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{26} Sangue ruim

   Estávamos a uns cinco metros da casa de Hagrid quando a porta de entrada se abriu, mas não foi Hagrid que apareceu. Gilderoy Lockhart, dessa vez com vestes lilás clarinho, vinha saindo.

— Depressa, aqui atrás. — Harry sibilou arrastando Rony para trás de uma moita próxima

    Eu e Mione o seguimos, um tanto relutante.
   
— É muito simples quando você sabe o que está fazendo! — Lockhart dizia em voz alta a Hagrid — Se precisar de ajuda, já sabe onde estou! Vou-lhe dar uma cópia do meu livro. Estou surpreso que ainda não o tenha comprado: vou autografar um exemplar hoje à noite e mandar para você. Bom, adeus. — E saiu em direção ao castelo.

— Ele é patético.

— Não temos tempo, Rox, vamos. — Harry falou depressa assim que Lockhart desapareceu de vista, então puxou Ron da moita até a porta de Hagrid

   Eu e Hermione logo corremos atrás e batemos apressados. Hagrid abriu na mesma hora, parecendo muito rabugento, mas seu rosto se iluminou quando viu quem era.

— Estive pensando quando é que vocês viriam me ver, entrem, entrem, achei que podia ser o Professor Lockhart outra vez...

— Ele estava te incomodando, Rúbeos? — Perguntei enquanto juntamente de Harry e Hermione ajudava Ron a entrar

— Ora, sim e como. — Ele respondeu logo virando-se para a gente e percebendo que Ron vomitava lesmas

   Hagrid não pareceu perturbado com o problema das lesmas de Rony, que Harry explicou em poucas palavras enquanto baixava Ron em uma cadeira.

— Melhor para fora do que para dentro. — Hagrid disse animado, baixando com ruído uma grande bacia de cobre na frente do menino — Ponha todas para fora, Rony.
  
— Acho que não há nada a fazer exceto esperar que a coisa passe. — Disse Mione ansiosa

— Nada mesmo? Tem que esperar passar? — Perguntei boquiaberta

— Sim. — Ela logo explicou — É um feitiço difícil de fazer em condições ideais, ainda mais com uma varinha quebrada...

   Hagrid ocupou-se pela cabana preparando chá para nós. Canino, estava animado em ver Harry e o sujava todo.
  
— O que é que Lockhart queria com você, Hagrid? — Perguntou curioso

— Estava me dando conselhos para manter um poço livre de algas. — Rosnou Hagrid, tirando um galo meio depenado de cima da mesa bem esfregada e pousando nela o bule de chá — Como se eu não soubesse. E ainda fez farol sobre um espírito agourento que ele espantou. Se uma única palavra do que disse for verdade eu como a minha chaleira.

   Não era hábito de Hagrid criticar professores de Hogwarts, por isso o olhei surpresa, Mione, porém ficou intrigada, e falou num tom mais alto do que de costume.
  
— Acho que você está sendo injusto, Hagrid. É óbvio que o Professor Dumbledore achou que ele era o melhor candidato para a vaga...

— Na verdade ele era o único candidato. — Hagrid respondeu nos oferecendo um prato de quadradinhos de chocolate que aceitei de bom gosto, enquanto Ron ainda tossia e vomitava na bacia — E quando digo que era o único, era o único mesmo. Está ficando cada vez mais difícil encontrar alguém para ensinar Artes das Trevas. As pessoas não andam muito animadas para assumir esta função. Estão começando a achar que está enfeitiçada. Ultimamente ninguém demorou muito nela. Agora me contem — Disse Hagrid, indicando Ron com a cabeça — Quem é que ele estava tentando enfeitiçar?


— Malfoy chamou Mione de alguma coisa, deve ter sido muito ruim porque ele ficou furioso.

— Ruim? Horrível. — Falei cruzando os braços

— Sim. — Ron falou, rouco, erguendo-se, lívido e suado, até a superfície da mesa — Malfoy chamou Mione de sangue ruim, Hagrid...

    Rony tornou a sumir debaixo da mesa e um novo jorro de lesmas caiu. Hagrid pareceu indignado.

— Ele não fez isso!

— Fez sim. — Confirmou Mione. — Mas eu não sei o que significa. Percebi que era uma grosseria muito grande, é claro...

— É praticamente a coisa mais ofensiva que ele podia dizer. — Expliquei

— Sangue ruim é o pior nome para se chamar alguém que nasceu trouxa, sabe, que não tem pais bruxos. — Ron falou ofegante, retornando

— Acontece que existem uns bruxos, como os da família de Malfoy, que se acham melhores do que todo mundo porque têm o que as pessoas chamam de sangue puro. — Continuei

— Exatamente, isso de sangue puro é uma besteira. — Ele deu um pequeno arroto, e uma única lesma caiu em sua mão estendida. Ele a atirou à bacia e continuou — Quero dizer, nós sabemos que isso não faz a menor diferença. Olha só o Neville Longbottom, ele tem sangue
puro e sequer consegue pôr um caldeirão em pé do lado certo.

— Olha só o Ron, tem sangue puro e tá vomitando lesmas.

   Ron logo me deu um peteleco na cabeça me mandando ficar quieta e nós dois rimos.
  
— E ainda não inventaram um feitiço que a nossa Mione não saiba fazer. — Disse Hagrid orgulhoso, fazendo Mione ficar púrpura de tão corada

— E é uma coisa completamente revoltante chamar alguém de... — Começou Ron, enxugando a testa suada com a mão trêmula — ... Sangue sujo, sabe. Sangue comum. É ridículo. A maioria dos bruxos hoje em dia são mestiços. Se não tivéssemos casado com trouxas teríamos desaparecido da terra.

    Ele teve uma ânsia de vômito e tornou a desaparecer de vista.

— Bem, não vou julgar você por querer enfeitiçar Draco. — Hagrid falou alto para encobrir o som das lesmas que caíam na bacia — Mas talvez tenha sido bom a sua varinha ter errado. Acho que Lucius Malfoy viria na mesma hora à escola se você tivesse enfeitiçado o filho dele. Pelo menos você não se meteu em apuros.

— Er... — Logo engoli a seco nervosa

— O que vocês fizeram? — Hagrid perguntou depressa

— A Rox lançou um feitiço nele, o lançou para o alto e por pouco ele não levou um baque no chão, poderia ter parado na enfermaria se não fosse por Flint. — Hermione explicou

   Hagrid deu uma risadinha, mas logo me repreendeu e disse que Lucius poderia infernizar meu pai por causa disso, então garanti pra ele que não faria mais nada contra o imprestável do Malfoy. O que não era de fato tão verdade.

— Harry. — Hagrid falou de repente como se tivesse lhe acabado de lembrar de algo — Tenho uma reclamação sobre você. Ouvi falar que andou distribuindo fotos autografadas. Como é que não ganhei nenhuma?

   Não pude conter minha risada, mas Harry pareceu irritado.

— Não andei distribuindo fotos autografadas. Se Lockhart continuar a espalhar este boato...

   Mas, logo notou que Hagrid estava rindo.

— Só estou brincando. — Disse, dando palmadinhas amigáveis nas costas de Harry, fazendo-o enfiar a cara na mesa — Eu sabia que não tinha dado. Eu disse a Lockhart que você não precisava fazer isso. Você é mais famoso do que ele sem fazer a menor força.

— Aposto como ele não gostou nada de ouvir isso né. — Falei começando a rir enquanto imaginava a cara de Lockart

— Acho que não. — Respondeu Hagrid, com os olhos cintilando — E então falei que nunca tinha lido um livro dele e ele resolveu ir embora. Quadradinhos de chocolate, Ron? — Acrescentou, ao ver Rony reaparecer

— Não, obrigado. — Ele falou fraco — É melhor não arriscar.

— Rony recusando comida?.— Arregalei os olhos o olhando — Quem é você e o que fez com o meu irmão?

   Ron apenas revirou os olhos, e os outros deram risadinhas.

— Venham ver o que andei plantando. — Hagrid convidou quando terminamos de beber o chá

    Na pequena horta nos fundos da casa havia uma dúzia das maiores abóboras que eu já havia visto. Cada uma tinha o tamanho de um pedregulho.

— Estão crescendo bem, não acha? — Hagrid perguntou alegre — São para a Festa das Bruxas... Até lá já devem estar bem grandes.

— Que é que você está pondo na terra? — Perguntei curiosa

    Hagrid espiou por cima do ombro para ver se estávamos sozinhos.

— Bom, tenho dado, sabe, uma ajudinha...

   Logo reparei no guarda-chuva florido de Hagrid encostado na parede dos fundos da cabana. Sempre achei que aquele guarda-chuva não era bem o que parecia, na verdade, tinha a forte impressão de que a velha varinha escolar de Hagrid se escondia dentro dele. O guarda-caça fora expulso de Hogwarts no terceiro ano, mas nunca descobrimos o motivo, era só mencionar o assunto, e ele pigarreava alto e se tornava misteriosamente surdo até que se mudasse de assunto.

— Um feitiço de engorda? — Mione perguntou, num tom de quem se diverte e desaprova — Bem, você fez um bom trabalho.

— A irmãzinha de vocês dois também disse isso... — Comentou Hagrid, fazendo sinal a mim e Rony — Encontrei ela ainda ontem — Hagrid olhou de esguelha para Harry, a barba mexendo — Ela me disse que estava só dando uma olhada pelos jardins, mas eu calculo que estava na esperança de encontrar alguém na minha casa — E logo deu uma piscadela para Harry — Se alguém me perguntasse, ela é uma que não recusaria uma foto...

— Ah, cala a boca. — Harry falou meio irritado

   Rony, assim como eu deu uma risada abafada, mas assim que ele riu o chão ficou cheio de lesmas.

— Cuidado! — Rugiu Hagrid, puxando Rony para longe das suas preciosas abóboras

Era quase hora do almoço, eu não estava com tanta fome, mas Harry começou a falar que só comera uns quadradinhos de chocolate desde o amanhecer, e que estava doido para voltar à escola e almoçar. Então nos despedimos de Hagrid e regressamos ao castelo. Rony tossia de vez em quando, mas só vomitou duas lesminhas. Mal tínhamos entrado no saguão quando ouvimos uma voz.

— Aí estão vocês, Potter, Weasley. — A Professora McGonagall rapidamente veio em nossa direção com a cara séria — Vocês vão cumprir suas detenções hoje à noite.

— Mas eu não fiz nada. — Falei indignada e quase chorando — O Drac...

— Por Merlin, senhorita Weasley, não é você, é seu irmão e o Potter. — Ela explicou batendo de leve a mão no rosto

   Suspirei aliviada, achei que ela tinha descoberto sobre o feitiço que lancei em Draco.
  
— O que nós vamos fazer, professora? – Rony perguntou nervoso

— Você vai polir as pratas na sala de troféus com o Sr. Filch. E nada de magia, Weasley, no muque.

     Rony engoliu em seco.
   
— E você, Potter, vai ajudar o Prof. Lockhart a responder às cartas dos fãs.

— Ué, isso nem é detenção de verdade. — Acabei murmurando em voz alta

— Ah, nã..., professora, não posso ir também para a sala de troféus? — Harry perguntou desesperado

— Eu posso ir com o Lockart, Professora??? Por favor. Por favor. Por favor. — Praticamente emplorei

— Sim professora, a Rox fica com o Lockart e eu vou com o Ron pra sala dos troféus. — Harry sugeriu contente

— Mas é claro que não. — Ela respondeu erguendo as sobrancelhas — Primeiro que a Senhorita Weasley não fez nada para ir pra detenção e segundo que o Professor Lockhart fez questão de que fosse você, Harry. Oito horas em ponto, os dois.

   E logo ela saiu, Harry e Ron estavam com péssimo ânimo, mas logo se viraram para mim.

— Porque queria ir pra detenção com o Lockart?

— Queria ver se tem alguma carta da mamãe perdida e acredito que ia ser hilário ler e responder cartas. — Comecei a rir enquanto explicava — Eu ia fazer elas odiar ele, ia responder falando um monte de coisa.

— Por Merlim, isso é terrível Roxanne. — Mione me repreendeu, mas logo virou-se para Ron e Harry — Não adianta ficar com essas caras, vocês desobedeceram o regulamento, devo lembrar.

   Eles não falaram nada e apenas andaram curvados para o Salão Principal, no pior estado de ânimo possível, eu e Hermione atrás deles, ela com aquela expressão de “vocês desobedeceram ao regulamento. Os meninos nem apreciarem a comida como deveria, estavam perfeitamente chateados.

— Filch vai me prender lá a noite inteira. — Ron falou com voz deprimida — Nada de magia! Deve ter umas cem taças naquela sala. Não entendo nada de limpeza de trouxas.

— Eu trocaria com você numa boa. — Harry falou em um tom cavo — Já tenho treinado um bocado com os Dursley. Responder às cartas dos fãs de Lockhart... Isso vai ser um pesadelo...

— E eu trocaria de boas com você Harry, também já tenho um bom treino de como responder cartas. — Falei em um tom amênuo e eles me olharam de relance

— Fala sério, Rox. — Eles falaram ríspidos

— Tá bom, Harry, preciso de um favor seu depois tá.

   Ele apenas me olhou intrigado esperando que eu prosseguisse.

— Não se preocupe com isso agora. — Lhe disse com um sorriso, me levantando prontamente pra sair deixando os três intrigados — Amanhã eu te conto.

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