105 | Flight of the Prince
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105. A Fuga do
Príncipe
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Só faz uma coisa por mim… me esquece! Já é tarde, Weasley, eu não tenho mais salvação.
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Tive a sensação de que também estava sendo arremessada pelo espaço; não tinha acontecido... não podia ter acontecido… não é real…
— Fora daqui, os dois, rápido — Disse Snape
Ele agarrou Draco e Sol pelo cangote e forçou-os a sair pela porta, à frente dos outros; Greyback e os irmãos atarracados os seguiram, os dois ofegando agitados. Quando eles desapareceram pela porta, eu caí de joelhos, percebendo de súbito que recuperara os movimentos e o que tinha me mantido agora paralisada contra a parede não era magia, mas choque e horror. Levei minhas mãos aos olhos tremendo e chorando.
“Temos que ir”, Harry me disse mentalmente me fazendo apenas olhá-lo
Ele arrancou a Capa da Invisibilidade na hora em que o Comensal da Morte de cera bruta, o último a deixar o alto da Torre, ia sumindo pela porta.
— Petrificus Totalus!
O Comensal da Morte se dobrou como se tivesse sido atingido por algo sólido e caiu no chão, rígido como uma estátua de cera, mas mal acabara de bater no chão e Harry já passava por cima dele e descia correndo a escada escura.
Eu sabia que tinha que fazer o mesmo, e foi o que eu fiz, esquecer a dor e ir atrás deles. O terror me assaltava... tinha de chegar a Dumbledore e tinha de pegar Snape… não, eu tinha que chegar até Draco… tinha que alcançá-lo o mais depressa possível e… e… impedir ele de ir embora… mas Dumbledore... Dumbledore não podia ter morrido…
Eu não conseguia mais ver Harry, pois ele se adiantara rápido demais. Saltei os dez últimos degraus da escada espiral e parei onde aterrissei, as mãos com a magia ativa: o corredor mal iluminado estava cheio de poeira; metade do teto parecia ter cedido e, à minha frente, travava-se uma batalha violenta. Enquanto eu tentava distinguir quem enfrentava quem, ouvi a voz que passei a odiar gritar: “Acabou, hora de partir!”, e vi Snape virar no fim do corredor; ele, Draco e Sol pareciam ter aberto caminho entre os combatentes e escapado ilesos. Quando me aproximei, percebi uma bruxa de cabelos castanhos, que tenho certeza de já ter visto em algum lugar, se aproximar com a varinha em punhos e uma cara maléfica. Com um movimento leve das mãos, eu a levitei, logo a atirando do outro lado da sala, a fazendo colidir em cheio com a parede.
Observei quando Harry se atirou no encalço deles, e o lobisomem Greyback avançou para ele. Derrubou Harry antes que ele pudesse erguer a varinha, mas logo meu amigo foi inteligente o suficiente pra petrificar o Comensal.
Me assustei na hora em que um jorro de luz verde veio em minha direção; me desviei e mergulhei no meio dos combatentes. Meus pés bateram em alguma coisa mole e escorregadia no chão, e eu perdi o equilíbrio: havia dois corpos caídos ali, de cara para baixo, em uma poça de sangue, mas não havia tempo para investigar. Vi uma cabeleira vermelha agitando-se como línguas de fogo à minha frente. Ginny lutava contra o Comensal da Morte pesadão, Amico, que lançava feitiço sobre feitiço contra a garota, que se desviava; o bruxo ria, sentindo prazer no esporte:
— Crucio... Crucio... você não pode dançar para sempre, lindinha…
Eu já tinha levantado as mãos em brasa, mas antes que pudesse fazer algo, ouvi o berro de Harry:
— Impedimenta!
Seu feitiço atingiu Amico no peito. Ele soltou um guincho porcino de dor ao ser arrebatado e arremessado contra a parede oposta, de onde deslizou para o chão e desapareceu atrás de Rony, da professora McGonagall, a professora Misttigan e Lupin, cada qual enfrentando um Comensal da Morte; mais além, vi Tonks dando combate a um enorme bruxo louro que lançava feitiços em todas as direções, fazendo-os ricochetear nas paredes em volta, rachar pedra e estilhaçar a janela mais próxima…
— Harry, Rox, de onde é que vocês vieram? — Gritou Ginny, mas não havia tempo para responder. Harry baixou a cabeça e prosseguiu disparado pelo corredor, escapando por um triz de algo que explodiu acima de sua cabeça, fazendo chover cacos de parede sobre todos
Eu corria com pressa, sem forças para me teletransportar, mas com os olhos brancos e as mãos em brasa. Snape não podia escapar… Draco não podia ir embora…
— Isto é para você! — Gritou a professora McGonagall, e vi de relance a mulher Comensal da Morte, Aleto, fugindo pelo corredor com os braços sobre a cabeça, o irmão em seus calcanhares. Harry disparou atrás dos dois, mas meu pé prendeu em alguma coisa e, no momento seguinte, eu estava caída sobre as pernas de alguém. Olhando para os lados, identifiquei o rosto pálido e redondo de Neville chapado no chão.
— Neville, você está...?
— Tô bem — Murmurou ele, apertando a barriga — Rox... Snape, Malfoy e Lestrange… passaram correndo…
— Eu sei, estou sabendo! — Respondi no chão, jogando outro Comensal pra longe com as minhas mãos. Atingido, o homem soltou um uivo de dor; virou-se, cambaleou e, então, bateu em retirada atrás de Amico e Aleto
Me ergui do chão e tornei a desembestar pelo corredor, sem dar atenção aos estampidos às minhas costas, aos chamados dos outros para que eu voltasse e ao grito mudo dos vultos caídos, cujo destino eu ainda desconhecia…
Harry ia correndo na minha frente e eu precisava alcançá-lo. Derrapei na curva, meus sapatos sujos de sangue escorregavam; Draco levava uma enorme dianteira – era possível que já tivesse entrado no Armário na Sala Precisa, ou será que a Ordem tomara providências para fechá-lo e impedir que os Comensais da Morte se retirassem por ali? Eu não ouvia nada, exceto as batidas dos meus próprios pés correndo, do meu próprio coração ribombando enquanto eu acelerava pelo corredor seguinte, deserto. Então, eu vi marcas de sangue no chão indicando que pelo menos um dos Comensais da Morte fugitivos rumava para as portas de entrada – talvez a Sala Precisa estivesse, de fato, bloqueada…
Entrei derrapando por outro corredor, e um feitiço passou voando; mergulhei atrás de uma armadura que explodiu; vi, então, os irmãos Comensais que desciam correndo a escadaria de mármore e tentei acertar eles com raios, já que não adiantava tentar achar minha varinha agora, mas atingi apenas várias bruxas de peruca, em um quadro do patamar, que fugiram aos guinchos para os quadros vizinhos; quando transpunha os destroços da armadura, ouvi mais gritos; outras pessoas no castelo pareciam ter acordado…
Me lancei por um atalho, na esperança de ultrapassar os irmãos e alcançar Draco, Sol e Snape, que, àquela altura, certamente já teriam chegado aos jardins; lembrando-me de saltar o degrau que sumia na metade da escada secreta, irrompi pela tapeçaria que havia embaixo e saí em um corredor onde estavam parados vários alunos da Huflepuff de pijama, desnorteados.
— Rox! Ouvimos um barulho, e alguém mencionou a Marca Negra... — Começou
Ernesto Macmillan — Isso é sangue, você…?
— Se escondam! Voltem pro dormitório! — Pedi com urgência quase berrando — Não fiquem no corredor, saiam do caminho…
E sem ouvir suas lamentações ou protestos, corri em direção ao patamar e ao último lance da escadaria de mármore. As portas de carvalho na entrada tinham sido arrombadas; havia manchas de sangue no chão, e vários estudantes aterrorizados se encolhiam às paredes, uns dois deles cobriam o rosto com os braços; a enorme ampulheta da Gryffindor fora atingida por um feitiço, e os rubis que continha ainda caíam, produzindo um ruído seco no piso lajeado…
Eu voei pelo Saguão de Entrada e saí para os jardins escuros: mal conseguia divisar quatro vultos que corriam pelo gramado em direção aos portões, onde poderiam Aparatar – pelo jeito, o enorme Comensal da Morte louro e, mais à frente, Draco, Sol e Snape… bem atrás deles e mais perto de mim, ia Harry…
Com muita dor percebi que lágrimas ainda caiam dos meus olhos, senti então o ar frio da noite dilacerar meus pulmões quando disparei atrás deles; vi um lampejo ao longe que momentaneamente recortou a silhueta dos fugitivos; apesar de não saber o que seria, continuei a correr, ainda não me aproximara o suficiente…
Outro lampejo, gritos, jorros de luz em resposta, e eu entendi: Hagrid saíra de sua cabana e estava tentando deter os Comensais da Morte em fuga e, embora cada hausto parecesse rasgar meus pulmões e a pontada em meu peito ardesse como uma labareda, eu acelerei o passo, mais assustada que nunca…
— DRACO… — Gritei com toda força que pude reunir, mas eu não consegui escutar minha própria voz
Alguma coisa me atingiu, com força, nos rins, e eu caí; meu rosto bateu no chão, o sangue espirrou das narinas: concluí, mesmo enquanto me virava, que os irmãos que eu tinha ultrapassado ao pegar o atalho se aproximavam às minhas costas…
— IMPEDIMENTA! — Berrei, recorrendo a varinha e tornando a me virar, agachando-se rente ao chão escuro e, milagrosamente, meu feitiço atingiu um deles, que cambaleou e caiu, derrubando o outro; me ergui de um salto e continuei a correr…
E, à claridade da lua crescente que surgiu inesperadamente por trás das nuvens, vi a vasta silhueta de Hagrid; o Comensal da Morte louro alvejava-o com sucessivos feitiços, mas a imensa força de Hagrid e a pele dura que herdara da mãe giganta pareciam protegê-lo; Snape, Draco e Sol, no entanto, continuavam a correr; logo estariam fora dos portões, e poderiam Aparatar…
Vi quando Harry passou, desembalado, por Hagrid e seu oponente, mirou nas costas de Snape e berrou:
— Estupefaça!
Errou; o jorro de luz vermelha passou ao largo da cabeça de Snape; o professor gritou: “Corram, vocês dois!”, e virou-se; a uns dezoito metros de distância, ele e Harry se encararam antes de erguer simultaneamente as varinhas.
— Cruc…
Snape, porém, aparou o feitiço, derrubando Harry para trás antes que ele pudesse completar a maldição. O garoto rolou para um lado e tornou a se levantar na hora em que o enorme Comensal às suas costas berrou: “Incêndio!”; ouvi uma forte explosão e uma luz laranja se derramou sobre todos: a casa de Hagrid estava pegando fogo.
— Canino está preso lá dentro, seu maligno...! — Urrou Hagrid
Eu escutava vozes demais na minha cabeça para me importar, Harry e Snape duelando, Sol tentando forçar Draco a correr com ela, enquanto eu avançava. Então berrei a plenos pulmões, passando por Harry e Snape de modo que eles não me viram:
— DRACOOOO!
Todo meu corpo tremia incontrolavelmente e eu chorava muito, chorava sem forças enquanto tentava o alcançar.
— DRACOOOO!
— Draco, corre, nós temos que ir. — Sol tentava o puxar, alguns metros à frente de mim, mas ele não a escutou
Draco se virou lentamente, a prima parecia assustada demais e com medo que eu pudesse fazer alguma coisa, mas o loiro via além, o que eu estava sentindo, meu corpo tremendo, os olhos cheios de lágrimas, os joelhos querendo ceder, a varinha a muito caída no chão.
— Vai embora, eles vão te atacar… — A voz dele saiu fraca, trêmula, seus olhos brilhavam mesmo na escuridão
— Não… eu não posso deixar você ir... você não pode ir com eles… — Eu mal reconhecia minha própria voz, estava embargada demais
— Eu sou um deles! — Ele insistiu, a voz fraca
— Não é… não é… você não é um deles…
— PARA! — Ele gritou chorando muito —Para de me defender, eu sou um Comensal da Morte!
E com isso, gritando e chorando, ele afastou a manga comprida da camisa deixando seu braço esquerdo à mostra e com muita dor, eu vi a marca negra. Uma caveira com língua de cobra naquela pele branca e macia. Meus olhos se encheram mais, eu não conseguia falar.
— Esse sou eu!! Eu sou um Comensal da Morte! — Insistiu choroso
— Drac… — Sol tremia enquanto o chamava um pouco longe, como se sem saber o que fazer
— Não… — Insisti chorando muito
— Só faz uma coisa por mim… — Pediu em lágrimas, a voz mais trêmula que nunca — me esquece! Já é tarde, Weasley, eu não tenho mais salvação.
E com isso ele se virou como se quisesse ir embora, mas não conseguia se mexer, meu coração batia tão forte que senti que ia explodir, e eu queria que ele explodisse, eu queria morrer.
— EU TE AMO! — Berrei em plenos pulmões, as lágrimas caindo, a minha mente incapaz de aceitar que ele fosse para aquele lado, incapaz de acreditar que ele fosse do mal
— Não fala isso… — Ele virou, a voz embargada, a varinha tremendo nas mãos que apontava pra mim
Eu tremi, percebendo que ele tinha mesmo empunhado a varinha, mesmo que trêmula, para o meu coração.
— Esse não é você! Eu te conheço! — Gritei aos prantos — Você não é um vilão, não é um assassino! Você é a pessoa que eu amo! Draco…
— Vai embora! — Ele mandou tentando ser ríspido, mas sem evitar que as lágrimas caíssem
— Draco…
— Vai embora daqui!
— Rox… — Se assustou Sol saltando em seu lugar, os olhos como duas laranjas
Eu não precisava do grito de aviso, como em um sexto sentido, levantei minha mão esquerda que não tremia mais, embora eu continuasse tão devastada quanto antes. Ao levantar as mãos consegui fazer com que o feitiço que ia ser lançado contra mim ricocheteasse uma árvore. O motivo? Acabara de levitar um Comensal da Morte que estava às minhas costas, mesmo sem saber em que ponto ele realmente estava.
— Você sabe se defender… — Draco disse, a voz fraca enquanto abaixava a varinha; o problema é que ele não sabia que eu não faria uma ação em defesa própria se ele me atingisse como um feitiço
Pisquei os olhos lacrimosos, enquanto virava para o lado, vendo o Comensal que eu segurava e forçando minha mão em seu pescoço, antes de lançar ela para longe.
— Desculpa… — Escutei a voz de Draco, uma última vez, embargada por causa das lágrimas — Eu te amo…
E ele correu junto de Sol, eu estava prestes a ir atrás dele, mas ouvi os gritos de Harry e me virei, deixando o meu amor ir embora pra sempre.
— Suas Maldições Imperdoáveis não me atingem, Potter! — Gritava Snape sobrepondo-se ao ruído das chamas, aos gritos de Hagrid e aos ganidos alucinados de Canino — Você não tem a coragem nem a habilidade…
— Impedi…
Antes, porém, que Harry pudesse terminar o feitiço, tombou no gramado, alguém estava gritando, mas não era Snape que tinha lançado a maldição imperdoável.
— Não! — Urrou o professor, e Harry ficou enroscado no gramado escuro, apertando a varinha ofegante; eu não compreendia, só percebia Snape gritando: — Você esqueceu as suas ordens? Potter pertence ao Lorde das Trevas... temos de deixá-lo! Vá! Vá!
Eu estava parada, tremendo, enquanto os Comensais em obediência corriam para os portões.
— Não podem tocar nela! — Snape gritou quando um deles levantou a varinha pra mim — É a Arma.
Eu não tinha mais forças pra atirar raios roxos neles, ofegante eu tentava me aproximar do meu amigo, meu coração em pedaços e as lágrimas pareciam ter se acabado.
Harry soltou um grito inarticulado de raiva, cambaleou às cegas em direção a Snape, o homem que agora ele odiava tanto quanto odiava o próprio Voldemort…
— Sectum…
Snape acenou com a varinha, e o feitiço foi de novo repelido; mas Harry agora estava a poucos passos do professor, e finalmente podia ver seu rosto enfurecido.
— Não, Potter! — Gritou Snape. Houve um forte estampido e Harry voou para trás, tornando a bater duramente no chão e, desta vez, a varinha escapou-lhe da mão.
— NÃO!! — Berrei caindo no chão, como se meus joelhos não tivessem mais forças para suportar meu peso
Ouvi os gritos de Hagrid e os uivos de Canino se misturarem ao meu, quando Snape se aproximou e contemplou Harry ali caído, sem varinha, indefeso como Dumbledore estivera. O rosto pálido do professor, iluminado pela cabana em chamas, parecia estar impregnado de ódio, tal como estivera pouco antes de amaldiçoar Dumbledore.
— Você se atreve a usar os meus feitiços contra mim, Potter? Fui eu quem os inventei: eu, o Príncipe Mestiço! E você viraria as minhas invenções contra mim, como o nojento do seu pai, não é? Eu acho que não... não!
Harry mergulhara para recuperar a varinha; Snape lançou um feitiço na varinha, que voou longe, no escuro, e desapareceu de vista.
— Me mate, então. — Ofegou Harry, furioso; enquanto eu tentava voltar a ficar de pé, minhas mãos em curto-circuito e a vista começando a embaçar — Me mate como matou ele, seu covarde...
— NÃO… — Gritou Snape como se sentisse tanta dor quanto o cão que gania e uivava preso na casa incendiada às suas costas – ... ME CHAME DE COVARDE!
E ele golpeou o ar: eu apertei meus olhos e vi quando Harry foi atirado de costas no chão. Manchas luminosas explodiram diante de meus olhos e ouvi um farfalhar de asas no ar e uma coisa enorme obscureceu as estrelas: Bicuço mergulhara contra Snape, que cambaleou para trás ao ser atacado por garras afiadíssimas. Enquanto eu procurava sentar ou mesmo ficar em pé, a cabeça atordoada, vi Snape a toda velocidade, o enorme animal perseguindo-o, aos gritos, como jamais o vi gritar…
Vi Harry levantar-se com dificuldade, procurando, às tontas, a varinha, na esperança de prosseguir em sua caçada, mas era tarde demais; de fato, até conseguir localizar a varinha e se virar, havia apenas o hipogrifo circulando sobre os portões. Snape conseguira Aparatar fora dos limites da escola.
— Rox… — Ele arregalou os olhos ao me ver no chão e correu até mim — Rox, você está bem?
Eu o olhei, meus olhos deviam está muito vermelhos e meu coração estava em pedaços. A dor não era só psicológica, era física, todos os meus membros tremiam, meu corpo doía inteiro, e minha respiração provocava pontadas dolorosas.
— Precisamos ver como os outros estão. — Falei com dificuldade, tentando ficar em pé, com muito esforço consegui firmar os dois pés no chão e cambalear
— Temos que encontrar o Hagrid —Informou Harry. E murmurando, ainda atordoado, começou a olhar para os lados — HAGRID?
Junto com ele cambaleei em direção à casa em chamas quando um enorme vulto emergiu da cabana, carregando Canino às costas. Com um grito de agradecimento, Harry caiu de joelhos, e eu não consegui me demorar muito mais em pé.
— Harry? Rox? Você tá bem, Harry? Vocês estão bem? Falem comigo, meninos…
O enorme rosto peludo de Hagrid pairava acima de nós, escondendo as estrelas. Eu sentia vontade de ficar ali deitada, nunca mais me mexer, embora sentisse cheiro de madeira e pelo de cachorro queimados; eu estiquei a mão e toquei o corpo quente e vivo de Canino, agitando-se ao meu lado.
— Tá… t-tudo bem… — Respondi com um suspiro fraco
— Estou bem — Ofegou Harry — E você?
— Claro que estou... precisa mais do que isso para me liquidar.
Hagrid enfiou as mãos por baixo dos braços de Harry e ergueu-o com tal força que os pés do garoto abandonaram momentaneamente o chão, enquanto o gigante o punha de pé. Então ele fez o mesmo comigo, que segurei em Harry tentando me arrumar. Vi, então, sangue escorrendo pelo rosto do Hagrid, o corte profundo embaixo de um olho que inchava rapidamente.
— Devíamos apagar o incêndio em sua casa — Disse Harry —, o feitiço é Aguamenti…
— Eu sabia que era alguma coisa assim. — Murmurou Hagrid, e erguendo um fumegante guarda-chuva rosa florido ordenou: — Aguamenti!
Um jorro de água saiu da ponta do guarda-chuva. Harry ergueu o braço da varinha que parecia de chumbo e também murmurou: “Aguamenti”; juntos, ele e Hagrid despejaram água na casa até que a última chama se extinguisse. Eu percebi só naquele momento que não sabia onde estava a minha varinha.
— Não tá muito ruim — Comentou Hagrid esperançoso alguns minutos depois, olhando para o rescaldo fumegante — Nada que Dumbledore não possa consertar…
Senti uma dor lancinante no estômago a som desse nome. No silêncio e quietude, o horror despertou em meu íntimo.
— Hagrid…
— Eu estava enfaixando as pernas de uns tronquilhos, quando ouvi os Comensais vindo — Disse Hagrid triste, ainda contemplando a cabana destruída — Devem ter queimado os gravetos, os coitadinhos...
— Hagrid… — Harry chamou
— Mas que aconteceu, meninos? Vi os Comensais da Morte descerem correndo do castelo, mas que diabos o Snape estava fazendo no meio deles? Aonde é que ele foi?... Estava perseguindo eles?
— Ele… — Harry pigarreou; a garganta seca com o pânico e a fumaça; eu desviei o olhar — Hagrid, ele matou...
— Matou?! — Exclamou Hagrid em voz alta, encarando Harry — Snape matou? Do que você está falando, Harry?
— Dumbledore. Snape matou... Dumbledore.
Hagrid ficou olhando para ele, o pouco do seu rosto à mostra manifestava total incompreensão.
— Dumbledore o quê, Harry?
— Está morto. — Falei sentindo uma ânsia horrível e vontade de cair em qualquer lugar — Snape o matou...
—Não diz isso — Censurou Hagrid com rispidez — Snape matar Dumbledore... não sejam idiotas. De onde tiraram essa ideia?
— Vimos acontecer. Eu e Rox vimos tudo.
— Não podem ter visto.
— Nós vimos, Hagrid.
Hagrid sacudiu a cabeça; em seu rosto havia uma expressão incrédula mas simpática, e percebi que ele pensava que tivéssemos levado uma pancada na cabeça, que estivéssemos atordoados, talvez com sequelas de um feitiço…
— O que deve ter acontecido foi que Dumbledore deve ter mandado Snape acompanhar os Comensais da Morte. — Explicou Hagrid confiante — Imagino que ele precise manter o disfarce. Olhe, vamos levar vocês dois de volta à escola. Venham…
Eu não tentei discutir nem explicar. Ainda tremia descontroladamente e tentava com força não pensar em Draco. Cedo Hagrid descobriria, cedo demais... Quando caminhávamos para o castelo, observei que agora havia luz em muitas janelas: podia imaginar nitidamente as cenas quando as pessoas fossem, de um aposento a outro, contar que os Comensais da Morte tinham entrado, que a Marca brilhava sobre Hogwarts, que alguém devia ter sido morto…
À frente, as portas de carvalho estavam abertas, inundando de luz a estrada e o gramado. Insegura e lentamente, pessoas vestidas com roupões desciam os degraus da entrada, procurando, nervosas, sinal dos Comensais da Morte que tinham se embrenhado na noite. Os meus olhos, porém, estavam fixos no gramado ao pé da torre mais alta. Imaginei ver caída ali uma massa escura, embora estivesse realmente muito longe para enxergar alguma coisa. Mesmo enquanto olhava em silêncio o lugar onde supunha que o corpo de Dumbledore estivesse, vi gente começando a se deslocar para lá.
— Que é que todos estão olhando? — Perguntou Hagrid, quando nos aproximamos da fachada do castelo, Canino colado aos seus calcanhares — Que é aquilo caído no gramado? —Perguntou Hagrid bruscamente, rumando para a Torre de Astronomia, onde ia se formando um pequeno ajuntamento — Estão vendo? Bem no pé da Torre? Embaixo do lugar onde a Marca... caramba... você acha que alguém foi atirado...?
Hagrid se calou, o pensamento parecia terrível demais para ser expresso em voz alta. Percebi a mão de Harry apertar a minha quando lágrimas insistiram em cair do meu rosto. Eu sentia o desconforto e as dores no rosto e nas pernas onde fui atingida por feitiços, na última meia hora, embora de um modo estranhamente neutro, como se outro alguém próximo a nós sentisse. Real e inelutável era a sensação terrível que comprimia o meu peito…
Harry, Hagrid e eu atravessamos, como em sonho, a multidão que murmurava até bem à frente, onde estudantes e professores estarrecidos tinham deixado uma clareira. Ouvi o lamento de dor e surpresa de Hagrid, mas não paramos; continuamos a avançar até chegar onde Dumbledore jazia, e vi Hagrid se agachar ao seu lado.
Percebi que não havia esperança no instante em que o Feitiço do Corpo Preso que Dumbledore lançara sobre mim e Harry cessara; percebi, com muita dor, que aquilo só poderia ter acontecido porque quem lançara o feitiço estava morto; contudo, ainda não tinha me preparado para vê-lo ali, de braços e pernas abertos, quebrado: o maior bruxo que eu conheci ou jamais conheceria.
Os olhos de Dumbledore estavam fechados; exceto pelo estranho ângulo dos braços e pernas, ele poderia estar dormindo. Harry estendeu a mão, acertou os oclinhos de meia-lua no nariz torto do diretor e limpou um filete de sangue de sua boca, com a manga das próprias vestes. Eu contemplava o rosto velho e sábio dele, tentando absorver a enorme e incompreensível verdade: nunca mais Dumbledore falaria comigo, nunca mais poderia me ajudar…
A multidão murmurava às minhas costas. Decorrido o que me pareceu um longo tempo, tomei consciência de que estava ajoelhada em cima de algo duro, e olhei para baixo.
O medalhão que tínhamos conseguido roubar, havia tantas horas, caíra do bolso de Dumbledore e abrira-se, talvez em consequência da força com que batera no chão.
E, embora não pudesse sentir maior choque, horror ou tristeza do que já sentia, percebi, ao apanhá-lo, que alguma coisa estava errada...
Revirei o medalhão nas mãos. Harry se virou pra mim, curioso e pareceu perceber o mesmo que eu. O Medalhão não era tão grande quanto o que vimos na Penseira, nem tinha marcas distintivas, nenhum sinal do S caprichoso que supostamente era a insígnia de Slytherin. Além disso, não havia nada dentro a não ser um pedaço de pergaminho dobrado e encaixado à força onde devia haver um retrato.
— Mas que porr… — Resmungou Harry, deixando a palavra de perder no ar
Com um gesto automático, sem realmente pensar no que fazia, tirei o fragmento de pergaminho, abri-o e li à luz das muitas varinhas agora acesas atrás:
Ao Lorde das Trevas
Sei que há muito estarei morto quando ler isto, mas quero que saiba que fui eu quem descobriu o seu segredo. Roubei a Horcrux verdadeira e pretendo destruí-la assim que puder. - Enfrento a morte na esperança de que, quando você encontrar um adversário à altura, terá se tornado outra vez mortal.
R.A.B.
Eu e Harry nos entreolhamos, só tinha dor em nossos olhos, vi ele resmungar e desviar o olhar. Eu não sabia o que significava aquela mensagem nem sabia se me importava com isso. Uma única coisa importava: aquilo não era uma Horcrux. Dumbledore se enfraquecera bebendo a terrível poção para nada. Eu amassei o pergaminho na mão e as lágrimas queimaram meus olhos no momento em que, às minhas costas, Canino começava a uivar.
Então... Helloooo bruxinhoooos!!
Como cês tão? '^^
Pois é, esse capítulo foi bem tenso e bemmmmm dolorido. Chorei rios escrevendo, mas é... é... a vida é cruel mesmo, não tem pra onde fugir.
Demorei hoje, sorryyyy, eu sei, vida de universitário não é fácil kkkkkk, mas é a vida também, né?
Estou ansiosa pra postar o último capítulo de Enigma do Príncipe e anunciar a surpresa que teremos a partir da próxima semana, componentes do grupo de TW já sabem, hem kkkk.
Nos vemos quarta-feira.
– Bjosss da tia Nick.
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