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FALHAS


As flores de cerejeira haviam finalmente desabrochado ao redor do colégio.

Mas eu não tive muito tempo para me dar ao luxo de observá-las.

Os heróis do grupo do Endeavor se encontravam na base da montanha indo em direção ao Hospital Jaku, enquanto esperávamos na retaguarda o sinal para começar a evacuação dos civis. Não sabia o motivo exato do porquê os heróis iriam lutar, só me deram um trabalho em que eu me encontrava hesitando em cumpri-lo.

Eu tinha uma rota. 

Eu conhecia o inimigo. 

Eu sabia exatamente o que deveria fazer. 

Mas não conseguia avançar.

A ansiedade me consumia por dentro, além da confusão em que meus sentimentos se encontravam. Como resultado, comecei a arranhar os cantos das minhas unhas tentando aliviar minha tensão.

__ Vai arrancar suas unhas se continuar com essa merda - Bakugou disse chamando minha atenção - O que é dessa vez?

__ É só uma sensação ruim - respondi deixando meus braços caírem ao meu lado.

Ele resmungou algo que não prestei muita atenção antes de se afastar, me deixando novamente perdida em meus pensamentos.

Se eu seguisse as instruções da Capitã, não iria ser pega cumprindo meu dever, mas meus amigos sentiriam minha falta ali e iriam desconfiar. Não entregar o Aoyama era uma coisa, deixar de obedecer aquela ordem era um perigo pra mim. Não iriam deixar passar. Eu seria punida por aquilo e como consequência, seria retirada do colégio. 

"Bakugou, se eu te deixar aqui com eles, você não vai se machucar, não é?", pensei comigo mesma olhando para ele a distância.

Meu peito doía com aquela angústia, mas não dava pra fugir de tudo.

"Eu sinto muito Kacchan"

Mas antes que eu desse o primeiro passo para ir em direção ao meu alvo, uma onda de dor e tontura passou pela minha mente, quase me fazendo tropeçar. E eu sabia exatamente quem era.

"Velha para com isso!"

Porém, ela raramente escutava meus pedidos e não parou até que mandou minha consciência para o fundo da minha mente.

KIMIKO

Trocar de lugar com a Akira era um saco, mas a visão à minha frente me deixou confusa demais pra me importar com aquilo. Heróis e seus estagiários espalhados no topo da montanha em um número tão grande quanto eu já havia visto em minha vida.

"Entendi o porquê da preocupação da pirralha, tem mesmo alguma coisa muito errada aqui"

__ Kira, tudo bem? - a garota com o rosto redondo e cabelos castanhos ao meu lado perguntou. Eu não me dei ao trabalho de aprender o nome dos amigos da Akira, mas ainda precisava agir como ela.

__ Sim, não se preocupe - respondi ajeitando a postura.

A parte mais difícil de ter o controle do corpo da pirralha era manter a consciência dela quieta para que não trocasse de lugar. E segundo, ser gentil e boazinha. Que ridículo. Meus anos como vilã não me ajudaram a aprender isso muito bem, mas não havia muita escolha já que não podia levantar suspeitas sobre o comportamento dela.

"Eu só tenho que mantê-la longe do Shigaraki. Não posso deixá-la sujar as mãos de sangue como eu"

Quando se trata de poder, a mente da garota pode ser tão poderosa quanto a minha, mas por causa dos experimentos que AFO fez nela, ordens se tornaram o impulso para suas ações e limites morais foram suprimidos para que ela fizesse qualquer coisa que ordenasse. Apesar de recuperar boa parte de suas emoções e senso de certo e errado, parte dela ainda se submetia às ordens que recebia, o que era um grande problema. Aqueles malditos do governo souberam muito bem tirar proveito disso, mas mandá-la pra matar não era algo que eu iria permitir.

Mas os heróis não estavam tão atrás no quesito adolescentes. Eu até podia ser uma vilã, mas a ideia de mandar pirralhos para assumir as lutas era absurda até pra mim. Eu só precisava mantê-la longe, deixar que os heróis fizessem o trabalho deles e se a Comissão reclamasse disso com ela, eu daria um jeito de os assustar.

Quando o alerta foi dado, segui com todas as instruções dadas pelos heróis. Adentrar a cidade, cuidar da evacuação segura dos civis e várias outras bobagens.

Uma chatice sem fim.

Eu preferia mil vezes poder sentir a adrenalina de uma luta do que estar naquela situação.

Estar rodeada de pessoas sem que me olhassem com puro pavor ou repulsa era bem estranho. Geralmente havia gritos e correria por onde eu passava.

Às vezes sangue.

Mas era a pirralha que eles viam e era só mais uma estagiária dos heróis. Porém, até mesmo a garota tinha seus segredos. 

Às vezes quando ficava perdida em seus pensamentos ou se distraía, eu podia olhar o que acontecia ao seu redor, mas ver ela se agarrando com aquele garoto estava fora de cogitação pra mim. Mas apesar da personalidade, ele a fazia feliz, então não tinha do que reclamar.

Me doía pensar em como ela ficaria quando descobrissem a verdade. 

Um coração partido é capaz de destruir qualquer pessoa.

E destruiria tanto o dela quanto o do garoto explosivo.

De repente, um arrepio frio percorreu a minha espinha. Eu sabia exatamente qual era aquela sensação, já que a senti todas as vezes que havia me encontrado com ele.

"All For One"

Me virei lentamente seguindo aquela sensação e acabei por ver que eu não era a única que havia sentido aquilo. O garoto de cabelos verdes se encontrava pálido e paralisado de choque. 

Levantei meus olhos buscando a fonte de poder que o corpo da garota sentia, para entender de onde estava vindo. No momento em que o encontrei, senti que o caos estava prestes a se instaurar. 

Talvez por causa dos sentimentos da pirralha, só uma coisa me tirou daquela aflição, a necessidade de proteger o garoto dela.

__ Bakugou - sussurrei ao seu lado chamando sua atenção - corre.

No mesmo instante, uma onda de destruição se alastrou a partir do hospital vindo a toda velocidade em nossa direção, levando consigo tudo que havia pela frente. Os heróis e seus estagiários tentavam garantir a evacuação total dos civis enquanto alguns dos colegas da pirralha tentavam conter os destroços de avançarem.

Mas parecia que tudo era em vão.

Até mesmo minha barreira não foi o suficiente para parar aquilo.

De uma coisa eu tinha certeza. Seja lá quem tivesse feito aquilo, havia ultrapassado os limites das individualidades. 

Quando me reuni novamente com os colegas da Akira e todos se encontravam surpresos e assustados pelo que havia ocorrido, enquanto os heróis ao nosso redor buscavam lidar com os feridos.

"Que merda foi essa?", pensei passando as mãos pelo rosto confusa, mas antes que pudesse fazer alguma coisa, o garoto de cabelos verdes e o namorado da pirralha foram juntos em direção ao local de onde a onda de destruição se expandiu.

Eu planejava manter minha garota o mais longe possível daquele caos, mas infelizmente, a pirralha tinha outros planos.

.


"Kimiko sua maldita!"

Retomar meu controle era como acordar de um sonho conturbado, a diferença é que de repente eu me encontrava em uma confusão entre gritos e destroços.

Não tinha certeza do que havia causado aquilo, mas se tivesse vindo do Shigaraki, a culpa seria minha por não ter feito o meu trabalho.

Mas não me preocupei muito com aquilo naquele momento porque Bakugou e Midoriya seguiram em direção ao local de onde aquela explosão veio. Todoroki seguiu os dois para trazê-los de volta, mas eu não conseguiria me manter ali enquanto eles iam para a zona de luta, então, mesmo com as vozes da Uraraka e Iida me chamando, não hesitei em ir atrás deles.

A visão da destruição causada na cidade era de assustar qualquer um e se alguém não tivesse sido retirado daquela área, não havia nenhuma chance de estar vivo. Ruas completamente cobertas por destroços dos prédios que desabaram, fios de energia arrebentados para todos os lados, assim como a poeira no ar.

"Por que eles tinham que vir para o meio da batalha dos heróis? São idiotas por acaso?!", pensei aflita com toda aquela situação.

Não demorei muito pra encontrar os rastros de gelo do meu colega e em seguida ir ao seu encontro.

__ Todoroki! - gritei chamando sua atenção.

__ Estão indo para o sudoeste! - ele exclamou e logo tratei de cobrir sua retaguarda, já que íamos em direção a zona de batalha. Entretanto, nenhum treino ou atividade do colégio poderia ter nos preparado para o caos que iríamos encontrar.

Midoriya e Bakugou estavam bem, diferente de Endeavor e outros heróis que ficaram esgotados de suas lutas, já os Nomus eram muito maiores do que os últimos que apareceram, mas o pior de todos, era Shigaraki que estava prestes a colocar sua mão e destruir Erased Head.

“Professor Aizawa…”

Todoroki se adiantou e avançou com o gelo lançando o vilão o mais longe possível. Já meu professor, se encontrava gravemente ferido e havia perdido sua perna abaixo do joelho.

Por culpa do Shigaraki.

O alvo que eu não havia eliminado.

Me posicionei rapidamente a frente do dele e ativei a barreira enquanto os outros heróis cuidavam dos ferimentos dele. Já Shigaraki continuava seu discurso, alguma coisa sobre os heróis e sua corrupção na sociedade, o qual eu não fazia a mínima questão de ouvir, mas isso não durou muito, pois novamente o arrepio em minha espinha apareceu.

__ Você - Shigaraki disse prendendo os olhos nos meus. Tinha algo nele que fazia meu corpo gritar pra que ficasse longe. Fazia meus sentidos se aguçarem e minha mãos se fecharem por um sentimento que eu não sabia o que era. Talvez uma mistura de medo e raiva - Viva ou morta, eu quero você de volta.

Mas eu senti que não era ele realmente que disse aquilo. Por algum motivo que eu desconhecia, era o All For One dizendo aquelas palavras pra mim.

Não tive muito tempo pra pensar sobre aquilo, pois o corpo dele havia se danificado demais e uma ferida se abriu em seu peito. Ele estava chegando ao limite e Midoriya percebeu isso. Shigaraki iria contra-atacar com mais onda de destruição, porém Deku tirou todos do chão nos levantando com o chicote negro e levando também Shigaraki aos céus, mas para enfrentá-lo ele teve que nos colocar no chão novamente.

Vendo a luta dali, Shigaraki era claramente muito mais forte do que haviam me informado.

Era algo a ser temido.

Quando me virei para Bakugou, encontrei novamente aquele mesmo traço de preocupação que só havia visto uma vez. Não entendia bem qual era a relação entre os dois, mas devia ser importante o suficiente pra fazê-lo expressar seu pânico e preocupação por Deku estar lutando sozinho.

__ Não consegue segurá-lo? - Bakugou perguntou aflito ao meu lado.

__ Estão rápidos demais, não consigo parar nenhum dos dois - respondi depois de tentar. Mas ele não ficaria parado tendo que ver a luta acontecer, então juntamente com Todoroki e Endeavor, ele subiria pra lutar.
 
__ Eu cuido do apoio de vocês - disse antes que subissem. Eu precisava cuidar para que os Nomus não atacassem o meu professor que já estava detonado e ao mesmo tempo servir de ajuda aos meus amigos.

Endeavor segurou Shigaraki, envolvendo o em suas chamas, mas não foi o suficiente, pois mesmo queimado Shigaraki o atingiu lançando garras em sua direção.

E logo o próximo alvo se tornou o Midoriya.

Todo o ar foi sugado dos meus pulmões naquele momento, pois explosões cortaram o ar e Deku foi tirado do caminho.

E então, as garras que saíram das mãos do Shigaraki atravessaram o corpo do Bakugou.

Quando foram arrancadas, Todoroki o agarrou antes que continuasse a cair e apenas pude usar meu poder para segurá-los e os tirar de perto do Shigaraki, implorando aos céus para que ele estivesse vivo.

Midoriya foi o primeiro a reagir, deixando que seu poder tomasse conta de si mesmo e atacando o vilão com tudo que tinha, mas Shigaraki acabou por conseguir tocá-lo. Apenas uma nova explosão se espalhou no ar, lançando os dois em direções opostas. Todoroki se lançou para pegar nosso colega e eu rapidamente os segurei pra que não se machucassem ainda mais na queda. E logo em seguida corri o mais rápido que pude para perto deles.

Ter que ver a pessoa que eu amava caída no chão foi mais doloroso do que todas as lutas que já tive na vida.

As garras haviam perfurado seu peito e abdômen e o sangue se espalhava pelo tecido preto de seu uniforme até que se encontrasse com o chão.

"Não, não, não, NÃO! Eu devia ter te protegido... por favor, por favor, por favor... Eu preciso de você! Por favor, não morra... Por favor, fica comigo!", eu pensava enquanto tentava estancar o sangramento dele e Todoroki cuidava dos ferimentos do Deku ao meu lado.

O desespero começou a transbordar pelo meu peito, o partindo em vários pedaços, me sufocando de medo, imaginando todos os horríveis cenários que poderiam acontecer. Não importava mais o quanto eu havia treinado e lutado, não foi o suficiente para proteger a única pessoa que precisou de mim de verdade.

__ Você me disse que se tornaria o Herói Número Um! - disse sentindo às lágrimas se acumulando em meus olhos - Não vou te perdoar se morrer aqui!

Quando Todoroki me ajudou a terminar com os primeiros socorros, meus joelhos finalmente falharam me obrigando a me sentar no chão e ter que encarar o cenário de guerra à minha frente.

Toda a destruição ao nosso redor. 

O monstro que lutava contra os heróis. 

Minhas mãos cobertas com o sangue da pessoa que eu amava.

__ Bruxa... - Bakugou disse começando a abrir seus olhos, mas todo seu rosto estava tenso de dor.

__ Vai ficar tudo bem Kacchan, você vai ficar bem - respondi sem saber se eu estava tentando tranquilizar ele ou a mim mesma.

Então, a realidade me deu um tapa na cara e as emoções começaram a vir à tona. 

Nada mais importava naquele momento. O mundo a minha volta desmoronava, às vozes à minha volta se distanciavam cada vez mais. O sentimento de fracasso e raiva por ter deixado tudo aquilo acontecer me tomaram por completo e viraram dor e ódio em sua forma mais pura.

__Todoroki, por favor cuida deles - foi a última coisa que eu disse antes de todo o caos em mim emergir.

Me levantei fechando minhas mãos até sentir as unhas molhadas de sangue cravando em minha pele. A única coisa que ouvia era meu coração disparado, enquanto minha respiração ficava cada vez mais desregulada. 

Naquele momento, algo dentro de mim se quebrou completamente.

A única coisa que eu passei a ver pela minha frente foi vermelho puro com fúria pulsando em minhas veias.

Eu perdi o controle.

"Por que eu estou aqui?" eu pensei "Ah, é mesmo"

Meus olhos percorreram o campo de batalha à procura do meu alvo e o encontraram envolto em névoa e nas gigantes garras que saíam de suas mão o levantando do chão. Ele estava longe demais pra que eu conseguisse prendê-lo com meu poder, então só havia uma opção, avançar.

O primeiro passo que dei indo em sua direção foi minha decisão final.

"Eliminar Tomura Shigaraki"

Porém, mais heróis começaram a se deslocar para onde estávamos e então, Todoroki agarrou meu braço me virando para ele e para Iida, que também havia chegado. Ambos pareciam tentar me dizer alguma coisa, mas não conseguia entendê-los, pois meus olhos encontraram novamente o corpo do Bakugou caído no chão e minha raiva continuou a aumentar cada vez mais.

"Parem de me atrapalhar", eu pensei puxando meu braço de volta e me virando novamente para avançar. Os dois não tiveram muito tempo para registrar minha reação, pois um gigante carregado de vilões avançava com tudo para adentrar na batalha.

Mas eu não me importava com isso.

Estava ocupada demais correndo em direção ao meu alvo.

Mas o gigante foi mais rápido que eu em capturar Shigaraki.

Porém, não importava o que iria me custar, ele não sairia dali com vida. 

"Preciso chegar até ele”

Avancei em direção daquela coisa e lancei todos os escombros que havia ao redor de mim em sua direção, apenas como uma distração para me aproximar da mão onde ele segurava Shigaraki. Porém, antes que conseguisse tomar o controle de seu corpo, mais uma vez chamas azuis foram lançadas em minha direção, também fazendo o gigante notar minha presença e tentar me esmagar com sua mão livre. Mesmo sendo difícil, consegui impedir que sua mão chegasse a colidir comigo, mas enquanto me concentrava quase não notei os Nomus que insistiram em vir pra cima de mim. 

Mesmo conseguindo mandar um deles para longe, o outro agarrou meu corpo me tirando de perto do meu alvo.
E mais uma vez eu me vi diante de um dos monstrinho do All For One, porém ali se encontrava um cem vezes mais forte.

Lutar com ele estava destruindo meu corpo, arrancando toda força que eu possuía para não deixá-lo me matar. Quando me prendeu no chão, pisando em cima das minhas costas, não havia mais nenhum pensamento racional em mim, pois me levar ao extremo fez minha mente parecer prestes a explodir pela dor que sentia. Mas aquela coisa  estava me atrapalhando a cumprir meu dever.

"Morre logo"

A única sensação que tive em seguida foi de algo quente sendo lançado em meu rosto.

E o aperto em meu corpo parou abruptamente.

Mas antes que conseguisse me levantar, minha mente foi atingida por uma nova onda de dor e o gosto metálico invadiu minha boca até que eu fosse obrigada a ver minhas mãos banhadas no meu próprio sangue.

Não sei dizer o que houve ao meu redor depois disso.

Eu não ouvia nada.

Minha visão ficou embaçada e escureceu completamente.

A única coisa que vibrava dentro de mim era a necessidade de cumprir a ordem que me foi dada.

Mas não conseguia mais me mover. 

Meu corpo não responderia a minha mente.

Só me recordo da dor dilacerando cada um dos meus membros e um sentimento dentro de mim que ocupou espaço até que me levasse a parar de querer lutar.

Fracasso.

Em algum momento, me encontrei novamente dentro do vazio da minha mente e ao invés da escuridão de sempre, se encontrava tão clara quanto o dia ou a luz que se espera no fim do túnel. O som das ondas quebrando na praia chamou minha atenção e quando finalmente abri os olhos, fui recebida pela imensidão de um céu banhado pelo pôr do sol marinho.

Seja como for, era um cenário adequado para quem estava prestes a morrer.

Não conseguia sentir meu corpo ou vestígios do meu poder, era como se minha existência estivesse limitada aquele espaço em minha mente. Com a cabeça apoiada em algo que me transmitia algo parecido com calor, percebi no colo de quem eu estava quando seu rosto caiu sobre mim.

"Acho que acabou pirralha..."

Era a primeira vez que eu via o rosto dela sem minha névoa. Olhos acinzentados eram o que mais se destacavam em seu rosto com traços delicados e envolto pelos longos cabelos negros. Ela era tão bela quanto uma mulher podia ser, mas não a admirei por muito tempo, já que o que tinha acontecido me acertou em cheio. Sangue, destruição, ódio e uma lista de falhas minhas que parecia ser infinita. 

"O que está te incomodando? E não ouse me dizer que não é nada"

"Eu fui estupidamente inútil. Não consegui vencê-lo. Não consegui proteger eles e meus amigos estão... o Bakugou..."

Dizer o nome dele só fez o que eu sentia ficar ainda pior. Era uma confissão dolorosa e como quem erra, cobri meu rosto com as mãos me amaldiçoando por dentro.

"Isso é um grande fardo para se carregar" ela disse tentando me consolar "Não pode assumir a culpa por tudo". Antes que continuasse a falar, me levantei abruptamente tomada pela minha raiva e decepção comigo mesma.

"CALA A BOCA MERDA! VOCÊ NÃO ENTENDE! Meu único trabalho era cuidar deles! Garantir a segurança de todos e vencer! E apesar desse poder, eu fui só uma inútil que não conseguiu fazer nada! EU PERDI!" Por fim, meus joelhos cederam e apertei minha cabeça entre as mãos, me encolhendo ao redor de mim mesma como se pudesse de alguma forma desaparecer.

"Por que eu não consegui ser suficiente?!" sussurrei frustrada repassando cada fracasso que ocorreu por minha causa.

"Eu entendo isso melhor do que ninguém. Sabe, fui uma inútil também" Ela disse ao se aproximar, segurando meus pulsos pra si e procurando meu olhar "Não consegui proteger a minha filha, nem quando ela era apenas uma criança e nem agora. E ter que ver ela sofrer é a pior coisa do mundo..."

Deixei minhas mãos caírem sobre meu colo quando ela as soltou, procurando colocar meus pensamentos no lugar para não me descontrolar novamente. Ela esperou sentada ao meu lado e mesmo sem olhá-la diretamente podia sentir que estava inquieta, até que começou a falar.

"Não vou te culpar se me odiar ou coisa assim" disse com um sorriso triste "Eu só não queria ter sido uma vilã para a minha própria filha"

"Nunca disse que te odiava" respondi indiferente "Não me importa se você era uma assassina ou coisa do tipo, você continua sendo a minha mãe"

Depois de todas as merdas que eu disse à ela, admitir algumas verdades mesmo que sentimentais, era o mínimo que eu podia fazer para me redimir já que era o fim, porque no fundo, ela sempre foi a minha única garantia de proteção e cuidado.

"Você sempre cuidou de mim. Nunca deixou que me machucassem, porque sempre estava lá. Sendo irritante na maioria das vezes, mas do meu lado, não importava a situação, inclusive agora"

Ela desviou o olhar tentando conter qualquer vestígio de emoção embaraçosa.

"Não me faça chorar, pirralha!"

"Você é uma alma presa a mim, acho que não tem chances disso acontecer velha" 

"Ainda pode ficar ouvindo essa velha tagarelar mais um pouco?" pediu a mim zombando do apelido, já que de velha sua aparência não tinha nada.

"Por uma última vez, vá em frente."

Kimiko desviou o olhar em direção ao mar calmo e um pequeno sorriso se espalhou por seu rosto como se estivesse familiarizada com aquela praia de areias quente, brisa fresca e águas límpidas.

"Tem uma parte da minha vida que eu não contei pra você. Eu esbarrava com heróis no meu caminho constantemente, e um dia eu conheci seu pai. Por ele ser um herói, eu achava a nossa relação bem divertida, mas acabou não dando certo. Foi na época em que eu queria parar com meu trabalho e um tempo depois descobri a gravidez. Quando você nasceu, não pude deixar de ficar feliz por ele ter me dado um motivo pra continuar vivendo. Mas o All for One me queria de volta pra usar a minha força pra machucar inocentes, então decidi desaparecer de vez e encerrar definitivamente a vida de assassina."

Filha de um herói com uma vilã, por quê não? Toda a minha existência em si já era uma loucura sem fim.

"Você era a coisa mais fofa do mundo, sabia? Adorava o bolo de chocolate que eu preparava pra gente e sempre me pedia pra ler pra você. Nunca gostou do inverno porque acabava ficando facilmente resfriada e presa na cama, mas a bola de pelos sempre fazia companhia pra você"

"Bola de pelos?", perguntei confusa.

"Seu gato, jiji. Uma coisinha irritante que andava com você pra todo lugar"

"Isso explica muita coisa" respondi tristemente à ela.

"Durante aqueles anos, eu pude ter toda a felicidade e amor que me foram negados na minha vida" disse com um sorriso, mas que rapidamente desapareceu "Até o dia que ele te levou. Eu fui impulsiva e não acreditei que os heróis iriam querer ajudar uma pessoa tão horrível como eu, então fui atrás de você e mesmo sendo distante, seu pai também foi, mas nenhum de nós conseguiu te trazer de volta. Então eu tive que assistir a única pessoa que eu amei morrer bem diante dos meus olhos. E saber que eu não consegui proteger nenhum dos dois foi a maior dor que senti em toda a minha existência"

Eu sabia como era a sensação. Uma mistura de raiva, culpa e fracasso arrebentaram meu coração quando eu mesma não consegui ser suficiente para proteger aqueles que eram queridos pra mim. 

"Fiquei confusa quando percebi que estava presa a você, mas satisfeita em poder te ver crescer, ser feliz com aquela heroína e depois com aquele homem pássaro, ir para o colégio e melhorar suas habilidades. Você fez amigos e ainda se apaixonou e apesar de existirem pessoas que querem te usar, você também encontrou pessoas que te amam. Assim como eu, pirralha"

Se era possível que eu me sentisse pior do que me encontrava, eu não sei. Mas as palavras dela perfuraram fundo em mim e não como eu esperava.

"Me perdoa" respondi com a voz baixa "Não consegui ser forte como você queria"

"É claro que foi, querida" disse pegando meus rosto entre suas mãos "Você aguentou mais do um ser humano conseguiria suportar. Se tornou uma garota realmente admirável e tenho certeza que Lady Nagant, Mirko e Midnight concordariam comigo. Até seu garoto explosivo reconhece sua força"

"Se eu fosse mesmo forte, ele não teria se machucado. Eu falhei com ele"

"Não querida, você fez tudo que pôde. Certas lutas são muito difíceis de serem encerradas, são desgastantes e precisam de uma maturidade que crianças não possuem. Essa batalha não devia ter sido de nenhum de vocês"

Podia até ser verdade o que ela disse, mas ainda sim, não apagava a culpa que eu sentia por ter falhado.

"Akira" Disse abaixando a cabeça e juntando suas mãos "Eu salvei sua vida diversas vezes, mas tomando sua consciência a força. Sinto muito se algum dia assustei você ou fui rude demais. Peço desculpas por qualquer coisa que eu tenha feito que te magoou"

Fechei os olhos refletindo sobre aquilo. Ela tinha feito aquilo algumas vezes, não dá pra negar, mas eu nunca fiquei realmente com medo dela. 

"Tudo bem, eu entendo você"

"Esse último vestígio meu que ficou preso a sua individualidade, é a única coisa que ainda me prende ao mundo dos vivos e que me permitiu te proteger. Me perdoa garota, por ter que te deixar sozinha daqui pra frente"

"Do que tá falando?", perguntei levantando meu rosto só para encontrar seus olhos brilhando tentando conter as lágrimas "Kimiko..."

"Está tudo bem pirralha, meu tempo neste mundo já era pra ter chegado ao fim a anos" 

Quando procurei suas mãos, as minhas passaram pelas delas como se não houvesse nada ali. Engraçado e terrivelmente trágico, já que eu sabia que ela era apenas uma alma e ainda sim, tentei buscar algo para me agarrar. O desespero começou a me invadir, enquanto ela mantinha a postura tentando não demonstrar dor em sua voz.

"Seja lá o que estiver fazendo, para agora!"

"Sua jornada foi cheia de dor e sofrimento, mas isso te tornou mais forte. Estou orgulhosa de você, minha querida Akira"

"Por favor, para com isso!"

"Não se esqueça de mim" Uma lágrima solitária escorreu pelo seu rosto, enquanto seu corpo desaparecia cada vez mais a minha frente, porém em nenhum momento ela desfez o sorriso em seu rosto "Eu te amo, pirralha"

"MÃE!"

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