❝ chapter forty-six. ❞
Eu desejei mais do que tudo no mundo morrer quando senti minha cabeça latejar de tanta dor ao abrir meus olhos pela manhã. Quer dizer, nem sequer sabia se ainda era de manhã. A última lembrança que eu tinha de ontem à noite era dos caras me oferecendo bebida enquanto tentavam falar comigo sobre qualquer coisa, como se toda a merda que havia rolado entre nós nunca tivessem acontecido. Sinceramente, eles estouravam os meus limites de estresse. Não tinha mais paciência pra ficar na merda daquele ciclo.
Levantei da cama enquanto sentia meus olhos doerem e fui atrás de um remédio. Ao achar, o engoli à seco mesmo e vi o horário no meu celular. Eram dez da manhã. Respirei aliviado por não ser tão tarde e peguei meu celular, me concentrando em mandar mensagem pra minha gostosa. Meu dia só começava depois disso.
Eu franzi o cenho instantaneamente ao ver que ela estava sem foto. Mandei mensagem, dando bom dia e perguntando o porquê de ela estar sem foto e fiquei confuso ao ver que minha mensagem chegou apenas com um visto. A procurei em outras redes e parecia que só embolava mais ainda minha cabeça. Por que caralhos a minha namorada tinha me bloqueado em absolutamente tudo?
Liguei pra ela uma, duas, três e até dez vezes, mas nada. Senti meu coração acelerar pelo nervosismo e automaticamente comecei à andar em círculos. Que merda havia acontecido?
Respiro fundo e opto por não me concentrar totalmente naquilo. Deixei o celular de lado e fui preparar qualquer merda pra eu comer na tentativa falha de esquecer daquilo. Não lembrava de absolutamente nada e logo questionei mentalmente se eu havia feito alguma merda durante a festa ou após a mesma. Caralho, aquela merda estava me deixando tenso.
Acabei apenas comendo uma fruta rapidamente e escovei meus dentes, vestindo uma roupa e saindo de casa pra subir na minha moto. Arranquei com a mesma dali, literalmente voando pelas ruas. Alguma coisa ruim apertava o meu peito e eu nunca tinha sentido aquela porra. Tudo aquilo estava me deixando extremamente nervoso e irritado.
Ao chegar em frente ao prédio da Aileen, parei minha moto em qualquer canto e corri até a portaria, pronto pra entrar igual um foguete naquele elevador quando fui impedido pelo porteiro.
— Você é Jack Gilinsky? — Ele perguntou e eu assenti, tentando passar sem falar nada porém sendo impedido novamente. — A moradora Aileen pediu pra que não deixasse você entrar se viesse.
— Não fode, porra. — Tentei passar novamente, mas sendo barrado por ele novamente. Respirei fundo impaciente. — Se você não me deixar passar, teus últimos cabelos brancos não vão estar mais na sua cabeça nos próximos segundos pois eu vou ter arrancado todos.
— Ela disse que se você insistisse, eu poderia chamar a polícia. — Ele disse sério e eu o encarei incrédulo. Que porra era aquela? O que tava acontecendo?
— Ela é minha namorada, meu brother. Eu posso entrar na casa dela na hora que eu quiser. — Eu falei me aproximando dele e ficando à centímetros do mesmo. O velho sustentou o olhar e não moveu um músculo.
— E esse prédio é meu, sigo as ordens da chefia. — Ele disse e eu ri sem humor, pronto pra segurar na gola daquela camisa que estava parecendo que não era lavada há dias e socar sua cara repetidas vezes quando as portas do elevador se abriram.
Saindo daquele ambiente pequeno, a mulher que me enlouquecia tinha seus cabelos soltos e estava vestida em uma roupa formal. Sua bolsa estava pendurada no seu ombro e seu rosto tinha uma expressão vermelha e cansada, como senão tivesse conseguido dormir direito. Quando seus olhos se encontraram com os meus, meu peito se apertou ao não ver o brilho que ela sempre tinha quando costumava me olhar. Era apenas escuridão e dor. Naquele instante, meu coração errou as batidas. Que merda havia acontecido?
— O que tá acontecendo, seu Antenor? — Ela perguntou olhando pro velho.
— Estava seguindo suas ordens, senhorita Aileen. Esse seu namorado é muito mal educado.
Aileen suspirou e me olhou. Pude ver seus dedos apertarem na alça da bolsa.
— Ele não é meu namorado, seu Antenor. — Suas palavras me acertaram como um soco. — Não conheço esse cara. Se persistir, chame a polícia. Sabe que perseguição é crime.
Com aquelas palavras, ela saiu andando para fora do saguão. Parecia que eu havia perdido a voz. Mesmo confuso e sem saber que merda estava acontecendo, eu sentia meu peito doer com uma sensação ruim.
Não pensei duas vezes antes de correr atrás dela pra fora daquele prédio. Sentia que precisava. Não podia deixar as coisas mal resolvidas assim.
— Caralho, Aileen! — Segurei seu braço e ela parou, respirando fundo e se virando pra mim. — Dá pra me explicar o que aconteceu? Por que me bloqueou até do pensamento?
Ela riu sem ânimo.
— Deveria fazer um filme. Jack e sua amnésia. — Eu respirei fundo.
— Sem brincadeiras, amor. Eu só quero...
— Não me chama de amor — Ela fechou os olhos e comprimiu seus lábios. — Nunca mais.
— Eu preciso saber que merda tá acontecendo. Não é justo me deixar no escuro dessa forma.
— Você me deixou no escuro todo esse tempo fazendo esse seu teatro. — Eu a encarei. — Eu te dei abertura, me esforcei pra confiar em você e quando eu consigo quebrar todas as minhas barreiras, eu descubro que é mais uma mentira de homem. — Ela riu, passando a mão em seus cabelos. Seus olhos estavam transbordados de lágrimas.
— Aileen, que porra? — Eu perguntei ainda sem entender.
— Foi por muito barato? — Ela perguntou e eu franzi o cenho.
— Como assim, Aileen?
— Foi por muito barato que você e seus amiguinhos apostaram a minha buceta?
Naquele instante eu senti meu chão cair. Minhas mãos se formaram em punhos e era como se meu coração tivesse acabado de ser triturado e pisoteado.
— Quem... Quem te contou isso?
— Você, seu sonso. — Ela gritou, fazendo algumas pessoas em volta olharem. Eu fechei meus olhos e abaixei a cabeça. — Você é ridículo, Gilinsky. Nojento!
Aileen fez sinal para algum carro e logo eu percebi que era um táxi. Ela abriu a porta do mesmo e estava prestes à entrar.
— Pra onde você vai? — Eu perguntei com a voz fraca.
Ela me olhou e ficou em silêncio por alguns segundos. As lágrimas desciam pelo seu rosto.
— Acabou, Jack. — Ela olhou pra mim. — Me esquece, se é que você lembrou de mim alguma vez.
Com aquelas palavras, ela fechou a porta do táxi e o carro saiu dali, me deixando sem chão e totalmente sem rumo naquela calçada.
Eu senti vontade de quebrar tudo. Berrar e espancar o primeiro que aparecesse em minha frente, mas a única coisa que estava em meu alcance foi o que eu fiz.
Me sentei na escadinha que dava acesso ao seu prédio e deixei as lágrimas caírem. Eu nunca fui de demonstrar emoções e saber o que era sentir algo por alguém, mas depois da chegada dela, o meu "normal" foi totalmente virado de cabeça pra baixo. No meio de uma puta sujeirada, eu achei a pessoa que soube me fazer duvidar de todos os meus conhecimentos e que me fez querer ser uma pessoa melhor.
Mas já era tarde para ser uma pessoa melhor.
Sempre me disseram que se algo começava errado, terminava da mesma forma e era exatamente isso que havia acontecido.
Eu havia perdido o meu propósito de ser uma pessoa melhor.
Havia perdido ela.
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