CARTAS NA MESA
It turned into something bigger
Somewhere in the haze, got a sense I'd been betrayed
☆The Great War - Taylor Swift☆
☆
Ok, recapitulando.
Primeiro, um alvo inocente, coagido pelos pais que estavam sob ameaça, aceita se tornar um infiltrado para o maior vilão do país.
Depois, com o acúmulo de eventos desastrosos que colocaram a vida de adolescentes em risco, o governo pede que o colégio tome providências e investigue a causa.
E adivinha?
Eles não levam a sério a ideia de um traidor entre eles, então descartam essa hipótese.
O governo então, resolve colocar uma dos seus para que se infiltrasse no colégio e achasse o culpado.
Ela começa suas investigações, mas acaba por deixar suas obrigações de lado.
E pior, ela se apaixona.
E quando finalmente encontra o alvo, ela não o entrega, porque isso traria dor aos seus novos amigos e a pessoa que amava.
Então, ela o acoberta por um bom tempo e em sua cabeça inocente, tudo ficaria bem contanto que não descobrissem que ela era uma espiã.
Mas não importa quantos caminhos trace, quantas mentiras conte, o final é sempre o mesmo.
A verdade vem à tona.
Mais uma vez, os pais do Aoyama tentaram convencê-lo a prestar novas informações para o All For One, e bem, Midoriya e Hagakure pegaram eles no flagra.
Sabe quando algo ruim acontece na sua vida e pelos próximos minutos a ficha não cai?
Eu posso destruir, controlar, ser uma gênia, mas nada disso importava naquele instante, eu me sentia tão impotente.
Se eu não tivesse sido egoísta e o entregado antes, ele não estaria sentindo medo outra vez, não é?
Bem, meu colega de turma e seus pais foram presos e colocados em uma das salas do colégio, os agentes da polícia vieram, meus professores estavam agitados demais com toda informação, todos na turma ficaram chocados e decepcionados, Bakugou ficou uma fera e não podia esperar outra coisa, já que o sequestro foi parcialmente culpa do Aoyama.
No fundo da sala, eu observava tudo quieta, enquanto minhas unhas perfuravam minhas mãos com a confusão em que minha mente se encontrava.
Como eu me senti vendo tudo aquilo? Eu preciso ser sincera, meu autocontrole é bem forte às vezes e precisei de toda minha força para não gritar com tanta raiva. Meu estômago se revirou só da simples visão das algemas, aquilo era demais pra mim.
Se o Aoyama me olhasse nos olhos, eu tiraria aquelas algemas dele.
Um sinal, somente um sinal, e eu colocaria aqueles agentes de joelhos.
Eu só queria me desculpar.
Eu deveria ter evitado aquilo, ele não deveria ter que se sentir ameaçado pelo All For One outra vez. Eu decidi deixá-lo continuar vivendo em liberdade, porque aquele monstro tinha que ter arruinado tudo outra vez?
E ainda bem que eu não tinha telepatia como o Shin porque só as lágrimas de arrependimento e vergonha que escorriam pelo rosto dele me matavam por dentro. Eu não me lembro bem do que estava sendo dito ao meu redor, outra vez eu perdi meu foco para os meus sentimentos, mas eu sei que por um breve momento o Midoriya acreditava que o Aoyama não era um vilão como o pequeno traidor dizia ser. Mas mesmo com toda a comoção, lágrimas de descrença, a ideia de que não seria justo tratá-lo como um vilão, tentar entender seu lado ou coisa assim foi deixada de lado.
Porém, algo trouxe minha atenção de volta. Uma ideia tão ridícula quanto os planos malucos da minha chefe. Mandar o Aoyama fingir entregar o Deku, um showzinho idiota na tentativa de enganar o rei dos demônios e separá-lo do Shigaraki para tentar de alguma forma vencê-los. A maior merda que já ouvi na minha vida.
Se eu ouvisse aquilo antes de ter entrado na UA, é provável que minha antiga eu aceitasse que seria necessário sem nem hesitar.
Mas eu já disse que não era mais aquela garota ingênua.
Porque se fizessem mesmo aquilo, as consequências seriam novamente sangue derramado.
__ O quê?
Depois de tudo o que eu havia escutado, não havia uma célula do meu corpo que não queimasse de raiva e decepção. Me aproximei do All Might com a mínima esperança de que eles mudassem de ideia e não seguissem com aquele plano idiota.
__ Na sua cabeça, o que pensa que vai acontecer com ele? Me diz, acha que ele vai milagrosamente sobreviver a uma traição ao All For One? - All Might engoliu em seco e foi o suficiente pra mim - Ah, por favor… Primeiro você dá o fardo do seu poder para o seu pupilo e agora concorda com isso?
__ Sayto se contenha - Professor Aizawa disse do outro lado da tela - não temos intenção de -
Com um simples estalo que chegou aos meus ouvidos, percebi que meu poder transbordou, quebrando assim o tablet que transmitia a chamada ao professor Aizawa. Respirando fundo, tentei me controlar mentalmente, mas as palavras entaladas em meu peito ainda insistiam em sair.
__ É sempre a mesma história. Olha aqui, já chega de toda essa ilusão heroica, Aoyama vai morrer se aceitarem essa ideia e isso é um fato. Ninguém sobrevive a uma traição aquele homem, eu sei bem, ele matou a minha mãe por isso.
O silêncio pesado que caiu sobre a sala foi bem constrangedor, mas não me importei tanto e nem sequer me contive em continuar.
__ Acha mesmo que são capazes de protegê-lo? Você era o único a conseguir vencê-lo e olha só pra você agora.
__ Kira… - A voz de Mina me chamou, mas não foi o suficiente pra me trazer de volta.
__ Alguém tem que dizer a verdade - falei tentando controlar o nó na minha garganta - Eu lutei por vocês uma vez e o que aconteceu? Tudo para proteger pessoas que não tão nem aí pra vida dos heróis que morreram! Acha que está sendo um bom tutor mandando seus alunos para guerra? Qual desculpa vai usar para fazê-los acreditar que é responsabilidade deles lidar com a merda de vocês?! ME RESPONDE!
All Might não tirou os olhos dos meus em cada palavra que eu falei, mesmo com a pressão do meu poder transbordando pela sala. Minhas mãos tremiam, mesmo que as apertasse dos meus lados quando minha vontade de gritar ainda mais me consumia por dentro.
Se eu estava sendo dura demais ou injusta? Talvez sim, mas ficar quieta não era um opção que eu cogitasse.
__ Deixa eu dizer uma coisa, se mandarem o Aoyama pra lá, vai ser o mesmo que entregar a cabeça dele numa bandeja de prata. Que merda de herói faz algo assim?
Seus olhos se arregalaram por um instante e ele deu um passo para trás percebendo algo que eu não imaginei que seria possível.
__ Kira, você por acaso teria alguma relação parental com a Hattori? - All Might perguntou apreensivo.
Surpresa pela pergunta, respirei fundo antes de dar uma resposta a ele. Pra que eu deveria mentir se ele já havia percebido? Aparentemente, eu sou a cara da minha mãe.
__ O senhor deve ter a conhecido, não é? - respondi inclinando minha cabeça com um sorriso - Kimiko Hattori... Minha mãe era uma mulher realmente adorável, não acha?
__ Sayto…? - Tsukauchi chamou meu nome, um dos agentes presentes na sala, o detetive da polícia e um dos queridinhos da minha chefe. Quanto aposta comigo que ele já sabia sobre a minha mãe? Todo mundo sabia, menos eu.
__ Espero que se divirta com seu novo bichinho - disse a ele - No fim, vocês são todos iguais.
Antes de me virar e deixar todos naquela sala, ainda surpresos pela minha reação, finalmente olhei para o Aoyama que não parava de derramar lágrimas. Ele sabia que minhas palavras eram verdade, sobre o destino que o esperava se aquela ideia fosse levada a diante.
__ Me desculpa, não tem mais nada que eu possa fazer.
Qual a diferença de uma associação que usava até o último suspiro de seus soldados para manter uma sociedade em um controle falso e aqueles que acreditavam ser heróis, mas usavam suas próprias crianças numa guerra?
Qual era o limite que os separavam?
Pensar nisso me dá uma dor de cabeça.
Pergunta complicada e não tive muito tempo para tentar decifrá-la.
Digamos que quando os agentes da polícia que vieram com o Tsukauchi entraram, acabaram deixando a porta aberta para certas pragas irritantes.
Me afastar da minha turma para tentar me acalmar, ou levar a minha raiva para outro lugar, me levou aos corredores do colégio, mas diferente dos últimos dias, eles não estavam vazios.
__ Se não sabem esconder suas presenças - disse alto o bastante pra que me ouvisse - pelo menos não deixem uma dama esperando.
Três no total.
Todos usando os conjuntos de luta preto, as máscaras cobrindo apenas a boca e nariz, itens dos agentes noturnos da...
"Divisão de Segurança? Que merda"
Era um dos departamentos principais da Comissão, responsável pelos recrutamento dos agentes especializados em luta, é claro que teriam seus mercenários pessoais. O comandante era um velho careca que eu havia visto poucas vezes perto da minha chefe e ela sempre ficava com uma cara de nojo quando ele virava as costas pra ela. Ele devia comandar a maior parte dos assassinos das sombras da Comissão e resolveu mandar seus cães atrás de mim.
“Entendi. Não sou mais útil pra vocês, não é?”
__ Estamos em um colégio - disse a eles, as minhas palavras sendo o suficiente para colocá-los em posição de alerta - Por favor, não quebrem nada daqui.
__ Facilite as coisas - um deles disse e todos sacaram suas armas - e isso não irá doer mais do que o necessário.
__ Estão com pena? - perguntei sem acreditar naquilo - Se minha chefe souber que deixei meus oponentes com pena, ela vai ficar decepcionada.
__ Você foi bem treinada, mas nós fomos treinados pra lidar com a merda da sua individualidade. Até mesmo telecinéticos têm fraquezas.
__ Ah é?! Quem poderia imaginar uma coisa dessas? - respondi com tom de ironia - Bem, vocês são mortais, isso é tudo que importa pra mim.
O primeiro tiro passou zunindo pelo meu ouvido direito e não me surpreendi quando percebi que as armas possuiam silenciadores, o que me levou a deduzir que as câmeras deveriam estar desligadas ou que eles a configuraram para exibir somente a imagem de corredores vazios. Protocolos básicos para a eliminação de um alvo da forma que não houvesse indícios de suspeitos.
“Um tiro de aviso... armas são mesmo um problema”
__ Eu pedi educadamente para que não quebrassem nada do colégio - Falei irritada, enquanto minha telecinese entortou os canos daquelas coisas idiotas as deixando inutilizáveis - É melhor que suas individualidades sejam boas ou vou rasgar suas gargantas com minhas unhas. E vai ser um prazer.
Aquilo não era um dos meus treinamentos, então deixei que meu poder corresse pelas minhas veias, aumentando assim meu alcance, enquanto avancei pra cima deles. Eu precisava terminar com aquilo o mais rápido possível, já que não muito longe dali estavam agentes da polícia, meus professores e a minha turma.
Suas individualidades não eram um problema, nem eram do tipo de ataque direto, a parte mais chata era ter que lutar corpo a corpo com homens com o dobro do meu tamanho, mas com o amplificador eu dava conta. Infelizmente, um dos socos acabou acertando meu estômago e tive que me segurar para não vomitar, mas para o azar deles eu já estava zangada o suficiente pelos acontecimentos de antes, então apenas deixei uma das minhas rajadas de energias sair de mim, lançando dois deles com a cabeça na parede e o outro pelo corredor.
Com a mão posta em meu abdômen e tosses fracas tentei me recompor enquanto os agentes gemiam de dor. Quando um deles se levantou com dificuldade no corredor, tentei reunir minha força para outra luta.
__ Eu ainda tô respirando... - falei entre risos fracos a ele - Que merda pra você, hein?
__ Me intriga muito o fato da Shiori ter colocado uma criança como você na esperança de substituir a Nagant. Uma garotinha fraca e patética, que não obedece ordens e que nem sequer consegue matar um alvo. A vadia da Shiori não tem mesmo coragem de se livrar dos pirralhos dela.
__ Ei… Só eu posso odiar aquela mulher - respondi ajeitando a postura - Vê se cala a boca seu merda.
Eu irritei ele e novamente, ele veio para a luta, mas coloquei toda minha força num último golpe, pegando impulso na parede e girando o tronco para aceitar um chute diretamente em seu rosto, fazendo o desmaiar com o impacto.
Apoiei meu corpo na parede tentando controlar minha respiração, porém mais uma vez o destino estava contra mim. Quando levantei meus olhos, encontrei mais um agente agachado cutucando um dos corpos no chão.
__ Agradeço por se livrar desses inúteis... - disse se levantando e colocando os olhos nos meus - Eles não costumam deixar eu me divertir.
Ele possuía cabelos castanhos bem curtos e não era o traje que se destacava nele, ou as garras de metal que usava em uma das mãos, mas sim a cicatriz que cortava seu rosto desde a testa até a bochecha esquerda o dando um ar tão assustador que fazia meu corpo se arrepiar. Diferente dos agentes anteriores, uma aura realmente assassina emanava dele.
Algo no ar estava muito errado.
Eu fiquei tão ocupada com os outros que não percebi que algum tipo de gás estava sendo lançado. Estar ofegante pela luta não me ajudava em nada, já que inalar aquilo estava bagunçando meus sentidos completamente.
Mas minha mente ainda gritava por perigo.
Aquele cara não era como os outros.
Eu nem sequer senti sua presença junto a eles.
__ Você me parece ser uma oponente promissora - disse passando lentamente as garras de ferro pela parede, irritando ainda mais minha mente - mas não fico muito feliz tendo que te matar assim... eu realmente queria poder ter uma luta grandiosa com a cria da Hattori… não tem ideia de quanto tempo esperei por isso.
Tentei me afastar, mas antes que andasse sequer por alguns metros, ele rapidamente me alcançou e com meus sentidos em crise e a força natural que ele possuía, logo eu havia sido presa na parede com uma garra a milímetros de perfurar minha garganta.
__ Por que está com pressa? - sussurro perto do meu rosto - Você não irá sair viva daqui...
Antes que eu pudesse reagir, ele agarrou o colarinho da minha camisa e me lançou no chão com mais força do que os agentes anteriores. Em seguida se aproximou e agachou a minha frente, não movendo um músculo de seu rosto.
Seus olhos eram vazios, sem nenhum resquício de emoção.
Um verdadeiro agente da Comissão.
__ Quando soube que a Hattori havia tido uma filha e ela havia começado a trabalhar para a Comissão, eu senti tanta raiva... mas eu esperei, esperei e esperei, porque sabia que não deixariam a cria daquela mulher viver... e esse dia finalmente chegou...
__ Quem é você?
__ Isso não tem importância... Mas, quero que saiba que eu sou só mais um filho de alguém que aquela mulher tirou a vida... Então nada mais justo do que colocar um fim a linhagem dela... tirar seu bem mais precioso assim como ela tirou o meu... Não se preocupe, será bem doloroso -
Cansada da palestrinha daquele homem, mais um lunático com raiva da minha mãe, acertei um chute em seu queixo forte o suficiente para arrancar algum sangue e afastá-lo de mim e de dar alguns segundos para me recompor.
__ A Comissão tem mesmo todo tipo de maluco - falei me levantando mesmo com a dor em pontos do meu corpo - Não estou planejando perder, então vem logo pra eu acabar com você.
Como a individualidade de gás que o corpo dele expelia me deixava sem foco para ativar minha individualidade, a coisa seria na base da pancadaria. Minha chance de vencer naquela situação contra um homem adulto?
Quase nula.
Eu disse “quase”.
Se eu havia aprendido uma coisa com a individualidade da minha chefe é que mesmo que algo pareça impossível, se houver a mínima probabilidade de conseguir, então ainda existe uma chance de vencer. Bem clichê, eu sei, mas se não acreditasse nisso, eu ia morrer, então era melhor do que nada.
Ele era tão rápido quanto um gato e devido ao ar intoxicado, mesmo com a minha defesa, muitos de seus golpes acertaram meu corpo, até que novamente ele me jogou de costas no chão e não me esquivei a tempo de tê-lo por cima de mim com a mão livre das garras na minha garganta.
Falta de oxigênio é um problema para qualquer um, principalmente para os psíquicos.
__ Sempre será assim... - ele disse - Vai carregar os pecados dela até o seu último suspiro… Por que aceita isso?
Minha visão começou a ficar embaçada enquanto seus dedos apertavam ainda mais, mesmo que tentasse afastá-las do meu pescoço.
__ Pare de lutar... Você não quer viver…
Naquele instante, a voz dele ficou tão suave que por um instante, minha mente quis desistir.
“Eu não quero...?”
“Por que eu continuo lutando...?”
“Isso dói...”
De repente, algo o tirou brutalmente de cima de mim e enquanto o ar invadia meus pulmões novamente, queimando meu peito de dor pelo fôlego perdido, e então, a voz do meu irritante veterano invadiu meus ouvidos.
__ AKIRA LEVANTA!
"Pare de lutar... Você não quer viver", a voz daquele homem se repetia em minha mente, enquanto sons de socos sendo trocados preenchiam o ambiente.
__ NÃO ESCUTA ELE AKIRA!!
“Que merda”
__ Saí da minha cabeça Shin... - respondi me levantando com dificuldade - A luta é minha...
Houve diversos momentos em que minha individualidade tomava conta do meu corpo durante meus momentos de inconsciência, mas houve um momento específico em que isso aconteceu enquanto eu ainda estava acordada. Onde tudo à minha frente perdeu a importância e as ideias morais que eu havia acumulado estando na UA desapareceram da minha mente.
Da primeira vez, o garoto que eu amava havia sido ferido porque eu havia falhado no meu trabalho e ali, vendo meu melhor amigo se arriscando por mim, colocando sua vida em risco…
A raiva percorreu minhas veias novamente, pelo Yuga, por mim, pelo Shin, e pela segunda vez, meu mundo se tornou vermelho.
__ SHIN, NO CHÃO! - Entendendo o recado, ele se afastou do homem e então, quando ele veio em minha direção, as janelas explodiram. Cacos voaram em sua direção atingindo um dos lados de seu rosto e mesmo com seus gritos de dor, nem Shin nem eu hesitamos em derrubá-lo.
Com seu corpo juntos aos outros finalmente, a minha primeira respiração veio seguida de uma crise de tosse e quando minha mão deixou minha boca, além do gosto metálico, o vermelho espalhado por ela me deixou ainda mais enjoada.
__ Ei Aki - Shin disse se aproximando e me dando apoio segurando meus braços próximo a ele - Onde ele te atingiu? Isso é ruim, muito ruim…
__ Você não está me ajudando…
Uma nova presença apareceu no corredor, chamando a nossa atenção e deixando o Shin tão zangado, se é que isso é possível.
__ Shinkai? Sayto? - Tsukauchi nos chamou confuso pela cena ao nosso redor - O que aconteceu aqui?!
Eu nunca tive contato com ele pra ser sincera, então não entendia como ele sabia quem eu era, mas como o Shin vivia andando junto a chefe para cima e para baixo, eu suponho que eles já se conheciam a algum tempo.
_ Tsukauchi seu maldito, você deixou eles entrarem! - Shin exclamou se aproximando dele - Que merda! Não precisamos ouvir nenhuma merda agora, tire os corpos daqui, a Capitã lida com isso … -
Eu não me lembro dos detalhes da discussão em que o Shin se meteu com o Tsukauchi, minha mente não registrou mais nada quando percebi as presenças atrás de mim. Me virei lentamente, ainda em choque por tudo que havia acabado de acontecer, mas consciente que tudo iria desabar.
O fim da linha havia chegado, junto com dois olhares confusos no corredor à minha frente.
Meu maior medo se tornou real quando olhos vermelhos finalmente encararam a verdade.
☆
BAKUGOU
Aoyama, hein?
Desgraçado de merda.
A briga dela com o All Might? Ela disse muitas merdas, mas não dava pra culpá-la. Todo mundo tem seus pontos de ruptura, mas ela se preocupa com aquele merda me irritou de alguma forma. Por que depois de tudo ela também tinha que ficar do lado dele?
Enquanto andávamos pelos corredores depois de toda aquela confusão, um grito de dor cortou o ar.
Era um grito de homem, mas eu sabia que ela estava lá.
Momentos antes, eu vi de relance o bruxo de merda que a Aki chamava de amigo correndo por um dos corredores e não ter dado importância naquele instante foi a pior coisa que eu fiz.
Eu prometi pra ela que não ia deixá-la se ferir outra vez, que merda de herói eu seria se quebrasse minha promessa?
Novamente meu corpo se moveu sozinho, eu não tinha certeza nenhuma, só sabia que precisava ir.
E por algum motivo, a idiota da Ashido veio na minha cola.
Mas no momento em que meus olhos encontraram os dela, alguma coisa dentro de mim se quebrou.
O mundo parou ao meu redor e com um estalo percebi o quão cego estava.
Momentos em que não dei tanta importância ou que deixei passar invadiram minha mente, assim como dúvidas e uma verdade que não queria acreditar.
Ela nunca nem tentou esconder.
"Sabe loirinho, tem uma coisa que eu quero. O cargo de Capitã da Divisão de Inteligência, a presidente da Comissão de Segurança é quem escolhe e eu teria que ser a melhor da área pra ter essa responsabilidade"
Melhor em quê?
"Bem, eu treino desde nova. Não tive muito tempo pra brincar ou coisas assim. Sabe, individualidade forte e tal"
O que eu sabia sobre ela de verdade?
Pupila do Herói Número dois e da outra, Lady Nagant? Os heróis, espiões e assassinos da Comissão?
Tão perfeita nos movimentos e técnicas em batalha, tão inteligente quanto qualquer um dos idiotas da turma, sempre se metendo em problemas e situações duvidosas.
Cada sorriso tinha sido minimamente planejado?
Com um alvo nas costas de um dos maiores vilões…
“Me desculpa, não tem mais nada que eu possa fazer”, foi o que aquele traidor desgraçado.
Quem é ela?
Os corpos de agentes jogados pelo chão, o sangue na roupa dela, a discussão do amigo idiota dela com o detetive, essa merda não importava naquele momento, só os olhos dela me encarando surpresa.
__ Akira... me diz que o que eu tô pensando tá errado…
Ela não me respondeu, apenas continuou nos encarando em choque.
__ Kira, o que aconteceu…? - Ashido perguntou ao meu lado.
Sem respostas.
Quando aquele idiota nos percebeu ali, seu rosto que antes gritava com raiva simplesmente se entristeceu e ele se virou para ela, como se estivessem em uma conversa silenciosa entre eles.
Por quê?
Desviando o olhar do meu, ela deu um pequeno aceno a ele, concordando com seja lá o que tenha sido.
__ A UA descartou a possibilidade de um infiltrado da Liga dos Vilões, mas a Comissão de Segurança não engoliu isso e resolveram colocar um deles aqui dentro, mas um adulto não iria ser aceito tão facilmente pelo diretor - aquele merda disse por ela - Então, nada melhor do que colocar uma aluna entre os suspeitos da turma 1A. A Divisão de Inteligência é o departamento pra qual trabalharmos...
"Não..."
Um silêncio pesado caiu entre nós, o único som sendo de um pequeno soluço da Ashido.
__ Eu não queria… me desculpa - ela disse se atrapalhando com as palavras, ainda sem me olhar - Katsuki, eu não -
__ Quando descobriu? - perguntei, mesmo que uma parte minha insistindo que não era verdade - RESPONDE!
Fechando os olhos e respirando profundamente ela finalmente me respondeu.
__ Logo depois do ataque do Nomu…
Por quê?
Por quê?!
POR QUÊ?!
__ Por que não falou nada dessa merda antes?
__ Se fizesse isso, iriam me mandar voltar para Comissão e eu queria ficar aqui, eu não queria deixar vocês -
__ Não mente pra mim - falei com desdém - Olha nos meus olhos e me diz que valeu a pena! Que merda… como... Como pôde fazer isso?!
Uma lágrima solitária escorreu por seu rosto, enquanto seus olhos queimavam de arrependimento.
Que pena que aquilo também era mentira.
__ Você é uma ótima atriz, eu quase acreditei dessa vez - disse virando minhas costas pra ela - Faz um favor pra todo mundo, volta pro maldito lugar de onde veio e esquece da gente.
☆
Seus olhos queimavam oscilando entre ódio e decepção.
Ele finalmente enxergou a verdade sobre quem eu era.
Mentirosa.
Traidora.
Falsa.
Maligna.
Eu queria gritar a plenos pulmões por desculpas, implorar pelo seu perdão, mas não poderia sequer pensar em me defender.
Eles deveriam me odiar.
Essa era a ordem na qual as coisas deveriam ter acontecido a muito tempo. Eu era só uma intrusa passageira entre eles. A minha dúvida entre ir ou ficar não devia ter sido decidida com sentimentos. Deixei aquilo se estender e só acabei causando ainda mais dor.
O controle da minha própria vida foi roubado de mim. Fui machucada a minha vida inteira, mas dessa vez, fui eu que machuquei a pessoa que eu amava.
__ Shin, vem - chamei baixo enquanto dava às costas para tudo que eu desejei um dia - A Capitã está esperando.
__ Tsukauchi, me faz um favor - pude ouvir o Shin dizendo atrás de mim - Avisa ao comandante da Divisão de Segurança que ele é um homem morto, nós não vamos deixar nenhum ataque sair impune.
Fingi não ouvir a voz doce de Mina chamando meu nome inúmeras vezes, fingi não tê-la ouvido me pedindo para esperar quando levantei a barreira entre nós para que não me seguisse, porque a única coisa que eu queria era desaparecer.
Talvez se eu nunca tivesse pisado ali, eles não teriam que lidar com outra traição.
Talvez se eu nunca tivesse me declarado, ele não estaria com o coração em pedaços.
Mas eu fiquei no colégio quando deveria ter partido.
E isso só tornou as coisas piores.
Shin hesitou por alguns segundos, mas logo ouvi seus passos tomarem ritmo perto de mim. Não me lembro do caminho que fiz para sair até estar rodeada com as árvores da floresta da UA novamente debaixo de uma das chuvas gélidas da primavera.
Parecia que eu tinha perdido minha direção interna, parecia tudo irreal.
Mas não era.
Era o final que eu havia adiado por tempos.
O fim mais dramático e digno de pena da minha vida.
__ Akira... - Shin chamou meu nome e só então a realidade caiu sobre mim - Sei que é difícil pra você, mas nós precisamos ir para a -
__ Parece que eu não vou mais voltar para o jantar... - falei o cortando.
De repente, toda a adrenalina da luta pareceu se dissolver no ar e meus joelhos irem de encontro ao chão por cederem de fraqueza. Minhas unhas se enterraram na terra molhada com a força que ainda me restava e minha visão embaçada começou a dar os sinais que eu odiava. Lá estava eu fugindo como uma covarde de todos os meus sentimentos que me dilaceravam por dentro e não impedi que as lágrimas escapassem dos meus olhos, se misturando com as gotas de chuva que caíam sobre mim.
Eu fui louca de pensar que talvez pudéssemos dar certo? Não deveria ser uma surpresa aquilo acabar daquele jeito.
__ E... eu - sussurrei antes de ser afogada em lágrimas de dor - ... eu não devolvi o casaco dele...
☆
(N/A): Uau, isso foi difícil.
Faz um pouco mais de um ano que estou escrevendo esta história e tinha partes que já sabia exatamente como seria e outras que foram bem difíceis de colocar em palavras, mas esse capítulo foi provavelmente minha maior dor de cabeça e o mais triste de todos pra mim.
Sempre planejei escrever essa revelação, mas todas as cenas que pensei para fazer isso acontecer eram dolorosas demais até pra mim, porque mesmo tendo feito a coitada da Akira sofrer como uma condenada, perder o amor da vida dela era algo tão complicado e, sei lá, não sabia como descrever isso, porque términos são complicados.
Bakugou pra mim é um dos personagens mais complexos de Bnha, mesmo com toda a marra e grosseria, ele também tem uma parte sensível, e descrever os sentimentos dele no decorrer dos capítulos sempre foi bem difícil, até hoje sinto que não explorei o suficiente dessa parte dele, e a cena onde ele descobre a verdade tinham tantas possibilidades de emoções que me deixavam louca, eu não tinha ideia de como escrever esse pov dele.
Adiei muito esse momento, eu mesma não queria que chegasse, mas é uma coisa que realmente precisava acontecer porque um relacionamento não funciona com mentiras, é inviável. E... é isso, dói e muito, mas era necessário.
Bem, não tenho muitas ideias de notas para colocar nos capítulos, mas eu tinha certeza que precisava deixar uma nesse.
Obrigada por lerem e acompanharem, eu realmente não esperava que as pessoas gostassem da minha história. Até o próximo capítulo, bjs :)
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