
𝟎𝟖. 𝒇𝒓𝒆𝒔𝒕𝒂𝒔 𝒍𝒆𝒗𝒂𝒎 𝒂 𝒍𝒂𝒃𝒊𝒓𝒊𝒏𝒕𝒐𝒔
━━━━ CAPÍTULO OITO ꡙꡚ
━━━━━━━ QUANDO A MANHÃ chegou, Melina estava exausta.
Porque como se já não bastasse a péssima posição pra dormir e o sonho com Nico di Angelo, um drakon etíope apareceu nas fronteiras do acampamento. Às três da manhã.
Tipo, sério? O verão tinha acabado de começar, e todos sabiam que a batalha se aproximava. Mas um pouco de paz antes disso seria bom.
Drakons são como os ancestrais dos dragões, só que mais velhos, mais fortes e muito mais perigosos. Escamas mais fortes que titânio, veneno ácido, dentes afiados o suficiente pra estraçalhar alguém em segundos, olhos amarelos paralizantes... Era impossível dos semideuses conseguirem o matar.
Mas isso não quer dizer que não podem tentar.
Lee e outros filhos de Apolo — incluindo Melina — tentaram, atirando dezenas e mais dezenas de flechas. O drakon não chegou nem perto de se machucar, mas pelo menos se afastou do acampamento.
────── Ele ainda está lá fora ────── Lee avisou aos outros chalés, durante os anúncios do café da manhã, que estava pura agitação ────── Vinte flechas no seu couro, e nós só deixamos ele furioso. A coisa tinha mais de nove metros e era verde brilhante. E os olhos... ────── estremeceu.
────── Você fez bem, Lee ────── Quíron deu uma palmada em seu ombro. Depois se dirigiu aos outros campistas: ────── Todos fiquem em alerta, mas calmos. Isso já aconteceu antes.
────── Sim. E vai acontecer novamente. Com mais e mais frequência. ────── Quintus, novo diretor de atividades, disse.
Meli aproveitou os murmuros dos semideuses agora aumentando pra se mover de mesa, indo até a do chalé de Atena.
Era totalmente proibido fazer aquilo, cada um devia sentar na mesa de seu chalé, apenas. Mas Melina era muito boa se esquivando. E digamos que algumas pouquíssimas vezes, quando uma precisava muito conversar com a outra, Annabeth houvesse emprestado um certo boné da invisibilidade.
a deusa da sabedoria com certeza não aprovaria aquilo, mas, bem... Tudo bem!
────── Bom dia! ────── disse, agora do lado de Annabeth, que se assustou levemente com a aparição repentina, mas já estava acostumada.
────── Bom dia, Meli ────── abriu um sorrisinho ────── O que quer me falar? ────── se virou quase que por completo de lado pra poder olhar pra filha de Apolo sem estar torta.
────── Primeiro, sonhei com Nico. ────── disse, baixinho ────── E segundo...
Melina se interrompeu quando reparou Quíron quase olhando pràquela mesa.
Moveu sua cabeça um pouco, escondendo o rosto atrás do de Annie e disfarçando com as mãos no colar de contas dela, como se estivesse o ajeitando.
Após uns breves segundos, Annabeth cutucou Melina, avisando que o diretor de atividades do acampamento tinha parado de olhar.
────── Continuando, ────── disse, voltando à posição anterior ────── segundo, você já leu em algum dos seus lindos livros um jeito de nós meros semideuses matarem um drakon?
Mas antes que Annie pudesse responder, Quintus voltou a falar, completando sua própria fala. Só para o caso de algum dos dois, Quintus ou Quíron, olharem pras mesas, Melina se esquivou de volta à sua mesa.
Mas a mesa do chalé 7 era do lado da mesa de Atena, então ela não precisou ir longe pra voltar ao seu lugar.
────── Esse é um bom motivo para novos jogos de guerra ────── os olhos de Quintus brilhavam enquanto ele falava ────── Nós veremos como vocês se sairão hoje à noite.
────── Sim... Bem, chega de anúncios! Vamos abençoar essa refeição e comer ────── Quíron ergueu sua taça ────── Aos deuses.
Os campistas ergueram os copos e repetiram as palavras do centauro. Depois se levantaram todos, levando os pratos até o braseiro de bronze e fazendo sua oferenda aos deuses, ao seu parente divino, quem quer que fosse.
Quando chegou na vez de Melina, ela ficou frente a frente com o braseiro e pôs parte da sua comida no fogo. Esperava que Apolo gostasse de cereal com leite.
────── Apolo- Pai. ────── chamou, então falou, mais baixo: ────── Se sequer souber que eu existo, se em algum momento vai me ouvir, então... ajuda o acampamento. Por favor, não me deixa perder isso aqui também.
Era como uma súplica, como se estivesse implorando. Não que já não suplicasse em silêncio todas as noites, para quem quer que pudesse ouvir seus pensamentos e ver seus sonhos.
Depois voltou à sua mesa, começando a comer com o resto dos semideuses de Apolo.
E um tempo depois, quando todos ali já terminavam de comer, Melina notou uma movimentação na mesa de Poseidon que normalmente não havia como ter, visto que ali só se sentava Percy. E Tyson, ciclope meio irmão de Percy, nas vezes em que ele aparecia no acampamento.
Grover e Annabeth se sentavam ao lado de Percy na mesa do chalé 3, e Tyson já não estava mais lá.
Meli tinha percebido que o ciclope não se chegava muito ao sátiro.
Ela ficou encarando o trio sem nem mesmo perceber, mas ficou, principalmente, olhando pra Annie, não sabendo como parar de olhar pra ela.
Foi quando os olhos castanhos da filha de Atena encontraram os olhos igualmente escuros da filha de Apolo que ela finalmente desviou o olhar, tentando disfarçar o quanto tinha olhado pra Annabeth ao se virar pro lado e puxar assunto com Will Solace.
────── Ei, hm... você vai... ficar na enfermaria hoje também?
────── Não...? ────── William fez uma cara confusa, mas logo entendeu o que a amiga estava fazendo ────── Melina, se vai ficar encarando o amor da sua vida, não me use como distração!
────── O quê? Eu não tava...!
────── Todo mundo aqui te conhece, acho que a única que não percebeu é a própria Annabeth. Pura sorte sua, por sinal.
────── Do que você tá falando?! Eu não...
────── Ela 'tá te chamando, aliás.
────── Hm? ────── Melina se virou rapidamente e viu Annabeth acenando pra ela e falando alguma coisa que não dava pra ouvir.
Will abriu um sorrisinho ao ver Meli automaticamente se levantar e ir até onde a filha de Atena estava sentada sem nem mesmo hesitar.
────── Acha que algum dia ela vai perceber que está se apaixonando? ────── ele, agora se inclinando sobre a mesa pra ficar mais próximo de Kayla e Austin, sussurrou.
────── Aposto cinco reais que não.
────── Você não tem cinco reais, Kayla ────── Austin interviu.
────── Que bom que não vou precisar ter, então.
────── Pelo bem da Meli, espero que precise. Aposto dez reais que até o fim do verão ela percebe!
────── É por isso que vocês dois nunca tem dinheiro ────── Will riu, antes de adicionar uma coisa à aposta ────── Mas ela tem que perceber sozinha!
────── Claro, é teimosa demais pra perceber porquê alguém disse.
Os três observavam a meia irmã se aproximar da mesa onde estavam sentados Annabeth, Grover e Percy.
────── Ei... me chamou? ────── Melina disse, assim que se aproximou de Annie.
────── Chamei ────── ela se levantou da mesa com o olhar de Quíron sobre ela, Meli percebeu, e se aproximou da arqueira. ────── Nós conversamos depois.
Convença ele, tá? ────── Annabeth agora
se dirigia à Percy, que ainda estava sentado na frente de Grover, mas logo depois se virou novamente pra Melina, a puxando pra fora do refeitório.
Elas ignoraram os olhares dos semideuses enquanto andavam em direção à fora do pavilhão e conversavam.
────── Está me levando pra longe dos meus restos de cereal com leite, algum motivo em específico? ────── Melina olhou de relance para as mãos entrelaçadas das duas enquanto Annabeth a puxava, depois olhou para o rosto da mesma.
────── Você não conseguiu terminar de falar enquanto Quíron dava os avisos. E eu também quero conversar. ────── À esse ponto, Annie já havia soltado sua mão, e as duas andavam lado a lado pelo acampamento.
────── Ah, sim! Bem, converse ────── Meli apressou um pouco o passo até que estivesse na frente de Annabeth, virada para ela enquanto andava de costas.
A de cabelos crespos pensou um pouco antes de começar a falar.
────── O que eu disse pra Percy antes de sairmos do pavilhão, pra convencer o Grover? É sobre o Labirinto.
────── O que você e Clarisse têm pesquisado?
────── Aham.
Annabeth já tinha conversado sobre com a amiga, sobre o exército de Cronos, Luke Castellan e outros semideuses, estarem procurando por uma maneira de andar pelo Labirinto de Dédalo. Sobre Clarisse La Rue ter adentrado o Labirinto na procura por uma forma de entrar no acampamento Meio-Sangue por ele, e não ter encontrado nenhuma.
Ainda bem.
────── E por que... convencer Grover?
────── Pode ser que ele consiga encontrar Pã através do Labirinto. Porque, pense, o Labirinto de Dédalo leva à qualquer lugar, e numa velocidade que ajudaria com o prazo que deram ao Grover.
Melina não presenciou quando o Conselho dos Anciãos de Casco Fendido impôs ao sátiro um limite de tempo restante com sua licença de procurador para que encontrasse o deus da natureza, Pã, mas estava sabendo sobre.
E, realmente, um jeito de ganhar tempo seria muito bem vindo.
────── Faz sentido. Se ninguém encontrou ele em tanto tempo, talvez tenha sido porque nunca procuraram no Labirinto.
────── Ou porque nunca conseguiram sair dele, é o que o Grover falaria. Ele tem medo de entrar no Labirinto e nunca mais sair, ou então sair mas sair louco...
────── Como Chris. É, bom...
────── E eu sei que é perigoso, mas se tivermos um jeito de nos guiar por ele, o fio de Ariadne, ou sei lá...
────── Perigoso é o que mais define a vida de um semideus, Annie. E sem contar que seria como matar dois coelhos numa cajadada só: pode ser que resolva o problema de Grover, e o problema da invasão no acampamento. É um plano, não é? Pode ser ótimo!
────── Só que Grover, de certa forma, tem razão. Não temos nenhuma garantia de que vai dar certo. Como convencer ele assim? ────── Annabeth passou a mão na testa.
Era notável que ela estava nervosa com toda essa questão de seu amigo. E com a questão de Cronos. Era coisa demais.
────── Eu não conheçoooo exatamente bem o Grover, mas sei que só por saber que vai ter ajuda já é um alívio pra ele. ────── Meli se aproximou e envolveu o ombro de Annabeth com o braço ────── Vocês dois e Percy já enfrentaram tantas coisas juntos que é claro que vão conseguir enfrentar essa também. O Labirinto de Dédalo é um bom plano, e vocês vão encontrar um jeito de explorar ele em segurança. E eu vou 'tá aqui pra ajudar, óbvio.
A filha de Atena sorriu, logo voltando a falar.
────── Mas e você? O... sonho com Nico ────── ela falou um pouco mais baixo do que antes, mas não tanto.
Pensando no sonho novamente, agora com mais calma, um detalhe chamou a atenção de Melina. O fantasma com quem Nico falava, dizendo ao filho de Hades que o ajudaria: ''Eu não te salvei várias vezes?'', tinha dito o morto desconhecido. ''Não te guiei pelo labirinto e te ensinei a usar seus poderes?''
────── Sobre o sonho... Precisamos encontrar Nico o mais rápido possível. Acho que ele esteve no Labirinto, e acho que ele 'tá encrencado.
Annabeth franziu o cenho, e Meli explicou tudo o que tinha visto na noite passada.
────── Então ele está tentando trazer a irmã de volta... com a ajuda de um fantasma? Isso não é bom... Fantasmas não são bons conselheiros ────── ela destacou, e Melina confirmou.
────── E quer dizer, eu entendo. Se alguém, qualquer pessoa que fosse, me dissesse que havia um jeito de trazer Alice de volta, eu iria querer tentar. Mesmo agora, tantos anos depois. Então nem imagino o quanto Nico esteja investido em ter a ajuda de um fantasma, contanto que ele tenha a Bianca de volta. Mas... se quem quer que seja esse fantasma convencer Nico a entrar no Labirinto de novo, se o exército de Cronos ainda estiver tentando explorar o Labirinto a procura de um jeito de passar pelas barreiras do acampamento, então... Não sei, me preocupo com o que aconteceria se eles encontrassem Nico.
Foi a vez de Annabeth envolver a outra menina num abraço de lado, em forma de tentar confortar.
────── Matar três coelhos com uma cajadada só, então. Vamos encontrar Nico, Meli.
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Algumas horas depois, logo após o jantar, os semideuses tinham sido vestidos por Quintus com armaduras de combate, como se fosse o caça-bandeira. Só que muito mais sério, porque era esse o ar que se espalhava pelos campistas.
────── Certo. Aproximem-se ────── Quintus disse, enquanto de pé na cabeceira da mesa de jantar.
A vestimenta dele era de couro preto e bronze, as tochas traziam uma luz que fazia com que seu cabelo platinado lhe desse um ar fantasmagórico, e a Sra. O'Leary, seu cão infernal enorme, pulava, animada, em volta do dono.
────── Vocês estarão em duplas ────── ele começou, quando os semideuses indicaram que estavam prestando atenção. Uma animação se instalou no lugar e todos começaram a falar enquanto agarravam seus amigos, mas foram interrompidos: ────── Que já foram escolhidas!
Todo mundo reclamou, como se em um coral. Quintus não se incomodou.
────── Seu objetivo é simples: recolher os louros dourados sem morrer. A coroa está embalada em um pacote de seda, amarrado nas costas de um dos monstros. Existem seis monstros. Cada um tem um pacote de seda, apenas um carrega os louros. Vocês precisam achar a coroa antes que as outras duplas e, é claro... matar o monstro pra obtê-la. E ficar vivos.
A empolgação de antes preencheu o lugar novamente. Parecia uma coisa bem simples de se fazer, visto que todos ali já tinham matado monstros antes.
Até mesmo Melina, que não costumava sair do acampamento, tinha seu estendido histórico com monstros.
────── Eu vou anunciar seus parceiros. Não haverá negociação. Sem troca. Sem reclamação.
Melina quase se distraiu com a Sra. O'Leary enfiando sua cara num prato de pizza. Quase. Mas ela conseguiu voltar sua atenção ao alvo certo à tempo de ver Quintus puxando um pergaminho e lendo os nomes neles.
Charles Beckendorf e Silena Beauregard iriam juntos — o que deixou Beckendorf bem feliz, aparentemente. Travis e Connor Stoll também, o que parecia óbvio, já que os dois eram mais inseparáveis que qualquer coisa. Clarisse La Rue estaria com Lee, Katie Gardner estava com Austin, Will e Kayla estavam juntos, e Percy faria dupla com Pamela.
O esgrimista continuou ditando as duplas, até que chegou na vez de Melina. Com Annabeth.
Meli olhou pra trás e sorriu pra Annie, fazendo um joinha. A resposta dela foi tirar a piranha amarrando o cabelo de Melina num coque meio caído e colocar no cabelo dela novamente depois, agora preso com um coque mais seguro.
Depois disso, foi a vez de Tyson e Grover descobrirem que seriam uma dupla. Ficaram desesperados.
────── Eles não se dão bem mesmo, né? ────── Melina olhou pra Annabeth, que viu enquanto o ciclope espirrava e o sátiro mastigava com nervosismo seu bastão de madeira.
────── É, bem... eles ficarão bem. Vem, vamos nos preocupar em como vamos nos manter vivas.
As duas começaram a se aprontar, enquanto todos os outros faziam o mesmo.
Melina imaginou que aquela era a primeira vez que via Pamela Morgan e Percy Jackson interagirem por mais de três minutos — o tempo que todos tinham pra se preparar.
Entrando na floresta, ainda havia luz o suficiente para enxergar. Annabeth e Melina acharam um rastro pra seguir quase que imediatamente: pegadas cujo dono tinha uma grande quantidade de pernas.
Elas começaram a andar, mas logo pararam brutalmente ao ouvir passos e galhos quebrando. Se agacharam atrás de uma rocha, lado a lado, vendo quem estava passando.
E eram só os irmãos Stoll, não sendo nada discretos enquanto tropeçavam pela mata e xingavam. Meli fez muito esforço pra não rir com as reclamações.
Assim que Travis e Connor saíram, as duas meninas saíram de trás da rocha em que estavam agachadas e seguiram caminhando mais a fundo para o lado oeste da floresta onde os monstros eram ainda mais selvagens.
Sobre uma elevação em uma lagoa no pântano, elas estavam no mesmo lugar onde haviam parado de procurar por Nico.
Melina havia revisitado aquele lugar várias vezes ao longo dos meses, em busca de qualquer pista que fosse, mas completamente atoa. Também havia revisitado o lugar em que viu Nico sumir, mas estava igualmente vazio.
────── As vezes eu me pergunto qual seria a reação dele se a gente encontrasse ele, se ele me visse. Porque a última vez que conversamos ele estava dizendo que odiava à mim e ao Percy.
Annabeth havia aberto a boca pra falar algo, mas se calou quando um galho quebrou na floresta. Barulho de folhas secas sendo pisoteadas.
────── Isso não é os irmãos Stoll ────── Annie apontou, e sacou sua espada. Seguida por Melina, que preparou sua flecha.
Ainda não era hora de usar seus treinamentos com Pamela na prática.
────── Lá ────── Annabeth sussurou depois de elas terem andado até o Punho de Zeus, que estava vazio.
────── Acho que não... ────── Melina falou, igualmente baixo, e olhou ao redor ────── Atrás de nós!
Quando dois rostos saíram da escuridão, havia uma espada apontada para um e a ponta de uma flecha mirada para o outro deles.
────── Esperem aí! ────── uma voz familiar falou, e, com a adrenalina diminuindo, ela notou quem era.
Abaixou seu arco e Pamela deixou de ser um alvo de sua flecha.
────── Oi ────── Percy, logo ao lado de Pam, tocou na pontinha da espada de Annabeth e abaixou ela cuidadosamente.
────── Por que deveríamos abaixar as armas? Vocês ainda são oponentes, sabe ────── Annie brincou, fazendo menção de levantar a lâmina novamente.
────── Verdade!
────── Ei! Vamos parar a Caça à Bandeira Mortal por uns dez segundos, valeu?
────── Não vamos tentar ganhar de ninguém de forma injusta ────── Percy levantou as mãos, e Pamela imitou o gesto.
Melina riu baixo.
Eram poucos, quase inexistentes, os momentos em que Melina chegava perto de esquecer as loucuras de ser uma semideusa.
────── Certo. ────── Annabeth apertou os olhos.
────── Mas o que fazem aqui? É pra serem duplas, não quartetos!
────── Encontramos com Juníper, e foi... estranho.
────── No mínimo. Estranho no mínimo ────── Pam acrescentou à fala da sua dupla, balançando a cabeça.
────── Estranho... como? ────── os olhos de Beth já não estavam mais apertados, mas suas sobrancelhas estavam levantadas.
────── Primeiro ela disse alguma coisa sobre Percy não poder deixar Grover ir ao subterrâneo. Parecia bem desesperada.
Annabeth soltou um suspiro longo. Depois, Percy continuou com o que Pamela tinha começado:
────── E então, quando eu disse que essa podia ser a única maneira de ajudar ele, ela me veio com um "sobre isso..." e não falou mais nada! Desapareceu! Acho que ela sabe alguma coisa que pode ajudar mas não pudemos procurar ela por muito tempo porque tivemos que lutar com um escorpião. Muito grande, por sinal.
Parece que o que Percy disse atraiu, por que antes mesmo de Melina terminar de proferir a frase "meus deuses", teve de se calar.
Porque um outro barulho começava a sair da floresta, mas dessa vez quem apareceu foi um bicho. Com um pacote de seda vermelho amarrado em suas costas.
Um inseto âmbar, com prováveis mais de três metros de comprimento, pinças afiadas, cauda blindada, ferrão longo até demais, e tudo à que um monstro assustador tem direito. Um escorpião, como Percy tinha chamado.
Não tão assustador assim, sendo só um. Mas convenhamos que estar frente a frente com monstros sempre fazia com que Melina se sentisse pequena, como se tivesse nove anos e estivesse sozinha novamente.
Mas ela não estava sozinha, precisou se lembrar. Tinha Annabeth. E uma outra dupla com quem não deveria estar lutando ao lado.
────── Matamos ele e depois lutamos pra ver quem fica com o pacote? ────── sugeriu.
────── Justo ────── Pamela concordou, já com sua espada extremamente mágica em mãos, e começava a avançar na direção do escorpião quando foi parada.
────── Espera ────── Annabeth advertiu, chamando a atenção dos outros para o que estava ao seu redor.
Quatro dos monstros, além do que aquele que todos já sabiam que estava ali, cercavam o quarteto.
Melina abriu a boca, em choque.
────── Cinco dos seis escorpiões vem atrás da gente? Ai, pelo amor dos deuses, fala sério! ────── pensou em pegar quantas flechas conseguisse pra atirar todas de uma vez, mas invés disso decidiu pegar a espada que tinha prendido em sua cintura pra emergências. Emergências como aquela.
Pegou Pamela a olhando de relance enquanto tentava manusear a espada do jeito correto. E conseguiu. Lição um concluída com sucesso!
As coisas aconteciam muito rápido, e o grupo de escorpiões gigantes se aproximava mais aos poucos.
────── Acho que o cheiro de um filho de Poseidon, junto com o cheiro de uma filha de Apolo, junto com o cheiro de uma filha de Atena, junto com o cheiro de uma filha de... alguém, atraí bastante os monstros.
Sim, mas cinco deles?! Melina já agradecia mentalmente por Annie ter firmado mais seu coque.
────── Precisamos de um plano ────── Percy disse, a tampa da Contracorrente jogada em algum lugar da floresta escura.
────── Não dá tempo.
Melina olhou pra Annabeth, mais boquiaberta ainda. Se ela achava que não dava pra fazer um plano... então a coisa estava ferrada.
Os bichos se aproximavam e se aproximavam, e logo estavam caindo em cima dos semideuses.
Melina tentava golpear ou defender, o que fosse, com a lâmina da espada, mas era inútil. Percy, Pamela e Annabeth também não estavam tendo muito mais resultado.
Em certo momento a do chalé de Hermes usou a luz da lua pra causar um efeito que só sua espada podia causar pra distrair um dos escorpiões, e funcionou. Percy aproveitou a distração do monstro pra golpear ele com a contracorrente, e logo só sobravam quatro das criaturas.
Pam tentou repetir a ação com um outro escorpião, mas o elemento surpresa já havia se desfeito, e ele não caiu.
Melina olhou rápido pro boné de Annabeth no bolso da mesma e chamou a atenção dela pra ele, apontando com o queixo um escorpião que estava na ponta.
Elas não costumavam lutar muito juntas, mais no caça-bandeiras, mas se entendiam bem o suficiente.
Annabeth pôs o boné da invisibilidade enquanto Melina se colocava na frente do escorpião gigante e falava todo tipo de xingamento pra ele enquanto tentava golpeá-lo. Pra distração.
Meli soube que Annabeth conseguiu subir no bicho discretamente e golpear ele quando a criatura se desfez em pó.
A semideusa de Apolo suspirou, um pouco mais aliviada. Sobravam três.
Mas ainda assim não era sinal de vitória. Os escorpiões eram rápidos, e estavam ficando cada vez mais ágeis, como se a transformação para pó dos colegas de espécie os estivesse irritando.
Melina tentava pensar em qualquer coisa que fosse mais fácil do que distrair um por um dos que restavam enquanto corriam grande risco de morte.
────── Percy, tem uma lagoa aqui perto ────── lembrou.
Mas Percy sacudiu a cabeça.
────── Vai atingir mais vocês do que eles ────── e fazia sentido.
Não havia como atingir com uma onda gigante os monstros espalhados sem atingir aqueles que eles cercavam.
Ela suspirou.
────── Gente, ali! ────── Pamela apontou com a cabeça para uma fenda pequena na lateral do rochedo enquanto golpeava um escorpião na tentativa de conseguir atingir ele o suficiente.
Annabeth é quem mais estava próxima da fenda, seguida por Melina, que golpeava um dos bichos ao lado dela.
────── Aqui? É muito estreito! ────── Annie olhou por um segundo pra Pamela como se ela estivesse doida.
E era muito estreito, sim, mas dava para eles passarem, um de cada vez...
────── Nós damos cobertura. Vai!
Quando olhou ao redor e viu que passar pela fenda era o que mais fazia sentido se quisesse sair viva, Annabeth mergulhou atrás dos outros três e dos monstros, se apertando entre as duas pedras.
Percy e Pamela se aproximaram mais da lateral do rochedo, sendo seguidos por dois monstros. O outro sobrando já estava lá, tentando matar Melina enquanto ela fazia o mesmo.
E as coisas começaram a acontecer mais rápido ainda.
Porque Annabeth gritou e Melina olhou pra trás de si, pra fenda, preocupada. Sentiu alguma coisa a arranhar enquanto se aproximava ainda mais da fenda num passo rápido.
Nem um milésimo depois, se sentiu ser puxada pela mão de Annabeth agarrando as tiras de sua armadura. E Melina caiu, logo dando cambalhotas num poço que definitivamente não estava ali antes ao lado de Annie.
Melina tentava entender o que tinha acabado de acontecer quando olhou pra cima e pôde ver Pam e Percy ainda lutando com os escorpiões acima e o céu noturno meio roxo sob as árvores. Então o buraco por onde ela e Annabeth haviam caído se fechou, não deixando brecha pra nem sequer um pingo de luz.
Melina podia sentir a respiração quente da melhor amiga perto de seu rosto, e Annabeth provavelmente podia sentir a sua também. As únicas coisas quentes naquele poço frio e úmido, com as duas sentadas sobre um chão com uma parte mais alta que a outra.
Com a repentina escuridão e o nervosismo por estar presa, a filha do deus do sol se lembrou de uma lanterna que tinha consigo.
────── O que você 'tá pegando aí? ────── Annabeth disse, sem poder ver.
────── Uma lanterna. Acho que a pilha deve 'tá fraca, mas...
────── Você carrega uma lanterna por aí?
────── Aham. Você não? ────── respondeu, simples, como se fosse previsível que algum dia morando num acampamento de verão ela precisaria de uma lanterna.
Melina ligou a lanterna antiga com uma pequena chacoalhada, e a luz fraca vinda dela — a pilha realmente estava fraca — era suficiente pra iluminar algumas coisas em sua frente.
As paredes aos seus lados cobertas de musgo, o chão de tijolos, o quão fechado estava sua entrada para aquele lugar... E o rosto de Annabeth, com alguns poucos arranhões e um olhar assustado.
────── Onde... onde estamos?
────── Eu não tenho a mínima ideia... ────── Meli respondeu, baixo como um murmúrio ────── Mas estamos a salvo dos escorpiões, pelo menos. Diferente de Percy e Pamela, ah...
Ela tentava manter a calma, mas ficava mais difícil a cada segundo. Onde elas estavam?
────── Com sorte os bichos se distraíram com nosso sumiço e eles conseguiram sair correndo?
────── Bom, faria sentido.
Melina começou a passar a lanterna fraca como se em 360°, iluminando o ambiente parte por parte. Em algum momento, deve ter passado a luz por seu próprio ombro, porque Annie deixou de passar o olho pelo lugar, examinando, e voltou sua visão para o sangue pingando do topo do braço da dona do objetivo de luz.
────── Ah, Melina Hayes! O que é isso?
────── O quê? ────── ela virou o rosto e arregalou os olhos ao perceber que não era um arranhão nada importante como achava. Algumas gotas vermelhas caíam no chão e, sinceramente? Depois de perceber o machucado, estava começando a doer cada vez mais. Mas tentou fingir que não ────── Ah... só um arranhãozinho. Acontece.
────── Claro que acontece. Mas não é só um arranhãozinho! Isso parece estar péssimo, horrível, doendo.
────── Eu 'tô bem! ────── ela esticou a frase pra enfatizar ────── Vem, vamos dar um jeito de sair daqui.
────── Sua aparência não parece estar nada bem!
────── Aí, valeu!
Um risinho escapou dos lábios de Annabeth, que Melina foi obrigada a retribuir igualmente pela simples e enorme vontade.
────── Não é isso! Mas você 'tá suando e seu rosto tá pálido ────── Annie se aproximou, ainda sentada, e colocou a mão na testa da outra menina ────── E deve estar com febre.
Ela realmente estava começando a se sentir cada vez mais fraca.
Mas fez uma careta pra disfarçar.
────── Mas eu 'tô bem! Não 'tô sentindo nada.
────── Mesmo? ────── Annabeth não acreditava, mas estava percebendo que Melina não desistiria de afirmar isso.
────── Mesmo! Agora vamos dar um jeito de sair daqui, né?
Era Meli quem estava falando isso, tentando fugir do assunto sobre estar com dor ou não, mas ela não moveu um músculo.
Continuou ali, sentada, com Annabeth bem na sua frente, e percebeu que seu olhar andava por todo o rosto dela, olhando com a mesma atenção com que Beth tinha olhado pela sala.
Os detalhes do rosto de Annabeth foram passando pela mente de Melina; suas bochechas rosadas pelo frio, os poucos fios de cabelo soltos em sua testa, seus olhos grandes e castanhos fixados nos de Melina piscando frequentemente. Sua boca entreaberta com os lábios grandes e avermelhados como se quisessem dizer algo.
Uma pontada de dor de repente atingindo seu ombro chamou sua atenção de volta pra onde estavam presas.
Num segundo Melina já estava de pé apontando a lanterna para as paredes disfarçando o grito de dor que queria ter dado enquanto falava.
────── É uma sala...
────── Sala, não. ────── Annabeth tinha se levantado junto de Melina, e agora esticava seu braço pra apertar a mão dela ────── É um corredor.
Ela tinha razão. A escuridão à frente não parecia ter fim, não de longe. A sensação era como nos túneis de metrô que Melina havia passado por poucas vezes com Alice, só que mais... antigo.
Melina começava a andar quando Annabeth pôs a mão na sua frente, fazendo com que ela fosse um pouco mais pra trás.
────── Não dê nenhum outro passo ────── avisou. Sua voz parecia mais preocupada do que antes.
────── Mas... ────── Melina calou a si mesma quando Annie curvou a cabeça para o lado, forçando ela a ler o que estava no seu rosto.
Tinha alguma coisa estranha com aquele lugar, e elas precisavam ser cautelosas.
────── Tudo bem ────── afirmou mais uma vez, dessa vez sem se tratar do machucado ────── Está tudo bem.
Estava prestes a dizer que elas poderiam escalar e sair por onde tinham caído quando olhou pra cima e se lembrou de que o buraco tinha simplesmente fechado, e o teto escuro cobria tudo acima de suas cabeças.
Annabeth voltou a segurar a mão de Melina, assim elas tinham certeza de pelo menos uma coisa naquele lugar: não estavam sozinhas. As duas tinham feito aquilo tantas vezes naquele dia que Meli começava a pensar que enlouqueceria se não tivesse a mão de Beth pra encostar na sua.
────── Dois passos para trás ────── Annie aconselhou.
As duas andaram pra trás nos dois passos mais cuidadosos de suas vidas.
────── Certo. Me ajuda a examinar as paredes.
────── Claro. ────── Melina respondeu ────── Pra quê?
Ela já estava com as mãos numa das paredes quando perguntou, tentando equilibrar a lanterna pra iluminar de uma forma muito ruim todo o redor delas.
────── A marca de Dédalo ────── disse, simples.
────── A marca de Dédalo... A marca de Dédalo? ────── Melina sabia que a "marca de Dédalo" costumava estar em todas as obras do homem, mas o que ela faria num lugar no Acampamento Meio-Sangue?
────── Achei! ────── Beth exclamou, aliviada, e Melina olhou pra onde a amiga estava, levando a luz completamente pra parede onde Annabeth apoiava a mão, bem ao lado de onde Meli estava.
Annabeth pressionou a mão na parede contra uma pequena fissura, que automaticamente começou a brilhar em azul. Um símbolo grego surgiu, o antigo Delta grego.
Com isso, o teto se abriu novamente e era possível ver o céu noturno, mais escuro do que o pouco tempo atrás em que elas tinham caído ali. Elas ignoraram a mudança de céu repentina pela escada de metal que havia aparecido do lado do muro seguindo para o topo do lugar, e pelas vozes gritando seus nomes.
Eram vozes demais pra identificar cada uma, mas Pamela, Tyson e Percy estavam obviamente nesse meio, os gritos deles se destacando.
Uma confusão atingiu a mente de Melina enquanto as duas subiam os degraus de metal, porque, bem, elas não haviam estado ali por mais que alguns minutos, não havia motivo pra toda essa agitação. E, na verdade, um cansaço súbito e uma fraqueza nas pernas tomaram conta dela enquanto saía do poço, e ela chegou à conclusão de que talvez o arranhão no ombro tivesse, na realidade, sido causado por algo venenoso do escorpião.
Nada com que precisasse se preocupar no momento. Continuou subindo a escada ao lado de Annabeth, e sua lanterna logo não tinha mais nenhuma utilidade, visto que a claridade da lua ajudava na escuridão, e que à medida que se aproximavam do topo as garotas percebiam que aqueles gritando por elas carregavam tochas.
Assim que terminaram com os degraus e fizeram seu caminho pra fora das rochas, correram na direção de onde os campistas estavam. Uma multidão que estava procurando por elas, sabe-se lá por quê. Will, Kayla, Lee, Austin, Percy, Pamela, Tyson, Grover e até mesmo Clarisse se destacavam naquele meio.
────── Onde vocês dois estiveram? ────── A filha de Ares exigiu e, como sempre, sua feição exalava irritação. Mas nos seus olhos tinha um vislumbre de preocupação e alívio.
A resposta de Melina à pergunta de Clarisse foi cair dura no chão com um desmaio.
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