37. Escolhas e Decisões
Washington, DC, EUA
A L I C E
O motorista de Colin nos levou até o meu apartamento, deixando o carro estacionado na segunda vaga disponível para mim. Não conversamos nada no carro, claro, apenas seguindo juntos para o meu andar. Deixamos as malas na sala de estar, e eu mostrei à Bucky um pouco do apartamento, deixando uma mala sua no meu quarto e lhe dando privacidade para utilizar o banheiro dali.
Podia ver o olhar de Colin me avaliando enquanto eu organizava as coisas de Alpine e deixava o gato se readaptar a casa, sabendo que tudo havia sido estressante para ele também. Quase podia sentir. E então me sentei em uma das cadeiras do balcão da cozinha, vendo meu pai relaxado, se apoiar logo a minha frente.
— Não quer me dizer nada? — Ele pergunta, cruzando os braços.
— Não. Você quer me dizer algo? — Instigo, o encarando, percebendo um meio sorriso dele. — Pode dizer que está orgulhoso do meu trabalho, vai.
— Sempre estou. Falando como seu pai e seu superior… Só quero lhe dar os parabéns por ter feito o certo.
— Eu tinha duas opções. O certo e o fácil. Mas você sempre me ensinou muito bem.
— Eu sei que sim. Estou um pouco desapontado, claro, mas apenas pelos riscos que você correu.
— Tenho sorte em estar viva…
— Alice!
— Ok, ok. Prometo tentar não agir tão imprudente assim de novo.
— Não arrisque sua vida, está bem?!
— Como arrisquei lutando contra o meu próprio progenitor?!
Posso ouvir sua gargalhada em resposta a minha brincadeira, e ele logo me bate levemente com o pano de prato, me fazendo devolver o mesmo, mirando na cabeça mas vendo-o desviar.
— Fiquei chocado e preocupado quando soube. Nancy rezou para tudo o quanto é deus para que você ficasse viva.
— A reza dela é boa.
— Ô se é! — Ele se expressa, me fazendo sorrir leve. A presença de Bucky nos faz dar atenção ao moreno. — Como se sente, James?
Ele se aproxima devagar, agora de banho tomado e roupas trocadas, e o mesmo tecido rasgado impedindo a visão do seu braço destruído. Esperava poder consertar isso logo. Acho que as coisas melhorariam assim que ele recebesse seu perdão. Esperava por isso.
— Melhor. Obrigado, aos dois, pelo que tem feito por mim. — Posso ver que é sincero quando fala, e sorrio.
— Alice tem um bom coração, e sempre reconhece pessoas boas. Se ela fez tanto para ajudar você, eu, como pai, só podia confiar na intuição dela. — Colin rebate, com uma postura relaxada.
— Você quer jantar? — Mudo de assunto, podendo perceber claramente quando ele fica sem palavras para responder. — Posso pedir para entregarem algo..
— Claro.. Perfeito. — Ele diz, com um suspiro mais leve. — Você vai jantar aqui também.. Colin, certo?
— Colin, sim. Mas… Não, prefiro dar privacidade aos dois. Teremos tempo amanhã, quando todos estiverem descansados. A mãe de Alice estará na cidade também.
— Certo.. Amanhã, então.
— Eu.. Estou indo. Nos falamos amanhã. Ainda há o que resolver.
— Tudo bem, pai. Até amanhã.
— Até. Descansem!
— Você também!
O acompanhei até a porta, lhe dando um forte abraço de despedida, e assim que retornei, fechei a porta e tranquei apenas na chave, por enquanto. Retornei para a cozinha, vendo Bucky acariciar os pelos de Alpine. Peguei o celular, abrindo o aplicativo e rodando por alguns restaurantes até decidir por uma janta mais completa.
— Já fiz o pedido, vou tomar um banho rápido enquanto preparam para entregar, ok?!
— Sem problema, Lice. Relaxa.
— Ok.. Fique à vontade, certo?!
— Eu sei, obrigado. — Responde, com um sorriso doce que me faz retribuir igualmente.
Com um último pedido de licença, sigo dali para o meu quarto, vendo a bagunça das malas. Teria tempo suficiente para organizar isso durante a semana. Por isso, apenas sigo para o banheiro sem mais preocupações. Deixo a roupa no cesto e sigo para a ducha, molhando todo o corpo e cabelo. Um bom banho me faria relaxar o suficiente, e descansar para o dia repleto de tempestades que eu sabia que amanhã seria.
Minha cabeça precisaria estar bem para enfrentar cada pequena coisa. Cada pequeno tormento, de novo.
Um pequeno passo de cada vez até que tudo ficasse bem definitivamente.
↢ ❦ ↣
Descontei a minha saudade de dirigir essa manhã. Obviamente ainda sentia falta de pilotar minha moto, mas cortar Washington com a Bugatti me fez sentir um pouco mais em casa. E, claro, nos poupou bastante tempo de estrada.
Eu estava ansiosa pelo dia, por tudo o que nos aguardava, e por mais que Bucky demonstrasse estar tranquilo, podia vê-lo secando a mão na calça, várias vezes, enquanto eu dirigia. E quando chegamos no Edifício Skyfall também.
— Definitivamente não te faria encarar esse homem de novo se não fosse necessário, você sabe. — Colin diz, apertando o botão do elevador.
— Não tem problema. Estamos fazendo o que precisa ser feito. — Me mostro disposta, e tenho um afago de Barnes nas nossas mãos dadas.
Eu sabia que ele podia sentir minha tensão, mesmo que não pudesse me ouvir. Ele quis estar perto quando eu disse que desceria para a prisão no subsolo, para ver Dimitri. Então o deixamos com um protetor auricular, para caso Dimitri soubesse as palavras de ativação do soldado invernal, pudéssemos impedir qualquer tentativa sua.
E logo as portas do elevador se abriram, revelando a cela do homem, uma solitária distante e separada dos outros. Ele continuava desacordado, e podia ver T’Challa ali, além de uma jovem parecida com ele, e Bruce Banner. Nos aproximamos, cumprimentando os presentes na sala, e Bucky se apresentou aos outros dois.
— Não sabia que estava trabalhando com esse tipo de coisa, Doutor. — Digo, para Banner, vendo o sorriso tímido do homem.
— Fiquei um pouco isolado num lugar, e andei conversando com Charles Xavier sobre essa cura desenvolvida e nós conseguimos um protótipo irreversível, para casos como o de Dimitri.
— O famoso vilão que saiu do controle. — Shuri diz, preparando o tal líquido.
— Por isso pedimos que você viesse. Justamente por ser irreversível, é uma escolha de uma via só. Mas Dimitri, mesmo sendo uma pessoa ruim, tem seus direitos como ser humano, então..
— Então você, como única parente viva dele, precisa ler esse formulário e assinar o termo de responsabilidade, alegando que concorda que o protótipo inibidor do gene x seja aplicado nele.
As explicações de T’Challa e Colin me fazem assentir em perfeito entendimento da situação. Tomo o termo de responsabilidade em mãos e me afasto, lendo cautelosamente, apenas para realmente ter ciência do que estava assinando. Não que eu me importasse com ele ou seu bem-estar. Estava longe disso. Até porque assim que terminei de ler, assinei o termo sem pensar duas vezes.
— Depois disso, para onde ele vai? — Pergunto, passando o termo para Banner.
— Prisão Balsa. Zemo já foi encaminhado, as Dora Milaje devem estar chegando por lá com ele. — T’Challa diz, e eu assinto.
— Tudo pronto. Podemos aplicar? — Banner pergunta, e eu assinto prontamente, cruzando os braços e observando o homem pelo vidro blindado.
Mesmo que desacordado, quando o líquido entrou no seu sistema, seu corpo tremeu e a pelagem de tigre pôde ser vista por curtos segundos, até voltar a dar lugar a sua pele humana. Suspirei, um pouco mais satisfeita, sabendo que ao menos isso estava dando certo.
— Na prisão ele ficará constantemente sendo mantido com mais doses do protótipo, além da contenção de força. Ficará mais fraco que um homem comum da idade dele. — Shuri explica, e eu assinto para ela, estando ciente daquilo.
— Eu.. Fiquei sabendo sobre o perdão que será concedido a você. — T’Challa diz, para Bucky.
— É.. Algumas pessoas trabalharam duro para conseguir, e não podia ser mais grato. — Ele responde, sorrindo para mim e Colin.
— Eu… Apenas queria que ouvisse minhas desculpas pessoalmente. Por tê-lo perseguido após-
— Tudo bem. Você fez o que julgou certo e também foi enganado por aquele homem, como todos nós. É passado agora. — O moreno o corta, impedindo que assuma mais culpa naquilo. Um ato até que admirável.
— Eu também tenho uma proposta para você.
Ao mesmo tempo, nós dois damos atenção para o homem. A ideia de Barnes receber ajuda de mais pessoas me acalentava, me fazia perceber que ele não estava mesmo sozinho, e tirava um peso do meu peito. O medo de que talvez ele se sentisse solitário, após os nossos problemas. Mesmo que ele estivesse aberto a conversar agora, eu não podia esquecer que o decepcionei também.
De qualquer forma, era um momento bem menos tenso agora.
— Minha irmã é.. bastante inteligente, e acho que com a ajuda do doutor Banner talvez possam encontrar uma forma de.. hm.. ajudar você. Com o problema do Soldado Invernal.
— Acha mesmo que há como mudar isso?
— Acho, e não deve ser difícil.
— Se encontrarmos uma forma de desativar as sinapses que seu cérebro envia e recebe quando as palavras são ouvidas, é fácil. — Shuri retruca, configurando algo nos seus dispositivos. A garota era mesmo genial, falava aquilo como se fosse um simples trabalho da escola..
— Podemos.. Ajudar você a encontrar sua paz e calmaria, depois de tantos anos. Se você estiver disposto. E, eu sei que você tem um lugar para ficar, com Alice, mas… Os dois são bem-vindos em Wakanda.
Após a proposta, Barnes me encara, e parece pensativo. Talvez com todas as possíveis respostas rondando a sua própria mente. Era a melhor opção para ele, mas me mantive quieta. A decisão tinha que partir unicamente dele, sem influência. Por melhor que fosse, se ele não quisesse, não havia muito o que pudéssemos fazer.
— Eu aceito. Preciso me livrar disso. Sou um perigo enquanto puder ser controlado. — Ele responde, certo do que havia optado, e eu acabo sorrindo.
— Ótimo. Ficaremos mais alguns dias na cidade, e então retornamos para Wakanda. Vocês já irão conosco. Nesse tempo, Shuri pode pensar em formas de.. fazer o que ela sabe.
— Ser um gênio. — A garota dá de ombros, nos fazendo rir.
— Faremos o possível para ajudar. — Banner diz, e nós dois assentimos.
Sabia bem da capacidade do homem, não duvidava quando ouvia aquilo dele. Só então com tudo feito e as propostas aceitas, nós saímos do edifício, deixando Dimitri num soro que o manteria apagado por cerca de dois dias. Tempo suficiente para ser levado para a Balsa. De lá, apenas Banner se dispersou. Os chefes de governo ainda não tinham ciência de que o homem estava na Terra, por não ter sido achado e convidado a assinar o tratado.
Bucky e eu seguimos no meu carro para o prédio do parlamento, e lá ficamos juntos a Colin e Hill, que representava os interesses de Fury, até porque para os outros o homem continuava dado como morto. Ross representou as forças armadas estadunidense no seu discurso, que, pelos cochichos bem audíveis para mim, não passou de ser taxado como “insuportável” e “controlador” pelos governantes dos países.
— Com o arquivamento do tratado de Sokovia, todos aqui presentes concedem perdão pelos crimes de traição aos governos, cometidos por Clinton Francis Barton, Natalia Alianovna Romanova, Samuel Thomas Wilson, Scott Edward Harris Lang, Steven Grant Rogers e Wanda Maximoff.
— Além de reconhecer a inocência no atentado ao parlamento de Viena, e conceder perdão total por seus anos atuando como intitulado “Soldado Invernal”, dando também aposentadoria na patente de Sargento pelo valor vigente a James Buchanan Barnes.
Após dadas as considerações finais, todos ficaram de pé, confirmando que aprovaram a decisão do Conselho Internacional. Não me afastei de Bucky por um segundo sequer, e podia ouvir perfeitamente seus suspiros de alívio.
Finalmente.
— Está pronto pra ser um homem livre, Sargento?
— Mais que pronto, Capitã.
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Oii!
Perdão por tanta demora, de novo. Administrar facul e estágio tem sido difícil.
De qualquer forma, vou continuar me esforçando pra postar. O livro já está quase no fim, os últimos capítulos já estão chegando.
Até o próximo, beijos! 🤍
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