XXVI - TIPO FESTA DO PIJAMA
❝𝗣𝗲𝗹𝗼𝘀 𝗺𝗲𝘀𝗺𝗼𝘀 𝗰𝗮𝗺𝗶𝗻𝗵𝗼𝘀 𝗻𝗮̃𝗼 𝘀𝗲 𝗰𝗵𝗲𝗴𝗮 𝘀𝗲𝗺𝗽𝗿𝗲 𝗮𝗼𝘀 𝗺𝗲𝘀𝗺𝗼𝘀 𝗳𝗶𝗻𝘀.❞
- Jean-Jacques Rousseau
MINGI É SIMPLESMENTE O SER mais adorável de todos. Quando Jisung tira a coleira e o deixa livre, ele sai correndo pela casa, abanando o seu rabinho. O golden pula no sofá, vasculha cada canto da sala e traz um brinquedo para mim.
Eu olho para Han sem entender muito bem o que fazer, as minhas galinhas não faziam isso. Ele sinaliza para que eu jogue o brinquedo e assim eu faço. Logo, a pequena bola de pelos já está correndo atrás do objeto novamente.
- Ele gostou muito de você. - diz Jisung, aproximando-se de mim e posicionando seus braços nos meus ombros.
- Com ciúmes, Han? - eu provoco sorridente, inclinando a cabeça para trás, assim podendo encará-lo devido a posição em que nos encontramos.
Jisung dá uma risada que arrepia todos os meus poros, sinto as suas mãos descerem carinhosamente dos meus ombros, pelos braços, até envolverem-me em um abraço caloroso.
Com o rosto encaixado no meu pescoço, ele sussurra:
- De você? Muito. - ele beija minha mandíbula. - O que você quer comer? - ele questiona, soltando-se de mim.
Sinto o calor que seu corpo emana indo embora. Quando percebo, estou com um pequeno bico projetado nos lábios.
O acompanho até a cozinha. Dou a volta no balcão e procuro ficar pertinho dele, já ficamos separados o bastante.
- Eu não sei. - digo. - Me surpreenda.
Ele para, apoia as costas na bancada da cozinha e segura o mármore com os seus braços abertos. Sua postura é relaxada e seu sorriso sugestivo.
- Consigo pensar em muitas maneiras de te surpreender nesta cozinha.
Suas palavras me deixam sem jeito, mas eu tento não exibir isso. Nós dois adoramos nos provocar, ele no sentido mais explícito da palavra, enquanto eu em irritá-lo.
- Alguma delas envolve comida?
- Algumas delas sim. - ele sorri, ainda mais sacana.
- Alguma delas que não envolva algo promíscuo?
- Tá, agora eu fiquei sem ideias. - ele se dá por vencido. O acerto no peito com um tapa e nos lábios com um beijinho. É a dosagem perfeita de ódio e ternura.
- O que você quiser, está bom para mim. - envolvo os meus braços ao seu redor. - Você não precisa cozinhar, se não quiser. Eu estou ciente de que você é bom em tudo o que faz, mas ainda é humano, deve estar cansado. Podemos pedir algo.
- Eu gosto dessa ideia, assim tenho menos louça para depois. - ele sorri igualmente a uma criança. Jisung tem este lado fofo e puro escondido bem ao fundo, há momentos em que eu posso encontrá-lo e eles são, sem dúvidas, os mais belos de todos. - Eu vou tomar um banho, está bem? - ele questiona. Concordo com um acenar de cabeça. - Toma, pede o que preferir, eu confio no seu bom gosto. - ele me entrega o celular desbloqueado e aberto no seu aplicativo de delivery favorito. - Exceto pela vez em que você me trocou por Changbin.
- Eu deveria mesmo ter te trocado por ele quando pude. Você é muito rancoroso, sabia? - eu brinco.
- Que calúnia. - ele protesta, mas não diz mais nada em seguida, apenas beija o topo da minha cabeça e sai.
Enquanto Jisung toma o seu banho, eu me sento no sofá com Mingi. O cachorro fica com a cabeça deitada no meu colo, pedindo por carinho. Tal pai, tal filho.
Como é de se esperar, dentro do App tem uma variedade quase infinita de comida. Começo a analisar as possibilidades.
O que eu quero? Algo tradicional? Oriental ou ocidental?
Acho que quero fugir um pouco do casual, então a comida coreana está fora da lista. Se bem que, jjajangmyeon (짜장면) - obviamente sem a carne de porco para mim - cairia bem agora. Embora acho que não seja uma boa opção de entrega. Tá, gastronomia local segue na lista, mas todos os tipos de noodles estão descartados.
Nos últimos tempos eu estive comendo muito no restaurante de Soojin, então cortarei a culinária italiana também, para não abusar. Sendo assim, me sobram mais algumas... 13 possibilidades, ou sei lá. Eu definitivamente não sou boa escolhendo comida.
- O que você acha, Mingi? - interrogo o ser caramelo esparramado no meu colo. Ao ouvir seu nome e reconhecê-lo, ele se levanta e late para mim. - Mochi? - eu traduzo o seu latido, acrescentando mais um idioma no meu currículo. - Eu estou procurando algo salgado, mas acho que pode ser uma boa sobremesa.
Com a sugestão recebida, coloco alguns mochis com recheio de feijão vermelho no carrinho e procuro algo como refeição.
Penso na culinária francesa, mas estou afim de comer algo mais simples. Talvez comida indiana, mas será que Jisung gosta? Melhor não arriscar. Não tem como errar com a boa e velha culinária local, não é? Ele nasceu e foi criado aqui, não tem como errar. De repente penso em Jjamppong (짬뽕), mas isso resolveria o que comprar para ele e não para mim. Eu não como frutos do mar.
Fico me questionando sobre isso por tanto tempo que ele já deve estar terminando o banho e eu ainda não pedi nada. Talvez eu deva só pedir a primeira coisa que me vier na cabeça.
Bibimbap (비빔밥)? Bibimbap!
Adiciono duas porções, procuro uma versão com os melhores tipos de acompanhamentos, sem proteína animal. Peço ambas sem ovo, é melhor fritar aqui, assim deixamos no ponto que preferirmos. Eu não sou uma grande fã de gema mole.
Quando achei que tinha finalmente tudo pronto, me pergunto outra coisa. O que seria uma boa opção para beber?
Ainda que eu seja uma boa fã dos clássicos, não acho que soju seja uma opção viável. Amanhã eu não irei trabalhar, mas Han vai. Beber em boa companhia é sempre uma dor de cabeça no outro dia, literalmente. Vou pedir coca-cola e fim, mesmo que não seja a melhor combinação do mundo. Na verdade, acho que o meu pedido inteiro não combina nada com nada. Talvez dê uma grande dor de barriga depois? Sim, mas Jisung que se vire com um piriri no trabalho amanhã.
Adicionar ao carrinho > finalizar compra > confirmar meio de pagamento e pronto! Em pouco mais de quinze minutos o meu pedido deve chegar. Agora consigo respirar e ficar em paz.
Mas não por muito tempo.
Desta vez, não é um pedido que me tira o fôlego em ansiedade, mas uma mensagem. No topo do celular, antes que eu desligasse, uma mensagem é exibida na barra de notificações. Lee Minho é o remetente.
Me sinto congelada. Eu não sou o tipo de pessoa que invade a privacidade de alguém. Eu não fui à procura de algo, isto apenas apareceu na minha frente sem que eu pudesse evitar ler, de primeira achando ser notificação sobre a comida que pedi. Em hipótese alguma eu iria abrir o chat da conversa e ver o contexto daquela mensagem, tanto que, assim que li, me arrependi, desliguei o celular e o larguei na mesinha de centro.
"Você ainda está aí? 🙃". O que ele quer dizer com isto? O que diabos um emoji de cabeça para baixo significa?
Eu não devo ocupar minha mente criando teorias infundadas sobre isso, mas eu simplesmente não consigo limpar a imagem da minha mente.
- Jiwoo... - Jisung chama meu nome adentrando a sala de estar, mas eu nem me viro para ele, fico com a visão turva em um ponto aleatório da parede grifada. - O que aconteceu? Parece que viu um fantasma.
Talvez seja mesmo um fantasma. Mas não como os tradicionais, um mais terrível e intenso, um psicológico. Uma insegurança antiga retornando aos meus pensamentos.
- Achei ter visto uma coisa, mas foi vulto. - digo. Não preciso contar a ele que isso está me deixando neurótica e provavelmente assustar ele, certo? Eu não apaguei a mensagem, tampouco a visualizei, ela continua lá, no mesmo lugar. Eu não fiz nada de errado. Ou fiz?
Tento tirar meus pensamentos das paranóias e deposito à sua imagem. Ele fica tão bem em todos os estilos que se apresenta, mas a visão que tenho agora, sem dúvidas, é de tirar o fôlego.
Han fica belíssimo nesta calça de pijama quadriculada azul marinho e o peito desnudo, com a toalha que antes usava para secar o cabelo, agora repousada sobre os ombros.
Ele tem o tronco inclinado para o sofa, com as mãos se prendendo no encosto e os seus belos músculos à mostra, assim como as veias bombeando nos seus braços, tão visíveis como se fossem saltar para fora da pele.
- O que você queria mesmo? - questiono, tentando disfarçar a salivada que dei.
- Meu celular. - ele pede.
O entrego o aparelho e ele retorna para o que imagino ser o seu quarto, eu brinco com Mingi.
Quando volta, Jisung tem seu tronco coberto pelo tecido da segunda peça do conjunto. Ele fica adorável, todo arrumadinho no pijama, como uma criança. Seus cabelos agora estão quase totalmente secos, a comida também já chega.
Han é quem recebe o pedido e arruma as embalagens sobre a mesa. Ele não diz nada sobre as minhas escolhas, mas também não parece ter o desagradado. Ele frita um ovo para cada um de nós e então começamos a comer juntos, em silêncio. É estranho não ter algum som ambientando o local, como o barulho da televisão que estou tão acostumada a ouvir. Ele tem o hábito de não usar de eletrônicos enquanto faz as suas refeições, aposto que se daria bem com os meus pais.
- Escolha interessante de jantar. - ele diz, durante uma pausa das mastigadas.
- Fiquei me perguntando o que escolher, mas sou péssima nisso. - sorrio um pouco sem graça.
- Você escolheu um ótimo prato, uma ótima sobremesa e uma ótima bebida. - ele sorri tão gentil. - Então não se preocupe, foi uma boa escolha. Além disso, eu gosto de ficar junto de você. Para mim, estaria bom até se comêssemos kimchi puro.
Eu fico aliviada por saber. Além disso, feliz. É óbvio que eu adoro passar um tempo com ele e ele sempre deixa bem claro que gosta de mim e de ficar comigo, mas é sempre muito bom ouvir.
- Eu tenho uma pergunta para você. - mudo a direção da conversa. - Qual a sua comida favorita?
- Cheesecake e torta de chocolate. - ele responde.
- Por falar em cheesecake, você está me devendo uma. - eu recordo.
- Eu te dei o celular e o cartão, você poderia ter comprado. - ele está certo, mas na hora eu não pensei nisso. - Eu tenho uma pergunta para você também.
- Pode mandar. - eu digo, começando assim um joguinho de perguntas e respostas.
- É o melhor dia da sua vida. Como ele é?
- Que pergunta aleatória e ao mesmo tempo tão profunda. - pontuo pensativa. - Acho que em qualquer lugar em que eu esteja com a minha família e os meus amigos, talvez um almoço de domingo e todos comemorando algo juntos no lago, na fazenda dos meus pais. Eu não sei, algo simples. Eu só quero liberdade, conforto e paz.
- É um bom desejo, muito bonito. - ele diz. - E fácil de se realizar também. Ele já aconteceu?
- Não. - eu respondo com tristeza. - Eu não vou à fazenda desde que me formei da faculdade. Eu também achei que tinha amigos, mas aí descobri que éramos apenas Soojin e eu. É um sonho fácil e bobo, mas ainda não realizei. Eu também não posso sair da cidade agora, nem que quisesse. - explico. - E para você, como seria o seu momento mais feliz?
- Eu só queria poder fazer as minhas próprias escolhas. - ele fala. Sua voz é suave, mas carrega uma raiva oculta que eu posso sentir. Mesmo assim, ele sorri e segura minha mão, beijando-a. - Você quer assistir um filme comigo? - novamente, o assunto muda.
- Eu adoraria. Mas já está tarde, tenho que voltar para casa.
- Não vai, por favor. - ele pede igualzinho a um cachorrinho dengoso. E é engraçado, porque o verdadeiro cachorro no ambiente também choraminga. Eles devem ter combinado. - Dorme aqui, você tem o dia livre amanhã que eu sei.
- Sim, é verdade. Eu tirei o dia de folga para resolver alguns assuntos, mas você não. - e eu não quero acordar na sua cama sem você do meu lado.
- Eu posso chegar alguns minutinhos, ou horas, mais tarde. - ele negocia. - Eu sou o chefe.
- Por isso mesmo, tem que dar o exemplo. - recuso a oferta. - Eu não quero ser o motivo dos seus problemas. Porque você com certeza não poderá se atrasar amanhã, Chaeryeong me contou que o senhor Minatozaki terá uma reunião contigo pela manhã.
- Eu me resolvo com ele depois. - ele procura me convencer. - Posso pedir a Hyunjin para remarcar a reunião para o período da tarde, ou qualquer outro dia. - Jisung tenta arrumar uma solução.
- Você pode ter problemas maiores que o senhor Minatozaki. - eu realmente não quero que ele se encrenque por minha causa. - Você é um chefe exemplar, mas sabe como as pessoas são, basta uma mancada e parece que você só comete erros a vida inteira. Você tem um nome importante para zelar, alguns acionistas também podem não gostar se você perder um contrato com um cliente importante.
- O que eles podem fazer? Solicitar a minha remoção da empresa? - ele questiona. - Eu nem pedi por este cargo. O que eu estou pedindo é que você me faça companhia, porque eu vou faltar de todo jeito. É tão solitário viver sozinho aqui... - ele faz charminho, mas logo é cortado pelo latido do cachorrinho. - Vivermos sozinhos. - corrige-se.
- Eu não sei, não me parece certo. - fico insegura em estar o atrapalhando ou o seu futuro. - Eu também não trouxe nada, para voltar em casa eu fico logo por lá.
- Jiwoo, o que eu mais tenho aqui é roupa. Também posso conseguir uma escova de dentes facinho para você, num estalar de dedos. - ele diz e eu sei que é verdade. - Mas se você precisar de um sutiã... aí sim será um problema. Porque eu até tenho um guardado, mas não posso te dar.
Eu não acredito que ele ainda tem aquilo.
Eu não fico surpresa. Vindo de Jisung, pode-se esperar qualquer coisa. Ele é totalmente imprevisível.
- O que você me diz? - ele questiona, fazendo aqueles olhinhos de novo. Evito olhar para eles, pois não resistiria à tentação.
- Me devolve o meu sutiã.
- Oh, querida. Ele já deixou de ser seu há muito tempo! - ele ri travesso. - Fica com a gente. - ele volta a insistir. - Fica com a gente, Jiwoo. - ele faz uma voz engraçada, segurando Mingi na frente do seu rosto como se a fala partisse do cachorro. - Vai ser tipo festa do pijama. - ele diz. - A gente pode brincar a noite toda, se você quiser.
- Palhaço. - eu rio enquanto o acerto com uma almofada. - Tudo bem, eu fico.
- Se eu soubesse que para te convencer só precisava propor algo assim, eu teria sugerido antes.
- Deixa de ser bobo. - eu agarro o bichinho peludo. - Eu só estou ficando porque o Mingi pediu.
- Então eu imploro e não acontece nada, mas quando ele pede você aceita? - ele faz uma careta, apontando o cachorro de maneira birrenta, como se fosse uma criança disputando atenção com o seu irmãozinho. - Primeiro trocado por um gnomo, agora por um cachorro.
Esta nova visão de Han disputando atenção é bem engraçada. Eu sei que ele não está verdadeiramente enciumado e que isso é só um teatrinho para conseguir o que ele quer, mas eu gosto desse jogo.
- Que filme você quer ver? - evito evidenciar o meu favoritismo e o faço uma pergunta.
- Também não quero mais assistir filme. - ele faz drama.
- Então eu já vou embora. - finjo que vou me levantar.
- Não. - ele praticamente pula do sofa e segura a minha mão. - Vem, vamos assistir um filme sim.
Han me estende a sua outra mão, eu a seguro, ele me puxa para que eu consiga ficar de pé. Enquanto vai nomeando séries e filmes, ele também segue me conduzindo pelo corredor, até chegar ao seu quarto.
- Fica a vontade, a casa é sua. - ele diz, sentando-se na sua cama king size.
E eu fico mesmo. Por algum motivo, esta noite não me parece estranha. Eu estou na casa de Jisung como se ela fosse minha, bem relaxada.
Tomo um banho no seu banheiro, visto roupas suas, mas a situação não me deixa desconfortável. Talvez um pouco nervosa pela maneira como seu olhar queima pelo meu corpo e me deixa tímida.
Particularmente, eu adoro usar camisas - socialmente aceitas como - "masculinas". Geralmente elas ficam mais largas em mim e eu prezo muito pelo conforto. Mas o que eu nunca pensei que aconteceria seria achar mais confortável vestir uma cueca no lugar de uma calcinha.
Fala sério! É como estar usando um shortinho super confortável e que, se eu estivesse de saia, ainda não marcaria nada. Ficarei com esta para mim, como moeda de troca pelo meu sutiã.
Eu saio do banheiro e tranco a porta atrás de mim com cuidado. A mudança de temperatura é tanta que poderia causar um choque térmico. Fora do banheiro está tão frio que se eu não tivesse cruzado o braço na altura dos seios, meus mamilos estariam aparentes.
Eu dou uma pequena corridinha até o lado oposto da cama e me arrasto para debaixo dos lençóis, onde Jisung já me espera.
- Como você consegue ser tão adorável e igualmente quente? - ele ri, me puxando para perto dele e dando um beijinho na ponta do meu nariz. Me pergunto o mesmo sobre ele.
- O que nós vamos assistir? - questiono. Em outra situação a coloração nas minhas bochechas incomodaria, mas a pouca luz é reconfortante.
- Eu queria assistir alguma série com você, estou cansado de filmes. - ele diz. - Mas geralmente não dá para assistir tudo em um único dia, então você vai ter que voltar aqui para terminar isso depois. - Jisung me dá um selinho.
- Muito esperto da sua parte. O que escolheu?
- Outer Banks. - ele responde. Eu não conseguia ver antes, já faz tanto tempo que ele havia escolhido que a Netflix já exibia posters de outros seriados. - Porque eu gostei do nome. - ele completa.
- Está bem, pode colocar então.
Antes de tudo, Han desliga o seu celular, o meu eu deixo apenas no silencioso e com a tela virada para baixo no organizador na cabeceira. Depois disso, ele dá o play no primeiro episódio e eu me aconchego junto dele.
O filtro amarelado da fotografia da série é a única iluminação que temos esta noite, deixando pontos dourados reluzentes no seu rosto. Desde que a trama começou, pouca foi a atenção que tive, tenho algo de melhor para apreciar.
Ele é tão lindo, sou tão sortuda por o ter ao meu lado outra vez. Cada segundo que estou longe dele me faz pensar que estou ficando louca. Estar juntinho dele faz meu coração acelerar e as mãos estariam suadas se não estivesse tão frio. Eu tinha me esquecido de como é gostosa esta fase da relação em que não se quer largar do pé do outro.
Por falar em pé... os meus tocam os de Jisung por debaixo do pano e ele dá até um mini pulo, assustado em como estão gelados. Eu dou risada da sua expressão, mas meu sorriso murcha quando ele sai da cama. Ergo o tronco para o observar ao se afastar, mas é apenas para ir em uma das gavetas me trazer meias, estas quais ele mesmo se encarrega de colocar. No fim, ele deixa um beijo na região da minha panturrilha esquerda, outro no interior da coxa, um na minha barriga quando ele levanta alguns centímetros do tecido da camisa, seguido de um no meu pescoço e outro nos meus lábios.
- Ainda está com frio? - ele sussurra. - Se quiser eu posso aumentar a temperatura do ar-condicionado.
- Não. - eu nego. - Quando estou perto de você, fico sempre quente.
Ele parece satisfeito com a minha resposta, pois me exibe um lindo sorriso antes de voltar a me beijar.
Sinto o peso do seu corpo apertar-me no colchão, mas não me incomoda e tampouco o afasto. Entrelaço os braços ao redor do seu pescoço e continuo o deixando tão perto de mim que a qualquer momento estaríamos quebrando uma das leis fundamentais da física ao fazer com que dois corpos ocupem o mesmo espaço.
Suas mãos passeiam pela lateral do meu corpo de uma maneira suave e delicada, os dedos macios e ágeis indo de encontro à minha coxa e erguendo-a, o deixando agora entre as minhas pernas. O beijo não para por um minuto e a minha sanidade vai dando adeus.
Os lábios deliciosos de Jisung se afastam dos meus por um instante no fim de uma mordida ao inferior. Não tenho tempo para respirar, pois eles logo vai para o meu pescoço. Eu posso sentir o calor da sua boca me derretendo por completo, assim como os estalos bagunçando a minha mente. Mas de repente um me chama mais atenção, não é algum que ele tenha me dado, mas um que vem direto do meu subconsciente.
É como um estalar de dedos e então eu perco totalmente o clima. Justo em uma hora como essas, o meu cérebro veio me lembrar da mensagem de Minho e a cena que presenciei aqui outro dia.
- Jisung, nós podemos conversar? - questiono, a voz um pouco embargada.
- De que tipo de conversa nós estamos falando? - ele questiona, sugestivo, mas não leva muito tempo até ele se afastar um pouco e me olhar nos olhos. Ao perceber a minha estranha rigidez, ele franze o cenho. - O que aconteceu? - Han interroga com a voz tranquila. - Eu fiz algo de errado? - agora o seu tom carrega um pouco mais de inquietação. - Jiwoo, se você está pensando que eu te convidei para passar a noite aqui com essas intenções, eu quero que saiba que chamei porque quero ficar cada segundo do meu dia ao seu lado e...
- Não, não é isso. - digo, o empurrando cuidadosamente para o lado e ajeitando-me na cama. - Senta comigo. - peço, antes que ele tenha um colapso nervoso.
Han faz o que pedi, ele fica ao meu lado e espera pacientemente que eu diga alguma coisa.
- Nós precisamos conversar sobre algumas coisas. - isto já estava óbvio antes, eu só estou me preparando para a conversa.
- Você prefere que eu ligue a luz? - ele questiona.
- Não. - eu nego. - É melhor que elas fiquem apagadas, fará com que eu me sinta menos ridícula se você não estiver olhando para o meu rosto.
- Ei... - ele segura o meu rosto entre as suas mãos. - Você nunca será ridícula. - diz, selando nossos lábios demoradamente. - Pode me falar, o que quer que seja.
Não há como fugir. É agora ou nunca.
- O que eu vou te perguntar agora pode ser um pouco invasivo, então sinta-se livre para não responder, se não quiser. Mas, caso responda, por favor, seja honesto comigo, está bem?
- Claro. - ele concorda. - Do que se trata? - então pergunta, seus dedos coçando para não irem até a boca e ter as suas unhas roídas. - Você está me assustando.
Eu também estou assustada, para caramba. Eu sei que devemos conversar, mas tenho medo de como isso pode acabar, é um assunto delicado.
- Jisung... - eu tomo coragem para poder perguntar: - Você ainda gosta do Minho?
Eu não sei o que estava esperando. Talvez que ele negasse de imediato, ou até que me perguntasse se sou louca, mas ele não o faz, nenhum dos dois. A pergunta deve ter o pego de surpresa. Eu estaria surpresa em seu lugar, não costumo ser tão direta assim.
- Eu já fui muito apaixonado por ele no passado, mas hoje em dia tudo isso acabou. - ele responde tranquilo. - Minho e eu somos apenas amigos. Isto te incomoda? Porque se sim, é uma coisa que devemos conversar.
- Eu não me incomodo por você ser amigo dele, o que faz eu me sentir estranha é quê eu não consegui ser amiga de nenhum dos meus ex, então não entendo nada sobre como esta relação entre vocês dois funciona. Me desculpe se fiz tempestade em copo d'água, o que me incomoda na verdade é saber que ele ainda tem os mesmos sentimentos de antes por você. Não quero te perder.
- Ele fez a escolha dele, agora ele que se vire. - Han fala. - Nós nunca mais seremos os mesmos amigos de antes. Quando digo que somos amigos, é ao ponto de que estamos bem no mesmo local e que podemos conversar sobre coisas mais casuais e superficiais. A relação íntima e próxima de antes jamais será reatada, até porque eu estou cinte dos sentimentos dele e eles já deixaram de ser recíprocos faz muito tempo. Jiwoo, você nunca vai me perder.
Ouvir essas palavras traz um alívio inexplicável no peito. Han já disse que gosta de mim antes, mas eu nunca havia o perguntado o que ele sente pelo outro. Eu acredito que alguém pode gostar de mais de uma pessoa ao mesmo tempo e que também existem maneiras distintas de dar significado à "gostar". Eu sou monogâmica, e, para mim, é importante saber que tipo de relação é esta.
- Se eu te perguntar o que ele fazia exatamente na sua casa no dia em que eu apareci de surpresa, isso faria de mim uma pessoa possessiva? - interrogo.
- Fofoqueira? Sim. Possessiva? Eu creio que não. - ele diz, com uma risadinha que eu reclamaria, se as suas observações não fossem coerentes. - Como te disse, Minho chegou muito pouco antes de você, quando eu tinha acabado de sair do banho. Ele queria falar sobre como ter se casado foi a pior decisão que tomou e, eu não vou mentir para você, ele disse que queria voltar a ter o que tínhamos.
Eu escuto calada. Ouvir isso me embrulha o estômago.
- Então você chegou. - ele continua. - Fiquei em choque, tão assustado com o que você entenderia daquilo que quando pensei em ir atrás de você, você já estava bem longe. Eu o disse que é tarde e que o meu coração só tem espaço para outra pessoa agora, o mandei embora e então fui até você. Porque é com você que eu quero estar.
Agora sim, fico tranquila.
- Me desculpa por ser tão desconfiada de tudo. - eu peço. - Você sabe tudo o que aconteceu comigo no passado, e, é lá que eu estou tentando deixar tudo isso, eu prometo. Tudo na vida é um processo, eu estou quase lá.
- Eu entendo que algumas situações vão ter um peso diferente para você, assim como outras terão para mim. O importante é que ficou tudo esclarecido. - ele diz, alegre. - Até porque eu só tenho olhos para você, Lee Jiwoo.
Sua fala me deixa toda desestabilizada. Jisung é a minha criptonita, sempre que fico perto dele me sinto vulnerável e perdendo o controle, mas aqui aplicada de uma maneira boa, se isso é possível.
Um sorriso enorme se mostra no meu rosto e eu tenho até espasmos, de tão empolgada, batendo os pés no colchão e movendo o tronco de um lado para o outro. Han acha engraçado, confesso que eu também.
Me agarro ao seu pescoço e encho seus lábios com beijinhos, alguns até que acabam tocando os seus dentes, devido ao sorriso que ele abre no meio do ato.
- Eu também só tenho olhos para você, Han Jisung.
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