetas vermelho e ouro.
— Como é que você está se sentindo? — Ginny perguntou a Rony, que agora contemplava o resto de leite no fundo da tigela vazia de cereal, como se considerasse seriamente a possibilidade de se afogar ali
— Ele está só nervoso. — Disse Harry
— Bom, é um bom sinal, acho que a pessoa nunca se sai tão bem nos exames se não estiver um pouco nervosa. — Disse Hermione com entusiasmo
— Hum... — Fez Ginny — E você, Rox?
Fiz pressa pra me desfazer da mera surpresa dela ter perguntado isso justo para mim, mas logo assenti.
— Sim, estou bem.
— Quero ver vocês massacrarem as cobras. Podem pisar na cabeça delas! — Disse Vega com convicção nos fazendo rir
— Alô. — Cumprimentou uma voz vaga e sonhadora às nossas costas. Eu olhei: Luna Lovegood viera da mesa da Ravenclaw. Muitos estudantes a seguiam com os olhos, alguns davam gargalhadas e a apontavam sem disfarces; Luna conseguira arranjar um chapéu em forma de cabeça de leão em tamanho natural, e o colocara precariamente na cabeça — Estou torcendo pela.Gryffindor. — Disse, apontando sem necessidade para o chapéu — Olhe só o que ele faz...
Ela ergueu a mão e deu um toque de varinha no chapéu. O leão escancarou a boca e soltou um rugido extremamente real, que sobressaltou todos que estavam por perto.
— É ótimo, não é? — Disse Luna, feliz — Eu queria que ele estivesse mastigando uma cobra para representar a Slytherin, entendem, mas o tempo foi pouco. Em todo o caso... boa sorte, Ronald e Roxanne!
Ela se afastou como se flutuasse. Ainda não tinhamos se recuperado do choque que fora o chapéu de Luna quando Angelina se aproximou correndo, acompanhada por Katie, cujas sobrancelhas tinham sido misericordiosamente restauradas por Madame Pomfrey.
— Quando vocês estiverem prontos. — Disse ela — Vamos direto para o campo, verificar as condições e trocar de roupa.
— Estaremos lá daqui a pouco. — Harry a tranquilizou — O Rony precisa comer alguma coisa.
Mas, passados dez minutos, ficou claro que Rony não conseguiria comer mais nada, e Harry e eu achamos melhor levá-lo para os vestiários. Ao se levantarmos da mesa, Hermione nos acompanhou, e, segurando o meu braço e de Harry, nos puxou para um lado.
— Não deixem Rony ver o que tem naqueles distintivos do pessoal da Slytherin. — Cochichou pressurosa
Harry e eu olhamos-a com curiosidade, mas ela sacudiu a cabeça num gesto de aviso; Rony vinha em nossa direção, parecendo perdido e desesperado.
— Boa sorte, Rony. — Disse Hermione, ficando na ponta dos pés e lhe dando um beijo na bochecha — E para vocês também, Harry, Rox...
Rony pareceu se reanimar ligeiramente quando tornamos a cruzar o Salão Principal. Ele encostou a mão no lugar em que Hermione o beijara, parecendo intrigado, como se não tivesse muita certeza do que acabara de acontecer. Parecia distraído demais para reparar nas coisas ao seu redor, mas eu lancei um olhar curioso para os distintivos em forma de coroa quando passamos pela mesa da Slytherin, e desta vez distingui as palavras gravadas:
Weasley é o nosso rei
Com uma sensação desagradável de que aquilo não podia significar nada de bom, depois de lançar um olhar cheio de significado à Harry, apressamos Rony na travessia do saguão e na descida da escada de pedra, e saímos para o ar gelado.
A grama coberta de gelo produzia um ruído de trituração sob nossos pés ao caminharmos pelos gramados em direção ao estádio. Não havia vento algum e o céu estava um branco perolado uniforme, o que significava que a visibilidade seria boa, sem o transtorno de receber a luz do sol direto nos olhos. Harry apontou esses dados animadores para Rony, mas não tinhamos muita certeza de que ele estivesse ouvindo.
Angelina já se trocara e estava falando com o resto da equipe quando entramos. Os meninos e eu vestimos os uniformes (Rony tentou fazer isso de trás para a frente durante vários minutos até Katie se apiedar dele e ajudá-lo), depois nos sentamos para ouvir a preleção pré-jogo, enquanto lá fora o vozerio não parava de aumentar à medida que os espectadores saíam em um fluxo contínuo do castelo para o campo.
— O.k., acabei de descobrir a escalação final da Slytherin. — Disse Angelina, consultando um pedaço de pergaminho — Os batedores do ano passado, Derrick e Bole, saíram, mas parece que o novo capitão, Burke, os substituiu pelos gorilas de sempre, em vez de escolher alguém que saiba voar particularmente bem. São dois caras chamados Crabbe e Goyle, não sei muita coisa sobre eles...
— Nós sabemos. — Dissemos eu Harry e Rony juntos
— Bom, eles não parecem ter inteligência suficiente para diferenciar as extremidades da vassoura. — Continuou Angelina, embolsando o pergaminho — Mas, por outro lado, eu sempre me surpreendi que Derrick e Bole conseguissem encontrar o caminho do campo sem precisar de placas de sinalização.
— Crabbe e Goyle são iguais. — Garantiu-lhe Harry
Ouviam-se centenas de passos subindo as arquibancadas do campo. Alguns espectadores cantavam, embora eu não conseguisse entender as palavras. Estava começando a me sentir nervosa, mas sabia que as borboletas em meu estômago não eram nada se comparadas às de Rony, que apertava a barriga e olhava reto em frente outra vez, de queixo duro e a pele cinza-claro.
— Está na hora. — Avisou Angelina com a voz abafada, consultando o relógio — Vamos, galera... boa sorte.
A equipe se levantou, pôs as vassouras nos ombros e saiu em fila indiana do vestiário para a claridade ofuscante do dia. Fomos saudados por um grande clamor, no qual eu continuava a ouvir um canto, embora abafado pelos aplausos e vaias.
A equipe da Slytherin já nos aguardava formada. Seus jogadores também usavam os tais distintivos em forma de coroa. O novo capitão, Matt Burke, ostentava um sorriso vitorioso e confiante, enquanto nos observava. Atrás dele, rondavam Crabbe e Goyle, parecendo dois gorilas, piscando idiotamente no céu, balançando os bastões novos de batedores. Draco estava parado de um lado, a cabeça louro-prateada refletindo o sol. Seus olhos encontraram os de Harry, e ele deu um sorriso debochado, batendo no distintivo que levava ao peito.
— Capitães, apertem as mãos. — Ordenou Madame Hooch, quando Angelina e Matt se aproximaram. Pude ver que Matt estava tentando quebrar o dedos de Angelina, embora ela nada demonstrasse — Montem as vassouras...
Madame Hooch levou o apito à boca e soprou.
As bolas foram soltas no ar, e os catorze jogadores dispararam para o alto, eu entre eles. Pelo canto do olho, vi Rony passar como um raio em direção às balizas. Harry subia em alta velocidade, a procura do pomo, Draco em seu encosto.
Eu suspirei e sorri enquanto voava, me esquivei de um balaço, e dei uma volta ao campo em direção as goles, eu mal podia acreditar que estava mesmo voando, que estava jogando, era um sonho desde que eu era criança, e finalmente real. Percebi que Angelina estava com a goles, eu e Katie estávamos um pouco distantes dela, então tentei voar mais próximo.
“E é Johnson – Johnson com a goles – e ela se livra de Grimmett, passa por Burke, ela – ai – foi atingida nas costas por um balaço lançado por Crabbe... Burke apanha a goles, Burke torna a subir pelo campo e – belo balaço agora de George Weasley, um balaço na cabeça de Burke, que larga a goles, quem a apanha é Katie Bell, Katie Bell da Gryffindor atrasa a bola para Rox Weasley e Weasley se afasta...”
Os comentários de Lee Jordan ecoavam pelo estádio, e eu fazia esforço para escutá-los apesar do assobio do vento em meus ouvidos e do vozerio do público, que berra, vaia e canta.
Com a goles em mão, tentei me aproximar das balizas, de onde Bletchey me olhava com um sorriso sarcástico, o idiota do Nicholas Grimmett me seguia.
— Aê, Weasley, não está escutando a música? — Gritou o garoto com um nítido sorriso
Eu revirei os olhos, enquanto desviava dele, ser baixa e ágil ajudava.
“... foge de Grimmett, evita um balaço – esse foi por pouco, Rox –, e o público está adorando o jogo, ouçam, que é que eles estão cantando?”
E Lee parou para escutar, a cantoria soou alta e clara na seção verde e prata da Slytherin nas arquibancadas. Eu tentei apurar os ouvidos para ouvir.
Weasley não pega nada
Não bloqueia aro algum
Ei, Ei, Ei, Ei,
Weasley é o nosso rei.
Weasley nasceu no lixo
Sempre deixa a bola entrar
A vitória já é nossa,
Weasley é o nosso rei.
“... e Rox passa outra vez para Angelina!”, gritou Lee, quando eu lancei a bola para a garota, minhas entranhas fervendo com o que acabara de ouvir, mas percebi que Lee estava tentando abafar a cantoria.
“Vai Angelina – agora ela só precisa passar pelo goleiro! – ELA CHUTA – ELA – aaah...”
Miles Bletchley, a goleira de Slytherin, defendeu bem; lançou a goles para Pucey, que saiu em velocidade, ziguezagueando entre mim e Katie; a cantoria das arquibancadas se tornava cada vez mais alta e meu sangue fervia.
Weasley é o nosso rei,
Weasley é o nosso rei,
Sempre deixa a bola entrar
Weasley é o nosso rei.
Não conseguindo me conter: virei minha Nimbus 2001 para Rony, uma figura solitária na extremidade do campo, planando diante das três balizas enquanto Adrian Pucey avançava para ele.
“Pucey tem a goles, Pucey vai em direção aos aros, está fora do alcance dos balaços e tem apenas o goleiro pela frente...”
Uma grande onda sonora se elevou das arquibancadas da Slytherin:
Weasley não pega nada
Não bloqueia aro algum...
“... é o primeiro teste do novo goleiro da Gryffindor, Weasley, irmão dos batedores Fred e George... e da nova artilheira maravilhosa Rox Weasley, é um talento que promete – vamos, garoto!”
Sorri com o comentário de Lee tentando animar Rony, mas não consegui me aproximar suficientemente de Pucey para roubar a goles, e o grito de alegria veio do lado da Slytherin: Rony dera um mergulho às cegas, de braços muito abertos, e a goles passara entre eles, atravessando direto o seu aro central.
“Ponto para Slytherin! – entrou a voz de Lee entre os aplausos e vaias do público embaixo – dez a zero para Slytherin – que pouca sorte, Rony!”
Os alunos de Slytherin cantaram ainda mais alto:
WEASLEY NASCEU NO LIXO
EI, EI, EI, EI...
Com meu sangue fervendo ao escutar aquela cantoria idiota, avancei em direção à Katie que apanhava a goles naquele exato momento.
“... e a Gryffindor retoma a posse e temos Katie Bell atravessando o campo com energia...”, gritou Lee se enchendo de coragem, embora a cantoria agora estivesse tão ensurdecedora que eu tinha certeza que ele mal conseguia se fazer ouvir.
A VITÓRIA JÁ É NOSSA
WEASLEY É-O NOSSO REI...
— Harry, QUE É QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO? — Berrou Angelina, sobrevoando-o para acompanhar a mim e Katie Bell — MEXA-SE!
Quando olhei vi que Harry parara no ar por mais de um minuto, observando o andamento da partida sem pensar um instante onde estaria o pomo; horrorizado ele mergulhou e recomeçou a circular o campo, eu tentava ignorar o coro que agora atroava o estádio:
WEASLEY É O NOSSO REI,
WEASLEY É O NOSSO REI...
A cada instante meu sangue fervia mais e mais, que audácia que eles tinham pra falar dessa forma do meu irmão gêmeo, que audácia!?
WEASLEY NASCEU NO LIXO...
“... e aí vem Grimmett de novo”, berrou Lee, o idiota do Nicholas Grimmett tinha acabado de roubar a bola de Katie “que passa para Pucey, Pucey ultrapassa Rox, vamos Angelina, dá para pegar ele, afinal não deu, mas foi um belo balaço de Fred Weasley, quero dizer, George Weasley, ah, que diferença faz, foi um dos gêmeos, e Grimmett larga a goles e Katie Bell... hum... larga também... então a goles sobra para Burke que sai voando pelo campo, vamos Gryffindor, bloqueia ele agora!”
Observei Matt Burke com a goles, e sorri divertida quando uma excelente idéia perpassou minha cabeça. Me apressei em mirar a vassoura em direção ao garoto para o alcançar, e ficar em sua reta, de modo que ficamos lado a lado, eu de seu lado direito.
— Oi, Matt. — Sorri divertida para o garoto soltando minhas mãos do cabo da vassoura e tocando na goles em sua mão
— Rox... — Ele devolveu de uma forma indecifrável e um sorriso convencido como se achasse que eu não fosse mesmo capaz
— Tchauzinho... — Falei convicente o pegando desprevenido e dando um salto mortal para o lado esquerdo do garoto, perpassando por cima de sua cabeça ( isso obviamente logo depois de jogar minha vassoura para o mesmo lado por baixo de Matt ), por conta da rapidez consegui arrancar a posse da goles, e em questão de segundos caí novamente em minha vassoura de seu lado esquerdo. Foi tudo rápido, menos de dez segundos, mas na minha cabeça passou em câmera lenta, agora a goles estava em minhas mãos
Quando a excitação vindo das arquibancadas começou, e todos do campo notaram o que aconteceu, eu já tinha virado minha vassoura para o outro lado, e voava na direção de Miles Bletchey.
“Ôu. Ôu. Vocês viram!? Vocês viram!?Jogada mais que incrível de Rox Weasley, ela realizou com perfeição a “Roubada de Sabryn”, e tomou a goles de Burke. Toma essa, Burke! Essa é a minha namorada e ela é perfeita!”
— JORDAN! — Berrou a Profa. McGonagall enquanto eu sorria com os comentários do menino
“... desculpa professora, só queria ressaltar que a minha namorada é maravilhosa e executou uma manobra incrível, e olha que ela só entrou no time esse ano.”
— JORDAN, NARRA ESSE JOGO!
“... ok, ok, Rox Weasley ainda com a posse da goles, desvia de um balaço de Crabbe, Grimmett se aproxima... ela está indo em direção as balizas... Vai, amor!”, entoou Lee a medida que eu voava apressadamente em direção à Bletchey me sentindo ótima, a adrenalina me excitava de uma forma inexplicável, “Gryffindor com a posse da bola, Gryffindor com... aí Rox – bom desvio de Grimmett — se abaixa, Rox, aí vem outro balaço! ELA MARCA! DEZ A DEZ PARA GRYFFINDOR! DEZ A DEZ! EU DISSE QUE ESSA GAROTA É PERFEITA!”
Dei um soco no ar animada ao sobrevoar o extremo do campo; o mar vermelho nas arquibancadas berrou de felicidade, ouvi o ridículo chapéu de leão de Luna rugir no meio dos vivas e me senti fortalecida. Angelina e Katie sorriam como se me aprovassem, pelo visto eu estava indo bem.
— AI!
Senti um baque, e quase perdi o controle e caí da vassoura quando Nicholas Grimmett colidiu em cheio comigo.
— Desculpe! — Ele disse enquanto os torcedores em baixo vaiavam; Lee começara a xingá-lo com o megafone mágico enquanto a Profa. Minerva o repreendia — Desculpe, eu não vi a jogadora!
Olhei séria para a cara de idiota que o menino fazia, Fred estava preparado para rebater um balaço na cabeça do menino, mas eu levantei a mão dizendo que estava bem.
“Seu desgramado! Toca na minha namorada de novo que eu entro aí e acabo com tua cara!”, rosnou Lee tentando se afastar da professora para que ela não tomasse o megafone dele
— Pênalti! Pênalti a favor da Gryffindor pelo ataque gratuito ao artilheiro do seu adversário! — Madame Hooch veio mergulhando em nossa direção apitando, e Katie se adiantou para cobrar o pênalti
“Aí, Katie!”, berrou Lee no silêncio que se abatera nas arquibancadas, que não durou muito “SIM, SENHORES! ELA FUROU O GOLEIRO! VINTE A DEZ PARA GRYFFINDOR!”
Parecia que as coisas estavam melhorando, a gritaria voltara às arquibancadas, a cantoria infelizmente também.
“Gryffindor com a posse, não, Slytherin com a posse — não! – Gryffindor retoma a posse, uhhh.. a goles volta para Slytherin.”
Contornei veloz a extremidade do campo por trás das balizas da Slytherin, fazendo força para não olhar o que estava acontecendo na extremidade do campo defendida por Rony. Quando passei pela goleira da Slytherin, ouvi Bletchley acompanhando o coro do público embaixo.
WEASLEY NÃO PEGA NADA...
“... e Pucey se livra mais uma vez de Katie e ruma diretamente para o gol, segura a bola, Rony!”
Não precisei olhar para saber o que acontecera: ouviu-se um gemido terrível no lado da Gryffindor, acompanhado de novos gritos e aplausos dos alunos da Slytherin. Olhando para baixo, vi a cara de buldogue de Pansy Parkinson bem na frente da arquibancada, de costas para o campo, regendo a torcida da Slytherin que urrava:
EI, EI, EI, EI
WEASLEY É O NOSSO REI
Meu sangue fervia ainda mais, e tive vontade de azarar a garota naquele exato momento. Mas eu sabia que vinte a vinte não era problema, estava empatado, e ainda havia tempo para a Gryffindor passar mais ou Harry capturar o pomo. Só mais um gol e tomaríamos a dianteira como sempre, procurei me tranquilizar, subindo, descendo e entrecruzando com os demais jogadores atrás da goles.
Mas Rony deixou entrar mais dois gols. Havia um toque de pânico no desejo que eu sentia de marcar, ou que Harry encontrasse o pomo imediatamente. Se conseguisse capturá-lo logo, terminaria o jogo de uma vez.
“... e Rox Weasley da Gryffindor escapa de Pucey, se abaixa para fugir de Grimmett, bela virada, Rox, e atira para Angelina, que agarra a goles, ultrapassa Burke, está voando para o gol, vamos, é agora Angelina... E É PONTO PARA GRYFFINDOR! Quarenta a trinta, quarenta a trinta para Slytherin, e Pucey tem a posse da goles...”
O chapéu de leão de Luna rugiu novamente no meio dos vivas da Gryffindor; apenas dez pontos de diferença, isso não era nada, podíamos se recuperar facilmente.
Evitei um balaço que Crabbe disparara em minha direção e retomei a tentativa de roubar a goles de posse da Slytherin.
“... Pucey atira para Grimmett, Grimmett para Burke, Burke devolve a Pucey... Weasley intercepta, Weasley toma a goles, atira para Bell, a coisa parece boa – quero dizer – ruim – Bell é
atingida por um balaço de Goyle, da Slytherin, e é Pucey quem retoma a...”
WEASLEY NASCEU NO LIXO
SEMPRE DEIXA A BOLA ENTRAR
A VITÓRIA JÁ É NOSSA...
Katie conseguiu tomar a posse da goles e atirou para mim, que parti rumo as balizas, atirando a bola para Angelina mais a frente, meu coração saltado.
— Harry achou o pomo. — Sibilou Katie assim que emparelhamos, como se me comunicasse que o jogo acabaria em instantes
Por alguns míseros segundos, eu me virei... O pomo contornava a base de uma das balizas da Slytherin; Harry inverteu o rumo da sua Firebolt, e ele e Malfoy estavam agora emparelhados. Qualquer um podia pegar o pomo.
Nervosa, me avancei em mudar minha atenção para a goles que estava na posse de Pucey.
— Vai por aquele lado. — Sibilou Angelina e eu eu mergulhei para baixo tentando pegar Pucey desprevenido
Os espectadores da Gryffindor gritavam de empolgação; quando eu já estava próxima o bastante coloquei minhas mãos na parte de trás do cabo da minha vassoura e as pernas na parte frontal, logo saltando apoiada com uma só mão na vassoura e acertei a goles na mão de Adrian Pucey, recuperando-a mais a frente.
— Muito obrigada pelo mimo, Pucey. — Sorri convencida mudando abruptamente a direção da vassoura e mergulhando no canto reverso
“Mais uma manobra incrível de Rox Weasley, da Gryffindor, eu tô dizendo essa menina é maravilhosa! E É MINHA NAMORADA!”
— JORDAN, TODO MUNDO JÁ ENTENDEU QUE ELA É SUA NAMORADA!
Mas Lee não precisou falar mais nada, e eu não precisei me preocupar com coisa alguma, pois o apito de Madame Hooch soou, a torcida da Gryffindor vibrou. Harry capturara o pomo.
Estávamos salvos, meu coração saltou de felicidade, não importava que Rony tivesse deixado entrar aqueles gols, ninguém se lembraria desde que a Gryffindor tivesse ganhado...
TAPUM.
Um balaço atingiu meus rins e eu fui lançada para fora da vassoura. Por sorte, estava a menos de três metros do chão, e consegui retardar a queda usando um pouco de magia, mas fiquei sem ar e caí com as costas chapadas no chão congelado, minha Nimbus caiu bem ao meu lado. Ouvi o apito agudo de Madame Hooch, um clamor nas arquibancadas em que se misturavam assobios, berros furiosos e vaias, um baque e, então, a voz frenética de Angelina.
— Você está bem?
— Sim... eu... sim. — Falei tentando parecer legal, mas tinha caído de mal jeito e minha perna doía muito, só percebi que havia torcido o calcanhar quando ela tentou me ajudar a levantar e eu não consegui me manter em pé. Madame Hooch voava velozmente em direção a um dos jogadores da Slytherin acima, embora, do ângulo em que estava, eu não conseguisse ver quem era
— Foi aquele bandido do Crabbe. — Disse Angelina, furiosa passando meu braço por seu ombro para me fixar no chão — Atirou o balaço no momento em que viu que você pegou a goles de Pucey, e Harry capturou o pomo... mas nós ganhamos, Rox, nós ganhamos! Aliás, você foi incrível no jogo.
Ouvi uns passos apressados, me virei pra trás e vi Lee, que vinha às pressas da arquibancada até onde estávamos, o resto da minha equipe estava aterrissando um a um, berrando e dando socos no ar; todos, exceto Rony, que desmontara da vassoura próximo às balizas e parecia estar caminhando lentamente para os vestiários, sozinho.
— Você tá bem? O que aconteceu? — Perguntou Lee ao ver que eu mal conseguia deixar o pé firme no chão
— Acho que estavam tentando me matar. — Falei meio rindo — O balaço atingiu meu estômago, mas caí de mal jeito, em cima da perna... acho que torci meu tornozelo.
— Você deveria levar ela na enfermaria, Lee. — Disse Angelina quando agora era ele quem me ajudava — Pra Madame Pomfrey ver se está tudo bem.
— Certo. — Sorriu o menino — Aliás, vocês foram ótimos.
— Sua namorada quem arrasou. — Devolveu a menina e eu senti minhas bochechas corarem, mal acreditava que eu tinha mesmo jogado meu primeiro jogo
— Não tenho dúvidas. Vem, amor. — Lee se voltou pra mim, passando minha mão por seu ombro – meio que se abaixando também já que eu era bem mais baixa que ele – e me ajudando a caminhar
Eu não podia negar que eu tinha um namorado maravilhoso.
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