
𝟎𝟑. 𝐃𝐞𝐯𝐨 𝐟𝐢𝐜𝐚𝐫 𝐨𝐮 𝐝𝐞𝐯𝐨 𝐢𝐫?
Naquele dia, Kid foi até a casa de [Nome], já que o pai da garota tinha viajado a trabalho e a proibido de sair durante sua ausência. Segundo ela, estava proibida de sair, mas não de receber visitas. Isso fez o sangue de seu colega ferver, e sua face ficar tão vermelha quanto suas madeixas tingidas daquele tom vibrante e chamativo. Mesmo presa em casa, ele se perguntou se conseguiria escapar das malditas aulas de reforço. Que chata! Ela não dá sossego para ele nunca! No entanto, também viu isso como uma oportunidade para conhecer melhor sua rotina e descobrir se ela era tranquila por natureza ou apenas se chapava a si mesma com alguma erva duvidosa.
Havia tantos lugares na casa dela: a sala de estar, a cozinha, o pátio, o quintal, a área de estender roupas e até mesmo o escritório do pai dela. Contudo, ela resolveu levá-lo justamente para o quarto dela para estudar.
No fundo, ele já havia admitido para si mesmo que, após tanto tempo convivendo com ela todos os dias, seja enfiada em seu trailer ou lendo algum livro juntos na biblioteca, estava a fim dela. Sempre esteve, na verdade. Todo aquele ódio por seu ser, por sua voz, a repulsa que sentia só por ouvi-la falar ou a ânsia que tinha quando sentia o cheiro do perfume doce e enjoativo que a mais nova usava era, no fim, ele tentando mascarar o que realmente sentia por ela.
Ele gostava dela, era isso. Queria tê-la, entretanto, jamais teria. Não enquanto ele fosse um valentão babaca que sentia prazer em tirar proveito de gente boba e ingênua como [Nome] era.
A garota, de pele [cor de sua pele], estava sentada na cama dela, usando um vestido branco com bordados floridos da mesma tonalidade, enquanto utilizava pequenas pulseiras feitas de miçanga. Seus cabelos estavam soltos e emaranhados, meio úmidos, denunciando que ela havia acabado de sair do banho e nem se deu o trabalho de secar suas madeixas ou pentear, deixando tudo do jeito que estava, sem se importar se tinha visita - ele - em casa ou não. "Talvez já esteja acostumada com a minha presença", o rapaz questionou silenciosamente enquanto a encarava segurando um livro para o alto.
Ela não parecia afim de estudar naquele dia. Então, por que insistiu que ele fosse até lá? Só para perder tempo? Capaz. Todavia, ele aproveitaria a companhia dela.
Eustass estava com o cenho franzido enquanto ainda a encarava com uma carranca no rosto, o que era comum, e ela já não ligava mais. Querendo ou não, já havia se acostumado com o colega lhe lançando olhares de raiva. Por mais estranho que fosse, ela até gostava disso. Apreciava quando ele a encarava daquele jeito, como se fosse quebrá-la ao meio se reclamasse do olhar irritado ou se mandasse parar. E, apesar dos "apesares", talvez ela realmente desejasse que ele a quebrasse ao meio. [Nome] achava atraente a maneira como o ruivo se vestia. Era uma tentação entre odiar e amar a forma como ele se comportava com ela e com as outras pessoas, sendo sempre um ogro de tão bruto e um cavalo pelas patadas que dava em todo mundo, inclusive nela.
- Me chamou aqui pra perder tempo ou o quê? Teu pai não vai querer socar minha cara se descobrir que tô aqui, né? - ele finalmente quebrou o silêncio, levantando-se do chão e indo em direção à cama da garota, deitando-se atravessado sem pedir permissão ou avisar.
- Fique tranquilo quanto a ele, meu pai chega só no início do próximo mês... tenho muitos dias para aproveitar a paz e a tranquilidade de um lar vazio! - um sorriso largo formou-se nos lábios rosados dela, enquanto ele apenas revirou os olhos. - Está com medo dele? Ele não vai fazer nada. - uma risadinha escapou.
- Medo? - Kid franziu ainda mais o cenho, serrando os dentes com força. Um forte sinal de suas ondas de raiva explosiva. - Até parece.
- Nuh huh. - a menor deu de ombros, agora deitando-se também, colocando suas pernas por cima das dele.
O punk de cabelos vermelhos ergueu um pouco o pescoço para olhar para a mais nova e murmurou sobre ela ser abusada, mas não fez nenhum movimento para que tirasse as pernas de cima das dele; ele apenas deixou que ela continuasse ali, quieta e, o melhor, calada! Que paz. Era bom não ouvir a voz fina e irritante que tinha. Era bom que ela estivesse em silêncio, ao invés de incomodá-lo com suas explicações que duravam horas, para que, no final, ele só entendesse quando ela dizia "por hoje é só" e então ia embora. Essa era a parte que, depois de um tempo, começou a pesar no peito dele - a parte em que [Nome] ia embora e suas últimas visões dela eram de ela dando tchauzinho enquanto sorria, e depois ela sumia de sua vista ao fechar a porta.
Eustass apenas não imaginava que aquela garota maldita e irritante se sentisse da mesma forma sempre que precisava ir embora e deixá-lo para trás. Ele nunca seria capaz de imaginar a dor que ela sentia no peito quando chegava a hora dela partir, com apenas um tchauzinho como forma de despedida. Ela queria mais do que somente um aceno e um sorriso direcionados a ele.
Porém, um mesmo pensamento se instalou imediatamente na mente de ambos: "Por que ela iria me querer?" x "Por que ele iria me querer?"
[Nome] tinha apenas um único desejo naquele momento: que ele a olhasse como a mulher que ela era, não apenas como uma colega de classe que estava dando aulas de reforço para tentar salvá-lo de uma possível reprovação no final do ano. Ela desejava que ele a segurasse, acariciasse sua face com uma mão enquanto a outra segurava firme em sua cintura, e a beijasse com paixão. Contudo, por que ele faria isso? Todos os dias ele fazia questão de jogar em sua cara que odiava aquelas aulas, pedindo para ela ser mais rápida para terminar mais cedo. Embora, nas últimas duas semanas, ele tenha ficado, de certa forma, mais manso com ela.
- Você tem namorada?
- Quê!? - Kid levantou-se bruscamente, agora sentado na cama, enquanto ela permanecia deitada e olhando para ele.
- Quê o quê? - a garota inclinou a cabeça para o lado, confusa com a resposta.
- Hein!? - ele pegou uma pelúcia que estava próxima a ele e então arremessou em direção ao rosto da menor.
- Ai! - grunhiu. - Você tem namorada ou não, Kid!?
- Não!
Ela não conseguiu evitar um sorriso em seus lábios rosados enquanto mantinha seus olhos fixos nos dele, que apenas a encaravam com aborrecimento e curiosidade. Por que diabos ela havia perguntado aquilo? O que ela estava aprontando? Ele estava intrigado com a pergunta repentina em um momento tão aleatório, sobre um assunto que eles sequer tinham discutido desde que começaram a passar mais tempo juntos. Porém, aquilo despertou certo interesse nele, algo que fez seu corpo esquentar de certa forma. Ele sentiu uma necessidade absurda de saber o porquê daquele interesse repentino em conhecer seu status de relacionamento naquele momento. Ela poderia estar interessada nele, talvez...? Não. Isso era sonhar demais. Por que ela se interessaria? Ele não tinha nada além de inúmeras red flags para oferecer.
É, ele era isso. Ele era um imã de problemas. Ele só atraía confusão e gostava causar o caos, não era nada comparado a ela, que era o total oposto dele. Kid sabia que era um babaca que infernizava a vida das pessoas por diversão. Desde o início de seus estudos, Eustass Kid foi rotulado como um jovem problemático, constantemente predisposto a perturbar a vida alheia, utilizando respostas rápidas e apresentando-se como um verdadeiro valentão, adotando um estilo punk chamativo.
E ela? Era um doce. Uma menina delicada, frágil, gentil e amorosa com todas as pessoas ao seu redor, inclusive com ele, que desde sempre a encarou com nojo e fez de tudo para mantê-la afastada. Por mais que tentasse, ela continuava por perto, rodeando-o, presente em tudo. Querendo ou não, [Nome] sempre estava lá, acompanhando cada passo que ele dava, o que o deixava desconcertado, sem saber se ria, chorava ou surtava de raiva.
Desde a primeira vez que aquele maldito arco-íris ambulante sorriu para ele, se viu perdido e confuso em relação aos próprios pensamentos.
Por um momento, os olhos deles se encontraram novamente e, apesar de sua carranca persistir, aos poucos sua expressão suavizou conforme a troca de olhares se prolongava. Ambos em silêncio, corpos próximos, mas ao mesmo tempo distantes, a sensação de calor percorrendo cada centímetro de seu ser. Sem saber como reagir, sem saber se deveriam dar um passo a mais ou permanecer como estavam. Kid queria avançar nela como um animal, enquanto ela desejava abraçá-lo em busca de conforto. Mas, como poderiam entender o que passava na mente um do outro? O silêncio reinava naquele quarto.
Eustass Kid reuniu coragem e se arrastou de joelhos até ela, que permanecia deitada na cama. Ele ficou por cima dela, com cada mão em um lado do corpo pequeno. Os olhos de [Nome] se arregalaram devido à aproximação repentina do garoto de cabelos vermelhos, e ela soltou um suspiro, mantendo o contato visual, sem ousar quebrá-lo nem por um segundo sequer.
O maior percebeu o nervosismo em seu olhar ingênuo e tentou recuar, mas foi segurado por ela, que tinha ambas as mãos agarrando seu braço esquerdo. Kid não sabia o que pensar naquele momento; o olhar dela dizia uma coisa, enquanto sua linguagem corporal dizia outra. Os olhinhos dela arregalados demonstravam o nervosismo que ela sentia, levando-o a deduzir que talvez estivesse assustada. Por outro lado, os movimentos dela, a forma como o segurava para não se afastar, indicavam que talvez não quisesse que o afastamento acontecesse de fato. Contudo, ele precisava saber. Queria ouvir, não ver. Deveria ficar ou deveria ir? O ruivo engoliu em seco.
- Você tem que me dizer, devo ficar ou devo ir? - a voz do punk soou firme e agressiva, embora ele estivesse apenas sussurrando.
- Fique... por favor.
O garoto de cabelos vermelhos sorriu, esquecendo completamente sua preocupação diante do olhar assustado e nervoso dela. Rapidamente, ele a puxou para perto, ficando ambos sentados na cama. Bruscamente, ele levou uma mão até a nuca dela, enquanto a outra apertava com força o pulso direito de [Nome], que teve apenas tempo de arfar em protesto antes de ter sua boca tomada pela dele. O ósculo começou de forma desajeitada e atrapalhada, culpa da mais nova, que nunca havia beijado ninguém antes dele. Assim que ele percebeu isso, sentiu um misto de orgulho por ter sido o primeiro a beijá-la e também frustração, pois o beijo estava ruim.
Entretanto, nada que ele não pudesse resolver. Ela sendo inexperiente daria a ele total liberdade para dominá-la e fazer com ela o que bem entendesse. Afinal, o "cartão verde" ela já tinha dado a ele no momento em que não tentou reagir ao seu avanço e por não tentar afastá-lo. Também por demonstrar tentar acompanhá-lo e imitar seus movimentos enquanto ainda mantinha seus lábios junto aos dela.
Após alguns minutos de um beijo intenso, pausas rápidas para respirar e selinhos aqui e ali, Kid a deitou na cama novamente, voltando a unir suas bocas em outro ósculo ainda mais desesperado e necessitado que o anterior. As mãos grandes do maior percorriam todo o corpo coberto dela, apertando sua cintura, seu quadril, a região de suas costelas. Ele queria senti-la por completo, mesmo que seu vestido o impedisse de tocar mais da pele quente da garota que por anos ele escondeu que desejava, fingindo apenas detestar para mantê-la longe. Agora, finalmente, ele poderia tê-la como sua.
- Kid, ei... espera... - [Nome] sussurrou quando o sentiu levantar seu vestido, revelando uma parte de suas coxas.
- O quê!? - ele questionou em um tom que soou agressivo sem querer, como de costume, e rapidamente se corrigiu. ‐ Digo, o que houve? Quer que eu pare? - o rosto dele parecia irritado, mas sua voz estava mais terna e, por algum motivo, suave.
Ela sentiu suas bochechas ficarem quentes, seu corpo estremecer tanto por fora quanto por dentro. Eram sensações familiares, mas que ela nunca havia experimentado até então. [Nome] se sentia nervosa, tremia de nervosismo. No entanto, durante alguns sussurros em meio ao beijo, havia dito que estava bem, que estava nervosa, e realmente era isso: ela só estava nervosa, não por beijá-lo, não por ele ser seu primeiro, mas pelo que poderia vir em seguida. O coração dela batia acelerado em seu peito, marcado pelo aperto do tecido de seu vestido, desejando apenas se livrar de uma vez daquela peça que atrapalhava o colega de tocá-la com mais liberdade.
A jovem fechou os olhos com força por alguns segundos, soltou um suspiro leve, e então suas mãos pequenas e delicadas traçaram um caminho dos braços de Kid até os ombros, finalmente chegando a cada lado da face dele. [Sobrenome] abriu os olhos novamente e olhou diretamente nas orbes castanhas do ruivo, que tinha uma sobrancelha arqueada e o cenho franzido, confuso com seu comportamento.
- Tem algum problema... por eu ainda ser virgem?
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro